Maior abertura do mercado chin�s aos produtos agropecu�rios brasileiros � vista por empres�rios do setor como boa oportunidade para ganhar espa�o e valorizar os gr�os
postado em 30/09/2019 04:00 / atualizado em 30/09/2019 07:59
Para Niwton Moraes, assessor especial de cafeicultura da Seapa-MG, os atacadistas tamb�m ajudam a pressionar a desvaloriza��o do produto
(foto: Secretaria de Agricultura/Divulga��o)
Amanh�, 1º de outubro, � comemorado o Dia Internacional do Caf�. A data foi criada pela Organiza��o Internacional do Caf� (OIC), �rg�o que re�ne governos de pa�ses exportadores e importadores, e � um marco para debater os desafios do setor cafeeiro mundial. Como um importante protagonista, liderando a produ��o nacional, qual � o panorama do setor para o estado de Minas gerais em 2020?
De acordo com Niwton Moraes, assessor especial de cafeicultura da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa-MG), a tend�ncia � que a produ��o mundial de caf� continue acompanhando o aumento da demanda, na m�dia de 2% ao ano. “O Brasil deve acompanhar essa tend�ncia mundial, assim como a produ��o em Minas Gerais”, avalia.
Para Moraes, o maior desafio ser� a recupera��o da remunera��o dos cafeicultores, que, “nos �ltimos tr�s ou quatro anos, chegaram a praticar pre�os abaixo do custo de produ��o. Essa rela��o precisa ser mais rent�vel e superavit�ria, porque o produtor est� ficando descapitalizado”.
O assessor da Seapa-MG aponta a supersafra como um dos motivos do baixo pre�o do caf� commodity. “O Brasil responde por um ter�o da produ��o mundial de caf� e est� imerso em um mercado aberto, que se submete ao pre�o de mercado. As supersafras s�o c�clicas, ocorrem a cada oito ou 10 anos, e a maior oferta de produto acaba jogando o pre�o para baixo”, explica. Para Moraes, os atacadistas tamb�m ajudam a pressionar o pre�o do caf� para baixo, j� que formam verdadeiros oligop�lios, com maior poder de negocia��o.
J� a maior abertura do mercado chin�s aos produtos agropecu�rios brasileiros � visto como uma boa oportunidade. “N�o s� a China, mas a �sia de forma geral. A �ndia e a China det�m um ter�o da popula��o mundial. � uma nova fronteira de consumo. Esses pa�ses at� produzem caf�, mas em pequena escala, longe de suprir sua demanda”, avalia o assessor, dizendo que o caf� vem ocupando seu espa�o nesse mercado em que o ch� tem forte presen�a no h�bito da popula��o. Por�m, Moraes adverte que, em princ�pio, pa�ses que entram na cultura do caf� tendem a consumir o caf� commodity e o sol�vel. “� claro que existe espa�o para os caf�s especiais, mas isso � um nicho”, complementa.
O Brasil responde por um ter�o da produ��o mundial de caf�, liderada por Minas (foto: Secretaria de Agricultura/Divulga��o)
LIVRE COM�RCIO
Quanto ao conturbado acordo de livre com�rcio entre Mercosul e Uni�o Europeia, que ainda carece de ser ratificado, o assessor de cafeicultura da Seapa-MG n�o demonstra muito interesse. “Para o setor cafeeiro, esse acordo estava fortemente dirigido para o caf� sol�vel, o que acrescentaria muito pouco para Minas Gerais, onde 98% da produ��o � da esp�cie ar�bica, que n�o � usado para produzir a bebida sol�vel. Esse acordo seria mais interessante para estados como o Espirito Santo, que produzem mais o conilon”, avalia.
J� os caf� especiais continuam em alta, seguindo a mesma m�dia de crescimento, de 15% ao ano. Mas Moraes observa que essa evolu��o superlativa se d� sobre uma base bem menor que a dos caf�s comuns. “Minas Gerais � um lugar privilegiado nesse quesito, por sua diversidade de ambientes – com produ��o em v�rias altitudes, temperaturas e incid�ncia solar – que proporcionam diferentes sabores, aromas e nuances � bebida”, afirma, citando as quatro principais regi�es produtoras do estado: Sul de Minas, respons�vel por metade da produ��o; Matas de Minas (na Zona da Mata Mineira), que responde por um quarto do caf� colhido; Cerrado Mineiro, que produz 20%; e Chapada de Minas (no Vale do Jequitinhonha), com 5%.
Bebida � vista e valorizada pelos mineiros como uma experi�ncia sensorial (foto: Fernando Sciarra/Divulga��o)
Condi��es clim�ticas favorecem a lavoura
Fatores como condi��es clim�ticas e de solo favor�veis, al�m de uma liga��o hist�rica e cultural, fizeram com que, hoje, a cafeicultura estivesse presente em 463 munic�pios (55% do estado), que t�m lavouras consideradas comerciais, de acordo com o mapeamento do parque cafeeiro realizado pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Seapa) e �rg�o vinculados, como a Emater-MG, Epamig e Instituto Mineiro de Agropecu�ria.
