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Estado de Minas VITALIDADE

Medicina Paliativa: conforto que conforta

O paciente troca o medo, a culpa e a solid�o do momento da morte por uma assist�ncia paliativa que busca trazer conforto e dignidade.


29/05/2023 06:00
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Idosa fazendo medição em aparelho
A medicina paliativa tem uma abordagem mais voltada para o cuidado e al�vio da dor e do sofrimento em doen�as graves e incur�veis (foto: Pascal POCHARD-CASABIANCA / AFP) )
Hoje vamos falar sobre a Medicina Paliativa. Ou j� estamos na idade para tocarmos no assunto ou termos pais que dentro em breve poder�o se ver �s voltas com ela. A medicina paliativa tem uma abordagem mais voltada para o cuidado e al�vio da dor e do sofrimento em doen�as graves e incur�veis e nos convida a refletir sobre a complexidade da experi�ncia
humana diante da finitude. � um campo que vai al�m do tratamento f�sico, buscando compreender e atender �s m�ltiplas dimens�es do sofrimento que acompanham a trajet�ria de um paciente e de seus familiares nesse contexto.


O termo "paliativo" vem do latim paliado, no sentido de encobrir, dissimular, disfar�ar, tornar menos intenso, atenuar, abrandar. Ele est� associado � ideia de um manto protetor e sugere uma abordagem m�dica que busca oferecer suporte e al�vio diante de uma doen�a fora de possibilidade terap�utica. Nessa perspectiva, o cuidado paliativo se torna um cuidado de prote��o, que envolve n�o apenas o corpo, mas tamb�m o aspecto emocional, social e espiritual
do paciente.


O enfermo que enfrenta a terminalidade da vida pode experimentar dias de grande esperan�a, apesar de seu progn�stico desfavor�vel, crendo em uma cura milagrosa; e outros dias, de profunda ang�stia em face de sua inapel�vel extin��o. N�o raro os sintomas �lgicos podem se mostrar insuport�veis, principalmente na terminalidade de algumas doen�as espec�ficas, o que pode fazer com que enfermo requeira, de modo consciente, sua morte, n�o
tanto para se ver livre da vida, mas para p�r fim �s dores do corpo.


Assim entendida a realidade do paciente fora de possibilidade terap�utica, quando a cura n�o � mais poss�vel, o objetivo da equipe de sa�de que assiste ao paciente deve voltar-se para os tratamentos paliativos dos tormentos que afligem as pessoas em processo de terminalidade da vida. Assim, aliviar a dor e desconforto do corpo e o sofrimento da alma s�o as tarefas principais da Medicina Paliativa.


A dor � um alarme do corpo que impulsiona o organismo a atuar de forma a restabelecer a sa�de. Ela � f�sica e pode ser ou n�o proporcional � magnitude da les�o. Nesse sentido, cada queixa de dor deve ser analisada pela equipe de sa�de, n�o sendo poss�vel de antem�o estabelecer uma escala precisa para quantificar a dor do indiv�duo enfermo. J� o sofrimento � a percep��o ps�quica de uma amea�a, envolvendo medo, apreens�o, inseguran�a e a incerteza do ue est� por vir.


A fun��o primordial dos cuidados paliativos �, ent�o, o de oferecer uma abordagem multidisciplinar, no qual m�dicos, enfermeiros, assistentes sociais, profissionais de sa�de mental, dentre outros, buscam o abrandamento da ang�stia experimentada pelos pacientes em processo de terminalidade da vida, por meio da preven��o e al�vio da dor f�sica, com identifica��o precoce, avalia��o correta e tratamento adequado para o quadro, assim como o
suporte �s quest�es existenciais que rondam a terminalidade da vida.


� papel da equipe de sa�de multiprofissional auxiliar o enfermo em processo de terminalidade da vida a compreender sua situa��o e quem sabe assim, diante de uma morte anunciada, poder proporcionar a ele a oportunidade de revisitar sua pr�pria vida e refletir sobre suas viv�ncias e escolhas. Nesse sentido, a equipe multiprofissional desempenha um papel crucial, oferecendo um espa�o de escuta e acolhimento, onde o paciente pode expressar suas
preocupa��es, medos e desejos, assim como o personagem Ivan Ilich desejou ter tido a chance no livro de Tolst�i chamado A Morte de Ivan Ilich, no qual o autor reflete sobre a mortalidade, a busca por sentido na vida e a inevitabilidade da morte.


Muitas vezes, � por meio do cuidado paliativo, oferecido pela Medicina Paliativa, que o paciente se abre para resolver quest�es pendentes em sua vida, reconstruir la�os afetivos e organizar assuntos importantes. Se � gratificante para o enfermo em processo de terminalidade da vida receber cuidados integrais para o enfrentamento do processo, isto tamb�m � verdadeiro para a equipe que o assiste. No final da vida, muitas pessoas se abrem para um estado de amorosidade profunda e oferece a todos os que est�o ao seu redor sabedoria, amor e gratid�o, notadamente � equipe que o auxilia.


Isto � t�o verdade que, embora lidar com a morte seja algo desafiador, as pesquisas demonstram que profissionais que trabalham em cuidados paliativos geralmente apresentam menor �ndice de estresse profissional que seus colegas de outras �reas. Por meio dessa pr�tica, eles aprendem a valorizar a vida e encontram um prop�sito em cuidar daqueles que est�o
enfrentando a finitude.

 

Quando, diante de uma doen�a fora de possibilidade terap�utica, os m�dicos
recomendarem a Medicina Paliativa, n�o devemos nos preocupar! N�o seremos ou teremos nossos familiares abandonados � pr�pria sorte, mas sim, seremos encaminhados para um verdadeiro suporte nos momentos derradeiros. Aceitar a Medicina Paliativa � admitirmos que a vida tem um fim e que � poss�vel receber suporte integral para enfrentar esse doloroso processo.


Com o aux�lio da Medicina Paliativa a morte se revela como um dia que vale a pena ser vivido, como queria o personagem Ivan Ilich, pois, mesmo diante das dificuldades, � poss�vel encontrar significado, conex�es humanas e cuidado compassivo. A Medicina Paliativa nos convida a refletir sobre a import�ncia de abordar a finitude com sensibilidade, respeito e compreens�o, reconhecendo que cada vida tem um valor inestim�vel e que cada pessoa merece ter um espa�o apropriado para al�vio de suas dores f�sicas e seus sofrimentos existenciais nos seus derradeiros momentos como consci�ncia neste planeta.

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