(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Barragens criam novo 'bicho-pap�o' que as crian�as precisam aprender a superar

Desde 18 de fevereiro, quando a sirene de alerta de rompimento de barragem tocou em Macacos, alunos da escola local est�o afastados do col�gio e relatam uma rotina de medo


postado em 07/04/2019 05:07 / atualizado em 07/04/2019 09:04

Com medo de ir à escola, os alunos Lana, Carlos Henrique, Jadson, Alice, Erick Henrique, Ana Caroliny e Luiz Fernando passam o tempo juntos na praça (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Com medo de ir � escola, os alunos Lana, Carlos Henrique, Jadson, Alice, Erick Henrique, Ana Caroliny e Luiz Fernando passam o tempo juntos na pra�a (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


Enquanto as escolas est�o fechadas, as m�es fazem o que podem para lidar com a falta de aula e o medo que passou a assombrar os filhos. Caso de Juscin�ia Gobbi de Morais, de 28 anos, que tem os filhos Carlos Henrique, de 6 anos, e Lana, de 8, ambos alunos da escola Rubem Costa Lima. “Meu filho chorou muito, disse que n�o queria morrer. Tentei tranquiliz�-los ao m�ximo, falei que mor�vamos fora da �rea de risco, mas, ainda assim, eles est�o atordoados, perderam autonomia. N�o querem fazer nada sozinhos, nem mesmo pegar �gua na cozinha ou dormir no quarto deles.” Ciente de que um aux�lio psicol�gico seria importante neste momento, ela conta que j� solicitou apoio � Vale, mas n�o obteve resposta. “Eles alegam que quem n�o est� na �rea de risco n�o � prioridade”, lamenta.


Faz coro Bruna Cristina Dem�trio, de 21, m�e de Erick Henrique Dem�trio Barreto dos Santos, de 5, tamb�m aluno da Escola Municipal Rubem Costa Lima. “No dia da sirene, ele me mandou �udios desesperados e, desde ent�o, n�o vai nem ao banheiro sozinho”, relata. A m�e segue: “J� pedimos psic�logo para acompanhar as crian�as, preenchi formul�rios mais de uma vez, mas at� agora nada. Ele era esperto, ativo, independente, mas desde a sirene est� diferente. E sente muito a falta da escola”.


Em uma segunda-feira � tarde, o normal seria encontrar a Escola Municipal Rubem Costa Lima lotada de crian�as. Localizada na principal rua do distrito de S�o Sebasti�o das �guas Claras, ou Macacos, a unidade de ensino se esavaziou desde 18 de fevereiro, quando a sirene de alerta de rompimento de barragem tocou pela primeira vez, deixando moradores em estado de tens�o permanente. Apesar de a Defesa Civil garantir que a escola est� a 54 metros da mancha de lama em caso de um poss�vel desastre – e, portanto, segura –, a justificativa da maioria dos pais das 189 crian�as de at� 11 anos matriculadas l� � proteger os filhos da situa��o de medo, provocado pelo atual cen�rio. Sim, o receio de um desastre, como o ocorrido em Brumadinho no in�cio deste ano, e em Mariana tr�s anos antes, � o novo bicho-pap�o de quem vive em regi�es de risco. E s�o muitas: Bar�o de Cocais, Congonhas e Ouro Preto, entre outras.

ANO LETIVO 
No distrito de Macacos, a diretora da escola, V�nia Baia, explica que a maioria dos pais optou por n�o transferir os filhos. “Ap�s media��o com o Minist�rio P�blico e a Prefeitura de Nova Lima, a op��o de cerca de 60% � esperar que uma unidade provis�ria de ensino seja criada no antigo Instituto Kair�s, que fica numa regi�o mais alta do distrito. At� o ano que vem, a promessa da Vale, respons�vel pelas barragens da regi�o, � construir uma nova escola. Solicitamos o m�ximo de agilidade para que o calend�rio letivo n�o fique ainda mais prejudicado”, apontou a diretora. Outros 40% optaram por transferir os filhos para outras escolas do munic�pio, processo que a diretora e a secret�ria de Educa��o est�o ajudando as fam�lias a conduzir.


Neste cen�rio de incertezas, V�nia conta que tem atendido � comunidade. “H� muitos relatos de pais preocupados. O que faz sentido porque, pedagogicamente, os alunos est�o perdendo, por mais que repusermos as aulas. Nossa expectativa � conseguir garantir pelo menos os 200 dias letivos. O quadro psicol�gico das crian�as tamb�m � preocupa��o e o ideal � um acompanhamento psicopedag�gico para ajud�-las a transpor um poss�vel trauma.”

