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Estado de Minas MOTOR PARA A VIDA

Manter-se com esperan�a � o primeiro passo para conseguir superar as adversidades

Estar confiante mesmo diante de problemas e situa��es dif�ceis traz a cren�a por dias melhores


postado em 09/12/2019 13:25 / atualizado em 07/01/2020 17:54

Gabriel Lucas, de 15 anos, teve a perna esquerda amputada depois de ser atingido, em julho, or uma linha chilena, quando voltava de um treino de futebol(foto: Túlio santos/EM/D.A Press )
Gabriel Lucas, de 15 anos, teve a perna esquerda amputada depois de ser atingido, em julho, or uma linha chilena, quando voltava de um treino de futebol (foto: T�lio santos/EM/D.A Press )
Inspiradora, doce, singela e especial. Repleta de significados, a palavra esperan�a est� embutida em diferentes realidades. A f� corajosa no futuro, a cura de uma doen�a, a realiza��o de um sonho, a espera pela vit�ria, quest�es financeiras, a expectativa sobre dias melhores. Com o novo ano que se aproxima, � hora de renova��o e mudan�a de ciclos. Nesse ponto, se manter confiante pode ser o primeiro passo para transforma��es importantes.

A hist�ria de um grave acidente vivenciado pelo garoto Gabriel Lucas Alves Nascimento, de 15 anos, em Belo Horizonte, tem um final feliz, e continua em um curso positivo de melhora. Em 20 de julho deste ano, ele passou por uma experi�ncia traum�tica que ganhou visibilidade nacional, ao ser atingido por uma linha chilena. Na perna esquerda, o ferimento foi t�o s�rio que decepou vasos sangu�neos, veias, art�ria, o nervo ci�tico, m�sculos e tend�es, chegando at� os ossos. Gabriel chegou ao hospital em estado de choque, havia perdido 65% do sangue do corpo e tinha 3% de chance de sobreviver.

A primeira cirurgia teve o objetivo imediato de restabelecer sua vida, quando os m�dicos conseguiram reconstituir algumas veias. Mas a perna acabou perdendo a funcionalidade e, com a emin�ncia de uma infec��o generalizada, os m�dicos deram duas op��es para os pais: a amputa��o ou entubar Gabriel, por�m, no segundo caso, havia tamb�m risco de sequelas ou de que ele nem mesmo voltasse � vida. "O Gabriel teve risco s�rio de morrer. Entretanto, sempre tivemos esperan�a em sua melhora. Temos uma base crist�, uma f� firme em Deus, cremos que Ele est� no controle. N�o questionamos o porqu�. Temos esperan�a no Senhor, sentimento que se concretizou com a recupera��o do Gabriel. Fica agora a gratid�o por ele n�o ter perdido a vida", relata a m�e, Regina Alves Rosa Nascimento.

VIVO 

Gabriel conta que, em um primeiro momento, teve medo, m�goa, ang�stia, tristeza em perder a perna. Depois do procedimento inevit�vel, come�ou a conhecer outras pessoas amputadas, fez amigos, trocou experi�ncias e, com todo apoio e ora��es, foi, aos poucos, se tranquilizando. "Sempre tive a esperan�a em continuar vivo." Em agosto, Gabriel recebeu a doa��o de uma pr�tese e, com o tempo, voltou � rotina. Hoje, divide o tempo entre a escola e as sess�es de fisioterapia para ajudar na adapta��o com a pr�tese. "Agora, sonho ser jogador de futebol de amputados. J� comecei a dar os primeiros chutes. Acho que a li��o que fica �: acredite!"

A f� corajosa no futuro
Sentimento profundo e sereno que faz avan�ar diante de atribula��es, a esperan�a � como uma mola propulsora para motivar a persist�ncia em busca de dias melhores

"Tem momentos na vida que at� pelas coisas ruins agradecemos" - Kelly Cristina (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Kelly Cristina Costa, de 44 anos, tem uma hist�ria de supera��o. Enfrentou dois aneurismas, um derrame, um per�odo em coma, afundamento do olho esquerdo (o que afetou a vis�o) e perda de uma parte da cabe�a, problemas de mem�ria, convuls�es, al�m de quadros de depress�o, complexo de inferioridade e pensamentos sobre morrer. Teve chatea��es tamb�m por causa do div�rcio. Uma coisa foi se sucedendo � outra e ela passou por seis cirurgias.

