“Pra mim, a imagem � um reflexo do estado de esp�rito. Meu bi�tipo n�o vai mudar, mas posso gostar dele. Ser feliz, me aceitar, me amar. Por que n�o?”

.Eliz�ngela de Almeida Pires
de 45 anos, secret�ria
Consultora de imagem h� 12 anos, Carol Meyer saiu incomodada de uma palestra depois de mais uma vez ouvir uma plateia aflita por se encaixar nos padr�es est�ticos vigentes. “J� percebia que muitas mulheres sofrem em busca da imagem perfeita, mas tive depoimentos t�o fortes que me vi na obriga��o de fazer algo de concreto. Pensei: 'Essa ditadura precisa acabar'.”
O gatilho resultou na cria��o do Projeto Autoestima, iniciativa que ganhou visibilidade nas redes sociais. Carol usou a pr�pria rede de amigos para reunir profissionais de �reas distintas, como beleza, fotografia e psicologia, interessados em ajudar. E partiu para a a��o em torno de comunidades diversas. O p�blico masculino tamb�m � bem-vindo nas reuni�es, que incluem muito bate-papo, servi�os est�ticos, sess�es de fotos e terapia.
transforma��o
“O projeto � uma maneira de fazer com que as pessoas se vejam al�m das apar�ncias, sem tanta exig�ncia e press�o para ser perfeitas. Na minha trajet�ria, sempre incomodou o fato de indiv�duos n�o se gostarem por completo. Defeitos praticamente imagin�veis sempre foram descritos com muita dureza durante palestras e consultorias e fui percebendo que essa insatisfa��o n�o tinha a ver com beleza, mas com conhecimento pessoal.”
DESCOBERTA
Eliz�ngela de Almeida Pires, de 45 anos, secret�ria, transformou a imagem que fazia de si mesma. “Sofri bullying na escola durante a adolesc�ncia devido ao bi�tipo 'gorda, negra e de cabelo bombril', como diziam na �poca. Sentia-me o patinho feio. S� comecei a valorizar minhas qualidades mais tarde, gra�as a um amigo, que elogiou meu sorriso e outros atributos, e pediu que eu passasse batom vermelho. Ali, vi que eu era bonita, que meu cabelo era bonito. Independentemente do que a sociedade imp�e como padr�o e se torna castigo para quem n�o se encaixa”, conta.
Eliz�ngela credita ao apoio do amigo � nova vis�o de si mesma. “N�o era de fato o patinho feio que imaginava ser. Ao contr�rio, sempre fui rodeada de pessoas que se espelhavam em mim.”
Mas o passo final para deixar aquela experi�ncia negativa no passado veio com a participa��o no Projeto Autoestima. “J� seguia a Carol e vi que ela fez a p�gina no Facebook. Ent�o, me inscrevi, participei, me reencontrei com o sonho de ser modelo plus size. Ap�s a sess�o de fotos, acabei 'descoberta' por uma ag�ncia, recebi convites para diversos trabalhos e estou mais feliz que nunca. Hoje, estou ajudando outras pessoas a se enxergar por dentro, pois � a beleza interior a que mais conta.”
PROCESSO

