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Estado de Minas Mais leve

Antes de que seja tarde demais

Come�ou a rir sozinha, alto, �s gargalhadas. Se era para morrer, morreria feliz


01/05/2022 11:35 - atualizado 01/05/2022 11:44

Ilustração

 
O que voc� faria se o mundo fosse acabar amanh�? A professora fez essa pergunta minutos antes do t�rmino da ioga, como uma provoca��o para que a turma refletisse sobre o sentido da vida.

Diante de uma suposta morte anunciada, cada aluno deveria definir sua lista de prioridades e apresentar na aula seguinte. “Isso n�o se faz”, indignou-se a novata, custando a se equilibrar na posi��o da �rvore.

A pergunta da mestra quase a derrubou pela raiz. J� n�o estava f�cil se sustentar sobre um p� s�. Respirar era um desafio. Suando frio, ela tentava se concentrar no ponto fixo � sua frente. Seu pinheiro teimava em balan�ar de um lado para o outro, perigosamente.
 
O tombo era quase certo. A natureza estava amea�ada de extin��o. Com o perd�o dos pecados, ela chegou a desejar a antecipa��o do Armagedon. O mundo podia cair, mas ela ficaria de p� at� o fim. Com isso n�o se brinca, recriminou-se a aluna, j� arrependida.
 
Ufa, acabou a aula. Queria ir embora correndo. Sentiu que perdia tempo, enrolando o intermin�vel tapetinho de ioga. Deveria ir logo, pois precisava se despedir dos seus filhos. Ser� que eles j� estavam em casa? E o marido?
 
O tr�nsito estava intenso. Era s� o que faltava morrer no meio do engarrafamento, sozinha. Ela precisava dar um telefonema para seus pais. Dar um jeito de falar com a irm� que mora em S�o Paulo. Enviar mensagem para a outra, que � professora e mant�m o celular desligado em sala de aula.

Deu vontade de abrir a janela do Kwid e gritar: “Olha o Armagedon a�, gente!” Meu Deus, ela continuava fazendo piada de coisa s�ria. Que se dane. Come�ou a rir sozinha, alto, �s gargalhadas. Se era para morrer, morreria feliz.
 
Precisava de mais elementos para refletir sobre o tema. O intervalo de tempo, por exemplo, era um fator de peso na decis�o. Se o mundo fosse acabar nos pr�ximos cinco minutos, era uma coisa. Se ainda faltasse um m�s, seria outra. Dependendo, dava um jeito de partir para Paris. Morreria no alto da Torre Eiffel, bebendo champanhe.
 
E se fosse acontecer agora, exatamente nesse segundo, o que ela faria? Sei l�. O mais prov�vel seria cair de joelhos, rezando. Talvez chutasse o balde. Comeria todo o resto dos ovos de P�scoa. Sairia berrando pela rua afora. Come�aria a dan�ar feito louca, cantando a m�sica da Pequena Eva. “Meu amor, olha s� hoje o Sol n�o apareceu. � o fim da aventura humana na Terra.”
 
A verdade � que � imposs�vel prever qual seria a nossa rea��o nessa situa��o limite. A catarse � algo individual. Meu pai, neto de alem�es, sentaria na varanda e tomaria uma �ltima cerveja gelada. Sem colarinho, por favor. J� meu filho mudaria para Marte. Ou iria para um bunker superseguro camuflado no quintal.
 
“Seria uma �tima ideia, mas acontece que n�s n�o temos um bunker superseguro em casa”, alertei a ele. “Quer saber? Prefiro n�o pensar nisso”, disse ele. “Nem eu”, concordei com o ca�ula, colocando um ponto final na cr�nica. � o fim.

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