
Remando contra o pesadelo da mar� que atingiu a economia brasileira, o mercado de cavalos no Brasil marcha comemorando seus bons resultados. Em 2014, de acordo com dados do Centro de Estudos Econ�micos da Universidade de S�o Paulo (Cepea/USP), o segmento movimentou cerca de R$ 8,5 bilh�es, no pa�s, representando 25% do Produto Interno Bruto (PIB). O setor gera riqueza e mais de 3 milh�es de empregos diretos e indiretos. Este ano, de acordo com o pesquisador respons�vel pelo novo estudo, Roberto Arruda, o valor da movimenta��o mais do que o dobrou. Os n�meros exatos ser�o divulgados, em breve, pelo Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento. Mas Roberto antecipa: “N�o h� crise para esse segmento”.
Segundo a Organiza��o das Na��es Unidas para Agricultura e a Alimenta��o (FAO), atualmente, h� mais de 50 milh�es de cabe�as de cavalos no mundo. A lideran�a na cria��o pertence aos Estados Unidos (EUA) com cerca de 10 milh�es, enquanto o Brasil ocupa o quarto lugar com mais 6 milh�es. A previs�o para os pr�ximos anos � que aproximadamente 45% dos animais sejam destinados �s tarefas de lazer. Na sequ�ncia, v�m a cria��o para lida nas fazendas e para competi��es, atividades que mais geram renda. Vale lembrar que incrementam outros setores tamb�m, como o da venda de roupas e acess�rios para montaria, cursos, veterin�rios, etc..
Para quem est� na �rea, h� uma raz�o para que o mercado relacionado aos equinos tenha passado a margem da crise: a paix�o pelo animal, que permeia toda a cadeia equina e resulta em lucros. Quem se interessa pelos cavalos pode optar em ter uma cria��o como hobby, sem esperar um retorno financeiro, ou transform�-la em um bom neg�cio. “Costumo comparar esse segmento com o setor automobil�stico: quem ganha dinheiro com carros s�o poucos”, comenta Roberto Arruda, que revela que, nesse novo novo estudo ainda a ser divulgado, algo � percept�vel no meio: o n�mero de cavalos no pa�s tende a diminuir, enquanto a qualidade dos animais deve aumentar. “Antigamente, o cavalo era visto mais para a lida e trabalho no campo. Agora, tem diminu�do essa participa��o e aumentado o n�mero de animais voltados para o lazer e o esporte”, antecipa.
E est� justamente nessa mudan�a o caminho para quem quer ter lucro com o animal. “O primeiro passo para o criador que quer ganhar dinheiro com a cria � ter uma sele��o criteriosa dos animais. Ele deve escolher aqueles com qualidade e, al�m disso, participar de eventos e exposi��es, onde � poss�vel fazer contatos e negocia��es”, indica o presidente da Associa��o Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador, Magdi Shaat. Ele destaca que, atualmente, o mercado est� muito bom e com boa liquidez. Hoje, o pre�o de um cavalo pode variar de R$ 1 mil a R$ 1 milh�o – o valor � determinado pela ra�a, linhagem e t�tulos do animal. “Trata-se de um mercado aberto e democr�tico: h� desde um milion�rio at� pessoas das classes mais humildes”, defende Magdi Shaat. Ainda de acordo com ele, a ra�a mangalarga marchador � a principal, hoje, no pa�s. No ano passado, foi sancionada lei que a declara como ra�a nacional de cavalos do Brasil. Minas Gerais � o estado com maior plantel. S�o, atualmente, 4,5 mil criadores da ra�a em haras e fazendas mineiras, com cerca de 270 mil animais.
Prova da representatividade da mangalarga marchador poder� ser conferida de quarta-feira at� o dia 25, quando ocorre em Belo Horizonte, no Parque da Gameleira, a 34ª exposi��o nacional da ra�a. A expectativa � de que a mostra conte com 940 expositores e receba cerca de 150 mil visitantes. “No ano passado, o evento movimentou de R$ 9 milh�es a R$ 10 milh�es. Neste ano, acreditamos que vamos alcan�ar o mesmo resultado”, comenta Magdi.