"Sempre fui ansiosa, agitada, queria abra�ar o mundo. Mas �s vezes a gente enfrenta muita coisa ao mesmo tempo. Comecei a tomar antidepressivos, a ficar pouco soci�vel, muito triste, sem �nimo, sem vaidade, sem autoestima", lembra. "Tem momentos na vida que at� pelas coisas ruins agradecemos. De alguma forma voc� melhora, cresce e aprende. Estava presa em um buraco bem fundo, precisava me levantar. Mas nunca perdi a f� e a esperan�a", acrescenta.

Por sugest�o de uma amiga, procurou a dan�a do ventre, que pratica desde agosto, e diz que � um sonho realizado - foi voltando a ser o que era. "Sempre fui brincalhona. A dan�a me d� for�a, � no dia da aula que dou gargalhadas. E com minhas colegas de dan�a, uma ajuda a outra. � uma b�n��o. Fiz novas amizades, recuperei a vontade de me cuidar de novo, levanta o astral. Voltei a me amar."

Consolação Pereira diz que ainda vai conseguir comprar um carro para transportar as frutas e legumes que recolhe com a ajuda de seu cavalo (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Consola��o Pereira diz que ainda vai conseguir comprar um carro para transportar as frutas e legumes que recolhe com a ajuda de seu cavalo (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

Consola��o Barbosa Pereira, de 54 anos, n�o esconde que s� sabe escrever seu nome. Praticamente n�o frequentou a escola e, al�m da dificuldade com a escrita, tamb�m n�o sabe ler. M�e de cinco filhos e av� de quatro netos, quando mais nova trabalhou como faxineira, at� que adoeceu. Teve trombose, diabetes, press�o alta, problemas do cora��o e acabou sendo afastada do emprego. Hoje mora sozinha, os filhos s�o todos casados. H� 15 anos, ela se dedica � cria��o de animais. Todos os dias sai de casa em sua carro�a e vai a um sacol�o pegar as sobras de verduras, legumes e frutas para manter porcos, galinhas, patos, carneiros, cachorros e os cavalos que puxam a carro�a. A inten��o � vender os bichos, e no fim de ano a sa�da � melhor. Ela fala sobre a dificuldade financeira e, na �poca dos filhos pequenos, at� mesmo para dar-lhes de comer. "Mas eu nunca perdi a esperan�a. Sempre lutei e hoje espero viver tranquila. Tenho uma aposentadoria que tamb�m ajuda. D� para ir levando. Agora meu desejo � construir um muro em minha casa e ter um carro para transportar os produtos, j� que eu e os cavalos ficamos cansados de levar a carro�a", sonha.

SOLIDARIEDADE

Mãe de um dos mortos na tragédia em Brumadinho, Andresa Rodrigues revela que, apesar de todo sofrimento, tristeza e dor, ela e os outros familiares e amigos das vítimas ainda creem em dias melhores(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
M�e de um dos mortos na trag�dia em Brumadinho, Andresa Rodrigues revela que, apesar de todo sofrimento, tristeza e dor, ela e os outros familiares e amigos das v�timas ainda creem em dias melhores (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press)
A professora Andresa Rodrigues, de 42 anos, diz que dorme e acorda todos os dias em 25 de janeiro. Seu filho �nico, Bruno Rocha Rodrigues, de 26 anos, � uma das v�timas da trag�dia da Vale em Brumadinho, no in�cio de 2019. "N�o consigo me desprender da lama", conta Andresa. O rapaz, rec�m-formado em engenharia, trabalhava na �rea administrativa da empresa como t�cnico em processamento, contratado � �poca havia 10 meses, depois de um per�odo de dois anos de est�gio. Seu corpo foi localizado no 105º dia de buscas. "Sonhava em encontr�-lo com vida. Ainda vou encontrar, em outro plano. Ainda temos 14 joias desaparecidas", diz.

Andresa revela que, apesar de todo sofrimento, tristeza e dor, ela e os outros familiares e amigos das v�timas ainda creem em dias melhores, ainda que a vida nunca mais volte ao normal. "Esperamos ver a justi�a feita, os respons�veis pela trag�dia presos. Se temos um aceno de luz e paz, primeiro � a condena��o dos culpados, e depois ver realizado um memorial em homenagem �s v�timas. Por hora, nossa principal bandeira � encontrar quem ainda n�o achamos", pontua, dizendo que as fam�lias n�o desistem, acompanham as a��es de busca todos os dias, em uma corrente de esperan�a e solidariedade.

