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Estado de Minas

Depress�o tem tratamento

Casos da doen�a que acomete mesmo pessoas ricas e famosas, como o humorista Whindersson Nunes, cresceRAM 18% nos �ltimos 10 anos


28/07/2019 04:19

(foto: Pxhere/Divulgação )
(foto: Pxhere/Divulga��o )

 






O desabafo mais recente sobre a depress�o � do humorista e youtuber Whindersson Nunes. Via Twitter, o piauiense postou: "Apesar de tudo de bom que vem acontecendo comigo, de tudo que j� conquistei, me sinto triste h� alguns anos". Em tratamento, ele cancelou a agenda de shows at� agosto e tem recebido a torcida e o apoio de f�s e familiares para dar a volta por cima.

O quadro do youtuber mostra que a depress�o n�o escolhe faixa et�ria, sexo ou condi��o financeira para aparecer. Entre an�nimos e celebridades, a doen�a n�o para de crescer. No showbiz, a lista de pessoas que revelaram em p�blico ter passado pela depress�o � enorme. Incluindo a� o padre Marcelo Rossi, as cantoras Adeli e Paula Fernandes, a multiartista Demi Lovato e o ator Selton Mello, entre outros.

De acordo com dados da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), a quantidade de casos de depress�o cresceu 18% em 10 anos. E a entidade faz uma previs�o nada animadora: at� 2020, acredita-se que a doen�a ser� a mais incapacitante do planeta.

Aqui, Fabiana Cerqueira, psic�loga e psicanalista, mestre em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora de psicopatologia e psican�lise do curso de gradua��o em psicologia da Faculdade Ci�ncias da Vida, esclarece alguns dados importantes sobre a depress�o. Confira:

Como a psicologia define um quadro 
de depress�o?
Para a �rea da psicologia, a depress�o � uma manifesta��o subjetiva do sujeito, que � caracterizada por uma tristeza profunda, desinteresse pelas atividades (desde as mais simples at� as mais complexas), mesmo aquelas que antes eram prazerosas.

A depress�o causa altera��es emocionais importantes e que influenciam diretamente na maneira como o indiv�duo lida com as pessoas e com o mundo?
Aparentemente, a depress�o n�o tem um motivo espec�fico. � um estado de humor que se prolonga por dias, meses e at� anos. E o trabalho de um psic�logo � resgatar a raz�o disso e colaborar para que o indiv�duo procure sa�das.

Em que medida � poss�vel diferenciar depress�o de tristeza?
� necess�rio e importante diferenciar a depress�o da tristeza. Esta, geralmente, � transit�ria e est� ligada a acontecimentos ou momentos dif�ceis e desagrad�veis. Por�m, � uma rea��o inerente � vida de qualquer pessoa. Essa diferencia��o se faz ainda mais pertinente neste s�culo 21, per�odo em que percebemos que a depress�o se tornou uma express�o do senso comum e ganhou as configura��es do mal-estar da atualidade. Quando algu�m est� triste, � recorrente vermos que j� se interpreta como uma depress�o e isso � muito grave, pois algo que faz parte da natureza humana passa a ser tratado como uma patologia. Isso � resultado de um ideal da felicidade, que � uma marca da sociedade atual. Temos que lembrar que, se o indiv�duo passa por uma perda significativa, � compreens�vel que fique triste.

Quais s�o os principais sintomas depress�o? 
S�o sintomas que abrangem tanto a esfera ps�quica quanto a f�sica: tristeza profunda e cont�nua, apatia, muita ang�stia, anedonia (incapacidade de sentir prazer), cansa�o f�sico, ins�nia ou hiperins�nia, perda ou aumento de apetite e, consequentemente, altera��es no peso, diminui��o da libido, ideias negativas, dificuldade de se concentrar. Sentimentos de culpa, baixa autoestima, incapacidade e vergonha. Em alguns casos, podem-se perceber ideias de morte, desejo de desaparecer, dormir para sempre, planos suicidas.

H� causas para a depress�o?
Geralmente, a depress�o surge ap�s um esgotamento f�sico e/ou psicol�gico, alguma perda para a qual a pessoa n�o encontra recursos para superar, viv�ncias traum�ticas (mesmo as infantis), consumos de drogas l�citas ou il�citas e/ou de medicamentos. At� mesmo a situa��o econ�mica e pol�tica do pa�s pode afetar o estado emocional de um indiv�duo. Por�m, muitas vezes, n�o h� uma causa aparente. At� porque, a depress�o � um quadro que apresenta evolu��o silenciosa em muitos casos, ou seja, n�o aparece de repente. Por isso, friso a import�ncia de o indiv�duo buscar a ajuda da psicologia para iniciar um tratamento. Poder falar disso em um lugar apropriado � poder investigar sua hist�ria e tratar quest�es que muitas vezes foram silenciadas. Chamamos a aten��o para quem procura apenas o tratamento farmacol�gico. Os rem�dios, vendidos como solu��es instant�neas, ajustam as subst�ncias do corpo, evidentemente, mas n�o tratam o problema psicol�gico. A tend�ncia � que, com o tempo, a doen�a possa se agravar e haja uma poss�vel depend�ncia de medicamentos.

