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Estado de Minas RICARDO KERTZMAN

Um filho, os pais, um vigarista e as "big techs". Ou: os trouxas que danem

Meta, Google e as tais "big techs" acham que n�o devem ser responsabilizadas, civil e criminalmente, pelos conte�dos que armazenam, distribuem e impulsionam


08/05/2023 06:30 - atualizado 08/05/2023 09:36
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pessoa mexendo no celular
O golpe t� a�. Cai quem (n�o) quer (foto: Pixabay / Reprodu��o)
Fred estava esfuziante. Finalmente, encontrara a t�o sonhada casa para os pais. Ele pr�prio, dois anos antes, conseguira comprar a sua. Era um apartamento modesto, com um quarto, um banheiro, uma sala e uma pequena cozinha. O pre�o: 250 mil reais.

O bom filho, agora, tinha 150 mil. O im�vel dos pais custaria 200 mil. Faltavam, portanto, 50 mil reais. Procurando na internet por dicas de investimento, se deparou com a mensagem: “fa�a seu dinheiro render mais que qualquer outra aplica��o com total garantia e sigilo”.

Como n�o � bobo, Fred desprezou o an�ncio. Leu alguns artigos sobre bolsa de valores, ouro, bitcoin e decidiu aguardar mais um pouco. Em um ano, talvez, juntaria a diferen�a. Ou, quem sabe?, financiaria o saldo, mas com esses juros, “melhor n�o”, pensou.

No dia seguinte, o rapaz n�o parou de receber propagandas de investimentos nas suas redes sociais; os tais “conte�dos patrocinados”. Instagram, Facebook, TikTok… uma verdadeira enxurrada de an�ncios e ofertas muito atraentes. Mas Fred n�o era bobo.

Um dia, um v�deo patrocinado chamou sua aten��o. Um rapaz bem vestido, bem articulado e com grande conhecimento ensinava como ganhar 20% ao m�s com seguran�a e facilidade. Fred pesquisou o “especialista” e viu tratar-se de algu�m com muito sucesso.

QUEM TUDO QUER


O investidor tinha milhares de seguidores no Twitter e no Instagram. Todos os coment�rios nas postagens eram de felicita��o e gratid�o. Pessoas enriqueceram com as dicas do mo�o. Viagens, carr�es, restaurantes, casa na praia… o cara era realmente bom.

Fred, ent�o, o procurou. Explicou que precisava de um retorno de 30%, o mais breve o poss�vel. O “banqueiro” lhe explicou tudo direitinho e disse que quanto maior o retorno e menor o prazo, maior o risco. Por isso, sugeriu uma aplica��o mais moderada.

A promessa era um retorno de 25% a 30% em tr�s ou quatro meses, pois mais seguro. Fred deu raz�o ao novo amigo-conselheiro e ficou bastante grato pela prud�ncia sugerida. Assim, ficou ainda mais seguro em transferir os 150 mil reais para o especialista.

No fim do primeiro m�s, ao conferir o saldo, Fred ficou muito feliz: 15% de retorno. No final do segundo m�s, outra alegria: 10% a mais na conta. Assim que terminou o terceiro m�s, a primeira frustra��o: “apenas” 5% de ganho. Mas ao completar o quarto m�s, bingo!

Os 150 mil reais, agora, eram cerca de 210 mil. Que alegria! Correu para a imobili�ria e deu o sinal para a compra do apartamento dos pais: 10 mil reais. E acertou que faria o dep�sito dos 190 mil restantes no dia seguinte, t�o logo resgatasse o dinheiro investido.

PESADELO


Ao ligar para o amigo-investidor e solicitar o resgate, ouviu que eram necess�rios de tr�s a cinco dias �teis para a liquida��o das posi��es e o pagamento: “coisas do mercado financeiro”. Mas ficou feliz em saber que j� tinha um pouco mais que os 210 mil reais.

Na semana seguinte, Fred ligou para a financeira e ficou sabendo que o propriet�rio precisou fazer uma viagem internacional, a neg�cios, e que s� voltaria dali a tr�s ou quatro dias. Ficou chateado, ligou para a imobili�ria, explicou o imprevisto, mas bola pra frente.

Na sexta-feira, ligou novamente e falou com o “banqueiro”, que estava em �xtase. Imediatamente, deu a not�cia ao cliente: “voc� n�o vai acreditar no que fiz”, disse ele. “Emprestei seu dinheiro a um investidor su��o, que vai pagar 30% de juros ao m�s”.

Fred ficou confuso e perguntou: “ent�o n�o vou poder sacar o dinheiro?”. O banqueiro explicou: “claro que vai; o dinheiro � seu. Mas ao inv�s de 220 mil, voc� vai sacar quase 300 mil. O que s�o 20 dias?”. Ele tinha raz�o, pensou o rapaz, que se deu por convencido.

Ao final do quinto m�s, os 150 mil reais aplicados praticamente dobraram. Fred ligou uma, duas, tr�s, quatro vezes e s� dava “caixa postal”. Voltou a ligar uma, duas, tr�s, quatro vezes e nada. Mandou email, whatsapp, direct e nenhuma resposta.

GRAN FINALE


No dia seguinte, ap�s n�o pregar os olhos e n�o receber nenhuma not�cia, decidiu pegar o carro e se dirigir at� a sede da empresa, em S�o Paulo (Fred morava em Belo Horizonte). Ap�s 8 horas de viagem, chegando ao destino, encontrou  no local uma padaria.

Ningu�m ali sabia da tal empresa nem jamais ouvira falar do bem-sucedido empres�rio. Em total desespero, o rapaz procurou uma delegacia de pol�cia. Ao relatar o caso, ouviu do delegado de plant�o: “provavelmente, voc� foi v�tima de um golpe”.

O final dessa hist�ria todos n�s sabemos de cor. Fred perdeu seu dinheiro, o vigarista jamais foi encontrado e os pais do filho amoroso continuam “morando de aluguel”. Al�m do estelionat�rio, sabem quem mais ganhou dinheiro com tudo isso? A Meta.

Quem � a Meta? A onipresente dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp. Fred s� foi alcan�ado pelo an�ncio do vigarista virtual porque seus algoritmos detectaram que precisava de dinheiro e que buscava investimentos financeiros.

O pilantra distribu�a seus conte�dos (o v�deo que seduziu Fred), pagando pacotes de impulsionamento. Quanto mais ele anunciava, mais relev�ncia adquiria. Quanto mais relev�ncia, mais v�timas. Quanto mais v�timas, mais dinheiro roubado.

Ainda assim, a Meta, o Google e as outras tais “big techs” acham que n�o devem ser responsabilizadas, civil e criminalmente, pelos conte�dos que armazenam, distribuem e impulsionam em suas p�ginas de internet, afinal, n�o s�o produzidos por elas. O Fred (que pode ser o Jo�o, a Maria, o Fernando, a L�cia) que se dane. Quem mandou ser trouxa?

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