
O aposentar � algo a ser comemorado ou algo a ser evitado? Cremos que esta resposta � muito individualizada: ela pode fazer muito bem para aqueles que para ela se prepararam ou pode ser muito prejudicial para aqueles que simplesmente deixaram o tempo passar e, de um momento para outro, se viram sem atividades a serem realizadas, preenchendo suas vidas com um “nada a fazer”. Poucas coisas podem ser mais prejudiciais aos idosos que o completo �cio f�sico, intelectual, social e espiritual. Ter um objetivo, uma meta, um compromisso, uma realiza��o, tanto na vida ocupacional quanto social faz parte do bem viver.
A Emenda Constitucional 103, de novembro de 2019, alterou as regras de aposentadoria. Estas modifica��es fizeram com que muitas pessoas jovens idosas ou nem isso, se apressassem para pedir o benef�cio previdenci�rio. No entanto, o aumento da expectativa de vida permite, nos dias atuais, que os idosos que j� tem preenchido os quesitos para se aposentar se mantenham no mercado de trabalho, mantendo-se produtivos e contribuindo socialmente com os demais, al�m de manterem-se felizes e preenchidos com o ter o que fazer.
Entretanto, apesar das leis brasileiras disporem de normas que impedem a discrimina��o por idade, na realidade, o mercado de trabalho para os idosos ainda � bem restrito. O trabalho formal muitas vezes � substitu�do por ocupa��es criadas pelos pr�prios idosos.
Se queremos uma sociedade na qual o idoso se sinta parte, � importante que se discuta as mudan�as no mundo do trabalho, as oportunidades de inser��o no mercado dos idoso, avaliando suas limita��es, desafios, oportunidades e principalmente com a cria��o de condi��es dignas e seguras para o exerc�cio de atividades laborativas por esta popula��o. Fato muito importante a ser considerado � o que o passar dos anos agrega aos indiv�duos, sendo talhados para muitas atividades, onde o amadurecimento, a parcim�nia, a experi�ncia, o compromisso e o valor dado ao trabalho fazem com que o idoso possa ser considerado um excelente colaborador.
De acordo com a pesquisadora Caramaro, o preconceito com rela��o � idade � um grande limitador da perman�ncia do idoso no mercado de trabalho, sendo este preconceito denominado Idadismo. Alguns empres�rios, infelizmente, ainda consideram que os idosos t�m menor capacidade de produ��o e maior dificuldade de adapta��o �s novas tecnologias. O dito Idadismo reduz as oportunidades de trabalho e ainda direcionam os idosos para atividades menos qualificadas e com remunera��es inferiores, obrigando-os a desenvolverem atividades informais e trabalho aut�nomo. Infelizmente, o que a realidade nos mostra � que somente os idosos com maior escolaridade e pertencentes a classes sociais mais favorecidas permanecem por mais tempo em postos de trabalhos de maior qualifica��o e rendimentos. Evidencia-se aqui mais um custo social para os menos favorecidos e que tiveram menores oportunidades de se qualificarem durante a vida.
A baixa escolaridade cria um contingente de pessoas situadas nas faixas et�rias de 50-59 anos, que n�o trabalham e n�o tem qualifica��o profissional para enfrentar o mercado de trabalho. Estas dificuldades atingem ainda mais a popula��o idosa negra ou parda, que evidenciam maiores taxas de analfabetismo que entre as pessoas de cor branca. A estas pessoas sobram atividades que exigem maiores esfor�os f�sicos ou s�o menos gratificantes, como �rea de constru��o civil, limpeza, servi�os de transporte, seguran�a patrimonial, dentre outros. J� os brancos, mais escolarizados, desenvolvem atividades ditas mais importantes socialmente, com melhores rendimentos e menor esfor�o f�sico. Isso se transforma em um paradoxo dif�cil de ser vencido por estes gerontes: s� lhes resta trabalhos pesados, onde talvez seja deveras penoso que eles os exer�am.
