
A a��o, que investigou esquema de fraudes envolvendo fiscais do Minist�rio da Agricultura e algumas empresas frigor�ficas, acabou trazendo dificuldades para o mercado brasileiro de carnes, como redu��o das exporta��es e queda de pre�os.
“Temos o maior consumo de carne su�na do pa�s e isso n�o ocorre por acaso. A nossa carne � saud�vel, saborosa e muito segura para ser consumida. Temos a fiscaliza��o do Instituto Mineiro de Agropecu�ria (IMA), que acompanha constantemente nossas granjas. Cada granja tem um veterin�rio respons�vel, afastando os riscos para a sa�de. O que est� ocorrendo � tempor�rio”, afirma o presidente da Associa��o Suinocultores do Estado de Minas Gerais (Asemg), Ant�nio Ferraz, se referindo aos impactos da opera��o da PF.
Segundo a associa��o, o consumo de carne de porco no territ�rio mineiro � de 21 quilos per capita/ano enquanto o consumo m�dio brasileiro � de 15 quilos per capita/ano (dados de 2015). Quarto maior produtor nacional (atr�s apenas dos estados da regi�o Sul), Minas Gerais teve uma produ��o de 416 mil toneladas de carne su�na (abate de 4,6 milhoes de cabe�as) no ano passado, respondendo por 11% da produ�ao nacional).
Como um dos impactos mais sentidos da a��o da PF nos frigor�ficos, no in�cio da semana passada, o valor da carne su�na pago ao produtor em Minas caiu de R$ 4,50 para R$ 4,20. Entretanto, para o presidente da Asemg, a turbul�ncia ser� passageira e, em breve, a situa��o voltar� ao normal, por conta das estrat�gias adotadas por lideran�as do setor, com o apoio do governo. “Com esse epis�dio, o consumidor ficou receoso. Mas o impacto que estamos sofrendo ser� de curto prazo. N�o h� motivo para alarde. Vamos sair por cima. As exporta��es ser�o retomadas e o pre�o do produto vai aumentar”, prev� Ant�nio Ferraz.
Perfil da produ��o
Minas conta com 1.347 granjas, que, juntas somam 279.574 matrizes e 2.703.901 su�nos, aponta levantamento feito pela Associa��o de Suinocultores em parceria com a Escola de Veterin�ria da Universidade Federal de Minas Gerais. Ainda segundo a Asemg, 77% dos criadores de suinos mineiros s�o independentes, ou seja, trabalham com o ciclo completo da produ��o (do nascimento ao abate e comercializa��o). Os outros 23% est�o concentrados na regi�o do Tri�ngulo Mineiro e trabalham com o sistema de integra��o com uma empresa frigor�fica.
Ferraz salienta que, no ano passado, o setor enfrentou dificuldades por causa do alto custo dos insumos, sobretudo, da ra��o, o que levou alguns produtores a abandonar a atividade. “Mas, neste in�cio de 2017, as coisas melhoraram, pois os custos de produ��o diminu�ram”, observou o presidente da Asemg. Ele lembrou ainda que nas investiga��es da PF foram verificados problemas em somente 0,5% dos frigor�ficos brasileiros. “Isso significa que 99,5% dos nossos frigor�ficos atuam dentro das normas. Acho que a repercuss�o foi mais do ponto de vista psicol�gico. O consumidor pode ficar tranquilo de que a carne mineira e a carne brasileira s�o de boa qualidade”.
Produtores
Na mesma linha, o vice-presidente da Asemg, Jos� Arnaldo Cardoso Penna, lembra que nenhuma unidade frigor�fica de Minas Gerais foi envolvida nas investiga��es da Pol�cia Federal. Ele considera que este � um aspecto positivo para que os mineiros continuem tendo os produtos su�nos � mesa. Para ele, apesar de ter sido criada uma certa desconfian�a junto � popula��o, os suinocultores mineiros v�o continuar merecendo a confian�a dos consumidores.
“Os produtores de su�nos de Minas trabalham com muita seriedade. Precisamos fazer uma campanha para conscientizar a popula��o sobre esse trabalho s�rio”, afirma Cardoso Penna. Tamb�m presidente da C�mara da Comiss�o de Suinocultura da Federa��o da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), ele � dono de uma granja em Sete Lagoas, a 62 quil�metros de Belo Horizonte.
“A suinocultura vai continuar forte. Vamos reagir como sempre reagimos em todos os momentos de crise”, acredita Cyrana Paiva, dona de uma granja com 300 matrizes no munic�pio de Amparo do Serra, regi�o produtora de su�nos na Zona da Mata. Cyrana afirma que, apesar das dificuldades que ocasionou, a “Opera��o Carne Fraca” teve tamb�m um lado positivo. “Acho que a Opera��o da PF tamb�m foi boa porque mostrou para os brasileiros a for�a do agroneg�cio, que sustenta a economia do pa�s”, observa.
