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Estado de Minas

Produtores mineiros de azeitona e azeite investem na quantidade e qualidade

Apesar do excesso de chuva que causou danos �s planta��es, produtores do Sul de Minas esperam superar as 800 toneladas de azeitonas e os 80 mil litros de azeite de 2018


10/02/2020 04:00 - atualizado 10/02/2020 13:51

Região da Serra da Mantiqueira já se consolidou como polo na produção de azeite extravirgem no Brasil(foto: ERASMO PEREIRA/DIVULGAÇÃO)
Regi�o da Serra da Mantiqueira j� se consolidou como polo na produ��o de azeite extravirgem no Brasil (foto: ERASMO PEREIRA/DIVULGA��O)

Com expectativa no aumento para este ano, a produ��o de azeites no Sul de Minas desponta como uma das tend�ncias do agroneg�cio no estado. A regi�o da Serra da Mantiqueira concentra 160 produtores em 80 cidades, e a atividade impulsiona a economia local. Mas como a produ��o ainda � pequena, os fabricantes vendem para restaurantes e emp�rios, apostando no diferencial da qualidade para competir com o produto importado.
 
A expectativa dos produtores de azeite em Minas � de que 2020 tenha uma safra maior do que a de 2019, mas n�o recorde como a de 2018. No ano retrasado, a produ��o foi de 800 toneladas de azeitonas e 80 mil litros de azeite. J� o ano passado foi de baixa, quando se produziram 20 mil litros do �leo. Segundo o engenheiro agr�nomo e pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecu�ria de Minas Gerais (Epamig), Pedro Moura, a florada atrasou enquanto as chuvas se adiantaram, o que prejudicou a poliniza��o e a colheita.
 
“A gente imagina que o per�odo de florada coincidiu com o de chuvas”, explica. “Esperamos que a safra de 2020 seja maior do que 2019, mas n�o se sabe se vai superar a de 2018. Deve produzir bem mais que os 20 mil. Mas n�o se sabe se vai atingir os 80 mil”, diz. A colheita vai de meados de fevereiro at� abril.
 
Para o presidente da Associa��o dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), Nilton Caetano de Oliveira, � dif�cil fazer previs�es para este ano. Segundo o dirigente, as planta��es est�o muito irregulares. Com isso, algumas propriedades devem produzir bem, enquanto outras nem tanto. Oliveira acredita que em fevereiro ser� poss�vel ter informa��es mais precisas sobre a safra deste ano.
 
O impacto das fortes chuvas que atingiram Minas Gerais no in�cio deste ano na produ��o ainda est� para ser avaliado pelos produtores da Serra da Mantiqueira. Por�m, h� a preocupa��o de que os temporais se estendam at� fevereiro, prejudicando o pico da colheita. “Se tiver chuva o m�s inteiro pode atrapalhar a colheita. Pode ser que alguns percam a produ��o”, afirma Pedro Moura. Outro fator que pode afetar a safra deste ano � a possibilidade de chuva de granizo, que pode estragar as plantas.
 
A regi�o da Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas, � considerada o polo de produ��o de azeite no estado. H� produtores em S�o Paulo e no Rio de Janeiro, mas estima-se que 60% da produ��o se concentre em Minas. Segundo estimativas da Epamig, a regi�o tem 160 produtores de azeite espalhados em 80 cidades. H� 23 agroind�strias instaladas e 60 marcas de azeite mineiro no mercado. A �rea plantada � de aproximadamente 3 mil hectares, sendo que 20% dessa extens�o est� em idade produtiva.
 
Pedro Moura explica que o cultivo das oliveiras prosperou na Mantiqueira devido ao clima da regi�o. “A oliveira � uma planta origin�ria de clima mais frio, temperado. Ela precisa acumular horas de frio durante o inverno para produzir, pra que haja emiss�o floral. � recomendado um m�nimo de 300 horas abaixo de 12 graus cent�grados”, explica. Como a serra tem altitude elevada, as baixas temperaturas s�o constantes, o que � prop�cio para o cultivo das azeitonas. Segundo Moura, o plantio das oliveiras na regi�o se d� em altitudes acima de mil metros.
 

