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Estado de Minas

Mudan�a clim�tica amea�a as safras duplas

Pesquisa da Universidade de Vi�osa indica que com altera��es no clima, dificilmente ser� poss�vel continuar expandindo o cultivo de duas culturas em um mesmo per�odo


postado em 27/08/2018 06:00 / atualizado em 27/08/2018 09:27

(foto: José Varella/CB/D.A Press )
(foto: Jos� Varella/CB/D.A Press )


A tecnologia agr�cola respons�vel pela mudan�a do conceito de que a natureza dita a hora certa para plantar e colher precisa se antecipar �s consequ�ncias do indicativo de que as mudan�as clim�ticas deter�o a expans�o das duplas safras nos pr�ximos 20 ou 30 anos, principalmente no cerrado e na regi�o das mais recentes fronteiras agr�colas do pa�s, os estados do Mato Grosso, Tocantins, Piau� e Bahia, conhecida como Matopiba.

Pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Vi�osa (UFV) prev� um fator limitante para o progresso do agroneg�cio no Brasil: a depend�ncia das chuvas, que, com as mudan�as clim�ticas, come�am cada vez mais tarde e acabam mais cedo, aumentando a depend�ncia da irriga��o.

Mapear as contribui��es das tecnologias na evolu��o do agroneg�cio da soja no Brasil � um dos pontos da pesquisa realizada no grupo de pesquisa em intera��o atmosfera/biosfera do Departamento de Engenharia Agr�cola da UFV.

“Desenvolvemos estimativas hist�ricas de calend�rios de plantios de soja para safras �nicas e duplas desde 1974, combinando os dois fatores mais limitantes para o plantio, a esta��o chuvosa e o comprimento do dia”, afirma o autor da disserta��o no mestrado sobre a pesquisa, Gabriel Medeiros Abrah�o, engenheiro agr�cola e doutorando em meteorologia aplicada.

Ele explica que foram aplicados os mesmos m�todos �s estimativas futuras do clima para investigar uma poss�vel contra��o na �rea com potencial de cultivo duplo com as mudan�as na esta��o chuvosa.

Para ele, os dados mostram que, se forem usadas as atuais variedades de soja, as mudan�as clim�ticas amea�am reduzir 17% da �rea onde � poss�vel plantar duas safras no Brasil central e 60% na regi�o do Matopiba.

A pesquisa avalia ainda que prov�veis novas variedades de soja e milho de ciclo mais curto poderiam reduzir o impacto da diminui��o das chuvas para 4% no Mato Grosso e para 7% nas demais regi�es do Centro-Oeste, mas n�o seriam eficientes no Matopiba, que perderia, pelo menos, 30% do potencial de dupla safra.

“A irriga��o ter� um papel importante na compensa��o destes impactos, mas as limita��es de infraestrutura e de recursos h�dricos tornam essa solu��o improv�vel para a regi�o toda. As perspectivas para a amplia��o da dupla safra no Matopiba n�o s�o otimistas nos prov�veis cen�rios das mudan�as clim�ticas”, disse Gabriel

Para o orientador do trabalho, Marcos Heli Costa, o conjunto de dados resultantes fornece informa��es espaciais e temporais in�ditas sobre o cultivo de soja no Brasil. A redu��o da dura��o das chuvas j� � uma realidade observ�vel nas regi�es estudadas e ser� maior se houver ainda mais desmatamento na Amaz�nia.

“Se em 20 ou 30 anos a dupla safra for invi�vel em determinada regi�o, � poss�vel que produtores, que atualmente j� ocupam a fronteira agr�cola, migrem ainda mais para o Norte, onde a esta��o chuvosa � mais longa. Isso significa avan�ar sobre a floresta amaz�nica e at� mesmo sobre �reas remanescentes do cerrado. E n�s j� sabemos que o desmatamento agrava ainda mais a escassez de chuvas em outras regi�es. � um ciclo indesej�vel”.

Alerta antecipado


De acordo os pesquisadores da UFV, os resultados da pesquisa, que originou a disserta��o de mestrado de Gabriel Abrah�o, extrapolam as tend�ncias j� conhecidas das mudan�as do clima.

“Estamos antecipando um problema para n�o ser pegos de surpresa como aconteceu na d�cada de 1980, quando o pa�s custou a perceber a evolu��o do desmatamento na Amaz�nia”, afirma Marcos Heil Costa. Gabriel Abrah�o espera que os resultados do trabalho colaborem para o monitoramento da dupla safra em agricultura de sequeiro (n�o irrigadas) e tenha consequ�ncias para a conserva��o do meio ambiente no Brasil.

A grande preocupa��o de pesquisadores em todo o pa�s � a possibilidade de quebra do ciclo de pesquisas, fator gerado pelo an�ncio do governo federal do corte em investimentos em pesquisas estrat�gicas, com redu��o de valores e pessoal.

“Os ganhos de produtividade, que hoje fazem do Brasil refer�ncia em todo o mundo, foram devidos a tecnologias desenvolvidas por nossos pesquisadores. As consequ�ncias do sucateamento nessa �rea s�o irrepar�veis e afetam pontos estrat�gicos para qualquer pa�s, reconhece Abra�o.

Se em 20 ou 30 anos a dupla safra for invi�vel em determinada regi�o, � poss�vel que produtores, que atualmente j� ocupam a fronteira agr�cola, migrem ainda mais para o Norte, onde a esta��o chuvosa � mais longa. Isso significa avan�ar sobre a floresta amaz�nica”

>> Marcos Heli Costa - coordenador do grupo de pesquisa sobre atmosfera/biosfera

T�cnica usada para a soja e o milho no pa�s


A dupla safra, do milho e soja, predominante no Brasil (sistema de plantio de duas culturas no mesmo espa�o e mesmo ano, conhecida como safrinha) � uma pr�tica que come�ou a se tornar expressiva no fim dos anos 1980, mas dados sobre resultados somente come�aram a ser reunidos a partir do ano 2000. Com exce��o do Sul, onde as esta��es chuvosas s�o mais definidas, o Brasil tem nas demais regi�es precipita��es sazonais, o que proporciona a utiliza��o de per�odos chuvosos para o plantio de duas culturas alternando a soja com o milho ou algod�o, por exemplo.

Essa possibilidade tem resultados importantes para o agricultor, uma vez que se uma cultura n�o vingar em determinado ano ele pode aproveitar a outra. H� uma quest�o fitossanit�ria, por quebrar o ciclo de pragas. O ovo colocado por uma larva, ao se desenvolver, vai encontrar um outro plantio e acaba morrendo sem se desenvolver por falta de alimento.

Os esfor�os de pesquisa liderados pela Embrapa e universidades nos anos 1960 e 1970 desenvolveram uma soja cada vez menos necessitada da expans�o do dia, fen�meno presente no Sul do pa�s, e a fronteira do gr�o foi avan�ando em dire��o ao Norte do Brasil.

Com a quebra da depend�ncia da dura��o do dia (o “fotoper�odo”), ela pode ser plantada mais cedo e assim aproveitar mais a esta��o chuvosa, sobrando tempo de plantar outra cultura. A sele��o gen�tica do milho tamb�m permitiu o encurtamento do tempo entre o plantio e a colheita, que era de 160 dias e hoje pode ser colhido ap�s 100 ou 110 dias depois de plantado.


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