Complica-se ainda mais este cen�rio quando analisados os postos de trabalho divididos por g�nero, nos quais as mulheres mais velhas exercem atividades ainda menos complexas e qualificadas, al�m de possu�rem rendimentos inferiores, quando comparadas a homens idosos. N�o bastasse, muitas mulheres ainda enfrentam dupla jornada, mantendo o trabalho e os rendimentos que ele proporciona, associado aos servi�os dom�sticos, para os quais, muitas vezes, n�o contam com a ajuda dos demais membros da fam�lia. O que podemos perceber � que tamb�m na velhice h� um aprofundamento cruel das desigualdades de g�nero no mercado de trabalho.
Como vivenciamos um processo de franco envelhecimento populacional, � importante que aprendamos a valorizar o trabalho do idoso como um importante fato gerador de for�a produtiva. No entanto, para al�m de sua for�a produtiva, que, diga-se de passagem, � muita, principalmente quando levamos em considera��o seu conhecimento acumulado, o trabalho � uma forma de manuten��o das fun��es cognitivas e sociais do velho, muitas vezes respons�vel pela manuten��o do sentimento de sentir-se �til, produtivo, vivo. Enquanto para algumas pessoas o trabalhar � o complemento de renda, para outras, o trabalho � uma express�o de realiza��o da pr�pria vida e isso n�o acaba quando se preenche os crit�rios para a aposentadoria.
Para este segundo tipo de pessoas, o afastamento do ambiente laboral pode representar uma das perdas mais importantes da vida. Isso pode acarretar queda do padr�o de vida, diminui��o do c�rculo social, predispondo o individuo � baixa de autoestima, solid�o e acreditar que a vida est� terminando, com todas as consequ�ncias ps�quicas desta certeza. � evidente como estas pessoas, com baixa de autoestima passam a se cuidar menos, praticar menos exerc�cios, abusar de subst�ncias e �lcool e mudarem seu perfil comportamental, ficando cada dia mais ap�ticas e afastadas da sociedade e at� de sua fam�lia.
Com o avan�ar dos anos, a humanidade depender� cada vez mais da for�a de trabalho dos idosos, por�m, gerando o seguinte questionamento: haver� trabalho para os jovens e para os idosos? Quais os reflexos da baixa escolaridade, do g�nero, da classe social e das comorbidades na cria��o de oportunidades de trabalho para os mais velhos? Com estas perguntas, fica claro e urgente que sejam desenvolvidas pol�ticas p�blicas de capacita��o, gera��o de empregos e renda para pessoas idosas, j� que representam um importante contribuinte para a economia dom�stica e contribui��o da riqueza de um pa�s, especialmente nos pa�ses em desenvolvimento, onde os recursos s�o mais escassos. Muitos lares multigeracionais t�m no rendimento do idoso (av�s e av�s), a principal fonte de renda, seja atrav�s dos benef�cios previdenci�rios, mas tamb�m o que amealham exercendo suas atividades ocupacionais. Muitos lares n�o sobreviveriam sem o rendimento dos idosos. Atentemos a isso.
Novamente deixamos aqui um alerta: lutemos hoje pelos nossos direitos amanh�. Trabalhar em condi��es dignas e com remunera��o adequada � um direito e n�o um favor que se faz aos idosos que durante a suas vidas constru�ram a grandeza deste pa�s. Idosos s�o pessoas plenamente capazes de realizarem grandes feitos. Vamos nos preparar para manter uma boa qualidade de vida na velhice como perseguimos em todas as fases da nossa vida.
Trabalhar enobrece. N�o trabalhar pode adoecer. Caso esteja aguardando o dia da sua aposentadoria, vai aqui um conselho: planeje-se para isto. Unamo-nos para cobrar dos entes p�blicos condi��es dignas de aperfei�oamento, adequa��o de postos de trabalho e est�mulo para que os idosos se mantenham em atividade at� quando assim o desejarem. E quando desejarem parar, que seja uma decis�o do mesmo e n�o uma imposi��o do mercado.