(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas

A fragilidade busca orienta��o

Profissionais de �reas mais demandadas pela COVID-19 revelam como t�m agido para atender pacientes em momento de vulnerabilidade


postado em 29/03/2020 04:00 / atualizado em 29/03/2020 14:54

(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

"O que nos resta agora � aguardar e s� voltar a trabalhar quando a situa��o se normalizar. Lidamos diretamente com as vias respirat�rias, ent�o, o risco � alto, perigoso"

Hilarino Vieira Soares, periodontista e cl�nico

 

 

 Quanto maior a crise, mais severas as medidas para conter o seu avan�o. Diante do desconhecido, tudo fica mais temeroso, r�gido, t�cnico e com regras inquebrant�veis. Mas ao lidar com a sa�de, com o adoecimento das pessoas, sentimentos e emo��es t�m de ser levados em conta. Nestas horas, a rela��o m�dico e paciente se amalgama. Pelo menos, � o que se espera. Uma aten��o fora da curva das regras e regimentos. Sem jamais abrir m�o da seguran�a de todos para o bem comum.

 

O m�dico pneumologista Marcelo de Fuccio, presidente da Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Tor�cica (SMPCT), revela que desde a explos�o da pandemia do novo coronav�rus tem se debatido sobre a melhor forma de agir com os pacientes: “Esta preocupa��o tem me consumido. Boa parte dos pneumologistas n�o trabalha dentro de um CTI, n�o � sua especialidade a linha de frente com a doen�a respirat�ria aguda e subaguda. O cl�ssico, o carro-chefe da �rea � a pneumopatia cr�nica. No entanto, nesta fase de essa doen�a aguda ser o foco do pronto-socorro, o pneumologista tem fun��o importante de, no consult�rio, orientar seus pacientes com doen�a cr�nica e atend�-los para desafogar o PS, proteg�-los e, consequentemente, toda a sociedade”.

 

Marcelo de Fuccio destaca que este � um momento �nico, principalmente para o brasileiro, que nunca enfrentou nada igual � pandemia do novo coronav�rus, diferentemente do que j� passaram os europeus, por exemplo. O Brasil ainda n�o tinha presenciado nada t�o complicado: “Portanto, � preciso se adaptar e, principalmente, que ele tenha acesso ao seu m�dico. Mas esta portaria do Minist�rio da Sa�de, que libera a telemedicina neste per�odo, seguramente ser� revista depois que tudo isso acabar, j� que a COVID-19 veio para ficar e vai entrar na linha de v�rus que causa resfriado no inverno, que vai ter vacina, que as pessoas v�o criar resist�ncia e, claro, que continuar� sendo letal para alguns. Como � o v�rus da gripe, que mata muito pelo mundo, incluindo no Brasil”.

 

O pneumologista lembra que, na verdade, a hoje chamada telemedicina j� � uma pr�tica m�dica de muitos anos. Ele � filho de m�dico, seu pai tem 78 anos, e quantas vezes j� n�o o viu orientar seus pacientes pelo telefone? Mas nunca uma primeira consulta. Por outro lado, ele alerta que � um modo limitado e at� mais dif�cil para o m�dico exprimir sua opini�o. “N�o tenho d�vida. Neste momento, � necess�rio que tudo seja feito com responsabilidade. Sabemos que h� picaretas por a�. Ainda que mesmo sem a telemedicina. O m�dico tem de documentar os atendimentos porque ele n�o est� livre de questionamentos de seus atos. � preciso cuidado. Mas, no geral, acho uma boa conduta e a vejo com bons olhos. N�o h� garantia em todos os casos e ter� consultas adequadas e n�o adequadas.”

 

Marcelo de Fuccio n�o esconde que a fase � de tens�o tamb�m para os m�dicos: “Alguns profissionais sentem mais que outros. Afinal, m�dico � gente, fica estressado e pensamentos irracionais, como o medo do leigo, podem ocorrer. Se acontecer, � botar o p� no ch�o, perceber a rea��o exagerada, voltar � racionalidade e seguir em frente”, refor�a o pneumologista, que � m�dico na Funda��o Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).

 

FRAGILIZADOS Para o m�dico geriatra Marco T�lio Gualberto Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Se��o Minas Gerais (SBGG-MG), a portaria auxilia e d� respaldo legal aos m�dicos para o monitoramento a dist�ncia dos pacientes. O que facilita. “No entanto, n�o exclui o fato de que h� casos que, obrigatoriamente, requerem o atendimento presencial. Por outro lado, as consultas rotineiras, a medica��o para o al�vio de uma dor ou febre v�o poder ser feitas. A decis�o d� mais liberdade e torna o trabalho m�dico mais efetivo na situa��o de pandemia. Foi correta neste momento”, afirma.

 

 

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

"Independentemente do idoso fr�gil ou robusto, as recomenda��es s�o as mesmas. Manter-se em casa, praticar a higiene, se isolar de qualquer pessoa com sintoma gripal por 14 dias"

Marco T�lio Gualberto Cintra, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia %u2013Se��o Minas Gerais

 

 

Ele explica que tem conversado e feito contato mais com familiares do que com seus pacientes, muitos deles fragilizados, com dem�ncia e acamados: “A grande preocupa��o � se contaminarem e falecer. No contato, percebo a necessidade de acalm�-los e de responder a todas as d�vidas. N�o sabem se continuam com a fisioterapia, se v�o para o interior ou s�tio, para quem existe esta possibilidade, em rela��o ao isolamento. Independentemente do idoso fr�gil ou robusto, as recomenda��es s�o as mesmas. Manter-se em casa, praticar a higiene, se isolar de qualquer pessoa com sintoma gripal por 14 dias”.