For�a para passar por tudo com tranquilidade

Com a filha, Ester, de 6 anos, e o marido, Danilo, Elaine Vieira quase não sobreviveu à gravidez e ao parto, e hoje comemora a vida feliz em família (foto: Arquivo Pessoal)
Com a filha, Ester, de 6 anos, e o marido, Danilo, Elaine Vieira quase n�o sobreviveu � gravidez e ao parto, e hoje comemora a vida feliz em fam�lia (foto: Arquivo Pessoal)
Quando ficou gr�vida pela primeira vez de Ester, aos 24 anos, a atendente Elaine Nunes Vieira encontrou o verdadeiro sentido da felicidade. Mas havia muito por vir. Quando entrou no quinto m�s de gesta��o, come�ou a ter uma indisposi��o que foi se agravando rapidamente, com a subida da press�o arterial. Em um primeiro momento, ao recorrer aos m�dicos, eles n�o observaram nada de anormal, no entanto esse foi um grande equ�voco. Voltou ao hospital em menos de 24 horas da consulta inicial, e finalmente os profissionais de sa�de tiveram consci�ncia do risco que corria.

Elaine apresentou um quadro de pr�-ecl�mpsia, chegou ao centro de sa�de com a gengiva sangrando, sangue sem coagula��o e o rim praticamente parado, sem conseguir urinar. Foi encaminhada �s pressas para a cesariana, quando a gravidez ainda n�o havia chegado ao sexto m�s. Era alto o risco de morte tanto para ela quanto para a menina, e os m�dicos at� pediram ao seu marido, Danilo, escolher entre uma das duas para sobreviver. "Nessa hora, ele disse que n�o iria escolher, que tinha certeza que as duas sairiam ilesas. Ele se viu sozinho, a fam�lia mora no interior. Teve que buscar a esperan�a onde n�o tinha, todos no hospital n�o acreditavam na nossa recupera��o, mas ele resolveu acreditar", conta Elaine.

No instante do parto, mais um problema. Elaine teve a s�ndrome de hellp, uma das complica��es obst�tricas mais temidas e perigosas, que coloca em xeque tanto a vida da m�e quanto a do beb�. Era uma situa��o de sangramento constante. A garota nasceu, pesando menos de um quilo, e as duas foram direto para o CTI. Elaine chegou a ser desenganada. "Tive que procurar for�a, precisava sair dali. Minha filha era t�o pequena, pensava quem ia ficar com ela, o fato de ter nascido me deu for�a para melhorar", recorda-se.

ORA��ES

Os familiares ficaram desesperados com a situa��o de Elaine, e os m�dicos davam sua morte como certa. Foi a� que um de seus tios, pastor, compareceu ao hospital e intercedeu por ela, com uma un��o e ora��es. Qual seria a surpresa quando, em um pr�ximo momento, o sangramento estancou. Para a melhora completa, foi r�pido. "Tive muita for�a para passar por tudo isso, e uma oportunidade de uma vida melhor, com a esperan�a de ter uma fam�lia, e esse � um sonho realizado. Sempre quis me casar e ser m�e de uma menina", conta Elaine.

Hoje, aos 30 anos, ela diz que, quando viu tudo desmoronando, pensou em desistir. "N�o sei explicar. � um for�a maior que mim mesma, e at� agora eu me emociono. Parece que escutava uma voz forte e doce dizendo que ia conseguir. Sou casada com o homem que eu desejava e agrade�o a filha que Deus me deu. Ainda tem muita coisa pela frente". A pequena Ester, aos 6 anos, � uma crian�a feliz, inteligente e saud�vel, tem uma vida normal e divide o tempo entre a escola e o bal�. "A dificuldade sempre existe, depende de como voc� encara. Encontrei for�as de onde n�o tinha, estava aqui dentro, mas eu n�o sabia. Todo mundo tem essa for�a", diz. 

PALAVRA DE ESPECIALISTA

Flavio Valvassoura - Pastor, escritor e conferencista internacional, autor do livro O Deus da esperan�a: Motiva��o e alegria em meio �s dificuldades da vida, lan�amento da Editora Mundo Crist�o

