
A produ��o de amendoim de Minas Gerais deve crescer quase 50% este ano. Mesmo sendo uma das culturas menos expressivas do estado, o plantio do gr�o est� se tornando mais interessante para os produtores como alternativa para a rota��o com a cana-de-a��car, especialmente no Tri�ngulo Mineiro. Com demanda ampliada no mercado, o amendoim pode refor�ar um ano de volume de produ��o recorde de gr�os em Minas.

Ainda pouco conhecida dos agricultores brasileiros, a macad�mia, uma noz origin�ria da Austr�lia, chama a aten��o de pesquisadores no setor aliment�cio e ind�stria de cosm�ticos e higiene apontando para um futuro promissor. Seu consumo e uso est�o em crescimento nos mercados brasileiro e internacional. De acordo com o International Nut Council (INC) o consumo de castanhas e nozes no mundo vem apresentando crescimento de 6% ao ano. O segmento representa 18% do total de exporta��es brasileiras.
De acordo com Jos� Eduardo Mendes de Camargo, presidente da Associa��o Brasileira de Nozes e Castanhas (ABNC), entre 2017 e 2018 o volume exportado subiu 41%, e houve um incremento de 78% nas receitas provenientes da venda a outros pa�ses de variadas qualidades de nozes e castanhas produzidas no Brasil, sendo enviados 21 mil toneladas do produto, uma receita de US$ 190 milh�es.
A macad�mia � uma �rvore que, sendo plantada em mudas enxertadas, come�a a produzir no quarto ano e existem registros de pomares produzindo razoavelmente at� os 70 anos. O investimento inicial � alto, tanto no pre�o das mudas dos poucos viveiros que existem no Brasil, como na prepara��o da terra e os tratos culturais. Existem v�rios implementos agr�colas aplicados tanto na lavoura quanto na p�s-colheita, al�m de tratores.
“Posso afirmar com certeza de que o que mais pesa no nosso or�amento � a m�o de obra, seguido pelos adubos, impostos, defensivos e combust�vel para os tratores. No caso dos impostos, apesar de em Minas Gerais os produtos hortifrutigranjeiros n�o pagarem ICMS, existe uma exce��o, na minha opini�o sem nenhuma justificativa plaus�vel, para as nozes, sejam elas quais forem, produzidas no Brasil ou importadas”, constata o produtor de macad�mia Pedro Sabino, que vende sua produ��o para processador no Esp�rito Santo, segundo maior produtor depois de S�o Paulo.
Sabino fala do interesse em come�ar um processo de exporta��o, uma vez que � isenta de ICMS e “cujos pre�os s�o bem maiores dos que os praticados pelas processadoras nacionais. Ali�s, este � um outro ponto a ser mencionado. Na minha opini�o, um dos gargalos para o produtor de noz de macad�mias � o pequeno n�mero de processadoras. Pelo que me consta, daquelas que compram e processam nozes de terceiros, s� existem quatro, sendo que uma delas � uma cooperativa capixaba que s� processa as nozes de seus poucos cooperados”.
Acordos internacionais
O presidente da ABNC chama a aten��o do governo para os acordos internacionais, “fundamentais para que se possa melhorar os ganhos do agroneg�cio com estas culturas. Para ter uma ideia, a macad�mia australiana entra na China com al�quota zero, enquanto a brasileira � taxada em 12%; castanhas peruanas ingressam na Coreia com taxas de 3% e h� negocia��es para isen��o tarif�ria, enquanto as castanhas brasileiras s�o taxadas em 30% naquele pa�s”.
A colheita dura do fim de fevereiro at� o come�o de maio e as nozes s�o apanhadas no ch�o, na maioria das fazendas, de forma manual e em algumas com colheitadeiras puxadas pelo trator, explica o produtor Sabino, que encontrou em S�o Jos� das Tr�s Ilhas, distrito hist�rico de Belmiro Braga, as condi��es clim�ticas e topogr�ficas ideais para o cultivo. No ano passado a produ��o chegou a 96 toneladas “e o retorno foi excelente pois nosso lucro foi de 40% do faturamento”.
“Come�amos a plantar depois de assistir a um encontro promovido pela Tribeca, firma que produz mudas e processa as nozes de macad�mias em Pira�, no estado do Rio de janeiro. L� recebemos nossas primeiras informa��es sobre esta cultura e logo nos interessamos, partindo ent�o para encontrar uma propriedade que se prestasse para tal fim. Tenho visto v�rias descri��es diferentes de como seria o local ideal, mas naquela �poca nos foi passado que tal condi��o seria numa altitude em torno de 600 metros, com topografia que permitisse a mecaniza��o.”
Segundo ele, “o ideal � que durante a �poca do florescimento a temperatura n�o exceda por muito tempo os 30° C, pois pode provocar queda prematura de frutos. Atrav�s do primeiro financiamento do BNDES para esta cultura, come�amos o plantio em cerca de 30 hectares, h� 14 anos, de modo adensado j� sabendo que por volta do 12° ano ter�amos que eliminar metade das plantas pois se tornaria imposs�vel a circula��o de tratores, o que de fato aconteceu e h� dois anos, com a elimina��o de mais ou menos 6 mil plantas”.