 

Como grupo de risco, Marco T�lio alerta os idosos (e seus cuidadores) sobre a import�ncia de manter a fisioterapia. Ele afirma que n�o pode suspender porque sen�o v�o piorar e o custo ser� alto demais, podem parar de andar. T�m de continuar sendo atendidos pelo profissional, que adotar� a conduta adequada. Sem usar qualquer adorno (brincos, an�is, pulseiras, colares, cord�es, colares), higienizar do cotovelo at� as m�os com �lcool gel e/ou �gua e sab�o e usar m�scara. Para quem tem maior mobilidade, a atividade f�sica � importante, n�o na academia fechada, mas num local sem aglomera��o. “Os idosos n�o podem ficar s� sentados e deitados, � preciso temperar isso. Tem de ter uma terapia individualizada com dois metros de dist�ncia da outra pessoa.”

 

Quanto ao seu sentimento e dos colegas, Marco T�lio revela que, pensando na mensagem que viralizou nas redes sociais com os m�dicos sendo comparados � banda que tocava violino enquanto o Titanic afundava, “poucas vezes vi a comunidade m�dica com medo e preocupa��o. N�s tamb�m temos fam�lia, filhos pequenos, pais e av�s idosos, tem os profissionais do CTI, do pronto-atendimento, a rotina de conviver com o receio de levar a doen�a para casa, h� m�dicos idosos, com doen�as cr�nicas tamb�m. E, ao mesmo tempo, tem os mais jovens, sem uma reserva, aut�nomos, que precisam trabalhar pela quest�o financeira, como tantos outros brasileiros.”

 

SEM P�NICO N�o h� como mascarar o quadro, pintar com cores mais bonitas. No entanto, o geriatra avisa que todos t�m de encontrar a sensatez: “O comportamento das pessoas no supermercado fazendo estoques, comprando �lcool gel sem se preocupar em deixar para o outro, n�o � para entrar em p�nico. � momento de prud�ncia, t�m de se acalmar e colocar a racionalidade em primeiro lugar. Assim como o governo entender que todas as medidas adotadas por pa�ses ricos devem se adaptar � realidade brasileira. Somos pobres, � necess�rio parcim�nia”.

 

O m�dico oncologista Waldeir de Almeida J�nior, mastologista e professor da Ci�ncias M�dicas, reconhece que em caso de pandemia � correta a libera��o da pr�tica da telemedicina. Mas alerta que � preciso cuidado e aten��o com as quest�es �ticas: “Inicialmente, eu era contra a forma que estava sendo proposta sem a presen�a de profissionais m�dicos nas duas pontas da discuss�o de um caso”. Com a COVID-19, a aprova��o da portaria da telemedicina, que ser� usada por um per�odo limitado, tem pontos definidos que, segundo ele, devem ser alertados: considera a possibilidade de prescri��o, por parte do m�dico, de tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente em casos de urg�ncia ou emerg�ncia previsto no C�digo de �tica M�dica; e atender aos preceitos �ticos de benefic�ncia, n�o malefic�ncia. “Fica claro que n�o deve ser utilizada em todos os casos, v�rias pacientes devem ser examinadas para a defini��o de um diagn�stico correto.”

 

O mastologista ressalta ainda que a quest�o do isolamento � importante, claro. Principalmente nas primeiras semanas para, achatamento da curva de transmiss�o da doen�a. Mas a quest�o econ�mica ligada a isso tem que ser avaliada. “A sa�de est� interligada � economia, devemos saber manejar ambas com o menor impacto � popula��o. Teremos que definir qual o tempo deste isolamento total e, ap�s este per�odo, os jovens retornarem �s atividades e manter os idosos e pessoas de risco em isolamento. H� v�rias linhas de pensamento neste sentido.”

 

Waldeir de Almeida J�nior afirma que consultas de rotina e tudo o mais que puder ser postergado ser�. Assim como cirurgias de rotina benigna. “Mas � claro que, na oncologia, n�o podemos agir sempre assim, n�o tem como ser restritivo para n�o colocar em risco e prejudicar as chances de cura do c�ncer de mama. Ent�o, fazemos o atendimento programado no consult�rio. A orienta��o � que cheguem sem quadro de gripe ou vindos de viagem internacional.”

 

ODONTOLOGIA A��es para conter o avan�o do cont�gio foram tomadas pela diretoria do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais, que divulgou medidas para atendimento a pacientes do servi�o p�blico e privado, j� que a entidade considera os profissionais de odontologia como aqueles que figuram no grupo de maior risco devido ao contato direto com a cavidade bucal, vias a�reas e uso de equipamentos que liberam aeross�is. As regras s�o para proteger os profissionais e toda a popula��o. A mais en�rgica � a recomenda��o para que os estabelecimentos que prestam tanto servi�os p�blicos odontol�gicos quanto privados suspendam imediatamente todos os atendimentos eletivos, ressalvados os casos de urg�ncia e emerg�ncia, enquanto durar o surto da doen�a.

 

O periodontista e cl�nico Hilarino Vieira Soares, com larga experi�ncia, destaca a rigidez com os cuidados e os crit�rios de atendimento neste momento: “Os procedimentos habituais passam a ser maiores. Luvas, �gua e sab�o, consult�rio limpo com �lcool 70%, uso do �culos de prote��o”. Por seguran�a, j� que faz parte do grupo de risco, pois j� passou dos 60 anos, ele decidiu fechar o consult�rio no �ltimo 16 de mar�o, quando atendeu �s �ltimas consultas. “Assim, o que nos resta agora � aguardar e s� voltar a trabalhar quando a situa��o se normalizar. Lidamos diretamente com as vias respirat�rias, ent�o, o risco � alto, perigoso.”



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)