�NCORA DA ALMA


(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)
"Ningu�m sobrevive sem esperan�a. A esperan�a n�o � a �ltima que morre, � a primeira que nasce.  ï¿½ a for�a propulsora que nos ajuda a olhar para o amanh� na expectativa de que algo extraordin�rio est� prestes a acontecer, nos ensina a nunca desistir. A f� precisa ser acompanhada da esperan�a. Juntas, mant�m a perspectiva de dias melhores. A esperan�a � a �ncora da alma. Faz nosso cora��o seguro mesmo diante de um cen�rio de desesperan�a. Sem esse sentimento estamos fadados a desistir. A esperan�a � o combust�vel que move a vida. Escuto hist�rias de pessoas que se recusaram a acreditar no decreto do fracasso. S�o aqueles que, mesmo quando o mundo e as pessoas ao redor tentam convenc�-los a desistir, a esperan�a sussurra em seus ouvidos: tente mais uma vez. A esperan�a faz olhar para frente, sempre conduzir� a um futuro de possibilidades. Quando permitimos ser guiados pela esperan�a, ela nos apontar� o destino ideal que tanto perseguimos. A B�blia afirma que a esperan�a � como boas novas vindas de uma terra distante. ï¿½ uma feliz antecipa��o de que algo bom vai acontecer, � esperar por algo bom. Sendo assim, mente, corpo e esp�rito s�o renovados. A esperan�a � o ant�doto para o desespero. Quando somos movidos pela esperan�a ficamos mais encorajados a caminhar em dire��o ao amanh�."

Nova chance de vida
Fam�lia nunca duvidou da recupera��o do filho mais velho, que passou por v�rios epis�dios de doen�as grav�ssimas e, hoje, comemora a sa�de e a for�a do rebento


O casal Moara e Alan do Monte, com os filhos Nicolas e Maria Alice, e suas cachorrinhas Nina e Lulu, conta que o menino se recuperou depois de um transplante de medula(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O casal Moara e Alan do Monte, com os filhos Nicolas e Maria Alice, e suas cachorrinhas Nina e Lulu, conta que o menino se recuperou depois de um transplante de medula (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

O comerciante Alan Batista do Monte, 32 anos, e a empres�ria Moara Matins da Silva, de 31, t�m uma experi�ncia de luta e supera��o em rela��o ao filho mais velho, Nicolas Martins do Monte, de 8 anos. O garoto sempre foi uma crian�a saud�vel, com uma vida normal de brincadeiras e divers�o, at� que, em 2014, come�ou a ficar cansado e com manchas pelo corpo. � �poca, estava com 3 anos. Por sugest�o de uma funcion�ria da escola onde estudava, foi levado ao m�dico. Ap�s passar por exames, o dif�cil diagn�stico da aplasia medular, rara doen�a hematol�gica caracterizada pela produ��o insuficiente de c�lulas sangu�neas na medula �ssea que afeta os tr�s grupos de elementos sangu�neos, gl�bulos vermelhos, gl�bulos brancos e plaquetas. Diante da impossibilidade de cura, a expectativa de vida do garoto n�o passava de 12 meses. O transplante de medula era urgente, e da� come�ou a batalha dos pais e da fam�lia. "Fomos ao ch�o", conta Alan.

Seis meses ap�s o diagn�stico, em abril de 2015, o pequeno Nicolas chegou a um quadro grav�ssimo de sa�de, n�o mais respondia ao tratamento. Uma das m�dicas que atenderam o menino durante todo esse per�odo, disse a Alan que ele teria que fazer o transplante em S�o Paulo. "Disse para ela: sou um cara de sorte, vamos fazer aqui, vai dar certo", lembra Alan. Logo, ele come�ou a percorrer hospitais em Belo Horizonte em busca de algum m�dico que pudesse ajudar e dar continuidade aos procedimentos. Os m�dicos e a equipe do hospital onde Nicolas estava, nesse ponto, j� estavam sem esperan�a. "Mas eu tinha certeza que meu filho ia se curar", recorda Alan. O transplante acabou acontecendo - a medula foi conseguida no Paran�.

VALEU A PENA

Ap�s a cirurgia, por�m, Nicolas passou por diversas intercorr�ncias. Desenvolveu o v�rus Epstein-Barr, um v�rus da fam�lia da herpes, que pode estar associado a determinadas formas de c�ncer, depois meningite, com a necessidade de interna��o no CTI em v�rias ocasi�es. "� uma doen�a avassaladora, destr�i tudo, mas meu filho � um guerreiro, nunca desistiu. Quem sofria mais �ramos n�s, os adultos, com muito medo e preocupa��o. Fal�vamos para ele que ia ficar tudo bem, e ele acreditava. At� que Deus fez um milagre em sua vida e ele saiu do hospital, depois de mais de um ano. Ouvia a voz de Deus me falando que ele ia melhorar. E ele foi s� se fortalecendo aos poucos. Na minha opini�o, � um tratamento espiritual, tudo vem 99% pela f�. Todos os dias quando acordo e olho para ele, vejo que tudo valeu a pena", comemora Alan.