Cresce o interesse pela produ��o

 
A regi�o da Mantiqueira atrai cada vez mais empres�rios e produtores interessados no cultivo de oliveiras, a chamada olivicultura. � o caso de Rosana Chiavassa, que nasceu em S�o Paulo mas comprou propriedade em Maria da F�, no Sul de Minas, para produzir azeite. A fazenda tem 20 hectares de �rea plantada com oliveiras, e a expectativa de produ��o para este ano � de 3 mil litros do �leo. Agora, ela deve vender para compradores de Minas e S�o Paulo.


''A oliveira � uma planta origin�ria de clima mais frio, temperado, precisa acumular horas de frio durante o inverno para produzir''

Pedro Moura, pesquisador da Epamig



 
Para o agr�nomo Lu�s Eug�nio Matos, a olivicultura pode ser considerada uma tend�ncia do agroneg�cio em Minas. Mas ele destaca que quem se interessa pela cultura deve buscar o m�ximo de informa��es poss�vel e come�ar com produ��o pequena, j� que o cultivo no Brasil � muito recente. “H� ainda a necessidade de compreender tecnicamente como essa planta funciona biologicamente na nossa condi��o clim�tica. N�o temos ainda uma norma t�cnica, um pacote tecnol�gico claro, definido pra cultura”, argumenta. Matos recomenda que os interessados em produzir azeite devem buscar apoio t�cnico com engenheiro agr�nomo que tenha experi�ncia com a planta.
 
Uma s�rie de tipos de azeitonas, os chamados cultivares, se adaptaram ao sul de Minas. Uma delas � a Arbequina, de origem espanhola, que resulta em azeite mais suave. Outra � a Koroneiki, grega, que produz um �leo mais picante e mais saud�vel. H� tamb�m a Grapollo, que veio da It�lia, que por sua vez serve de ingrediente para um azeite mais frutado. Foi poss�vel criar, com um trabalho de pesquisa, uma varia��o brasileira da azeitona italiana, chamada de Grapollo 541, tamb�m cultivada na regi�o.
 
A produ��o de azeites em Minas ainda � pequena, e por isso n�o tem condi��es de abastecer redes de supermercados. De acordo com Pedro Moura, o consumo anual de azeite pelos brasileiros � de 70 milh�es de litros. A produ��o nacional responde por muito pouco desse total. No entanto, na opini�o de Moura, o diferencial do azeite produzido em Minas � a qualidade e o frescor. “A data que mais se consume azeite no Brasil e no mundo � na semana santa. Nessa data a regi�o que tem o azeite mais fresco � Minas. Enquanto os azeites da Europa tem a colheita em setembro e outubro”, diz.
 
Por isso, o produto � vendido em emp�rios e restaurantes especializados. O pesquisador da Epamig afirma que em Belo Horizonte, S�o Paulo, Rio de Janeiro e Bras�lia � poss�vel encontrar os azeites produzidos em Minas. Alguns produtores vendem at� pela internet. Outra via de com�rcio � atrav�s do chamado agroturismo. Os produtores abrem as fazendas para que visitantes possam conhecer as planta��es de oliveiras e tamb�m comprar azeites, com um valor agregado maior.
 
Por ser produzido em relativa pequena escala, o azeite mineiro ainda n�o � comercializado no mercado internacional. De acordo com Pedro Moura, o mercado interno consume rapidamente a produ��o, sendo que no final do ano j� � dif�cil encontrar o azeite produzido em fevereiro. Por�m, o pesquisador da Epamig destaca que muitas marcas de azeite de Minas se inscreveram em concursos internacionais e foram premiadas. � o caso do azeite Iracema, que conquistou o pr�mio de melhor Blend no Concurso Mundial de Azeite, realizado em Nova York em abril de 2018.
 
