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Estado de Minas AGROPECU�RIO

Irriga��o � a salva��o dos pequenos produtores

Com inova��o, agricultores familiares norte-mineiros otimizam o uso do recurso h�drico para vencer a adversidade clim�tica no semi�rido. Com isso, aumentam a produtividade da lavoura


postado em 20/01/2020 04:00 / atualizado em 20/01/2020 15:45

José Alves de Souza, o %u201CZé Brasil%u201D, de 52 anos, é um dos agricultores que recorrem ao tanque de geomembrana(foto: Luiz Ribeiro/em/d.a press)
Jos� Alves de Souza, o %u201CZ� Brasil%u201D, de 52 anos, � um dos agricultores que recorrem ao tanque de geomembrana (foto: Luiz Ribeiro/em/d.a press)
Catuti (MG)Pequenos produtores de Catuti, no Norte de Minas, mesmo enfrentando a hist�rica falta de chuvas na regi�o, t�m alcan�ado bons �ndices de produtividade, principalmente nos plantios de algod�o e de quiabo. O cultivo deste �ltimo produto, que se estende tamb�m a outro munic�pio vizinho, alcan�a resultados t�o satisfat�rios que a produ��o est� sendo “exportada” para o grande mercado consumidor de S�o Paulo. 
 
Ao mesmo tempo, s�o mantidas as lavouras de subsist�ncia. Estes pequenos produtores superam a adversidade clim�tica a partir de m�todos inovadores, com o uso racional da �gua.

Os bons resultados ocorrem porque os agricultores familiares de Catuti constru�ram em suas propriedades grandes tanques, com o emprego de um material sint�tico, a geomembrana, que captam e armazenam a �gua da chuva para irriga��o nos per�odos de veranico. Tamb�m recorrem � �gua de capta��o subterr�nea, com irriga��o feita por gotejamento. 
 
O casal Silei Alves da Silva, de 32 anos, e Eudi Barbosa Silva, de 36, se dedicam à produção de quiabo e algodão(foto: Luiz Ribeiro/em/d.a press)
O casal Silei Alves da Silva, de 32 anos, e Eudi Barbosa Silva, de 36, se dedicam � produ��o de quiabo e algod�o (foto: Luiz Ribeiro/em/d.a press)
O sistema consome menos �gua, o que representa uma grande vantagem porque o n�vel do len�ol fre�tico da regi�o � baixo e os po�os tubulares t�m baixa vaz�o. Eles recorrem � chamada “irriga��o de salva��o”, usada na falta de S�o Pedro.
 
Se a "seca braba" imp�e barreiras, o sertanejo n�o desanima e est� sempre disposto a encarar o desafio, fiel ao que cravou o escritor Guimar�es Rosa: "O que a vida quer da gente � coragem". Dessa forma, j� que os volumes h�dricos vindos do c�u e do len�ol subterr�neo s�o insuficientes, os agricultores familiares norte-mineiros otimizam o uso do recurso, comprovando que, sim, � poss�vel vencer a adversidade clim�tica no semi�rido.

As inova��es do munic�pio de Catuti s�o abordadas na quarta e �ltima parte da s�rie de reportagens do Estado de Minas sobre as estrat�gias voltadas para a conserva��o e uso racional da �gua e para a sustentabilidade.
 
Em Catuti, 17 pequenos produtores instalaram os tanques de geomembrana em 2019. O material foi doado e coube a eles somente o servi�o de escava��o para a abertura dos tanques. A doa��o veio por interm�dio do Programa Mineiro de Incentivo � Cotinicultura (Proalminas), criado pela Associa��o Mineira de Produtores de Algod�o (Amipa), em parceria com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Seapa). 
 
A a��o faz parte do Projeto de Retomada do Algod�o do Norte de Minas, implementado em 2006, com o envolvimento de 86 pequenos agricultores de 13 munic�pios e que conta, ainda, com o apoio da Solidaridad Brasil, uma organiza��o internacional sem fins lucrativos com escrit�rio em S�o Paulo, e do Instituto C&A, um instituto empresarial, ligado � rede varejista global C & A.

MELHORIAS


Morador da localidade de Ferraz, na zona rural de Catuti, Jos� Alves de Souza, o “Z� Brasil”, de 52 anos, � um dos agricultores que recorrem ao tanque de geomembrana. Com a inova��o e seu esfor�o, pode-se dizer que ele, efetivamente, contribui com a melhoria da produ��o do pa�s que carrega no apelido.
 
Z� Brasil est� em uma das �reas mais secas do estado (microrregi�o da Serra Geral de Minas), onde a m�dia hist�rica de chuvas gira em torno de 700 mil�metros anuais. Na atual temporada, houve atraso nas chuvas e o volume de �gua ainda � baixo. De novembro at� agora, foram registrados na regi�o apenas 356 mil�metros. Mesmo com esse percal�o, em dezembro, o pequeno produtor plantou dois hectares de algod�o e, “se tudo correr bem”, espera uma produtividade de 300 arrobas por hectare. A colheita est� prevista para abril ou maio.


 
A boa expectativa de Z� Brasil deve-se � garantia de �gua para a lavoura, por conta de um tanque de geomembrana constru�do na propriedade. O reservat�rio ocupa �rea de 576 metros quadrados (m2) – 48m x 12m – e 1,5 metro de profundidade, com capacidade para o armazenamento de 1,08 milh�o de litros de �gua. “Quando falta chuva, a �gua do tanque ajuda a salvar a lavoura”, afirma o agricultor.
 
Ele tamb�m recorre a um po�o tubular. Como a vaz�o do po�o � pequena, adota a irriga��o por gotejamento, que garante maior efici�ncia e uma economia no uso de �gua da ordem de 40% em rela��o ao sistema de irriga��o por aspers�o.
 
