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Estado de Minas Entrevista/Fabiano Alvim

Crise desafia produ��o de carne do Brasil

Pesquisador alerta para dilema de oferecer produto sustent�vel e socialmente respons�vel


18/02/2019 06:00 - atualizado 19/02/2019 14:11

(foto: Arquivo Pessoal)

Dono do maior rebanho bovino comercial no mundo, o Brasil enfrenta o desafio de oferecer produ��o sustent�vel seja do ponto de vista ambiental, seja no aspecto socialmente respons�vel, em meio � lenta recupera��o da economia.

O crescimento do pa�s � fundamental para a ind�stria da carne, assim como a preocupa��o do setor em se adequar � demanda no mercado internacional, para o mestre e doutor em produ��o animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fabiano Alvim.

Com 22 anos de experi�ncia em projetos de pecu�ria de corte, como professor e pesquisador na UFMG e UnB, ele passou a integrar recentemente a equipe de desenvolvimento de produtos para bovinos de corte do grupo multinacional De Heus, em Ede, na Holanda.

Nesta entrevista, Alvim alerta para a necessidade de investimentos em tecnologia, melhora da produtividade e da qualidade dos animais, junto � redu��o da emiss�o de gases de efeito estufa e ao respeito � �rea de preserva��o permanente, reserva legal e recursos h�dricos.

“A adequa��o da produ��o tem que estar em sintonia com a necessidade de mercado, mantida a aten��o a todos os elos da cadeia de produ��o. O Brasil continuar� sendo um dos grandes players do mercado mundial”, afirma. A De Heus atua em 75 pa�ses, mant�m cinco f�bricas no Brasil, duas em Rio Claro/SP, al�m de uma em Guararapes /SP, Toledo/PR e Apucarana/PR, dedicadas � nutri��o de animais e j� anunciou a decis�o de ampliar sua presen�a no pa�s.

 

 O Brasil � considerado o pa�s com maior rebanho comercial bovino do mundo, mas h� disparidade grande entre o porte e o n�vel de acesso dos pecuaristas a recursos de toda ordem. At� que ponto isso pode amea�ar o t�tulo do Brasil como fornecedor mundial de carne?
A lucratividade da fazenda � dependente de como o fazendeiro usa seus recursos (terras, pastagens, benfeitorias, insumos, capital, recursos humanos e ambientais) para obter a sua melhor rentabilidade, dependente do custo de produ��o e pre�o de venda. Independentemente do tamanho da fazenda, a intensifica��o no processo de produ��o tem que ocorrer, pois, na m�dia nacional, temos indicadores t�cnicos que devem ser melhorados, como a idade para abate e o primeiro parto, peso de carca�a, taxa de desmama e qualidade de carca�a. O pecuarista precisa estar em constante atualiza��o de seu conceito de produ��o, entregando ao mercado (ind�stria, atacado e varejo) o produto desejado, com crescente aten��o �s demandas de qualidade, seguran�a alimentar e sustentabilidade. Ou seja, a adequa��o da produ��o tem que estar em sintonia com a necessidade de mercado, mantida a aten��o a todos os elos da cadeia de produ��o. O Brasil continuar� sendo um dos grandes players do mercado mundial.

"Do lado da ind�stria, temos que ter mais transpar�ncia nas rela��es comerciais e entregar produtos com garantia de origem, rastreabilidade de todo o processo e responsabilidade total com a seguran�a alimentar"



Diante de epis�dios recentes que repercutiram mal para o pa�s, como a Opera��o Carne Fraca e o an�ncio de suspens�o das importa��es de frango do Brasil pela Ar�bia Saudita, como o sr. v� o futuro das pretens�es do Brasil de se tornar um fornecedor mundial de alimentos?

A demanda por prote�na animal � crescente devido ao aumento da popula��o mundial e da renda em pa�ses em desenvolvimento, que representam maior consumo de carne com incremento da renda per capita. O programa Mais Pecu�ria, do governo federal, prev� dobrar a produtividade com aumento de 40% na produ��o de carne at� 2023. Isso deve ocorrer, observando-se a redu��o de �rea de pastagens para a expans�o agr�cola e a recupera��o do passivo do C�digo Florestal. Essa redu��o de �rea da pecu�ria n�o � uma meta f�cil. A inclus�o de tecnologias e estrat�gias t�cnicas e comerciais � necess�ria para o aumento da produtividade, aliado ao maior retorno econ�mico e, consequentemente, aumento do valor bruto produzido pela pecu�ria de corte no pa�s. Do lado da ind�stria, temos que ter mais transpar�ncia nas rela��es comerciais e entregar produtos com garantia de origem, rastreabilidade de todo o processo e responsabilidade total com a seguran�a alimentar.

Em que n�vel de import�ncia e de desafios, poder�amos classificar o manejo alimentar correto na pecu�ria de corte? O Brasil vai bem ou mal nesse cen�rio?