Com produ��o recorde de 32 milh�es de sacas, na safra 2018, Minas Gerais respondeu por 55% da safra nacional. Nas �ltimas d�cadas, a produtividade no estado saltou de 16,5 sacas por hectare, em 2001, para 33 sacadas por hectare no ano passado. O caf� � o principal produto de exporta��o do agroneg�cio mineiro. No ano passado, o caf� produzido em Minas foi exportado para 87 pa�ses, gerando divisas no valor de R$ 3,23 bilh�es.
EXTENS�O
Um dos respons�veis por esse aumento significativo da produtividade foi o trabalho de assist�ncia t�cnica e extens�o rural desenvolvido pela Empresa de Assist�ncia T�cnica e Extens�o Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG). De acordo com Bernardino Cangussu, coordenador estadual de Cafeicultura da empresa, com a extin��o do Instituto Brasileiro do Caf�, na d�cada de 1990, coube � Emater-MG, por sua estrutura t�cnica e capilaridade, assumir a maior parte da orienta��o t�cnica das lavouras cafeeiras, auxiliando na elabora��o de pol�ticas p�blicas para o setor.
O coordenador resume as principais atividades desempenhadas pela Emater-MG nas �ltimas d�cadas: “Em parceria com outras entidades, fomentamos o associativismo e o cooperativismo; orientamos os cafeicultores, especialmente os familiares, a adotarem a an�lise de solos e folhas e as pr�ticas de conserva��o ambiental; a utilizarem tecnologias e procedimentos para a melhoria de qualidade da produ��o”.
PESQUISA
O desenvolvimento de pesquisas tamb�m � um dos fatores que deram ao estado a lideran�a na produ��o de caf� no Brasil. A Empresa de Pesquisa Agropecu�ria de Minas Gerais (Epamig) desenvolve, desde a d�cada de 1970, estudos que abrangem todo o ciclo produtivo da planta, a come�ar pelo preparo do solo, a indica��o de cultivares selecionadas at� os cuidados p�s-colheita, o que influencia na produtividade, qualidade e agrega��o de valor ao produto final.
O programa de melhoramento gen�tico conduzido pela Epamig, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu�ria (Embrapa Caf�) e as universidades federais de Lavras e Vi�osa registrou 17 cultivares de caf� adaptadas �s condi��es de clima e solo do estado, e novos materiais est�o em desenvolvimento. Localizado em Patroc�nio (Alto Parana�ba), o Banco de Germoplasma de Caf� da Epamig tem mais de 1,5 mil materiais catalogados. Seu acervo garante a continuidade do programa de melhoramento gen�tico do cafeeiro e a evolu��o da cafeicultura nacional, al�m de permitir a pesquisa e o desenvolvimento de plantas resistentes a pragas e doen�as, mais produtivas e compat�veis �s condi��es de clima e solo da regi�o.
CONSUMO
Para al�m do aumento da produ��o, est� em curso uma mudan�a de comportamento em rela��o ao h�bito de consumir bebida. De acordo com Niwton Moraes, o caf� vive atualmente a sua “quarta onda”. Ele explica que, na primeira onda, o foco estava voltado para o volume da produ��o. Na segunda, al�m do volume, come�a a preocupa��o com a qualidade.
A terceira fase foi marcada pelas diferentes formas de consumo: a introdu��o das minidoses, como as capsulas e sach�s; o direct trade, que � o com�rcio direto entre o produtor e o varejista; o consumo fora do lar (em cafeterias); al�m da preocupa��o com a responsabilidade no processo produtivo e uma cont�nua preocupa��o com a melhoria da qualidade.
“Atualmente, nesta quarta onda, o consumo do caf� passa a ser visto e valorizado como uma experi�ncia sensorial. Outro ponto importante � a agrega��o de valores cultural e socioambientais ao produto, com o consumidor demonstrando interesse em saber a hist�ria de quem produziu, onde e como foi produzido o caf� consumido”, explica o assessor t�cnico da Seapa.
CERTIFICA��O
A conquista de novos mercados imp�e uma s�rie de mudan�as, necess�ria para se adequar �s exig�ncias de consumidores atentos �s quest�es sociais, ambientais e de qualidade. Para isso, � necess�rio passar por processos de certifica��o, como o Certifica Minas Caf�, implantado em 2008. O programa tamb�m abrange outros produtos, por�m, o caf� � o que tem o maior n�mero de produtores participantes, com cerca de 1,3 mil cafeicultores.
Tanto a assist�ncia t�cnica da Emater-MG quanto as auditorias do Instituto Mineiro de Agropecu�ria (Ima) s�o realizadas gratuitamente aos produtores agricultores familiares. Na avalia��o de Rog�rio Carvalho Fernandes, gerente de certifica��o do IMA, o Certifica Minas � uma pol�tica p�blica diferenciada, � medida que possibilita a participa��o de pequenos produtores, que tinham dificuldades para acessar a certifica��o privada pelo alto custo do procedimento.
“O Certifica Minas Caf� posicionou o estado como refer�ncia na produ��o de caf�s sustent�veis, de qualidade e certificados, com reconhecimento mundial dos principais traders e compradores, sendo que muitos produtores j� agregam valor e t�m mercados diferenciados por estarem participando do programa”, afirma Bernardino Cangussu.