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Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

Educar o consumidor

Para selecionar o que o brasileiro vai colocar no prato, � urgente a consci�ncia do desperd�cio. Mais de 30 milh�es de toneladas de alimentos v�o para o lixo. As pessoas comem muito e mal


postado em 12/01/2020 04:00 / atualizado em 07/01/2020 18:30

41kg é a média de comida que cada brasileiro manda para o lixo por ano(foto: Couleur /Pixabay)
41kg � a m�dia de comida que cada brasileiro manda para o lixo por ano (foto: Couleur /Pixabay)

 

 A consci�ncia n�o s� do que escolhe comer na hora das refei��es como tamb�m o cuidado para evitar e combater o desperd�cio do alimento faz parte do compromisso que todo brasileiro deveria assumir em 2020. Acad�micos, especialistas, governo, autoridades e a popula��o t�m de lutar e buscar mudan�as que ser�o ben�ficas n�o s� para as pessoas como para o meio ambiente e a economia. � uma cadeia.

 

Infelizmente, o Brasil descarta por ano quase 37 milh�es de toneladas de lixo org�nico, basicamente restos de alimento, ainda que milhares n�o tenham o que comer ou n�o possam escolher. Por ano, cada brasileiro manda para o lixo mais de 41 quilos de comida. Em uma fam�lia com tr�s moradores, esse volume chega perto dos 130 quilos. � o que aponta levantamento com quase 700 fam�lias feito pela Funda��o Getulio Vargas em parceria com a Embrapa. H�bito terr�vel repetido em todas as classes sociais. Com tantas pessoas no mundo, e no pa�s, passando fome, como lidar com o desperd�cio de alimentos?

 

O professor Marcos David Ferreira, da Embrapa Instrumenta��o, explica que � importante deixar clara a defini��o do que � perda e desperd�cio. “Em defini��es internacionais, padronizadas pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Alimenta��o e a Agricultura (FAO), perda � aquele produto que sai do campo e n�o chega ao consumidor, perde ou estraga pelo caminho. J� desperd�cio � o alimento pronto para consumo que � jogado fora. Infelizmente, no Brasil os valores s�o altos em ambas as situa��es.”

 

Marcos David Ferreira enfatiza que, no caso das perdas, de cada 10 caixas produzidas, dependendo do produto, quatro a cinco s�o jogadas no lixo. Aliados aos dados de desperd�cio, os valores s�o enormes. “O mundo passou de um p�s-guerra com escassez de alimentos para uma oferta abundante de comida, e mesmo em pa�ses que sofreram diretamente com guerra as gera��es posteriores n�o t�m, muitas vezes, essa consci�ncia. No Brasil, o agravante � que por sermos um pa�s tropical/subtropical, praticamente tivemos que reinventar a agricultura, criando uma situa��o muito diferente, na qual somos autossuficientes nos principais itens da alimenta��o e grandes exportadores no agroneg�cio. Mas desperdi�amos muito, jogamos grandes quantidades de comida fora. E a pergunta principal � como alterar essa situa��o..”

 

Para Marcos David Ferreira, um dos pontos principais � a conscientiza��o – tanto na quest�o socioambiental, como no impacto no or�amento familiar. Menos desperd�cio significa lix�es menores e mais dinheiro para as fam�lias. “Existem outras faces, como a aus�ncia de pol�ticas p�blicas claras para combater o desperd�cio, em especial no setor de alimenta��o, como restaurantes, hot�is etc., em que a legisla��o restringe a distribui��o de alimentos.”

 

No entanto, h� aspectos positivos. Marcos David Ferreira destaca que a��es louv�veis s�o da Mesa Brasil Sesc, com uma rede nacional de bancos de alimentos e tamb�m de ONGs como banco de alimentos e de associa��es como a Associa��o Brasileira de Supermercado (Abras). “Assim, com a��es conjuntas n�o somente no final da cadeia – em n�vel de consumidor, mas com o setor produtivo, aliadas a pol�ticas p�blicas –, podemos alterar essa situa��o.”

 

ENVELHECIMENTO Tamb�m relevante, h� outra quest�o que diz respeito ao envelhecimento da popula��o brasileira. Al�m de saber escolher e n�o desperdi�ar, � preciso saber o que comer. O professor Franco Maria Lajolo, do Departamento de Alimentos e Nutri��o Experimental da USP e vencedor do pr�mio P�ter Mur�nyi de 2016, alerta que a popula��o est� envelhecendo, mas sem cuidar do que est� ingerindo. As pessoas comem muito e mal. Estamos lidando com variados problemas de obesidade e defici�ncias nutricionais. “Para enfrentar essa situa��o, um caminho que se vem desenhando � a nutri��o personalizada. J� existe um bom n�mero de pesquisas mostrando a rela��o entre genes e a necessidade de nutrientes. Essa tend�ncia estar� consolidada em cinco ou 10 anos.”