Resgatar a autoestima da comunidade

A professora Maria Dias, do Magnum Cidade Nova, em BH, mostra livrão sobre a tragédia criado pelos alunos, que ainda escreveram cartões de incentivo e gratidão aos bombeiros(foto: Grazielle Macedo/Divulgação)
A professora Maria Dias, do Magnum Cidade Nova, em BH, mostra livr�o sobre a trag�dia criado pelos alunos, que ainda escreveram cart�es de incentivo e gratid�o aos bombeiros (foto: Grazielle Macedo/Divulga��o)

Como lidar com o cen�rio p�s-trag�dia? S�nia Barcelos, secret�ria de Educa��o de Brumadinho, explica que o in�cio do ano letivo de todo o munic�pio foi adiado devido ao rompimento da Barragem do C�rrego do Feij�o, em 25 de janeiro. “Atrasamos para pensar em como receber�amos alunos, educadores e demais funcion�rios.” Ela cita a perda humana da trag�dia, lembra que muitos dos 700 funcion�rios e dos 7,8 mil alunos (6 mil municipais e 1,8 mil estaduais) das unidades de ensino perderam entes queridos, e diz que a aposta no fortalecimento da autoestima tem ajudado a comunidade a superar o trauma. “Um psic�logo foi colocado em cada escola para acolher alunos e ou funcion�rios em dificuldade. A Sa�de tamb�m recebeu refor�o de psic�logos e assistentes sociais. A ideia � que todos em dificuldade sejam atendidos de forma prolongada.”

 


A diretora revela, ainda, que o ano letivo foi iniciado em 8 de fevereiro, inclusive na escola da comunidade do C�rrego do Feij�o, que n�o foi atingida pela lama de rejeitos. E afirma que uma for�a-tarefa tem sido implantada para minorar os danos provocados pela trag�dia. “Junto � Secretaria de Meio Ambiente, implantamos o projeto ‘Brumadinho: esse � meu lugar’, com diversas a��es para entender quais danos a trag�dia trouxe e como vamos revert�-los. Compet�ncias socioemocionais e a cultura de paz s�o os principais eixos. As coisas est�o caminhando.”


Apesar da propor��o da trag�dia, ela afirma que nenhum quadro psicol�gico mais grave foi notificado. Ainda assim, diz que o sentimento de medo precisa, sim, ser trabalhado. “Todos temos algum tipo de medo, o que faz mal para o corpo e para a mente. Ent�o, realmente � necess�rio um trabalho com a comunidade: crian�as, m�es, pais, fam�lias, educadores. E refor�o: se o trauma persiste em casa, � transferido para as crian�as. Para fam�lias que est�o em dificuldade, um acompanhamento prolongado � necess�rio.”

HABILIDADES SOCIOEMOCIONAIS
Em Belo Horizonte, escolas t�m realizado iniciativas para trabalhar as habilidades socioemocionais de alunos. A psic�loga Lana Cristina de Campos Medeiros, coordenadora de forma��o do ensino fundamental I do Magnum Cidade Nova, conta como a escola aborda temas como a trag�dia ocorrida em Brumadinho. “Sempre que poss�vel e adequado para uma determinada faixa et�ria, utilizamos situa��es cotidianas, mesmo que sejam trag�dias, para trabalhar as habilidades socioemocionais com os alunos. Na ocasi�o do rompimento da barragem, cada coordenador se preparou, junto � equipe de professores, para fomentar a empatia e a solidariedade nos alunos.”
Leitura de livros, not�cias e debates, convite � reflex�o e � pr�tica de empatia integram a proposta. Ela revela que crian�as mais novas produziram um ‘livr�o’ com cart�es de incentivo e gratid�o direcionado aos bombeiros. “Elas escreveram frases e palavras, al�m de produzir um desenho, para registrar o sentimento de gratid�o pela entrega desses profissionais”, registra. J� as turmas de 3º e 4º anos redigiram cartas para os bombeiros que atuaram nas equipes de resgate e tamb�m para as crian�as atingidas pela trag�dia. Houve, ainda, a��o para a doa��o de brinquedos para as crian�as de Brumadinho.


“Com os problemas e as complexidades da sociedade moderna, os medos modificaram-se. Hoje, os temores dos adultos passaram a povoar tamb�m a cabe�a dos pequenos. Alguns alunos, especialmente no ensino fundamental I, chegam � escola comentando sobre acontecimentos divulgados pela TV, internet e outros ve�culos de comunica��o. Ocorre tamb�m de recebermos fam�lias pedindo orienta��o por estarem preocupadas com a repercuss�o das not�cias veiculadas e o impacto sobre seus filhos”, contextualiza.


A psic�loga lembra, ainda, que o papel da escola deve ser de apoio e aten��o, tanto �s demandas coletivas quanto �s individuais. “Cabe � escola avaliar quando um fato deve ser abordado com toda a turma ou segmento. No caso de Brumadinho, as a��es foram amplas. J� no caso de Suzano, atendemos aos alunos que apresentaram demanda. O objetivo, conclui, � formar mais do que alunos, e sim pessoas conscientes de seu papel na sociedade. Com as a��es, pretendemos inspirar outras pr�ticas e desejamos que nossos alunos formem personalidades �ticas, sejam solid�rios, emp�ticos e amorosos.”


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)