Z� Brasil disse que, logo ap�s a colheita do algod�o, vai plantar um hectare de milho, com a pretens�o de colher 100 sacas por hectare. Em pleno per�odo crucial da seca, essa produtividade s� ser� poss�vel com a irriga��o complementar por gotejamento, viabilizada com a �gua do tanque e do po�o tubular.

Para reduzir custos, o pequeno agricultor tamb�m faz um experimento do uso de energia solar, captada em equipamento instalado no seu terreno, para irrigar a lavoura. Com isso, ele dever� economizar de R$ 3,5 mil a R$ 4 mil entre o plantio e a colheita do algod�o.
 
Outro que est� satisfeito com o resultado da inova��o � o agricultor Jos� Alves de Souza, o Zez�o, de 57, de Vista Alegre, no mesmo munic�pio. Ele construiu em seu terreno um tanque de 480m², feito com o uso da geomembrana, com capacidade para “segurar” 860 mil litros de �gua da chuva. “Se faltar a �gua da chuva, a gente completa com a irriga��o”, diz Zez�o, que tamb�m conta com um po�o tubular “de baixa vaz�o”.

O pequeno agricultor salienta que, gra�as � irriga��o complementar, mesmo com a irregularidade das chuvas no atual per�odo, espera uma produtividade alta – de 230 a 250 arrobas por hectare. Ele ressalta que usa a �gua armazenada no reservat�rio para planta��es de subsist�ncia, como as de sorgo, feij�o e milho. Tamb�m cria um gado de leite, fornecendo, atualmente, 60 litros di�rios para um latic�nio da regi�o. “Mas, tamb�m pretendo usar o tanque para criar peixes”, anuncia Jos� Alves.
 
O assessor t�cnico da Cooperativa dos Produtores de Algod�o de Catuti (Coopercat), Jos� Tib�rcio de Carvalho Filho, ressalta que o uso da �gua da armazenada nos tanques, complementada com os po�os tubulares, de fato, tornou-se a salva��o das planta��es de algod�o na regi�o. “Os veranicos (sol forte) ocorrem na regi�o entre janeiro e fevereiro, justamente na �poca da flora��o do algod�o. Faltando �gua para as plantas nesse per�odo, as perdas na cotonicultura chegam a 90%. No caso dos gr�os, as perdas s�o de quase 100%”, assegura o t�cnico, respons�vel pela implanta��o e coordena��o do Projeto de Retomada do Algod�o no Norte de Minas. 
 
Ele salienta que os “piscin�es” formados pelos tanques de geomembrana tamb�m t�m vantagem ambiental, por reduzir a explora��o da �gua subterr�nea. “Isso � um fator importante, pois os po�os tubulares de Catuti t�m baixas vaz�es, que variam de 5 mil a 15 mil litros”, observa.


FORNECEDOR


Como muitos dos seus conterr�neos, Eudi Barbosa da Silva, de 36, deixou a localidade de L�ngua D'�gua, na zona rural de Monte Azul, no Norte de Minas, para trabalhar em S�o Paulo como retirante da seca. Quatro anos depois, ele retornou ao lugar de origem e hoje tem uma liga��o com o estado mais desenvolvido do pa�s, mas em condi��o bem diferente. Ele � fornecedor de quiabo para o forte mercado consumidor da capital paulista.
 
 A atividade envolve 12 pequenos agricultores de Monte Azul e de Catuti, que se dedicam � produ��o de quiabo e encaminham o produto para S�o Paulo. Juntos, eles “exportam” em torno de 14 toneladas por m�s.

Eudi Barbosa recorre ao armazenamento de �gua em um tanque feito com o uso de geomembrana, que ocupa �rea de 360m² e tem capacidade para armazena 612 mil litros. O reservat�rio ajuda no cultivo de quiabo durante o ano inteiro. A �rea plantada � pequena, mas alcan�a uma produ��o significativa, que varia entre 1 mil e 1,5 mil quilos de quiabo, mensalmente.

Do Brasil para a �frica 


Jos� tib�rcio ressalta que as estrat�gias para o aproveitamento racional da �gua e conviv�ncia com a seca, adotadas dentro do Projeto de Retomada do Algod�o no Norte de Minas tamb�m foram levadas a pa�ses da �frica, que t�m clima semelhante ao semi�rido brasileiro. Em 2017, o assessor t�cnico da Coopercat integrou uma miss�o no Mali, pequeno pa�s africano. A a��o foi liderada pela Ag�ncia Brasileira de Coopera��o (ABC) e pela Universidade Federal de Lavras (Ufla).

O t�cnico do pequeno munic�pio do Norte de Minas se prepara agora para ir a outro pa�s daquele continente. Em fevereiro, vai repassar as informa��es sobre os bons resultados dos agricultores norte-mineiros para produtores de Mo�ambique. � a inova��o voltada para o uso racional da �gua e a sustentabilidade atravessando oceanos em busca de melhores condi��es para as popula��es mais sofridas, como os moradores do semi�rido brasileiro e do continente africano.

 

O que � a geomembrana



A geomembrana � um material sint�tico usado para impermeabiliza��o de obras na constru��o civil e em especial obras geot�cnicas e prote��o ambiental. Tamb�m � usado como revestimento para reservat�rios escavados (uso agr�cola) e em aterros sanit�rios, biodigestores e tratamento de efluentes. A geomembrana � um pol�mero na qual sua principal mat�ria-prima � o petr�leo. Tem durabilidade acima de 20 anos e o custo gira em torno de R$ 20 o metro quadrado. 


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