 

Franco Maria Lajolo enfatiza que h� uma aliada, que � a intelig�ncia artificial: “O uso de tais tecnologias j� permite, por exemplo, a composi��o da tabela de nutrientes. E, futuramente, ser�o aplicadas nos smartphones e outros dispositivos. A intelig�ncia artificial empodera o indiv�duo a construir sua pr�pria dieta, de acordo com seus h�bitos e sua gen�tica”.

 

Por�m, Franco Maria Lajolo avisa que h� um desafio a curto prazo: o combate �s fake news e seus efeitos sobre a nutri��o. “Reduzir a ingest�o de gorduras saturadas, de a��car e de sal s�o as maiores tend�ncias na ind�stria dos alimentos.  As not�cias falsas passam informa��es que n�o est�o associadas � ci�ncia. � preciso ensinar o consumidor a buscar conhecimento.”

 

Dicas para evitar o desperd�cio

 

  1. Nunca v� �s comprar sem saber o que j� tem em casa na geladeira, na despensa
  2. Cuidado com os alimentos perec�veis. Compre somente a quantidade pedida na receita ou se programe para ir mais vezes ao supermercado, feira ou sacol�o
  3. Saiba o que vai cozinhar na semana para s� comprar o necess�rio
  4. Sempre d� prefer�ncia ao que � da �poca: verduras, legumes e frutas
  5. Tenha o h�bito de levar �s compras uma lista para n�o comprar mais do que deve e precisa
  6. Aprenda a condicionar de maneira adequada os alimentos para que, mesmo na geladeira, n�o estraguem antes do tempo
  7. Busque conhecimento e saiba como aproveitar integralmente os alimentos: folhas, talos e cascas. Sabia que as sementes de ab�bora podem ser torradas no forno e servidas como petisco?
  8. Abandone o preconceito contra a comida requentada. O que sobrou e foi para a geladeira, dentro do prazo, mant�m o sabor e pode ser consumido. Ou, se preferir, tamb�m pode ser transformado em outras receitas. O arroz, retemperado, pode virar um delicioso bolinho. 

 

 

Enquanto isso...

Agrot�xicos liberados

 

Ao mesmo tempo em que existe a preocupa��o com o que comer, o que � saud�vel, a qualidade do alimento, h� o medo por parte da popula��o com o uso exagerado dos agrot�xicos no Brasil. Medo dos horm�nios nos animais e dos venenos nos vegetais. Muitas perguntas, in�meras d�vidas e respostas pouco convincentes. A realidade � que o Minist�rio da Agricultura publicou no Di�rio Oficial da Uni�o, em 27 de novembro de 2019, autoriza��o do registro de mais 57 agrot�xicos no Brasil (55 s�o produtos gen�ricos, ou seja, com base em ingredientes ativos que j� estavam presentes em outros produtos existentes no mercado).

 

Ao todo, somente em 2019, foram liberados 439 desses produtos pelo governo. De acordo com a pasta, o objetivo � aumentar a concorr�ncia no mercado e diminuir o pre�o dos defensivos, o que faz cair o custo de produ��o. Por outro lado, parte da sociedade se preocupa em demasia porque os agrot�xicos impactam a sa�de p�blica, podendo causar intoxica��es e doen�as como o c�ncer.

 

Dados de 2019, apresentados no livro A geography of agrotoxins use in Brazil and its relations to the European Union, da editora FFLCH/USP, revelam que diversos agrot�xicos n�o aprovados, por exemplo, em pa�ses da Uni�o Europeia s�o autorizados pelo governo brasileiro. Estima-se que 4.500 pessoas sejam intoxicadas por ano por esses produtos no Brasil.

 

No pa�s, maior consumidor de agrot�xicos do mundo, segundo dossi� de 2008 da Associa��o Brasileira de Sa�de Coletiva (Abrasco), esses produtos est�o relacionados a uma morte a cada dois dias por doen�as agudas, sendo um ter�o suic�dio e os outros dois ter�os por inala��o por pessoas que os manipulam, segundo dados disponibilizados no livro da editora FFLCH/USP. Mas isso ainda � subnotificado.

 

Al�m disso, o livro detalha que os agrot�xicos t�m liga��o com mortes por efeitos diretos, por exemplo, devido ao consumo de alimentos contaminados. E efeitos indiretos, como na contamina��o do len�ol fre�tico, o que tem rela��o com a incid�ncia de tumores, mas que ainda n�o � quantificado, devido ao c�ncer ter m�ltiplas causas. 


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