No m�s de fevereiro, na cidade de Congonhas, regi�o central de Minas Gerais, a prefeitura, por meio da Secretaria de Educa��o, paralisou temporariamente as atividades de uma creche e remanejou alunos de uma escola municipal, devido � inseguran�a das fam�lias em rela��o � Barragem de Casa de Pedra, localizada pr�ximo da cidade com, cerca de 50 milh�es de metros c�bicos de rejeitos, de acordo com a prefeitura. A situa��o gerou tens�o e receio entre moradores.
COLETIVIDADE Apesar de novas, o diretor comenta que as crian�as est�o tranquilas e sabem dos riscos, por causa do estado de aten��o passado pelos familiares. “Eles t�m consci�ncia da situa��o e sentem as preocupa��es dos pais com o medo de terem que sair de casa”, pontua. Anivaldo Souza destaca que a tens�o criou um senso de coletividade por parte da comunidade. “Os pais est�o muito preocupados com o psicol�gico dos filhos. Muitas escolas est�o promovendo passeatas e manifesta��es. Apesar de a Defesa Civil ter dado uma acalmada, estamos abertos para todas os poss�veis questionamentos e problemas consequentes”, conclui. * Estagi�rio sob a supervis�o da subeditora Elizabeth Colares
Entrevista: Roneida Gontijo-Psicopedagoga
Acreditar no futuro � fundamental
Acostumada a lidar com medos e traumas no atendimento a crian�as e jovens, a profissional discorre sobre o assunto trag�dia e aponta caminhos poss�veis para evitar o trauma
De que forma trag�dias como a de Brumadinho impactam crian�as e adolescentes?
Definitivamente, perder a forma de viver de uma hora para a outra � assustador. De repente, ficar sem casa, animais de estima��o, parentes, amigos, escola. Lugares em que brincavam, se divertiam, � um trauma muito grande. Partindo desse pressuposto, percebemos v�rios tipos de sentimentos, como medo, inseguran�a, tristeza, dor, ang�stia, saudade, desamparo e impot�ncia, entre outros. O quadro pode fazer com que crian�as e adolescentes se tranquem no seu mundo, com medo de tudo e de todos.
� poss�vel auxiliar essas crian�as e jovens a seguirem em frente?
Inicialmente, acolher e respeitar o turbilh�o de sensa��es e sentimentos que surgem com a cat�strofe � um ponto de partida para o aux�lio. � importante ajud�-los a acreditar que tudo aquilo vai passar, e ser� necess�rio encontrar meios para acreditar no futuro, e reconstru�-lo.

Os traumas podem desenvolver doen�as psiqui�tricas (depress�o, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse p�s-traum�tico), cardiovasculares e mortalidade na idade adulta, inclusive o suic�dio. E os danos causados por elas podem gerar cicatrizes emocionais na vida adulta, que, se n�o tratadas, deixar�o marcas profundas.
Qual � o papel das escolas nesse sentido? E dos pais?
O acolhimento e a escuta s�o fundamentais. Responder �s perguntas sem mentira, de uma forma adequada para cada faixa et�ria, � muito importante. Na escola, � muito importante a cria��o de projetos, no intuito de acolher e trabalhar as habilidades emocionais de forma mais intensa, como o respeito, o amor, a empatia, a solidariedade, a paci�ncia, a resili�ncia, proje��o de futuro, preven��o ao uso de drogas e resgate da autoestima, entre outros. E um trabalho de suporte, acolhimento e orienta��o � fam�lia tamb�m deve ser dado. Neste momento, os pais tamb�m ter�o papel fundamental, como o acolhimento, a escuta e o apoio.
De que forma � poss�vel tratar uma situa��o de estresse causada pelo medo?
O primeiro passo � detectar quais sintomas s�o apresentados pela crian�a ou jovem. Algumas podem apresentar ins�nia, irritabilidade, apatia, tristeza, medo exacerbado, desinteresse em pessoas ou coisas de que antes gostavam muito. Ainda dificuldade de dar e receber afeto, lembran�as em flashes da experi�ncia traum�tica vivida, dificuldade de concentra��o, comportamentos regressivos e preocupa��o com morte precoce. Partindo dessa observa��o, a orienta��o � buscar profissionais capacitados para acolher e fazer um trabalho psicoterap�utico.
H� exerc�cios e/ou an�lises de comportamento que possam identificar o medo e o trauma em uma crian�a?
Prestar aten��o no comportamento das crian�as e jovens � de suma import�ncia para identificar o momento e/ou a necessidade de buscar ajuda de especialistas. A partir da�, psic�logos, psiquiatras, assistentes sociais e outros profissionais poder�o ajudar.