Nos �ltimos 20 anos, o peso da carca�a aumentou em mais de 2 arrobas (30 quilos), reduzimos a idade m�dia para abate de machos (abaixo de 40 meses) e aumentamos o n�mero de animais confinados (s�o mais de 4 milh�es de cabe�as/ano). A nutri��o dos bovinos teve grande influ�ncia na melhora desses indicadores para aumentar a produtividade, reduzir a idade do abate e ao primeiro parto, aumentar o peso da carca�a e a qualidade da carne, al�m de reduzir a emiss�o de g�s de efeito estufa por quilo de carne produzida. O Brasil vem melhorando com o passar do tempo, mas em decorr�ncia da press�o para aumento de produtividade com sustentabilidade teremos que melhorar esses indicadores de maneira ainda mais r�pida para adequa��o �s novas demandas globais de mercado. Sendo assim, mais tecnologias devem ser aplicadas ao campo e de maneira mais ampla em todo o territ�rio nacional.

Como o sr. avalia a cr�tica que � feita ao desenvolvimento da bovinocultura muito associado � nutri��o, ao melhoramento gen�tico e � reprodu��o, sem o mesmo cuidado quanto a um processo de obten��o da carne socialmente e ambientalmente respons�vel?
Existe uma grande demanda por produtos sustent�veis, aliada � grande press�o mundial para a produ��o de bovinos de corte se adequar ambiental e socialmente, livre de trabalho escravo e infantil, al�m do respeito �s leis trabalhistas. Nesse contexto, o pecuarista precisar atento e em constante atualiza��o de sua forma de produzir e realizar a gest�o de sua produ��o, incorporando novos conceitos. � poss�vel intensificar a pecu�ria na mesma �rea da fazenda, aumentando a produtividade, o lucro do produtor, reduzindo a emiss�o de gases de efeito estufa e respeitando a �rea de preserva��o permanente, reserva legal e recursos h�dricos. Contudo, ainda existe longo caminho a ser percorrido pelos produtores no Brasil. No que diz respeito � sustentabilidade, ainda estamos muito aqu�m do nosso potencial.

"Pelo total do rebanho brasileiro e acrescente demanda de prote�na animal, o Brasil continuar� a ser um dos grandes players do mercado, mas devemos estar atentos e nos adequar � nova demanda mundial relacionada � produ��o sustent�vel"


Quais seriam os principais desafios da pecu�ria de corte no Brasil, considerando-se a lenta recupera��o da economia brasileira?
Pelo total do rebanho brasileiro e a crescente demanda de prote�na animal, o Brasil continuar� a ser um dos grandes players do mercado, mas devemos estar atentos e nos adequar � nova demanda mundial relacionada � produ��o sustent�vel. O reaquecimento da economia brasileira � fundamental para o mercado de carne bovina, pois o aumento da renda leva ao maior consumo e, consequentemente, � melhora do pre�o para o produtor. Com a crise econ�mica que passamos nos �ltimos anos houve redu��o de consumo superior a 4 quilos de carne bovina por habitante ao ano. Cada produtor deve analisar estrategicamente o seu posicionamento quanto a uma s�rie de temas, incluindo tecnologias para aumentar a produtividade, produzir carca�a pesada e bem-acabada (gordura de cobertura), de acordo com cada especifica��o de mercado a ser atendido, adequa��o ao C�digo Florestal, e uso de ferramentas para controlar melhor a atividade.

Como Minas Gerais se enquadraria nesse contexto de sua an�lise?
N�s fizemos o Diagn�stico da Pecu�ria de Corte de Minas Gerais junto � Federa��o da Agricultura e Pecu�ria de Minas Gerais (Faemg) e constatamos poss�veis pontos de melhorias, em rela��o � m�dia nacional da pecu�ria bovina de corte, ou seja, fazendas com oportunidades de melhorias de produtividade e de lucro. A iniciativa do produtor � fundamental para implantar tecnologia, mudar o seu conceito de produ��o e vislumbrar novos mercados com a oportunidade de produzir de maneira mais sustent�vel.

 

PASSO A PASSO

 

Avan�os esperados na pecu�ria de corte brasileira

T�cnico
Usar tecnologias j� desenvolvidas com maior rapidez para aumentar a produtividade e buscar assessorias t�cnicas para o planejamento e tomadas de decis�es


Mercado
Produzir carca�a pesada e bem-acabada (gordura de cobertura), de acordo com cada especifica��o de mercado a ser atendido, rastreamento do produto e seguran�a alimentar. Apesar de o formato de produ��o do mercado brasileiro estar concentrado em grandes frigor�ficos que ditam os pre�os, quando o produtor tem diferencial consegue agregar valor a essa mercadoria

Ambiental

Adequa��o ao C�digo Florestal em cada fazenda, melhorar o uso do solo e recursos h�dricos;

Administrativo e financeiro
usar ferramentas de gest�o administrativa e financeira para aumentar controle da atividade e possibilitar tomadas de decis�es mais assertivas


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