Assim que fez o transplante, Nicolas pediu aos pais uma irm�, e a m�e tomou conta dele gr�vida quando estava internado no Hospital das Cl�nicas, durante o tratamento do Epstein-Barr e a meningite. Hoje, com a pequena Maria Alice, de 3 anos, a rela��o � de puro amor. "Ela � parte importante do processo de melhora do Nicolas. Tamb�m n�o posso deixar de agradecer o corpo m�dico e os profissionais da enfermagem do hospital, com o trabalho da doutora Ana Karine Vieira", diz Alan, referindo-se � hematologista pedi�trica vice-coordenadora do servi�o de transplante de medula do Hospital das Cl�nicas da UFMG, em BH, que cuidou do caso do garoto.

Alegria levada de leito a leito


"Quando fazemos o trabalho com o palha�o nos hospitais, � como se acendesse o lado saud�vel da crian�a, o desejo de brincar, de imaginar, e isso � muito positivo" - Tereza Tavares, atriz e integrante da trupe Doutores da Alegria (foto: Arquivo Pessoal)
Associa��o que transita pelos campos da sa�de, da cultura e da assist�ncia social, o Doutores da Alegria, criado em 1991, introduz a arte do palha�o no universo da sa�de, com interven��es voltadas a crian�as, adolescentes e outros p�blicos em situa��o de vulnerabilidade e risco social em hospitais p�blicos. Com o Programa de Palha�os em Hospitais, cora��o da organiza��o, s�o mais de 1,7 milh�es de interven��es junto a crian�as hospitalizadas, seus acompanhantes e profissionais de sa�de. Os palha�os subvertem a rotina hospitalar e prop�em novos sentidos para a experi�ncia de interna��o, com diversas iniciativas que incluem teatro, m�sica, dan�a, circo e poesia. A ideia � promover a sa�de atrav�s da arte.

A atriz Tereza Tavares integra a trupe dos Doutores da Alegria desde 2008, primeiro em Belo Horizonte e agora em S�o Paulo, e d� vida � palha�a Guadalupe. Com a j� consolidada trajet�ria na organiza��o, convive diariamente com hist�rias de f�, esperan�a e supera��o. Ela lida com crian�as e jovens com v�rios tipos de problema, como v�timas de quedas e outros acidentes, pacientes com c�ncer, neuropatias, doen�as respirat�rias, entre outros. "Percorremos leito a leito, falando com os pacientes. Brincamos de ser m�dicos, os besteirologistas. A intera��o se baseia nisso", diz.

Por experi�ncia pr�pria, Tereza observa que as crian�as que vivenciam uma doen�a ou algum outro tipo de sofrimento, n�o t�m tanto assim o sentimento fatalista, de medo da morte, algo que fica mais evidente entre os adolescentes. "A crian�a, geralmente, n�o costuma ficar deprimida por causa da doen�a, sofre mais pelos sintomas que ela provoca. N�o tem muito essa no��o de tempo que a doen�a pode durar ou provocar sua morte. Diria que a crian�a n�o perde a esperan�a. Ela fica mais em seu universo, l�dico, e a esperan�a � inerente", pondera.  "Quando fazemos o trabalho com o palha�o nos hospitais, � como se acendesse o lado saud�vel da crian�a, o desejo de brincar, de imaginar, e isso � muito positivo. Uma forma dela viver outra realidade, diferente da doen�a", continua.

A atriz conta que esse sentimento otimista faz mais diferen�a no contexto da adolesc�ncia. Diante de problemas relacionados � sa�de, os jovens podem enfrentar dificuldades como a perda do conv�vio social, al�m de uma quest�o sens�vel nessa idade, a mudan�a na apar�ncia, como a queda dos cabelos em casos de c�ncer, por exemplo.

INTERA��O

"Percebo nitidamente que o adolescente que � para cima, que n�o perde a f� no tratamento, a esperan�a, consegue enfrentar esses momentos com mais autoestima, menos depress�o. A esperan�a traz alegria, positividade, o paciente fica bem disposto, bem humorado. Em termos pr�ticos, faz sair da cama, andar um pouco, acordar, conversar, interagir com as pessoas. O contr�rio do que acontece quando perde a esperan�a. Fica acamado, deprimido, n�o quer conversar, n�o quer fazer atividades. A aus�ncia da esperan�a e a depress�o contribuem para que os fatores da doen�a cheguem mais fortes. Estar bem n�o � certeza de cura, mas ajuda muito no tratamento", ressalta Tereza.

Ela cita uma jovem que perdeu uma perna e est� sempre com um sorriso no rosto. "� linda. Cuida da beleza, sempre maquiada, apesar das circunst�ncias", diz. Tereza conta ainda que constata muito a quest�o da esperan�a em familiares dos pacientes, como pais, av�s e outros acompanhantes. O fato de acreditar deixa as pessoas firmes e fortes nos momentos mais complicados.

