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Estado de Minas RICARDO KERTZMAN

Dia Internacional da Mulher: Nikolas Ferreira ultrapassa todos os limites

A democracia pressup�e muita coisa boa, inclusive a liberdade de opini�o e express�o, mas igualmente pressup�e limites e responsabilidades.


08/03/2023 18:10 - atualizado 08/03/2023 18:11

Nikolas Ferreira de peruca loira
Reacion�rio, transf�bico, desumano (foto: TV C�mara/Reprodu��o)
Sou pai de uma adolescente - confesso sem qualquer falsa mod�stia - encantadora; e em todos os sentidos. Atravessamos, eu e ela, ali�s, uma fase muito interessante. No meu caso, com um grau de sofrimento que s� eu sei, mas natural e passageiro. No dela, a explos�o de sentimentos e sensa��es t�picos dos 17 anos. Ah, que saudade!

Uma de minhas “fun��es” nesta transi��o de rela��o � ser Pai Uber, tarefa que realizo com extremo prazer - e sono, hehe. Dia desses, em um leva e traz t�pico, deixamos em casa uma colega dela. Logo que a porta do carro fechou, minha filha me perguntou: “pai, voc� viu que ela � trans?”. Por uns dez segundos fiquei como o Windows se reiniciando.

At� em casa, a conversa fluiu de forma maravilhosa. Trocamos opini�es e reflex�es a respeito da condi��o de um garoto, com apenas 16 anos, que n�o se enxerga nem se compreende garoto, mas garota. Como pai amoroso, zeloso e companheiro que sou, s� consegui pensar se aquela menina estava devidamente amparada em seu lar.

Custei a dormir, e n�o pelo sol que j� nascia, mas por pensamentos sobre o ocorrido. Tenho 55 anos e sou de uma gera��o que ainda n�o compreende nem aceita naturalmente certos comportamentos sociais, ainda que naturais. Sim, “confus�o” de g�nero � natural, n�o � doen�a, n�o � escolha, a despeito de tanta ignor�ncia e preconceito a respeito.

Senti muito orgulho de minha filha - e de mim mesmo, admito. Cheguei � conclus�o de que somos bons seres humanos: tolerantes, sens�veis, emp�ticos, sempre prontos e dispostos a estender a m�o a quem precisa e merece. Jamais me passou pela cabe�a proibir novos encontros entre elas ou mesmo impedir a continuidade da amizade. E por que deveria?

A digress�o acima - longa, para n�o variar - � uma forma de autocontrole (meu). Se eu come�asse a escrever tudo o que estava sentido, certamente seria um texto raso e sem o menor proveito. Serviria para me aliviar o esp�rito, mas n�o me aquietaria a alma. Eu continuaria tomado pela ira e indigna��o, sem qualquer sombra de apaziguamento.

CALMO, PERO NO MUCHO

 
N�o vou mentir e dizer que estou com calmo e sem raiva. N�o. Mas ao menos consigo levar a voc�, leitor amigo, leitora amiga, com alguma profundidade, n�o o que sinto por Nikolas Ferreira, pois impublic�vel, mas pelo Brasil que experimentos j� h� alguns anos. Um Pa�s que se tornou, al�m de tudo de ruim que j� era, caixa de resson�ncia do mal absoluto.

Matamos-nos uns aos outros como moscas. Espancamos-nos uns aos outros como selvagens ferozes. Roubamos-nos uns aos outros como se n�o houvesse amanh�. Uma na��o majoritariamente crist� esqueceu de vez o ensinamento de Cristo: “amai-vos uns aos outros como vos amei”. Pois agora, n�o bastasse tudo isso, temos os Nikolas.

N�o, eu sei, ele n�o � �nico. Ao contr�rio! “Ele” s�o milh�es! Ao menos 1.5 milh�o, no m�nimo, que foram os seus eleitores. E “ele”, em maior ou menor grau de, digamos, escrotid�o (n�o disse que a raiva n�o havia passado?), tem v�rios nomes hoje em dia: Engler, Damares, Zambelli, Bolsonaro (pai e filhos) e tantos outros da esp�cie.

“Ele” assume formas diversas: um garoto idiota qualquer; um velho metido a adolescente; um tioz�o do Zap; uma senhora cafona, sedizente nobre; uma velha oxigenada, com camisa da CBF, na porta de um quartel; uma mentirosa, espalhando fake news em culto evang�lico. Ou uma contrabandista de joias, com carinha de anjo, em nome de Jesus.
 

AT� QUANDO? 


O espet�culo (mais um! At� quando?) grotesco de transfobia expl�cita protagonizado pelo deputado federal por Minas Gerais (que vergonha doc�, Minas), Nikolas Ferreira, em pleno Dia Internacional da Mulher, durante sess�o oficial na C�mara dos Deputados, n�o guarda precedentes m�nimos em toda a nossa triste hist�ria e trajet�ria pol�tica.

O que este rapaz fez (repito: mais uma vez! At� quando?) � de uma inf�mia, de um desprop�sito, de um acinte, de uma crueldade, de uma falta de decoro, de um n�vel t�o baixo, t�o rasteiro, t�o gratuito, que mesmo sabendo ser este o “modus operandi” de quem n�o tem qualquer conte�do, sen�o isso, beira o Inacredit�vel Futebol Clube.

Nikolas n�o ofendeu apenas as pessoas trans, mas a Casa que deve ser de todos, que deve abrigar a todos, pois representante de… todos! Ao fazer chacota com a figura feminina, estereotipada sob uma peruca loura, desrespeitou as mulheres em sua data. Como algu�m pode ser t�o pobre de esp�rito assim, meu Deus? 

Fico pensando nos pais da colega da minha filha ao assistirem � uma cena destas. E nos pais de tantos garotos e tantas garotas trans Brasil afora. N�o bastassem todos os problemas de ordem emocional, psicol�gica, social, enfim, que enfrentam, t�m de ser humilhados por um ser vil, in�til � democracia e � civiliza��o, como � Nikolas.

A democracia pressup�e muita coisa boa, inclusive a liberdade de opini�o e express�o, mas igualmente pressup�e limites e responsabilidades. N�o h� direito absoluto, principalmente quando se fere terceiros. Se queremos um Pa�s um pouco - s� um pouco!! - melhor que o que temos, n�o ser� com esse tipo de pol�tico que conseguiremos. 

Na boa, j� deu! Cassem esse delinquente, j�. Do contr�rio, amanh� os alvos ser�o outros: deficientes, gordos (estes j� s�o, Nikolas os odeia!), pretos, nordestinos e quaisquer outros padr�es que fujam da "perfei��o" do hetero, branco, saud�vel, crist�o e de extrema direita. Fascismo, nazismo, fundamentalismo etc. a gente sabe como termina, mas nunca como come�a. Eu acho que j� come�ou. A prova est� a�. S� n�o v� quem n�o quer.

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