Moderniza��o � fator de competitividade
A suinocultura se modernizou, com a implanta��o de t�cnicas modernas e boas condi��es sanit�rias das granjas e na alimenta��o balanceada dos animais, iniciativas que refletem diretamente na qualidade do produto que chega � mesa dos consumidores. A reportagem do EM constatou esses investimentos ao visitar a Granja Santa Maria, do produtor William Voumard Cordeiro. A propriedade, em Francisco S�, a 16 quil�metros de Montes Claros, no Norte de Minas, conta com 400 matrizes e abate cerca de 100 leit�es (produ��o de 100 toneladas) por m�s.
As instala��es recebem um cuidado especial com a higiene e condi��es sanit�rias, com o servi�o de assepsia (limpeza) constante, feito por 17 funcion�rios. A granja trabalha com a insemina��o artificial e melhoramento gen�tico, voltada para a produ��o de carne. A alimenta��o dos animais � balanceada, com o uso de 12 formula��es (tipos).
“Como estamos em um mercado globalizado, ser� dificil que os problemas enfrentados por alguns dos grandes frigor�ficos tamb�m n�o venham atingir os produtores”, comenta William Voumard, lembrando da queda do pre�o da carne su�na pago ao produtor em Minas dias depois da Opera��o Carne Fraca, da Pol�cia Federal. Mas acredito que logo as exporta��es ser�o retomadas e o mercado vai voltar ao seu equil�brio”, assegura o produtor de su�nos Norte mineiro.
Perdas William Voumard ressalta que a redu��o das exporta��es, ainda que moment�nea, acarreta preju�zos para os criadores de su�nos porque, pela caracter�stica do neg�cio, eles n�o t�m como segurar os animais nas granjas depois que eles passam do peso ideal para abate, que gira em torno de 100 a 120 quilos. “Um leit�o, at� atingir 100 ou 120 quilos, consome quatro quilos de alimento para ganhar um quilo de carne. � a chamada convers�o alimentar. Depois de passar de 120 quilos, o leit�o consome mais de cinco quilos de alimento para ganhar um quilo de carne”, explica.
O produtor acredita que a Opera��o da Pol�cia Federal poder� contribuir para maior procura da carne su�na in natura, o que pode favorecer a melhoria de pre�o do produto no mercado.. “H� um receio do consumidor em cima da carne embalada. Neste caso, acredito sim que existe a possibilidade e um consumo mais voltado para a carne in natura”, diz Voumard. “A nossa expectativa � que o consumo da carne in natura aumente. As pessoas podem ter certeza que sempre estar�o consumindo um produto de alt�ssima qualidade”, completa o suinocultor. (LR)
Produto in natura tem sa�da
Os suinocultores ficaram temerosos diante dos reflexos da Opera��o Carne Fraca. Mas, depois da a��o da Pol�cia Federal, houve um aumento da procura pela carne de porco in natura, aquela que � vendida nos a�ougues, ap�s o pedido do consumidor, que confere na hora o peso e a qualidade. A not�cia animadora � revelada pelo comerciante Wilson Pereira Andrade, propriet�rio de uma tradicional rede de casas de carnes suinas em Montes Claros (Norte de Minas), a Ma�sa, com 50 anos de atua��o no mercado.
“Fizemos um levantamento e constatamos que, nos �ltimos dias, tivemos um aumento nas vendas diretas da ordem de 30%”, afirma Wilson, que tem tres lojas de venda de varejo na cidade. A empresa dele tem um frigor�fico pr�prio e tamb�m fornece para outros a�ougues, restaurantes e casas de buf� da regi�o. Atualmente, a Ma�sa comercializa em torno de 10 toneladas por dia (250 toneladas/m�s). Em breve, a empresa vai ampliar a sua produ��o, com a inaugura��o de novas instala��es do seu frigor�fico, no munic�pio de Glaucil�ndia (a 25 quil�metros de Montes Claros), que ter� capacidade para abater 120 animais por hora.
Wilson Pereira acredita que, apesar dos efeitos da Opera��o Carne Fraca, o consumidor vai continuar saboreando a carne su�na. “As pessoas sabem da qualidade da nossa carne, que � produzida dentro de normas sanit�rias r�gidas”, avalia o empres�rio. (LR)
No Brasil
O Brasil tem uma produ��o anual de carne su�na de 3,6 milh�es de toneladas, totalizando 41,3 milh�es de animais produzidos no ano. Os dados, relativos ao ano de 2015, s�o da Associa��o Brasileira de Prote�na Animal (ABPA). Ainda segundo as estat�sticas da entidade (de 2015), Santa Catarina � o maior produtor de su�nos do Brasil, com 900,5 mil toneladas/ano. Em seguida, ficou o Rio Grande do Sul, com a 713,6 mil toneladas/ano. Em terceiro lugar est� o Paran� (542,3 toneladas/ano), seguido de Minas Gerais (416 mil toneladas/ano).