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Estado de Minas ROBERTO BRANT

Come�ar de novo � um movimento natural na pol�tica brasileira

Estados ausentes tamb�m n�o produziram formas sustent�veis de crescimento. Nenhum pa�s desenvolvido chegou a esta condi��o sem um Estado ativo


11/09/2023 04:00 - atualizado 11/09/2023 08:40
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Explicação para pobreza econômica em meio a recursos abundantes está na falta de qualidade e de grandeza das maiorias dos governos
Explica��o para pobreza econ�mica em meio a recursos abundantes est� na falta de qualidade e de grandeza das maiorias dos governos (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press - 1/9/21)

H� quem acredite que os pa�ses podem se desenvolver sem a interven��o dos seus governos. Se isto for realmente verdade fica dif�cil entender porque alguns poucos pa�ses se desenvolveram enquanto a grande maioria permaneceu em graus diferentes de pobreza e de atraso. A resposta certamente n�o est� na geografia, mas na cultura e nas institui��es, ou seja, em tra�os coletivos que n�o evoluem espontaneamente, mas dependem de uma dire��o. Esta dire��o chama-se Estado.

Desde os tempos imemoriais at� a virada do s�culo XIX a humanidade praticamente n�o cresceu nada em termos de riqueza material. Durante todo esse longo tempo de estagna��o, no entanto, as diferen�as de renda entre os povos do mundo, embora existissem, eram de pequena escala. A partir deste ponto, a economia cresceu exponencialmente em quase toda a parte, mas as diferen�as entre os pa�ses tornaram-se enormes. A geografia n�o mudou. O que mudou foi o modo como os pa�ses foram governados.

As sociedades humanas s�o entidades complexas. Quase todas as pessoas colocam o interesse pr�prio em primeiro lugar. Fazer esta multid�o de individualidades integrar-se em um todo coletivo e participar de esfor�os cujos benef�cios s�o distribu�dos em comum, quer dizer transformar os indiv�duos em cidad�os, n�o � uma tarefa trivial. Nem todas as sociedades conseguem isto completamente. Tudo depende da confian�a dos indiv�duos nos outros e nas institui��es coletivas. Quando falta esta confian�a as sociedades tendem � estagna��o e � desordem. No lugar desta confian�a que alimenta a vida c�vica, as sociedades podem funcionar tamb�m pelo medo, que � o modo pr�prio dos sistemas autorit�rios.

Nestes breves duzentos anos de crescimento – apenas um instante na longa hist�ria humana – s� houve desenvolvimento regular e constante nas sociedades lideradas por Estados ao mesmo tempo democr�ticos e ativos. Estados autorit�rios experimentaram surtos de crescimento, � verdade, mas, com a exce��o da China, que � um experimento ainda em andamento, o crescimento n�o se sustentou. O medo n�o � a melhor solu��o para o progresso dos homens.

Estados ausentes tamb�m n�o produziram formas sustent�veis de crescimento. Nenhum pa�s desenvolvido chegou a esta condi��o sem um Estado ativo. Os pr�prios Estados Unidos s� adquiriram a escala que tem hoje ap�s as fortes interven��es do governo Roosevelt, que rompeu uma longa tradi��o de governos passivos. Todas as democracias sociais da Europa tiveram uma lideran�a clara do Estado, assim como o Jap�o, a Cor�ia do Sul e Cingapura.

A �nica explica��o para o grande enigma brasileiro que � a pobreza econ�mica em meio � quase extravagante abund�ncia de recursos, s� pode ser encontrada na falta de qualidade e de grandeza da maioria dos nossos governos. Nosso pa�s n�o tem um projeto estrat�gico, n�o sabe aonde quer chegar e todos os nossos esfor�os e recursos est�o dispersos ou perdidos. Os governos se antagonizam ferozmente para manter vivas suas clientelas sect�rias, sem nenhum compromisso com a sociedade em geral e sem nenhuma preocupa��o com o futuro. Est�o presos ao presente e tem horror �s grandes mudan�as.

A pol�tica, no seu sentido mais alto, n�o � um destino inevit�vel, nem uma condena��o eterna. Se olharmos a nossa pol�tica apenas pelo lado das suas mis�rias n�o nos restaria sen�o o desespero. Haver�, no entanto, sempre um espa�o para a imagina��o, no sentido que lhe atribuiu a grande pensadora de nosso tempo, Hannah Arendt. Imagina��o que na verdade � uma compreens�o mais alta de nossa condi��o, a que nos torna capazes de nos orientar no mundo e de come�ar sempre de novo.

Eu imagino que o que estamos vivendo, como tudo na vida, vai terminar. Uma nova gera��o de pol�ticos chegar� para ocupar o palco principal. Alguns j� est�o a caminho, no governo do Rio Grande do Sul, do Paran�, do Mato Grosso do Sul, de Pernambuco. Outros chegar�o. O principal � que os pol�ticos da velha ordem se retirem, para que o passado deixe de governar o presente e de fechar as portas para o futuro.

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