NAS PISTAS
Al�m das exposi��es, um outro segmento que tem atra�do investimentos � o de espa�os para eventos e competi��es. “Ainda sou criador de cavalos, mas o retorno financeiro com a pista � mais r�pido”, afirma Jos� Paulino, dono do Centro H�pico Haras do Lay, que conta com a primeira pista coberta do estado. Criador de cavalos mangalarga h� 20 anos, ele explica que a sua cria��o era voltada para neg�cios e divertimento. “Eu observava que em muitos lugares de provas, a estrutura n�o era a mais adequada. Geralmente, esses locais eram prec�rios. O p�blico ficava debaixo de umas �rvores, n�o havia lanchonete e, se chovesse, a pista virava barro, era perigoso para os montadores e tamb�m para os animais”, comenta. Inspirado em haras de S�o Paulo, ele criou, no ano passado, um espa�o coberto, onde investiu mais de R$ 1 milh�o. S� nas baias, os aportes somaram cerca de R$ 500 mil.
As obras da pista indoor tiveram in�cio em junho do ano passado. Em oito meses, o Centro H�pico ficou pronto. “Temos uma pista coberta de 4,2 mil metros quadrados, estrutura de restaurante, 130 baias de alvenaria, banheiros para os pe�es com aquecedor solar. Tudo em uma �rea de 50 mil metros”, conta Jos� Paulino. Inaugurado em fevereiro, o espa�o, segundo ele, � aberto para todas as ra�as equinas.
Como neg�cio, o espa�o tem sido rent�vel. H� provas agendadas at� o fim do ano. Tamb�m h� exposi��es previstas para o local, que fica em Capim Branco, na Grande BH. Em m�dia, durante uma prova, h� de 300 a 400 inscri��es, sendo que o participante paga de R$ 70 a R$ 300. “Para alugar as baias, cobramos de R$ 100 a R$ 160 para um fim de semana. H� os patrocinadores, como ra��es, f�bricas de medicamentos, marcas de selas, etc, que tamb�m podem expor no local durante o ano todo. � outra fonte de renda. E ainda queremos promover shows”, diz Jos� Paulino.
GEN�TICA QUE VALE OURO
Ao mesmo tempo em que espa�os para eventos equinos pode ser rent�vel, ter um cavalo campe�o � outra forma garantir lucros. Mas esta � uma loteria. E a aposta deve ser feita bem cedo, para que o animal seja preparado para brilhar nas pistas. Dono do Haras Porteira de T�bua, Diogo Bottrel, � s�cio de um dos campe�es dos campe�es do mangalarga marchador. No ano passado, o garanh�o Lan�a Chamas de S�o Louren�o ganhou a 33ª Exposi��o Nacional do Mangalarga Marchador, na Gameleira. “Um cavalo dessa ra�a n�o � igual a boi, que tem tabela de valores. No equino, vale quanto o comprador paga”,diz o criador.
Diogo conta que pagou R$ 5 mil ao adquirir seu cavalo. Na �poca, era um potro com seis meses. Quando ele fez quatro anos, j� valia R$ 1 milh�o, por causa das provas que foi ganhando. A metade desse valor foi paga por um s�cio de Diogo. Como ele levou o campeonato do ano passado, a decis�o dos s�cios agora � tirar o garanh�o das pistas.
O gene do cavalo passou a ser o melhor neg�cio. “Hoje, ele est� valendo R$ 2 milh�es e, nessa �rea, a gen�tica � muito importante. Mas n�o o vendo, porque os produtos dele v�o me trazer mais lucros. S�o 80 potrinhos dele por ano. E cada um desses animais pode ser vendido por R$ 20 mil, em m�dia, por causa do potencial gen�tico”, afirma Diogo. Ele conta que investe alto nos cuidados com o animal, que v�o desde a cama em que ele dorme at� a acupuntura. “� um investimento de cerca de R$ 50 mil”, revela. Se comparado ao lucro que Diogo tem e ter� com o bicho, o valor n�o � nada. Por�m, ele reconhece que a realidade do mercado � mais cruel.