"Conhe�o uma m�e de uma menina que est� bem deprimida, mas continua com a energia positiva, mantendo a firmeza, acreditando, rindo, se divertindo, e isso d� um brilho para a filha. � como se essa m�e fosse um farol, uma luz que se mant�m viva, pulsante, com esperan�a, o que com certeza ilumina a menina, traz alegria e lhe d� um norte", pontua. "Se essa m�e perde for�a, perde esperan�a, apaga sua luz, s� agrava o quadro de depress�o e os sintomas da doen�a ficam piores, mais dif�ceis de enfrentar. A esperan�a tem um papel fundamental pra ajudar tanto os pacientes como a fam�lia", acrescenta.

Seja por problemas de sa�de, consequ�ncias de acidentes, ou qualquer problema grave, para Tereza a f� faz olhar para aquela circunst�ncia e entender que aquilo � passageiro. "Mas n�o � f�cil ter esperan�a, � algo dif�cil de conquistar. � mais f�cil ser tragado pela dor.  Diante do sofrimento, da tristeza, essas pessoas s�o verdadeiras guerreiras, exemplos a serem seguidos".

Em Belo Horizonte, o antigo Doutores da Alegria se transformou, em 2012, no Instituto HAHAHA, refer�ncia mineira de trabalho de palha�aria profissional em hospitais. Foram os palha�os Dr. Mulambo e Dr. Rabisco que acompanharam a situa��o da ex-gari Marisete Barbosa Pereira, de 55 anos, que em 2016 teve diagn�stico de c�ncer de mama, com diversos linfomas, um deles maligno. Ela recebeu tratamento no Hospital da Baleia, passou por quimioterapia e radioterapia, entre outros procedimentos, teve momentos de reca�da e diz que nunca perdeu a f�. "Pedia a Deus para me dar for�a e sabedoria para lidar com a doen�a. Sou uma mulher guerreira e, quando entro em uma guerra, � para ganhar. A f� remove montanhas. Sempre mantive a esperan�a da cura", conta. Marisete diz que o carinho da equipe m�dica do hospital foi outro incentivo para n�o desistir. "Primeiro � segurar nas m�os de Deus. Essa f� e a esperan�a s�o muito importantes para quem est� atravessando o c�ncer. Nunca se deixe abater", aconselha.

CONFIAN�A

Sobre a etimologia do termo, encontra-se a origem latina da palavra esperan�a: spes. Significa um tipo de “sentimento de quem espera ou confia que algo positivo suceder�”. � o que explica a doutora em psicologia Maria Clara Jost. "Iniciando por este ponto j� podemos vislumbrar a import�ncia, para n�s seres humanos, deste sentimento. Refere-se ao futuro, ou seja, a algo que, ainda que sem o selo da certeza, podemos intuir como alguma coisa que ser� bom. E o fato de percebermos o futuro como positivo, nos ajuda tanto a encontrar um sentido para o presente quanto a iluminar o passado com a marca do significado", elucida.

O indiv�duo se pergunta a cada momento sobre o sentido das coisas que o circundam e que pertencem ao seu mundo, entretanto, continua Maria Clara, questiona tamb�m sobre o sentido das rela��es e de si mesmo e sobre o sentido da pr�pria vida e dos acontecimentos que a comp�em. "Mas n�o existem garantias, n�o podemos ter certeza que encontraremos a resposta t�o buscada. A despeito da d�vida inerente a pergunta, todavia, n�s precisamos continuar a acreditar na possibilidade de encontrar uma resposta positiva: esse � o sentimento da esperan�a", afirma.

Maria Clara Jost esclarece que a esperan�a � um sentimento distinto de outros fen�menos humanos, como a ilus�o, a fantasia, ou a imagina��o. Essas �ltimas, de maneira geral, s�o elabora��es mentais ou constru��es cognitivas. "A esperan�a, por outro lado, � um sentimento que se vincula � intui��o e refere-se a um estado de espera positiva que engloba todo o ser: corpo, psiquismo e esp�rito. � um sentimento que, muitas vezes, pode ser entendido como louco ou insano, pois pode se relacionar a um acreditar que se contrap�e a todas as estat�sticas", ressalta.