O produtor da noz explica que existem v�rias pragas a serem combatidas, mas aponta com a mais significativas s�o origin�rias do tripes, inseto min�sculo que ataca as flores e o percevejo que ataca os frutos, fazendo furos em sua casca.
Embrapa desenvolve estudo de combate a doen�as
A Embrapa Meio Ambiente, em conjunto com produtores brasileiros de macad�mia vem desenvolvendo estudos tanto na identifica��o de agentes causais de doen�as de alto impacto no produto, coordenadas pelo pesquisador Bernardo Halfeld Vieira, quanto na direcionada � avalia��o da entomofauna associada a pomares de macad�mia e de pragas ex�ticas, coordenada pela pesquisadora Jeanne Prado.
"A identifica��o de pat�genos nas planta��es de macad�mia e o conhecimento da rela��o entre as esta��es e o aumento da incid�ncia de doen�as permitem uma defini��o precisa das medidas a serem tomadas para controlar cada doen�a. Esses dados podem ser usados para se precaver de poss�veis problemas fitossanit�rios em outras �reas de expans�o. Al�m disso, a identifica��o correta de agentes causais dar� suporte a estrat�gias mais adequadas de manejo de doen�as em planta��es de macad�mia", explica Bernardo.
Produtor “por acaso”, o m�dico Wenceslau de Ara�jo Miranda plantou quatro mil �rvores em 20 hectares na fazenda da Laje, em Lima Duarte, Zona da Mata mineira e espera colher 80 toneladas do fruto ao ano. “N�o conhecia a lavoura e na verdade meus amigos de cavalgada me convenceram a adquirir a fazenda que estava a venda e meio abandonada”. H� cinco anos, Lau, como � conhecido, vem restaurando as lavouras, as edifica��es e equipamentos. Neste ano contratou uma consultoria de engenheiro agr�nomo especialista em macad�mias e a recupera��o tem apresentado “bons resultados”. At� ent�o os resultados eram insatisfat�rios por “falta de trato cultural, fitossanit�rio de nutrientes, entre outras coisas”, explica o produtor. “Trata-se de uma cultura subtropical que se adapta bem na Zona da Mata, tanto na quantidade de insola��o quanto na precipita��o pluviom�trica”.
Lau conta que j� existem esp�cies desenvolvidas e melhoradas geneticamente que inciam a produ��o ap�s cinco anos e chegam � plenitude de frutifica��o em torno dos 10 a 12 anos, sendo que cada �rvore adulta pode produzir anualmente entre 25 e 28 quilos. “De modo geral, varia conforme a esp�cie. Algumas florescem o ano todo, mas de modo geral o ciclo seria flora��o entre agosto e setembro, inicio de outubro, fase de matura��o e crescimento e a colheita entre fevereiro e junho”.
Wenceslau Ara�jo destaca as propriedades nutricionais da noz que � empregada principalmente no setor aliment�cio e pode ser consumida in natura, torrada e salgada, ou triturada em bolos, p�es, sorvetes, balinhas confete. Tamb�m muito utilizada pela ind�stria cosm�tica por ser oleoginosa e presen�a de �mega 3.
Estudante ganha pr�mio
O processamento da noz de macad�mia gera 75% de res�duos, que acabam indo para os aterros sanit�rios org�nicos ou s�o queimados para produ��o de energia. Em maio do ano passado, a estudante ga�cha Juliana Estradioto, do campus de Os�rio, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (Ifrs) venceu o Science and Engineering Fair, em Phoenix, Estados Unidos, na categoria Ci�ncia dos Materiais, ao apresentar alternativas rent�veis e sustent�veis para o aproveitamento dos res�duos descartados pela ind�stria. A feira contou com a participa��o de mais de 1.800 estudantes de ensino m�dio de 80 pa�ses.
Juliana transformou a casca da noz macad�mia em farinha. Essa farinha, em meio de cultivo com outros nutrientes, serviu de alimento para microorganismos, os quais produziram as membranas. Essas s�o compostas de celulose e possuem caracter�sticas (como flexibilidade e resist�ncia) que permitem a utiliza��o em curativos para pele queimada ou para machucado. Outro uso poss�vel � na elabora��o de embalagens para o recolhimento de fezes de cachorro, em substitui��o ao pl�stico.
Juliana concorreu com a pesquisa sobre o aproveitamento da casca da noz macad�mia para confeccionar uma membrana biodegrad�vel, que pode ser utilizada em curativos de pele ou em embalagens, substituindo o material sint�tico. Al�m de ecologicamente correta, a membrana tem um custo mais baixo do que o material sint�tico, sendo tamb�m mais econ�mica. O trabalho foi desenvolvido enquanto Juliana era aluna do curso T�cnico de Administra��o Integrado ao Ensino M�dio do Campus Os�rio do IFRS, tendo orienta��o da professora Fl�via Twardowski e coorienta��o do professor Thiago Maduro.