“S� existem 14 campe�es dos campe�es vivos no Brasil. A cria��o de cavalos � um hobby caro, porque tirando aquele que � atleta, voc� ter� o resto do plantel que exige os mesmos cuidados.” Dentro do mercado, um cavalo que � considerado ruim, de acordo com Diogo, custa em m�dia R$ 2,5 mil. “Esse n�o vai para competi��o e fica na lida, no campo. Para esses, h� compra e venda toda hora. Com 30 dias de vida, o criador tem no��o se o animal ser� bom ou ruim. H� o cavalo do meio, que vale cerca de R$ 20 mil e este pode sofrer com a crise financeira, porque os compradores, geralmente, s�o pessoas de renda m�dia, que, atualmente, est�o sendo impactadas com a retra��o da economia”, diz. J� os cavalos “top” s�o para quem tem muito dinheiro no bolso.
HIPISMO E EQUITA��O
Outra forma de retorno financeiro est� no hipismo. Segundo S�rgio Marins, atual campe�o mineiro de Senior Top, treinador e cavaleiro de hipismo em Belo Horizonte, trata-se de um mercado de alt�ssimo risco. Isso porque, para o esporte, o animal tem que ser muito bem treinado. Isso porque num dia ele pode valer R$1 milh�o, por causa dos t�tulos conquistados. Mas, se for mal em uma prova, no dia seguinte pode n�o valer mais nada.
Para o hipismo, o animal que tem sido mais cotado no pa�s � o Cavalo Brasileiro de Hipismo (BH) – a ra�a � nova, resultado de cruzamentos entre exemplares europeus. “Geralmente, uso a BH, que na capital mineira tem poucos criadores. Tenho v�rios animais que treino para os propriet�rios, que me pagam para trein�-los. Fico com o bicho durante tr�s ou quatro anos. Quando vejo o potencial do animal, fa�o parceria com o propriet�rio e tenho 30% do valor que ele vale na hora da venda”, diz. Marins comenta que nem sempre os pr�mios das provas s�o compensadores. “Mas o cavalo vai ficando mais caro no mercado, se for bem treinado e se tiver m�o de obra adequada para o manejo”, observa.
Apesar de muitos pensarem que na equita��o � poss�vel ter alto retorno financeiro, o dono da Academia do Cavalo em Belo Horizonte, Fernando Nogueira dos Reis, afirma que os neg�cios nessa �rea n�o s�o os mais lucrativos. H� 15 anos no mercado de BH, a escola, especializada em cursos de equita��o conta hoje com 25 cavalos. “A equita��o � mais sonho do que um neg�cio. O custo para manter os animais � muito alto, h� gastos com veterin�rios, baias, outros profissionais, entre outros”, enumera. Fernando diz que, para o curso, o aluno pode usar os cavalos da academia ou comprar o seu e hospedar na escola. Para o curso, s�o cobrados R$ 150 de inscri��o. A mensalidade custa R$ 328. “Temos tamb�m a equoterapia.”
NA SOLA DA BOTA
Fora do campo e das pistas, h� um outro mercado que vai de vento em popa: o das lojas de acess�rios para montaria e hispismo. H� 32 anos no ramo, a Hippus, localizada no shopping Quinta Avenida, em BH, n�o v� crise. “N�o temos do que reclamar. H� eventos o ano todo e todos os dias temos vendas”, comemora a dona da loja, Gisele Choucair. Segundo ela, a clientela � heterog�nea e de todas as classes sociais. Uma vestimenta completa para montaria ou hipismo custa de R$ 500 a R$ 1 mil na loja. “� um mercado diferenciado”, comenta Gisele. Ela e o marido, Carlos, come�aram no mercado com uma unidade pequena. Com o passar dos anos, o tamanho da loja triplicou e hoje j� t�m at� marca pr�pria de botas para montaria.