
"Alguns analistas consideram que a troca na lideran�a do governo do deputado Major Victor Hugo por Barros marca nova fase na articula��o de Bolsonaro"
Que Barros � mais capacitado politicamente do que Victor Hugo para administrar parte da conturbada articula��o pol�tica do governo ningu�m duvida. O deputado do Paran� � uma t�pica figura de centro: foi aliado de Collor a Temer, de quem foi um elogiado ministro da Sa�de. Com essa hist�ria pol�tica, Barros empresta credibilidade para o governo no momento de negociar cargos e emendas com seus pares. Mas a vota��o do veto ao reajuste de servidores p�blicos j� pode ser atribu�da a essa mudan�a?
Pode at� ser que parte dos 316 votos para manuten��o do voto tenham sido conseguidos pelo ex-ministro de Temer, mas � fato que outros deputados defensores do rigor fiscal tiveram importante participa��o. Foi nesse sentido que o presidente da C�mara dos Deputados, Rodrigo Maia, quando questionado se a vota��o teria sido uma vit�ria do governo, respondeu: “Foi a C�mara que construiu a solu��o. N�o tirando a import�ncia do governo, mas foram os l�deres que constru�ram a solu��o”. Foi uma clara resposta a Barros, mas tamb�m ao Senado.
Isso porque os senadores, em vota��o anterior, haviam derrubado o veto de Bolsonaro. A derrubada pegou mal, sendo que alguns parlamentares sofreram nas redes sociais por estarem concedendo privil�gios a quem j� tem sal�rios muito superiores � m�dia nacional. Um deles foi o senador Major Ol�mpio (PSL-SP), que divulgou v�deos comemorando o resultado da vota��o. O senador tentou se explicar, mas o estrago j� estava feito.
Ecoando a repercuss�o negativa, ainda na noite da vota��o, o ministro Paulo Guedes disse que o sinal � “p�ssimo” e chamou de “crime” o uso de dinheiro emergencial do combate � pandemia para reajustar sal�rio de servidores. Na mesma esteira, Bolsonaro sustentou que o pa�s poderia ficar ingovern�vel e que a vota��o no Senado daria um preju�zo de R$ 120 bilh�es. Assim, a repercuss�o negativa da vota��o no Senado come�a a explicar a vit�ria da manuten��o do veto na C�mara. Caso o impacto na opini�o p�blica n�o tivesse sido t�o ruim, certamente o cen�rio poderia ter sido diferente.
A press�o funcionou para for�ar os l�deres da C�mara dos Deputados, a casa com a palavra final nesse caso, a buscar uma sa�da para o enrosco. A primeira, e talvez principal, manobra tomada pelos deputados alinhados � proibi��o dos reajustes foi o pedido de adiamento da vota��o por 24 horas. A vota��o no Senado ocorreu na quarta-feira e poderia ser apreciada no mesmo dia na C�mara, mas a derrota do governo seria quase certa.
Assim, agiu bem a nova articula��o do governo sob o comando de Ricardo Barros, pois esse tempo foi fundamental para que a press�o da opini�o p�blica crescesse, bem como para que os l�deres da C�mara conseguissem chegar a um acordo. Deu certo. No mapa de vota��o dos deputados, tanto partidos mais pr�ximos do governo quanto os mais ligados a Rodrigo Maia registraram poucas trai��es.
Sobre as li��es do primeiro teste da articula��o do governo na C�mara “sob nova dire��o” ficam algumas li��es: 1) Independentemente do l�der, Maia refor�a seu compromisso com a pauta econ�mica. 2) Deputados mais uma vez ficaram com o �nus de dizer n�o ao populismo do Senado (certeza que vir� troco). 3) As falas incisivas e decisivas do presidente da Rep�blica s� vieram quando ficou evidente que a possibilidade de derrota era grande (ficou novamente claro a hesita��o de Bolsonaro quanto a vota��es que atingem o funcionalismo).
Respondendo � pergunta do terceiro par�grafo; sim, � dif�cil imaginar que o major Victor Hugo conseguisse fazer o que Ricardo Barros fez semana passada. Por�m, mais dif�cil ainda � imaginar que a manuten��o da proibi��o do reajuste dos servidores fosse poss�vel, sem a atua��o de Maia e a repercuss�o negativa do resultado do dia anterior.