
O mundo hoje tem acordado em alerta devido � epidemia do Covid-19. Um estado de aten��o que deve vir acompanhado de informa��es de preven��o, procura de ajuda, tratamentos, entre outros. Mas tamb�m � preciso perceber qual a origem desses alertas, j� que existe um perigo ainda maior do que a epidemia do coronav�rus: a epidemia do p�nico.
"Recentemente, devido ao p�nico gerado pelo coronav�rus, alguns mercados foram saqueados em busca de m�scaras e �lcool em gel. Hospitais come�aram a regular as m�scaras, pois alguns indiv�duos acabavam por furt�-las, j� que estavam em falta nos mercados", observa o professor, palestrante e doutorando em Comunica��o Leonardo Torres. Para ele, nesse contexto, � percept�vel o estado de temor da popula��o diante do problema, a tal ponto que os indiv�duos entram em uma condi��o de p�nico epid�mico e, quando isso ocorre, � comum esperar viol�ncias de todos os tipos.
O especialista pontua que o p�nico � uma disposi��o mental que contagia n�o somente quem est� pr�ximo, mas tamb�m quem est� conectado a redes sociais, canais de televis�o e qualquer outra forma de comunica��o tecnol�gica. "O ser humano, por ser uma esp�cie que vive em grupo, tem maior facilidade em contagiar e se contagiar por fortes emo��es. Hoje, a ci�ncia j� descobriu que, quanto maior o v�nculo entre as pessoas, maior � o cont�gio ps�quico entre elas. Por isso um indiv�duo ri quando outro ri, chora quando o outro chora, sente fome, �nsias, por exemplo", diz.
Condi��o primitiva, como acontece com todos os animais, o sentimento exacerbado do medo � tamb�m uma maneira de assegurar a sobreviv�ncia do sujeito ou do grupo, continua Leonardo. No homem, explica, dotado de uma consci�ncia mais desenvolvida, o p�nico n�o surge somente da forma instintiva "a��o-rea��o", como um c�o fugindo do carro – o indiv�duo ou grupo acaba por permanecer em estado constante de p�nico, se estimulado.
Nessa perspectiva, acrescenta o professor, o sensacionalismo que parte de certos canais da grande m�dia acaba cumprindo o papel de trazer esse estado de p�nico para as pessoas ininterruptamente, o que pode contagiar outros indiv�duos, gerando o efeito epid�mico de p�nico.

"O cont�gio de p�nico n�o acontece somente hoje, diante da epidemia do coronav�rus. Basta lembrar as filas intermin�veis da vacina da febre amarela, a procura por gasolina na greve dos caminhoneiros, ou ent�o de casos como a novela de Orson Welles cuja transmiss�o radiof�nica gerou um cont�gio de p�nico sem igual, levando as pessoas que se contagiavam � morte s�bita, suic�dios, saques generalizados, entre outras situa��es", exemplifica Leonardo.
P�nico cultural
Considerando as caracter�sticas do p�nico, o psicanalista, psic�logo e soci�logo Jorge Miklos explica que que existe o p�nico classificado no C�digo Internacional de Doen�as (CID) como transtorno mental, ou seja, uma patologia propriamente dita, mas tamb�m quando esse sentimento transborda a subjetividade e ganha um �mbito maior, formando o chamado p�nico cultural.
"Isso adv�m da era da ansiedade, na qual vivemos. � um tra�o do nosso tempo. Nos sentimos amea�ados pela possibilidade de ocorrerem cat�strofes, no plano ambiental, econ�mico, entre outros, a partir da percep��o da imprevisibilidade do futuro, uma sensa��o coletiva de inseguran�a, o que contribui para desencadear o p�nico. Voc� n�o sabe o que vai acontecer, considera que amanh� ser� pior que hoje, que alguma cat�strofe vai te acometer", esclarece.
Em rela��o ao coronav�rus, � uma condi��o parecida. "H� um sentimento catastrofista de que vamos ser atingidos pelo v�rus e que o pior vai ocorrer. As pessoas se sentem amea�adas. Podemos tra�ar um paralelo sobre o que aconteceu no atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos. As pessoas ficaram com medo dos estrangeiros, que representavam uma amea�a, o que gerou inclusive a xenofobia", diz Jorge.

No �mbito da sa�de, perigos semelhantes ao Covid-19 aconteceram nas ocasi�es de propaga��o de gripe, dengue, febre amarela, influenza. "Nos sentimos fr�geis. Outro sentimento perigoso que surge � o sentimento higienista. Para ficar imune, a pessoa acredita que deve se afastar de tudo e todos. � um sentimento exagerado de que algo vai me acontecer. H� motivo para isso. O coronav�rus � real, n�o � um fantasma. J� se espalhou, causa uma sensa��o de fragilidade e impot�ncia. O problema � a desinforma��o. Percebe-se um sistema de comunica��o e m�dia contempor�neo que n�o cont�m o p�nico, tranquiliza ou apazigua esse sentimento, ensinando como se precaver. Ao contr�rio, o p�nico � potencializado", afirma Jorge.
E, diante desse cen�rio, o que fazer? "Obter informa��es consistentes e reais, nos portais e canais comprometidos com a verdade, e consultar profissionais de sa�de, a fim de se prevenir. O p�nico gerado por leigos, neste caso, serve somente para atrapalhar uma situa��o que j� � complexa", pondera Leonardo Torres.