A estimativa � que os pequenos agricultores lucrem em m�dia 60% a mais com o controle de toda a cadeia de processamento do alimento, que vai desde o plantio e colheita at� a fabrica��o, armazenamento e rotulagem. Essa busca da qualidade e profissionalismo � uma exig�ncia do pr�prio mercado consumidor. Hoje, o p�blico quer seguran�a alimentar, quer saber a origem do produto e se ele � certificado. Por isso a crescente demanda por cursos de tecnologia de produ��o envolvendo boa pr�ticas de fabrica��o, higiene e seguran�a alimentar.
“Muitos produtores come�aram a atividade (processamento) para aproveitar o excedente de produ��o. E foram ganhando mercado porque s�o produtos naturais, com qualidade, sem aditivos qu�micos, que v�o para a mesa do consumidor bonitos e saborosos”, explica Corn�lia Francisca da Silveira Freitas, extensionista de Bem-Estar Social da Empresa de Assist�ncia T�cnica e Extens�o Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), entidade que promove cursos voltados para esses produtores.
Um exemplo vem da aposentada Ana Maria Martins, de 61 anos. Para ocupar o tempo vago, ela fez alguns cursos voltados para a �rea rural e resolveu aplicar a teoria aprendida em sala de aula na reforma do pomar da fazenda que possui a poucos quil�metros de Itaguara, no Centro-Oeste mineiro. “De repente, me perguntei: o que eu fa�o com tanta fruta? Resolvi ent�o fazer doces para vender para amigos”, recorda. Isso foi em 2010, e ela s� n�o imaginou que o que come�ou como um passatempo mudaria sua vida.
Hoje, ela contabiliza uma produ��o m�dia de 1,4 mil compotas de 20 tipos de doces, feitos principalmente com goiaba, figo, marmelo, laranja-da-terra e lim�o. A produ��o que come�ou com a ajuda de uma vizinha tem agora a participa��o de mais tr�s funcion�rias. “Cresci bastante de l� para c�, mas como a produ��o � toda artesanal, me limito a alguns clientes, porque n�o tenho condi��o de produzir grande volume”, diz Ana Maria, que ainda assim vende seus quitutes para Belo Horizonte, Bras�lia, Salvador e Natal, no Rio Grande do Norte.
O segredo do sucesso, ela tem na ponta da l�ngua: “O meu diferencial � a preocupa��o com a qualidade, em manter o padr�o da produ��o. Sem mat�ria-prima boa voc� n�o consegue fazer um bom produto. Se voc� comer o meu doce hoje ou no ano que vem, ele provavelmente ter� o mesmo gosto. Pode mudar a cor, mas o sabor vai ser o mesmo”, assegura Ana Maria.
Quem tem discurso semelhante � o produtor Enilson Magno Telles, de 44. Em um terreno de 20 hectares no Centro-Oeste de Minas, ele planta cana-de-a�ucar para a fabrica��o mensal de 11 mil rapaduras, vendidas especialmente em Divin�polis, Nova Serrana e Pitangui. O trabalho � exercido pela fam�lia h� tr�s gera��es, sempre preocupada com o acompanhamento do plantio at� a produ��o. “A gente escolhe o terreno para plantar, o tipo da cana. Com isso, tem mais qualidade para quem compra”, explica Enilson, que recentemente come�ou a comercializar “rapadurinhas” para Goi�s.
Bonifica��o H� 15 anos, Neide de F�tima de Oliveira, de 44, usa os 500 litros de leite ordenhados diariamente nas vacas da fazenda de seu sogro para fabricar doce pastoso ou em tabletes. Ela aprendeu a fazer o doce de leite com uma tia, a quem substituiu depois de sua morte. No come�o, o produto era vendido em um pequeno restaurante em Itaguara. Mas o sabor agradou tanto que hoje ela tem uma pequena f�brica com produ��o m�dia mensal de 250 quilos de doce pastoso e 150 quilos em tabletes. Para atender � demanda, conta com duas ajudantes.
“A gente vender o leite � muito barato. Para quem produz, compensa processar e fazer um doce, por exemplo. Voc� tem o controle da mat�ria-prima e tem a certeza da qualidade”, ensina ela. De fato, o ganho pode chegar a 400%. Em Minas Gerais, o produtor tem vendido o litro do leite por R$ 1,248, segundo n�meros do Centro de Estudos Avan�ados em Economia Aplicada da Universidade de S�o Paulo (Esalq-USP). Para um quilo do doce s�o necess�rios 2,5 litros de leite, a��car e bicarbonato. Portanto, o custo n�o ultrapassa R$ 5, enquanto ao consumidor, o quilo do doce custa em m�dia R$ 20.
A qualifica��o do produtor tem influ�ncia direta nas grandes ind�strias do ramo aliment�cio. Na Itamb�, por exemplo, os cerca de 7 mil fornecedores de leite – espalhados por fazendas em Minas Gerais e Goi�s – s�o capacitados pela empresa e ainda t�m uma bonifica��o calculada a partir da qualidade do que ele oferece. “A qualidade da mat�ria-prima � fundamental. Hoje, 30% do pre�o pago ao produtor do leite vem de quesitos de qualidade. � uma tabela totalmente transparente”, afirma o diretor de gest�o e rela��es institucionais da Itamb�, Ricardo Cotta. A empresa tem uma produ��o hoje de 3,5 milh�es de litros de leite por dia.