Na terapia, o psic�logo investigar� o quadro de forma personalizada. 
Ou seja, para al�m dos sintomas universais e as evid�ncias que 
se apresentam. O que tem da hist�ria do sujeito nisso? 
Recentemente, vimos o humorista e youtuber Whindersson Nunes falar que sofre de depress�o. Um dos pontos abordados por ele foi a quest�o do dinheiro, explicitando que ter dinheiro n�o impede o sentimento de ang�stia e tristeza. 


Por favor, comente em que medida os problemas do cotidiano influenciam ou n�o em um quadro de depress�o. 
Atualmente, vivemos numa sociedade em que as subjetividades est�o centradas em um v�nculo fundamentalmente narc�sico. As exig�ncias est�ticas e perform�ticas ficaram intr�nsecas no nosso modo de viver. Isso � atrelado � l�gica do consumo e da aquisi��o financeira, que toma grandes propor��es nas rela��es pessoais e nos princ�pios �ticos de maneira geral. Essa busca por se enquadrar nos padr�es traz consequ�ncias para a constru��o das identidades dos sujeitos. Nessa cultura, marcada pelo narcisismo, as pessoas se veem �s voltas em estabelecer elos mediante ao que � produzido nas rela��es de consumo, do que se adquire tanto material como culturalmente. O outro surge para confirmar isso ou n�o, o que pode ser devastador. Nos faz crer que as pessoas necessitem, ent�o, do olhar do outro para valida��o de sua identidade e isso nos aproxima de uma cultura da performance e do espet�culo. Vivemos, assim, imersos num imp�rio da imagem. A imagem passa a ser uma ponte para as rela��es sociais e no �mbito do consumo as mercadorias se tornam objetos ilus�rios de poder. N�o � isso que vemos nas redes sociais? Assim, a possibilidade de reconhecimento fica atrelada ao ter e n�o ao ser. Entretanto, trata-se de um ideal que n�o existe e n�o se sustenta, � vazio. No caso do Whindersson, ele teve tudo que se espera de algu�m que vai tentar algo na internet: seguidores, fama, dinheiro, reconhecimento... mas, acredito, podemos pensar tudo pautado num grande espet�culo, que pode ter deixado de lado sua realidade. Nisso o sujeito se perde. Essa valida��o n�o faz sentido. E da�, pode-se evoluir para um quadro de depress�o. A depress�o tem um lugar paradigm�tico nisso, pois ela � justamente o contr�rio. H� um embotamento do sujeito. Ela � um avesso do ideal de nossa sociedade.

Vivemos a era da revolu��o digital, exposi��o em redes sociais, haters. Em que medida as novas tecnologias influenciam na explos�o da depress�o?
A revolu��o digital trouxe a explos�o de um tipo de individualidade narc�sica: esperamos a valida��o do outro para construir algo de nossa identidade. Li em algum lugar assim: o sujeito passou a ser cidad�o do mundo e, por isso, n�o � identificado a ningu�m e a lugar nenhum. Isso deixa as rela��es intersubjetivas fr�geis e vazias. Na internet, vemos o “show do eu” e, acompanhado a isso, uma “cultura da simula��o”. A internet possibilita um certo conforto, em que a realidade com suas complexidades e conting�ncias, especialmente das rela��es humanas, ficam “amenas”, artificiais. Os ambientes passam a ser controlados, muito longe do que a vida nos exige, n�o � verdade? O resultado disso s�o pessoas despreparadas para situa��es complexas da vida cotidiana e acostumadas a viv�ncias mais empobrecidas. As tecnologias podem estar diminuindo aquilo que nos marca como humanos. E um dos ant�dotos para isso � passar a investir cada vez mais nas rela��es pessoais, uns com os outros.

Por fim, quais s�o as medidas indicadas para combater a doen�a?
Cuidar-se! N�o � apenas do corpo f�sico. Mas de nossa sa�de emocional tamb�m. Fazer coisas de que se gosta e priorizar isso na rotina; n�o ignorar sinais de tristeza que s�o persistentes; permitir-se ficar triste e procurar fazer terapia, n�o s� com o objetivo de sanar algum problema imediato, mas para se cuidar, saber lidar com suas limita��es, suas frustra��es.




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