
"A fam�lia tem, como fun��o primordial, a de prote��o, tendo, sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolu��o de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agress�es externas ajudando a manter a sa�de f�sica e mental do indiv�duo, por constituir o maior recurso natural para lidar com situa��es potenciadoras de estresse associadas � vida na comunidade." Essa defini��o � do professor doutor Adriano Vaz Serra, umas das figuras mais proeminentes da psiquiatria portuguesa, diretor do servi�o de psiquiatria dos hospitais da Universidade de Coimbra, entre 1973 e 2010, que morreu em 2019, aos 79 anos.
Neste momento em que o mundo luta conta a pandemia do novo coronav�rus, a vis�o de Vaz Serra nunca foi t�o precisa no que se espera da fam�lia. Com milh�es de pessoas obrigadas a se isolar ou confinar dentro de suas casas, o real significado desse la�o criado pelo homem nunca foi t�o necess�rio. E, abruptamente, ele foi colocado � prova, para milh�es estar� em xeque.
O que todos precisam (mas nem todos t�m) � contar com o aconchego de um ambiente familiar afetivo essencial para amalgamar uma base de desenvolvimento saud�vel ao longo da vida. O que implica, al�m do amor, limites, respeito, solidariedade, compreens�o, direitos e deveres para todos.
Conhe�a hist�rias de como fam�lias t�m atuado com a conviv�ncia maior no dia a dia, qual o impacto do olhar de um sobre o outro, o que tanta proximidade tem causado, j� que a rotina do corre-corre, agora alterada, aumentou o tempo da presen�a uns com os outros. E fomos saber de especialistas da sa�de mental o que o isolamento social traz de bom e de desafios para que, quando houver o controle da COVID-19 e todos forem livres novamente para sair por a�, a fam�lia possa ter revisto sua atua��o e, se necess�rio, passe a adotar um novo modelo de relacionamento, com li��es aprendidas, erros corrigidos, falhas perdoadas, acertos potencializados, la�os refeitos ou ainda mais fortes.
HIERARQUIA Cl�udia Prates, psic�loga e psicoterapeuta familiar sist�mica, diz que n�o h� segredo, mas, sim, o desafio diante do conv�vio familiar implicado pelo isolamento, que pode ser ameno e at� mesmo divertido. Para isso, � fundamental que se mantenha a hierarquia aliada ao respeito �s diferen�as de cada um. "A hierarquia observada entre os familiares (pais e filhos) evitar� grandes desacordos e at� mesmo a implanta��o de restri��es severas (puni��es), j� que garantir� a pr�tica dos espa�os individuais." Ela alerta que a base da boa conviv�ncia � a ordem: a manuten��o de uma organiza��o segura e flex�vel.
Para o advogado Renato Assis, de 41 anos, pai de Miguel, de 3, e Davi, de 9, nada mais altru�sta do que ficar em casa para "colaborar com toda a sociedade e a humanidade. � a primeira pandemia mundial da Era Moderna e diferente de tudo que j� ocorreu no mundo. "Agora, o principal benef�cio de ficar em casa � estar mais perto da fam�lia neste momento de tens�o. Na verdade, s�o ganhos bem mais pessoais, em quest�es sociais, do que profissionais." Ao lado da mulher, a empres�ria Carolina Carvalhais, de 35, s�cia em uma das empresas da fam�lia, ele conta que a parceria ficou mais pr�xima: "Ela participa bem dos neg�cios. Juntos, em casa, eu e ela, dividimos responsabilidades tanto com a fam�lia quanto profissionais e nos neg�cios".
Renato destaca que � preciso manter a harmonia e buscar a calma neste momento. O primeiro ponto, segundo ele, � entender que n�o temos controle sobre tudo. Temos a mania de pensar assim, mas � s� uma falsa sensa��o. N�o controlamos quase nada nesta vida. "Ent�o, evito me preocupar com o que foge do meu controle e concentrar naquilo que est� em minhas m�os. Hoje, est� no meu controle colaborar da melhor forma para todo o mundo passar por este problema, principalmente para quem est� mais perto de mim. Tenho cuidado de quem est� mais pr�ximo a mim e tamb�m procurado evitar a satura��o de informa��o", afirma.� preciso captar o que vem de informa��o, saber diferenciar o que � real do que n�o �, o que �s vezes � bem dif�cil. Ele conta que procura ler outras coisas e, no tempo �til, encontrar mais atividades, acrescentando que estava com um monte de leituras atrasadas, v�rios livros que foi comprando, ganhando e amontoando. E que � hora de coloc�-los em dia.
Passada a pandemia do novo coronav�rus, Renato acredita que li��es ter�o de ser aprendidas: "A principal ser� a uni�o, ainda que a dist�ncia. As pessoas s�o muito individualistas e, mesmo neste momento ruim, espero que se unam. Acho que todos est�o entendendo um pouquinho do papel que t�m na vida das outras pessoas. E o papel que t�m na pr�pria vida. Tenho refletido muito sobre isso e vejo muitos pensando a respeito. Talvez, a gente saia disso com a mentalidade diferente, mais evolu�da sobre a atua��o social de cada um".
"A popula��o brasileira pode sair disso menos individualista. Todos os dias, vemos relatos de bons exemplos de solidariedade e colabora��o", espera o advogado Renato Assis, que nestes dias trocou o traje habitual (terno, gravata e sapato)por um mais esportivo, para trabalhar no sistema de home office como s�cio do escrit�rio Assis Videira Consultoria & Advocacia, lidando com muita videoconfer�ncia com clientes e funcion�rios.
Hora para estudar e para brincar
O isolamento social imposto pela pandemia do novo coronav�rus, para minimizar o avan�o da transmiss�o do v�rus, fez da rotina, antes previs�vel, agora negociada dia ap�s dia. O que afetou a todos, inclusive crian�as e adolescentes. Pais est�o com seus filhos em casa e n�o sabem o que fazer para mant�-los ocupados. S�nia das Dores Rodrigues, psicopedagoga e psicomotricista, vice-presidente da Associa��o Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil e Profiss�es Afins (Abenepi), alerta que, apesar da import�ncia das atividades de lazer, � fundamental que os filhos entendam que n�o s�o f�rias.
Portanto, � necess�ria a manuten��o de estudos, dentro do poss�vel. Os meios v�o desde pr�ticas tradicionais (textos informativos e narrativos, exerc�cios, trabalhos de pesquisa e literatura), at� o ensino a dist�ncia (EAD) em plataformas de ensino. S�nia Rodrigues avisa que cabe aos pais o direcionamento e a manuten��o da disciplina dos escolares. Sugere-se que os pais estabele�am e mantenham uma rotina di�ria, principalmente no que diz respeito aos hor�rios de sono, alimenta��o, descanso e produ��o das atividades escolares (EAD ou n�o) e lazer.