O centro e a origem da produ��o de azeite na Mantiqueira � a cidade de Maria da F�, de 14 mil habitantes. Diferentes setores da economia da cidade se beneficiam da produ��o de azeite. Como o munic�pio atrai muitos turistas pelas baixas temperaturas, o artesanato regional cria produtos relacionados ao azeite, utilizando a madeira da oliveira. Pedro Moura conta que uma farmac�utica da cidade criou uma linha de cosm�ticos � base de azeite, como sabonetes e hidratantes. Ainda h� a produ��o de chocolate que leva azeitona e azeite na receita. 
 
A Mantiqueira n�o � a �nica regi�o que desponta como produtora de azeitonas e azeites no Brasil. O Rio Grande do Sul � outro polo produtor da olivicultura. “L� eles t�m uma altitude menor, mas t�m o frio. As �reas s�o mais planas e os plantios s�o maiores, voltados para uma escala mais comercial”, afirma Pedro Moura. De acordo com o pesquisador, como a Mantiqueira � mais montanhosa, as �reas de planta��o s�o menores. Com isso, o foco dos produtores mineiros � um produto de maior qualidade, voltado para um consumidor mais exigente. No entanto, ele afirma que o azeite ga�cho � t�o bom quanto o mineiro.
 

Portugal  proibiu cultivo no pa�s

 
A hist�ria da produ��o de azeite em Minas Gerais se caracteriza pelos esfor�os de adaptar as oliveiras ao clima brasileiro. A oliveira chegou aqui com a coloniza��o portuguesa. A planta � origin�ria do Sri Lanka e do Oriente M�dio e foi domesticada no Mediterr�neo. O pesquisador da Epamig Pedro Moura explica que h� relatos que apontam para a exist�ncia de oliveiras no Brasil no s�culo 19, em S�o Paulo.
 
Por�m, como um dos principais produtos de Portugal era o azeite, a Coroa determinou que todas as planta��es de oliveiras fossem erradicadas no Brasil. Moura ainda afirma que ent�o os portugueses espalharam um boato de que era imposs�vel produzir azeite por aqui.
 
O cultivo de oliveiras retornou ao Brasil apenas em 1935, quando o portugu�s  Em�lio Ferreira dos Santos assumiu uma propriedade rural em Maria da F�. Ele achou as condi��es clim�ticas do Sul de Minas muito parecidas com as de Portugal. Assim, convenceu a esposa e os filhos a se mudarem para o Brasil, trazendo mudas de oliveira.
 
Com isso, a planta se propagou na regi�o. Nas d�cadas de 1940 e 1950, o agr�nomo  Washington Alvarenga Viglioni, amigo de Em�lio, pegou algumas mudas para estudar, onde hoje fica uma esta��o de pesquisa da Epamig em Maria da F�.
 
Com essas primeiras pesquisas, Viglioni conseguiu colher as primeiras azeitonas no estado em 1960. Em 1974, a Epamig foi criada e logo assumiu a esta��o de pesquisa, em 1975. A partir da�, os pesquisadores se debru�aram na miss�o de fazer o cultivo da planta em maior escala vi�vel no Brasil. Os cientistas conseguiram trazer tipos diferentes de azeitonas, al�m de adaptar o sistema de produ��o de mudas.
 
Apenas em 2008 foi poss�vel extrair, experimentalmente, os primeiros litros de azeite de oliva extravirgem produzido no Brasil. Naquele ano, foram produzidos 40 litros do �leo. Depois disso, a olivicultura se expandiu. Em 2010, a produ��o, j� comercial, foi de 500 litros. Vendo o potencial do setor, o governo do estado comprou uma m�quina italiana de extra��o de azeite. Com isso, os produtores conseguiam processar os frutos e fabricar azeite.
 
Segundo Pedro Moura, o trabalho da Epamig foi fundamental na adapta��o das oliveiras ao Brasil. “Hoje trabalhamos com melhoramento, desenvolvimento de novos cultivares, estudo do manejo, poda, nutri��o. Tentando definir um melhor ponto de matura��o das azeitonas. Al�m de difundir a tecnologia para o produtor”, afirma.

* Estagi�rio sob supervis�o do subeditor Paulo Nogueira 


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