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Estado de Minas MATERNIDADE

Desconstru��o di�ria: de uma empatia que n�o seja uma utopia

Voc� facilita a vida de uma m�e que se encolhe de desespero dentro de um avi�o tentando evitar o imposs�vel


26/10/2021 06:00

Criança olha pela janela do avião
(foto: Reprodu��o)

 
Existe um lugar de equil�brio muito fino que buscamos acessar para nos dizermos feministas e - em alguma inst�ncia, de fato - sermos. Porque � um lugar duro, um lugar de reflex�o. E � um lugar de desconstru��o, sem d�vida, mas h� que se construir algo tamb�m, a partir da�.
 
Me incomoda a ideia reiterada de um descontruir-se que n�o resulta em movimentos m�nimos de a��o no mundo. Um processo de desconstru��o pode durar uma vida, e durante esse tempo como fazemos para transformar esses peda�os que caem? 

Quando nos vemos nesse lugar, � comum que deixemos muita coisa para tr�s, comportamentos, vocabul�rios, cren�as. Mas e esse arsenal de coisas novas que nos invadem, como elaboramos? Vestimos o nosso novo modo de estar no mundo e desfilamos com ele por a�, tal qual um adere�o de moda, uma camiseta, um brinco, ou fazemos do adere�o uma escolha permanente, amplificada pela nossa interven��o ativa nas coisas que nos rodeiam? 
 

'A cruel falta de empatia que m�es e crian�as v�o experimentar durante o trajeto, recebendo olhares de condena��o, bufadas de �dio, reclama��es diretas e toda a sorte de manifesta��es de inc�modo poss�veis'

 
 
Essa semana estava fazendo meu tour di�rio pelos perfis do instagram que sigo e me inspiro, e li uma postagem da @carolburgo sobre a aventura agoniante que foi a longa viagem de avi�o dela com sua filha pequena, de menos de dois anos. Entrar num avi�o com uma crian�a de qualquer idade � um terror que acompanha as m�es em geral. � poss�vel notar esse desespero quando cruzamos seus olhares ali dentro, j� agoniadas pelo que est� por vir.

E o que est� por vir que agonia n�o � o choro em si, algo perfeitamente natural, mas a cruel falta de empatia que m�es e crian�as v�o experimentar durante o trajeto, recebendo olhares de condena��o, bufadas de �dio, reclama��es diretas e toda a sorte de manifesta��es de inc�modo poss�veis. 

Crian�as choram, m�es choram junto de exaust�o e impot�ncia. S�o muitos direitos b�sicos negados num epis�dio assim: o direito de ir e vir e o direito de sentir. Mesmo os deslocamentos mais curtos podem se tornar pequenos pesadelos, confinando mulheres a espa�os cada vez mais dom�sticos, solit�rios, privados. 

A pergunta que eu fa�o, voltando ao in�cio desse texto, � justamente sobre como voc� – n�s – acolhemos essas mulheres quando vivemos situa��es assim. Seu feminismo te coloca ao lado delas, na pr�tica? Voc� facilita a vida de uma m�e que se encolhe de desespero dentro de um avi�o tentando evitar o imposs�vel, ao falar com ela, oferecer apoio, espa�o, ajuda? Ou voc� sente compaix�o, mas se cala? Ou, ainda, voc� est� intimamente concordando com boa parte dos seus vizinhos (marco aqui o masculino com destaque) de voo sobre a incompet�ncia daquela mulher, que ali � tamb�m m�e, na tarefa t�o simples de manter uma crian�a calada?

Eu endere�o essas perguntas a voc�, mas tamb�m as fa�o com o mesmo vigor a mim mesma. E � constrangedor encarar nossas limita��es, o tanto que s� somos tocadas pelo que nos atinge, mantendo a empatia na prateleira mais alta dos sentimentos que contemplamos como pe�a rara, valios�ssima, mas bonita demais para ocupar a mesa do dia a dia. 
  
*Silvia Michelle A. Bastos Barbosa (professora universit�ria nos cursos de Comunica��o, Artes e Educa��o)

 

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