
Segundo a autora, muitos dizem que a exist�ncia � uma morte lenta, no entanto, ela afirma que quem faz tal rela��o desconhece uma verdade essencial da vida, qual seja, que ela � um sistema inst�vel, no qual, a cada momento, o equil�brio se perde e se reconquista, n�o se apresentando, nem de longe, como uma morte lenta, uma vez que sin�nimo de morte seria a in�rcia, o que n�o existe no ato de viver e envelhecer, j� que estamos em constante movimento.
No livro Pa�s Jovem com Cabelos Brancos h� uma afirma��o contundente no sentido de que a velhice � um termo impreciso e vago, uma vez que nada � mais flutuante do que os limites da velhice, em termos de complexidade fisiol�gica, psicol�gica e social.
O mesmo livro nos alerta sobre como a percep��o da velhice pode se mostrar completamente diversa em contextos diferentes, tais como no Brasil, no Jap�o ou em Serra Leoa.
Para os autores existe, por um lado a velhice censit�ria ou cronol�gica e, de outro lado, a velhice psicol�gica ou subjetiva, de modo que, nesse contexto, um jovem pode ser velho e um velho pode ser jovem.
Deve-se levar em considera��o n�o s� a idade cronol�gica, mas tamb�m a biol�gica e a manuten��o da capacidade funcional de uma pessoa para categoriz�-la como velho e sim: muitos velhos s�o realmente dotados de muita vitalidade e energia. Assim, como classific�-los de velhos? N�o. S�o pessoas que j� viveram muito e mantem-se muito vivos.
A verdade � que a velhice � um conceito historicamente constru�do, baseado nas cren�as e nos valores sociais e n�o um conceito est�tico, baseado na quantidade de morbidade ou de cabelos brancos que possui a pessoa.
Assim como a velhice � um conceito constru�do, tamb�m o s�o os estere�tipos sobre ela, que s�o transmitidos pela educa��o e associados a pr�ticas sociais discriminat�rias. A hist�ria nos mostra como os estere�tipos sobre a velhice foram sendo constru�dos e retransmitidos entre as gera��es, perpetuando, muitas vezes, preconceitos sociais arraigados sobre o processo de envelhecimento.
Se tomarmos a hist�ria da Filosofia Ocidental veremos que os deuses eram carregados de in�meros defeitos e qualidades humanas, contudo, n�o envelheciam, j� que a mortalidade – e o envelhecimento – era um castigo aos humanos, que ousaram desafiar sua autoridade. Os deuses n�o sofriam, como n�s, com as intemp�ries do tempo, j� que nasciam adultos e assim permaneciam para todo o sempre, sem nunca temer nada, j� que n�o eram amea�ados pela morte.
Na B�blia vemos algo parecido, j� que no Para�so, Ad�o e Eva eram imortais e viviam felizes at� serem castigados por terem comido o fruto da �rvore do conhecimento. Como comumente ouvimos dizer, o homem decaiu e foi al�ado � condi��o de mortal – que envelhece.Nas duas situa��es a velhice � apresentada como castigo e n�o temos d�vida que, culturalmente, um pouco desta ideia continua em vigor at� nossos dias.
O preconceito ligado a velhice n�o � tema novo e s�o in�meras as formas de discrimina��o sofridas por quem j� iniciou o processo de envelhecimento, que v�o desde seu apagamento social ap�s a aposentadoria at� mesmo a no��o de que s�o descart�veis. N�o � incomum vermos situa��es nas quais a opini�o dos idosos � desconsiderada pelos demais e seus desejos sumariamente ignorados.
De um lado, o preconceito contra os idosos � estrutural e institucional, atrelando ao idoso a ideia de fragilidade e improdutividade, al�m de falta de vigor f�sico e predisposi��o emocional; de outro lado, h� um excessivo valor � juventude e seus atributos, deixando transparecer que tudo aquilo que � antigo n�o tem mais espa�o na vida social.
Estas duas for�as opostas precisam urgentemente serem equacionadas, a fim de uma conviv�ncia social mais harm�nica entre jovens e velhos. Se por um lado os idosos t�m muito a ensinar, em raz�o de sua vasta experi�ncia de vida, de outro lado os jovens tem muito a ensinar, isto em virtude de sua maior conex�o com as tecnologias. Nessa rela��o de aprendizado rec�proco todos saem ganhando, j� que o passado passa a ser valorizado como um meio de se obter melhores resultados presentes e futuros.
Somos resultado de uma sociedade que tem na sua pr�pria origem um preconceito imenso ligado ao envelhecimento e precisamos urgentemente repensar esta situa��o pois, como sempre dizemos nesta coluna, devemos construir hoje o futuro dos idosos de amanh� e isto s� ser� poss�vel por meio da desconstru��o de estere�tipos h� muito arraigados no seio social.
Entendamos que envelhecemos como vivemos e se valorizamos o viver devemos cuidar do nosso envelhecimento e defender as vantagens de se envelhecer:
seremos mais equilibrados, ponderados, amadurecidos, menos belicosos e com maior capacidade de compreender os que nos cercam. Ao contr�rio do que possamos acreditar, o envelhecimento pode sim ser uma fonte de alegrias, basta que saibamos enxergar as partes boas desta fase da vida e vivenci�-las na sua plenitude. Todas as fases da vida t�m suas benesses e cobram seu pre�o. Na velhice n�o � diferente. Tamb�m h� coisas boas em ser velho. Valorizemos!