
A desigualdade social, talvez, seja ainda pior - e �! -, mas fruto e filha da falta de educa��o formal do brasileiro. Como diz o t�tulo desta coluna, “a m�e de todas as nossas trag�dias”. Sem educa��o formal n�o h� compreens�o, n�o h� capacidade anal�tica, n�o h� participa��o, n�o h� intera��o (e integra��o), n�o h� produtividade, n�o h� nada. Apenas um enorme, destruidor e desalentador v�cuo civilizat�rio.
Atualmente, apenas 15% dos jovens acima de 16 anos estudam no Brasil. Sim, isso mesmo, 15%. Eu tamb�m achei baixo o n�mero, mas � o que temos para hoje. � uma cat�strofe humanit�ria o que est� em curso no Pa�s. Estamos falando de dezenas de milh�es de garotos condenados a uma vida med�ocre, e uma sociedade inteira presa ao mais absoluto atraso. E a tend�ncia, sinto informar, � piorar.
a n�o votar em um pol�tico corrupto sem que leia, entenda e compreenda o notici�rio?
Afinal, como mudar uma sociedade pobre, violenta, preconceituosa, despolitizada, enfim, miseravelmente atrasada, sem educa��o formal? Como ensinar um caminhoneiro, por exemplo, que, ao carregar acima do limite de peso seu caminh�o, as leis da f�sica ir�o puni-lo com o tombamento � primeira curva? Ou um eleitor A maior causa da evas�o escolar �, claro, a necessidade de trabalhar e ajudar no sustento da fam�lia. Conversando com uma jovem atendente em uma lanchonete (uma gentil mo�a de 19 anos), a realidade corrobora a pesquisa. Ela n�o estuda porque trabalha dez horas por dia e enfrenta tr�s horas di�rias no deslocamento: “eu adoraria cursar nutri��o, mas como?”. Eis a�! Est� condenada a jamais sair do balc�o.
Como formar m�o de obra qualificada, com maiores sal�rios, sem estudo? Como aumentar a renda m�dia e ,consequentemente, o consumo - com queda no desemprego e maior arrecada��o de impostos - sem qualifica��o? Como melhorar a pol�tica e a administra��o p�blica, atrav�s do voto, sem capacidade anal�tica? Como melhorar a produtividade e baixar os pre�os em geral sem ensino adequado?
SEM PRESENTE, SEM FUTURO
O fosso social que separa o Brasil do mundo desenvolvido � enorme, mas t�o profundo quanto � o buraco que separa os jovens que podem dos que n�o podem estudar. Ali�s, dentro do universo dos que podem, h� ainda a dist�ncia abissal entre quem estuda em escola p�blica e quem estuda em escola particular (dist�ncia que se tornou ainda maior durante e ap�s a pandemia de covid-19).
Tomando caf� com um amigo - um cara que veio do interior, filho de gente muito simples -, ouvi que “poucas coisas d�o tanto orgulho para meu pai e minha m�e quanto o fato de eu ser formado”. Al�m de retirar esse orgulho de dezenas de milh�es de pais e m�es, a cat�strofe em curso tamb�m implica em culp�-los por ter de contar com os filhos para o sustento do lar. � um ciclo perverso que se retroalimenta.
Por n�o terem tido estudo, os pais n�o t�m boa renda. Por n�o terem boa renda, precisam que os filhos trabalhem (e n�o estudem). Muito mais que triste, � desolador viver assim. Estamos falando de uma senten�a de pobreza, adquirida no momento em que se nasce, com rar�ssimas e honrosas exce��es. Sinceramente, hoje � daqueles dias que gostaria de n�o ter nascido. Sendo menos dram�tico, � daquelas not�cias que gostaria de n�o ter lido.