Tamb�m professora e escritora, autora do blog Dicas da Carol, a consultora de imagem Carol Meyer destaca que o Projeto Autoestima vem colhendo resultados. “Quando uma pessoa, homem ou mulher, se aceita e at� gosta dos pequenos defeitos – afinal, todos n�s os temos –, ela consegue atingir uma boa autoestima, o que se reflete em todas as situa��es e rela��es da sua vida. E � fundamental se sentir bem para experimentar a plenitude em todos os sentidos.”
O grupo, que objetiva facilitar o processo de confian�a, seguran�a e aceita��o entre os participantes, se re�ne uma vez por m�s, mant�m uma conta no WhatsApp para troca de ideias e apoio m�tuo e j� fez a��es pontuais em comunidades da cidade (com idosos na Igreja S�o Tarc�sio, no Bairro Nova Cintra, e grupo de adolescentes gr�vidas no posto de sa�de do mesmo bairro). Participam como parceiros volunt�rios o cabeleireiro Ramiro Cerqueira, a psic�loga L�lian Lima, fot�grafos e outros profissionais.
“� muito interessante perceber como a imagem pessoal influencia at� o nosso humor. Quando uma pessoa se sente bem consigo mesma, nada lhe parece imposs�vel e ela cultiva por si um grande respeito, reconhece o seu valor”, frisa Carol.
IMAGEM FAKE
A consultora ressalta que um simples corte de cabelo pode ser o gatilho para a redescoberta de si mesmo. “Um caso interessante foi de uma mulher, rec�m-sa�da de uma depress�o p�s-parto, que resolveu dar um basta no papel de v�tima e deu a volta por cima. O primeiro passo para come�ar essa nova era foi cortar o cabelo, um marco. Apesar de o marido n�o gostar, ela disse que precisava recome�ar e viu que, o que realmente importava, naquele momento, era o que ela pensava sobre si mesma. Foi uma liberta��o”, conta.
Para a consultora, reconhecer e gostar da imagem que temos como um grande presente � um passo importante para cultivar e levantar o amor-pr�prio, a autoestima. “N�o � uma gordurinha a mais, nem a cor da pele ou um nariz fora do 'padr�o' que vai me reduzir ao que n�o sou. Em um mundo feito de apar�ncias, � necess�rio mostrar o algo mais, que tem a ver com intelig�ncia, talento, diversidade, simpatia, charme, eleg�ncia... � hora de valorizar o que temos de melhor e deixar essa imagem fake de lado. Somos mais do que isso.”
ESPELHO X FELICIDADE
A consultora de imagem lembra: “N�o existe como voc� ser feliz sem se aceitar. E isso n�o quer dizer que voc� precisa se encaixar em alguma coisa, apenas valorizar o que tem. Vejo muitas mulheres deprimidas, exatamente por n�o se aceitarem. Ou por se preocuparem mais com a opini�o do outro sobre si”. Carol refor�a que a autoestima pode ser trabalhada e fortalecida. “� uma sementinha que precisa ser regada todos os dias. Claro que ela ser� abalada de v�rias formas, por meio de relacionamentos abusivos, dist�rbios alimentares, chefes intolerantes, pais que cobram o que um filho n�o pode dar. E � por isso que ela precisa ser alimentada com gestos simples e apoio, muito apoio. Comece elogiando um amigo, incentivando uma crian�a, sendo am�vel com algu�m. Tudo isso faz diferen�a”, finaliza.
SERVI�O
Projeto Autoestima
Para participar, basta acessar o grupo https://chat.whatsapp.com/J0oX2uURw0NEI718fIM0Su ou mandar e-mail para [email protected].
entrevista
L�lian Lima
psic�loga cl�nica, terapeuta cognitivo comportamental

Amor-pr�prio
em alta
De que forma a imagem do indiv�duo permeia a psicologia?
H� diversas demandas relacionadas a tudo que envolve autoestima, autoimagem e autoconceito, pois o tema permeia emo��es e sentimentos.
A quest�o visual/est�tica acaba extrapolando os limites da apar�ncia por si s�,certo?
Sim. Vivemos em um pa�s em que a cultura do magro, do corpo escultural, o que comemos, a forma como nos vestimos e nos enquadramos moldam nosso comportamento. Com isso, nossos desejos acabam se anulando em fun��o desse padr�o considerado ideal. Muitas vezes, nem nos reconhecemos, por excesso de desejos e est�mulos coletivos.
Como essas quest�es s�o trabalhadas no Projeto Autoestima?
No projeto, respeitamos cada indiv�duo com o que ele tem de melhor, o que n�o est� limitado � apar�ncia, ou ao que fazem ou n�o. Estimulamos a autoestima e o amor-pr�prio.
Como podemos trabalhar a autoestima?
A autoestima vai muito al�m de se enquadrar em padr�es. Est� relacionada a como me vejo, me percebo, me sinto diante de diversos desafios do dia a dia e da vida. Quanto mais me conhe�o, mais desenvolvo minhas potencialidades e diferencio minha imagem individual da coletiva (a ideia de compara��o). � importante ressaltar tamb�m que a autoestima n�o est� ligada a cultura, quest�es financeiras, posses, bens e finan�as. Pelo contr�rio, tem a ver com autoconhecimento: � medida que me conhe�o, mais valorizo minhas potencialidades.
Em que medida o autoconhecimento e a autoaceita��o impactam na qualidade de vida do sujeito?
Como disse antes, conhecer-se � fundamental para ter autoestima: quanto mais me conhe�o, mais chances de conviver de forma harm�nica com meus desejos e minhas limita��es. Porque � importante pensar tamb�m que somos seres com potencialidades altas e baixas. Por exemplo, posso ser excelente psic�loga, mas um fracasso como jogadora de basquete. Isso n�o significa que minha autoestima estaria comprometida no todo. Quando me conhe�o, reconhe�o que tenho potencialidades para algumas quest�es e n�o para outras. E quanto mais estima tiver sobre mim, mais me sentirei feliz. � isso que buscamos trazer para o projeto e as pessoas envolvidas nele.
A beleza vai al�m da apar�ncia, certo? Tem a ver com autocuidado, autocarinho?
Sim. Lembra-se da imagem do gatinho que se olha no espelho e v� um le�o? Tem a ver como ele se v�, se sente, se idealiza. N�o preciso me submeter a procedimentos para me tornar a Gisele B�ndchen. Mas posso me sentir linda e poderosa como ela. Cuidar-me diariamente tem tudo a ver com carinho, e n�o estou falando de ter roupas caras ou de marca, mas sim de me vestir para me sentir feliz, realizada, confort�vel. E quando me conhe�o, tenho meu pr�prio estilo, me sinto bem com ele, tudo fica mais leve e gostoso.