A profissional lembra a experi�ncia da atua��o, como psic�loga cl�nica e depois como pesquisadora, com adolescentes e jovens que haviam cometido atos infracionais. Teve a oportunidade de entrevistar adolescentes que estavam institucionalizados, cumprindo medidas socioeducativas, e tamb�m trabalhou clinicamente com jovens que conseguiram reconfigurar suas vidas ap�s terem vivenciado o contexto do crime. "Nos primeiros entrevistados encontrei muita raiva, ressentimento e desesperan�a. Pareciam ter perdido toda a possibilidade de acreditar em alguma coisa, principalmente em si mesmos. Os segundos entrevistados, aqueles jovens que viveram o crime, que sobreviveram a ele, contaram-me que essa possibilidade surgiu porque, apesar de tudo, n�o perderam a esperan�a de fazer de si mesmo algu�m melhor. E por que n�o desacreditaram? Porque encontraram pessoas no seu caminho que eram movidas pela esperan�a sobre a possibilidade de transforma��o e de reconstru��o desses jovens e de suas vidas", cita.

A psic�loga refor�a que a esperan�a se aproxima do sentimento de confian�a, o primeiro sentimento estabelecido pela crian�a, derivado das primeiras experi�ncias afetivas importantes que, de acordo com a psic�loga R. Jost de Moraes, v�o se configurando desde o in�cio da vida, constituindo-se em pedra angular para a forma��o de uma personalidade equilibrada e sadia. "Esse sentimento de confian�a, segundo tamb�m coloca o psic�logo americano E.Erikson, converte-se no sentimento e na capacidade de ter esperan�a em si pr�prio e nos outros, pr�ximos e n�o t�o pr�ximos. Transforma-se tamb�m na esperan�a da constru��o de rela��es humanas mais saud�veis que possam promover a emerg�ncia de um mundo interno e externo mais equilibrado e humanizado", diz.

Personagem da not�cia - Esperan�a de Lacerda Peixoto, de 36 anos

Nome lindo e atual


(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)
Esperan�a nasceu no Rio de Janeiro e veio morar em Belo Horizonte aos 12 anos. Formou-se em ci�ncias biol�gicas, tem mestrado na �rea ambiental, e foi para Portugal h� quatro anos e meio, para fazer doutorado no ramo de forma��o de professores, para trabalhar com cidadania global e educa��o para a paz. Sobre a raz�o do seu nome, ela explica: “Nasci em 1983, j� no finalzinho da ditadura militar. Meus pais se casaram em 1976 e tentaram ter filhos por muito tempo, at� a minha chegada. Quando nasci, significava n�o s� aquela esperan�a que eles tinham de construir uma fam�lia juntos. Por ser o fim do regime militar, e os dois eram militantes, tamb�m era uma maneira de expressar o desejo por um Brasil melhor e mais justo. Vem da� meu nome”. Nada mais atual diante desse per�odo t�o conturbado tamb�m na pol�tica brasileira. Ela conta que, na inf�ncia, sofria com algumas brincadeiras de mau gosto por causa do nome, e n�o sabia lidar bem com isso. “Mas, hoje, me identifico muito com meu nome, amo meu nome, acho lindo, e sou eu mesma quem faz gra�a com isso, quebro logo o gelo com as pessoas. Considero esse um sentimento maravilhoso, de supera��o, aquela luz no fim do t�nel. � voc� acreditar, ter f�, independentemente da religi�o, de que algo de bom vai acontecer e o jogo vai virar."

DEPOIMENTO - Maria Clara Jost, doutora em psicologia

Maria Clara Jost, doutora em psicologia(foto: Rafaela Vitorio/Divulgação )
Maria Clara Jost, doutora em psicologia (foto: Rafaela Vitorio/Divulga��o )
"No trabalho com adolescentes e jovens que haviam cometido infra��es, alguns deles me fizeram saber da exist�ncia de uma �rvore t�pica de terrenos pantanosos da faixa litor�nea do Brasil: a tabebuia. � uma �rvore que, apesar de nascer em brejos e mangues, locais cheios de lama, chega a alcan�ar 12 metros de altura e produz belas flores brancas durante boa parte do ano. Essa �rvore era muitas vezes usada pelos jovens como s�mbolo da esperan�a e ilustra seu processo de transforma��o em pessoas melhores, mesmo nas situa��es mais improv�veis. Comparavam-se �s flores brancas dessa �rvore que nasce no meio da lama e afirmavam que essa mudan�a somente foi poss�vel porque eles n�o deixaram de ter esperan�a, contra todas as probabilidades. Quem cultiva, portanto, a “�rvore da esperan�a”, desenvolve a capacidade de buscar solu��es ou de criar possibilidades ainda nem imaginadas, porque olha longe e olha do alto. Porque visualiza o todo e percebe o conjunto, buscando recursos inovadores, n�o se deixando vitimizar pelas circunst�ncias. Quem se posiciona com esperan�a diante dos eventos, mesmo aqueles mais traum�ticos, descobre outros sentidos ao vivido e ao futuro, sente-se cheio de motiva��o e de energia, inclusive f�sicas. Quem se posiciona com esperan�a amplia a percep��o de si mesmo e das pr�prias capacidades, mas tamb�m dilata a maneira de perceber os outros e as suas possibilidades, transmitindo confian�a e promovendo a esperan�a por onde passa. � um movimento, por si s�, retroalimentador: quanto mais se transmite esperan�a, mais esperan�a se sente e, ao mesmo tempo, sente-se mais autoestima, mais motiva��o e mais alegria de viver."