A safra de amendoim de 2020 em Minas Gerais deve ser de 11,5 mil toneladas, o que significa um aumento de 49,8% em rela��o ao ano passado, que registrou 7,7 mil. O Valor Bruto da Produ��o (VBP) de amendoim j� cresceu 67,7% em rela��o a 2019, saindo de R$ 21 milh�es para R$ 36 milh�es. J� o aumento na �rea plantada foi de 42%. No ano passado eram 2,4 mil hectares, enquanto neste ano s�o 3,5 mil. Minas Gerais tamb�m aguarda uma safra recorde de gr�os em geral em 2020, com previs�o de 14,3 milh�es de toneladas. O valor � o maior desde 1976. Os dados s�o da Secret�ria de Estado de Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento (Seapa).
Os valores se referem � primeira safra de amendoim, que � plantada em outubro e novembro e colhida em fevereiro e mar�o. Minas Gerais conta com uma produ��o relevante do gr�o apenas neste per�odo. Outros estados, como S�o Paulo, tamb�m colhem uma safra menor em junho e julho, que � plantada no in�cio do ano.
Segundo o subsecret�rio de Pol�tica e Economia Agropecu�ria da Seapa, Jo�o Ricardo Albanez, um dos fatores que contribuem para a expans�o do cultivo de amendoim no estado � uma eleva��o do pre�o do gr�o, que se mostra como uma boa op��o para fazer a rota��o de culturas. O amendoim � majoritariamente plantado na entressafra da cana-de-a��car.
Os agricultores fazem parcerias com as usinas de cana-de-a��car, arrendando os terrenos durante a entressafra da cana. “O amendoim � usado para descansar a terra da cana. Voc� introduz uma leguminosa, que tem a caracter�stica de fixar o nitrog�nio no solo. Poderia ser soja, por exemplo, mas os produtores est�o preferindo o amendoim, que est� com um pre�o interessante”, explica.
Como o Tri�ngulo Mineiro � grande produtor de cana-de-a��car, a maior parte do amendoim do estado vem da regi�o. Segundo a Seapa, as tr�s cidades com maior �rea de plantio de amendoim em 2019 foram Frutal, Santa Vit�ria e Iturama, respectivamente. Outro fato que contribui para as previs�es otimistas da safra mineira de amendoim deste ano � a instala��o de uma ind�stria de processamento do gr�o no Mato Grosso do Sul, na cidade de Parana�ba.
Pela proximidade do comprador, os produtores do Tri�ngulo est�o mais interessados em plantar o gr�o. “O produtor passa a ter um referencial de aquisi��o do produto”, argumenta Jos� Ricardo Albanez. Buscando atender � demanda maior, munic�pios como Iturama, Limeira do Oeste, Carneirinho e Uni�o de Minas est�o aumentando a �rea cultivada. Segundo o subsecret�rio, mais uma raz�o para o crescimento da produ��o de amendoim � a diversidade da demanda no mercado. “O amendoim � usado no bombom, no sorvete, na pa�oca. Os atletas est�o utilizando a pasta de amendoim. Existe hoje um mercado ampliado para o gr�o”, diz.
Apesar da expans�o do cultivo, Albanez destaca que a cultura de amendoim em Minas ainda � pequena e n�o se compara � de outros gr�os mais fortes, como o de soja e milho. Por isso, o subsecret�rio acredita que vai depender do mercado se haver� espa�o para crescimento do cultivo. “O produtor tem que ficar atento ao pre�o e outros fatores. Pode ser que a soja passe a valer mais a pena como rota��o de cultivo com a cana”, afirma.
No pa�s
A expetativa � que a produ��o nacional total de amendoim tamb�m cres�a este ano. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a �rea plantada no Brasil atingiu mais de 157 mil hectares, o que representa um crescimento de 7,6% em rela��o ao �ltimo ciclo. O volume produzido foi de 512 mil toneladas: alta de 18,5%. Por�m, como explica o t�cnico da �rea de an�lise de safra da Conab Eledon Pereira, parte do crescimento se deve a melhores condi��es clim�ticas este ano em rela��o ao ano passado.
S�o Paulo � o estado que concentra a maior produ��o de amendoim do pa�s, com 93% do total. Segundo Eledon Pereira, a safra paulista � de cerca de 482 mil toneladas. No c�lculo da Conab, o Rio Grande do Sul � o segundo estado produtor, com 111 mil toneladas. Minas aparece na terceira posi��o, com 1% da produ��o nacional.
Pereira afirma que as perspectivas de expans�o do plantio de amendoim no pa�s dependem da demanda do mercado. “Se voc� der um incentivo grande para produzir amendoim n�o h� demanda para essa produ��o. O amendoim ainda � uma cultura muito pequena. N�o d� para dizer que � uma tend�ncia na agricultura brasileira, j� que a �rea plantada � reduzida”, explica. Al�m disso, o analista da Conab informa que a produ��o brasileira do gr�o � voltada para consumo interno, sendo que n�o h� muitos compradores internacionais.
* Estagi�rio sob supervis�o de Marc�lio de Moraes