
No in�cio da pandemia, aproveitei a quarentena para colocar ordem na casa. O per�odo de confinamento social serviu para destralhar arm�rios, reciclar a papelada e doar brinquedos e roupas em excesso. Faltou coragem, por�m, para separar meus discos, meus livros e meus �lbuns de fotos.
Agora, com a segunda onda da pandemia, acabaram-se as desculpas. � tempo de desapegar das mem�rias afetivas. Encarar o conte�do dos ba�s de discos, livros do cora��o e das muitas milhares de fotos de casamento, anivers�rio dos filhos e recorda��es de f�rias. Ah, as f�rias (suspiro)...
Ao que parece, a compuls�o por cliques aumenta nas f�rias, assim como a pregui�a de apagar fotos repetidas. A conjuga��o dos dois fatores cria uma bola de neve.
Quando estamos viajando, a tend�ncia � documentar cada concha encontrada na praia, cada mordida no prato de comida t�pica e cada cena de realidades diferentes das nossas.
Basta abrir o cadeado das malas para as percep��es se agu�arem. Ganham mais sentido os chafarizes, est�tuas de figuras hist�ricas e at� os postes de ilumina��o p�blica com jeit�o de antiqu�rio.
Basta abrir o cadeado das malas para as percep��es se agu�arem. Ganham mais sentido os chafarizes, est�tuas de figuras hist�ricas e at� os postes de ilumina��o p�blica com jeit�o de antiqu�rio.
“Ei, faz uma foto minha aqui!”, � a senha que d� acesso ao portal do viajante. Quase um mantra do turismo. Dependendo do humor, o viajante poder� achar tudo, tudo mesmo, absurdamente lindo.
Numa dessas vezes, eu me peguei fazendo pose ao lado de uma placa de rua, encantada com os dizeres no idioma nativo e o design local. Nada contra, mas ao rever as fotos, a cena revelou-se pat�tica.
Numa dessas vezes, eu me peguei fazendo pose ao lado de uma placa de rua, encantada com os dizeres no idioma nativo e o design local. Nada contra, mas ao rever as fotos, a cena revelou-se pat�tica.
Nos pa�ses vizinhos, a grama � mais verde. O p�r do sol explode em tons mais vibrantes, o azul do mar � mais quente e as rochas ganham formatos in�ditos, superiores �s das cadeias de montanhas de Minas.
Nas viagens de f�rias, os detalhes importam mais do que nunca. A flor da lavanda do Le Jardin, em Gramado, � indiscutivelmente mais lil�s e perfumada do que a do quintal de casa.
Nas viagens de f�rias, os detalhes importam mais do que nunca. A flor da lavanda do Le Jardin, em Gramado, � indiscutivelmente mais lil�s e perfumada do que a do quintal de casa.
Dependendo da emo��o do momento, as impress�es de viagens ser�o mais alegres e divertidas. Tanto para o bem quanto para o mal. Conhe�o gente que implicou com a visita a pa�s europeu por causa do pre�o alto do chope.
Outra tomou birra de Madri porque j� chegou resfriada na cidade, sendo obrigada a permanecer de molho nos primeiros dias.
Outra tomou birra de Madri porque j� chegou resfriada na cidade, sendo obrigada a permanecer de molho nos primeiros dias.
A impress�o que d� � que as pessoas s� se permitem ser felizes e enxergar a beleza enquanto durar o intervalo. Na correria do cotidiano, s�o capazes de trope�ar no p� de uma �rvore florida ou passam reto pelo lugar vago no banco da pracinha, enquanto checam as mensagens do celular. Esbravejam contra o chafariz, ali plantado no meio do caminho, atrapalhando a passagem. � um paradoxo.
Ao contr�rio do que pensa a maioria, a felicidade n�o precisa ser feita apenas de momentos. “Se voc� � realmente feliz, voc� se torna uma pessoa natural. Quando voc� n�o � t�o feliz, voc� se torna uma pessoa dependente de condi��es”, ensina o monge Tulku Lobsang, irm�o do m�dico tibetano Amchi-la Rabjee, entrevistado pelo canal do YouTube, Ch� Com Leveza, em sua �ltima vinda ao Brasil. Vale a pena conferir no link ao lado. https://youtu.be/9Jl2klkx5Ns