Geraldo Granja, terapeuta holístico(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
Geraldo Granja, terapeuta hol�stico (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press )
Entrevista: Geraldo Granja, terapeuta hol�stico

1) Por que � importante ter esperan�a?


Na sociedade contempor�nea, o ceticismo e o relativismo t�m roubado da alma humana uma perspectiva transcendente que aponta para o homem um sentido maior para a sua exist�ncia. As rela��es familiares e sociais est�o afetadas pelo individualismo. Fomos levados a crer que ser�amos libertados pela ci�ncia e a tecnologia. Mas nada disso aliviou a ang�stia humana. Vivemos um contexto em que recebemos as not�cias do mundo todo em tempo real. Esse bombardeio pode levar-nos ao desespero, se n�o mantermos uma conex�o existencial com a vida cotidiana e as rela��es imediatas. Manter a esperan�a, mais que uma disposi��o de humor, torna-se um exerc�cio di�rio, um cultivo na alma.

2) O que esse sentimento nos ensina?


Se voc� j� tiver passado por alguma dificuldade dram�tica e, olhando para tr�s, pode contar a sua hist�ria, mesmo com dor, � sinal que a esperan�a prevaleceu e se fortaleceu. A import�ncia de ter esperan�a est� no fato de que ela nos faz dar mais um passo, correr o risco necess�rio, enfrentar a sensa��o de ang�stia e superar.

3) Em que medida a esperan�a � um sentimento encorajador?


A coragem � uma virtude que surge do cora��o, de nossas convic��es, de nossa f�. Sem uma perspectiva esperan�osa, o cora��o  torna-se abafado pelas trevas do pessimismo, do desalento, da resigna��o. O cora��o precisa ser nutrido pela esperan�a.

4) Em que ponto a esperan�a nos d� inspira��o e novas ideias para enfrentar os problemas da vida? Se � que podemos chamar assim, que portas elas nos abre?

Como a esperan�a brota de um n�vel superior de consci�ncia (superior no sentido de acima das condi��es naturais e hist�ricas), nessa consci�ncia est�o outras virtudes. A intelig�ncia e a criatividade representam a capacidade de achar uma solu��o nunca antes tentada. Elas me parecem ser duas filhas da esperan�a.

5) Como a esperan�a faz bem para a mente, o corpo e o esp�rito? E at� para a promo��o da sa�de e qualidade de vida?

A  esperan�a � uma virtude que brota da alma humana.  Quanto mais nossa mente estiver l�mpida, livre de cren�as limitantes e, ao mesmo tempo, presente na realidade da vida, abra�ando as circunst�ncias imediatas da exist�ncia como possibilidades a serem transformadas para nosso amadurecimento, mais saud�veis ser�o a mente, o corpo, e o esp�rito livre.

6) Em sua experi�ncia profissional, que tipo de hist�ria voc� mais encontra entre as pessoas esperan�osas?


Quem conta suas hist�rias de lutas, derrotas e vit�rias s�o aqueles que nunca perderam a esperan�a. S�o muitas as situa��es de perdas afetivas e emocionais, separa��es, viol�ncias. Eu sinto que a pessoa necessita de apoio urgente quando n�o mais tem esperan�a, quando o horizonte j� n�o traz nenhuma perspectiva.

7) Por fim, como o tratamento com os florais ajuda nesse sentido?


Os florais atuam despertando nas pessoas virtudes necess�rias para a transforma��o dos estados mentais negativos. O dr. Bach, ao criar os florais, estabeleceu um conjunto de ess�ncias que ele chamou para o desalento e a desesperan�a. Ele identificou emo��es como a culpa, o ressentimento e a amargura, o medo do fracasso, e como elas destroem na alma a esperan�a, roubando a vontade de transforma��o pessoal. A terapia floral busca limpar esses sentimentos acumulados para dar lugar a uma for�a que vem de uma personalidade em sintonia com os prop�sitos da alma.


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