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Estado de Minas SANDRA KIEFER

Sou dona do meu tempo

"De acordo com as instru��es, eu deveria ficar olhando fixamente para a vela, de prefer�ncia sem piscar, pelo intervalo de um minuto, no m�nimo"


18/09/2022 10:18 - atualizado 18/09/2022 10:20

Ilustração
(foto: Ilustra��o)

Um dia ainda consigo meditar de verdade. N�o desisto. J� tentei de diversos jeitos e t�cnicas, na esperan�a de chegar ao tal estado de sil�ncio, que nos tornaria capazes de olhar as coisas como elas realmente s�o, objetivamente. Voc� est� preparado? Quantos segundos consegue ficar sem pensar em nada?
 
Vamos fazer um experimento. Pegue um rel�gio com o ponteiro mostrando os segundos. Tente se concentrar apenas no movimento dessa seta. Por quantos segundos voc� consegue manter a si mesmo em sil�ncio? J� vou adiantando que � bem dif�cil interromper o infinito di�logo interno.
Meu recorde foi apenas de tr�s segundos. S�. Se voc� treinar, poder� conseguir uns 15 segundos, 30 segundos e at� um minuto. Praticando assim, voc� vai aprender a ver tudo de verdade, em ess�ncia, como um simples observador. Ser�?
 
Gostei da dica. Segundo o autor, essa � a maneira mais r�pida de desenvolver a concentra��o e represar pensamentos. Antes de testar, por�m, preciso resolver alguns pontos, ou melhor, ponteiros. Para come�ar, vou ter de arranjar um rel�gio antigo, com setas e mostrador.
 
Nem me lembro da �ltima vez em que usei rel�gio de pulso. Tinha dois ou tr�s deles guardados, estragados ou sem bateria, esperando conserto. Foram descartados. Com uma certa vergonha, confesso que tentei cumprir o desafio acima usando o cron�metro do telefone celular.
 
O efeito n�o foi o mesmo, � claro. Gerou ansiedade saber que, para marcar o tempo a ser gasto, eu teria de apertar o bot�o de parar do dispositivo. Pronto, fiquei pensando nisso o tempo todo da pr�tica. N�o consegui me desligar.
 
Diante do fracasso, decidi voltar ao in�cio dos tempos. Tentaria a medita��o da vela, a mais simples de todas, indicada para iniciantes. Essa n�o teria erro. Acendi a vela e posicionei a chama na altura dos olhos. Sentei na cadeira, posicionada a dois metros de dist�ncia do casti�al.
 
De acordo com as instru��es, eu deveria ficar olhando fixamente para a vela, de prefer�ncia sem piscar, pelo intervalo de um minuto, no m�nimo. Os pensamentos intrusos iam e vinham ao sabor da chama, que tremulava suavemente. Era s� eu n�o me deter neles.
 
Eu estava indo bem, at� me lembrar de uma frase fofa do professor de ioga. Segundo ele, se a chama virasse na sua dire��o, voc� deveria retribuir a rever�ncia do fogo. Expressar a sua gratid�o ao elemento da natureza.
 
Foi a� que eu me perdi. Comecei a refletir sobre a chance de a chama pender para o meu lado. Com a janela fechada, a probabilidade era perto de zero. Ser� que eu deveria ter deixado uma fresta no vidro? Mas isso n�o seria manipular o fogo? Adeus, concentra��o.
 
Vamos para a �ltima tentativa de meditar. Agora vai dar. Vou usar um truque cl�ssico para facilitar. Acendo a vela e vou contando de um at� dez, mentalmente. Depois, fa�o a contagem regressiva: 10, 9, 8 etc. Posso repetir isso quantas vezes foram necess�rias.
 
Outro macete � coordenar os n�meros com a respira��o. Voc� deve inspirar contando at� 10. Quando terminar de encher os pulm�es, fa�a o movimento oposto. V� expirando no 10, nove, oito, e assim por diante. Se estiver perdendo o f�lego, tente ir apenas at� o cinco ou sete. Aos poucos, v� aumentando o seu limite.
 
Vamos l�. Ligo uma musiquinha suave e fecho a janela, por precau��o. Acendo a vela, posicionando-a no local correto.  Relaxo o corpo e me entrego ao momento presente. Pronto. Agora � comigo.
Sou a dona do meu tempo. Tenho direito a cinco minutos de paz. Ser� que vou conseguir?  Na pr�xima cr�nica eu conto o resultado para voc�s.
 
Obs.:  Um casal de pardais fez um ninho bem em cima do telhado do meu escrit�rio. Vira e mexe um deles erra o endere�o e bate a cabe�a no vidro da janela. Entendi finalmente o motivo da insist�ncia dos passarinhos, que relatei em cr�nicas passadas. Querem me passar um recado: a import�ncia da liberdade.

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