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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Coronav�rus: quais s�o seus planos para depois da pandemia?

Sonhando com o fim do isolamento social, � natural que as pessoas estejam planejando a vida p�s-pandemia. � uma oportunidade para cada um pensar no que o futuro lhe reserva, que mudan�a far� e como ir� viver


24/05/2020 10:50 - atualizado 24/05/2020 10:58

Com 25 semanas de gravidez, Fernanda Rocha Vida, mestre em economia de transição, tem projetos ambiciosos, genuínos e o desejo de transformação da realidade(foto: Arquivo Pessoal)
Com 25 semanas de gravidez, Fernanda Rocha Vida, mestre em economia de transi��o, tem projetos ambiciosos, genu�nos e o desejo de transforma��o da realidade (foto: Arquivo Pessoal)

Com a vida em ritmo mais lento, muitos t�m o privil�gio de lidar com o tempo de maneira diferente. Deixar de correr contra o rel�gio, de agir de forma automatizada para, passados dois meses de isolamento social e de quarentena impostos pela pandemia do novo coronav�rus, uns mais outros menos, come�ar a planejar o futuro. � saud�vel que cada um fa�a planos. Quais s�o os seus? A vontade de que tudo volte, ao menos, pr�ximo da realidade vivida at� fevereiro de 2020 pode ser impulsionadora de desejos, projetos, mudan�as, reviravoltas e cria��es que podem ou n�o vir a ser concretizados. Mas � essencial para a sanidade, para o bicho social homem, para a exist�ncia da esp�cie.

O que vai fazer quando a t�o sonhada “liberdade” chegar? Seja por considera��es filos�ficas, psicanalistas ou liter�rias, certo � que o planejar, o sonhar, o desejar e o fazer encontram-se nos fundamentos da pr�pria cria��o do homem. “Penso, logo existo”, nos presenteou o franc�s Ren� Descartes ao nos inspirar a, se existimos, se ainda n�o somos chips de computador, criar, ter planos, imaginar e evoluir. Se vai executar neste momento n�o importa, pensar o que fazer j� � um passo.
 
O que mais Fernanda Rocha Vidal, mestre em economia de transi��o, tem feito neste per�odo s�o planos. Ela est� com 25 semanas de gravidez e � espera de Benjamin, com previs�o para o fim de agosto. Planejar, sonhar, buscar objetivos e tra�ar metas s�o todas as possibilidades que m�e e filho v�o ter pela frente: “Imposs�vel n�o fazer planos. Penso muito que o Benjamin chega para ajudar a construir. Espero que a gera��o dele ofere�a algo melhor e esperan�a, que saia revendo aquilo que nos permita cuidar do outro e do planeta. Espero que n�o passe pelas desigualdades que vivemos hoje e nem tenha de lidar com rea��es autorit�rias e concentra��o de renda. O desejo � que esta crise possa se traduzida em um mundo mais justo. Ainda que n�o tenha garantia de nada”.

Fernanda ressalta este tempo de pausa como abertura para refletir sobre escolhas pessoais e comunit�rias e para (re)imaginar um futuro poss�vel: “Tive chamados. Viver o presente, o que importa, o que � essencial, fortalecer as conex�es e estar mais pr�xima da fam�lia e dos amigos. Estou aprendendo a cozinhar, quero ser mais independente, ter mais habilidades essenciais – o fa�a voc� mesma –, ter mais la�os comunit�rios fortes. Este tempo tamb�m tem servido para nos dar conta de como valorizamos pouco, por exemplo, os trabalhadores que est�o na linha de frente da pandemia, dos enfermeiros aos lixeiros. Espero que alguns h�bitos de hoje, desnecess�rios, sejam descartados”.

Para Fernanda, formada em engenharia de produ��o, o isolamento n�o a fez rever a vida profissional, como tem ocorrido com muitos. “J� fiz essa mudan�a no passado e, hoje, tenho certeza da minha escolha e acredito que trabalho com temas importantes, essenciais, que � o produto agroecol�gico, a valoriza��o do produtor local, a ecologia integral, a conex�o com a natureza e a lideran�a facilitadora. Viver de acordo como bem lembrou o papa Francisco, consciente de que o ambiente social e o ambiental n�o s�o organismos separados.” Ela � s�cia da Casa Horta (neg�cio alimentar saud�vel e ecol�gico) e coordenadora da Casa Gaia – Centro de Refer�ncia Agostiniano em Ecologia Integral, um espa�o conceitual, formador por uma grande teia de coopera��o para inspirar e fazer ocorrer o cuidado com a chamada casa comum, a de todos.

Fernanda tem projetos ambiciosos, genu�nos e desejo de transforma��o. Ela revela que o confinamento e tudo que tem aprendido nesta reclus�o a despertou para a vontade de se envolver politicamente, seja apresentando propostas dentro da sua atividade profissional para candidatos ou, quem sabe, sendo uma candidata. “� forte a necessidade de fazer algo com mais alcance, para mais pessoas, entrar neste espa�o, propor di�logos e a��es. N�o usava tanto o contato on-line. De repente, descobri que funciona e at� participo de um grupo de estudos em parceria com a Escola Schumacher Brasil, com discuss�es ricas, frut�feras, com novas vis�es de economia e o desejo de alinhar com parte do mundo que j� discute a riqueza de um pa�s pelo indicador de bem-estar, n�o do PIB. Quero me aproximar dessas propostas. Agir para fazer a diferen�a”, diz.

PLACAS TECT�NICAS Com todos os significados trazidos pela pandemia do novo coronav�rus, at� que ponto � importante pensar no futuro? � poss�vel planejar? H� espa�o para planos? Como retomar a vida? Quais caminhos seguir? � hora de ter aspira��es? E de mudar? A psic�loga Renata Mafra, coordenadora do curso de psicologia da Est�cio, explica que agir assim � da condi��o humana. No entanto, alerta que deixar a vida levar n�o � a melhor escolha, porque ela requer um remador para direcionar o barco para onde cada um quer ir.

At� porque, na vis�o dela, a vida n�o � uma lagoa parada, mas um mar em movimento. � importante saber para onde o desejo aponta. O que n�o pode � confundir isolamento com falta de movimento. H� um baita movimento da vida como um todo e tamb�m com a de todos em particular. As placas tect�nicas est�o se mexendo. Por isso, � tempo ideal para se perguntar aonde quer ir, a qual lugar quer chegar, para onde estava indo.

Para planejar e pensar no futuro, a psic�loga enfatiza a necessidade de as pessoas se auto-observarem, uma vez que pode gerar ansiedade e � importante n�o criar potencializador com a premissa que tem de fazer planos e definir metas para o momento da sa�da do distanciamento: “Planejar deve gerar certo conforto emocional, um pensamento orientado, e n�o criar expectativa ou perspectiva r�gida de que algo tem de acontecer. � importante que cada um possa tomar decis�es e se comportar n�o impulsivamente e, sim, com alguns crit�rios que s�o resultados do que a pandemia gera. Ou seja, pensar antes de agir”.

Fernanda Mafra lembra o trabalho de dois psicanalistas, Freud e Winnicott, para destacar o valor da fantasia, do brincar e da realidade neste momento para a constru��o de uma vida saud�vel: “Temos � disposi��o um processo mental que � o fantasiar consciente, como recurso importante para amenizar o desconforto e o mal-estar do momento presente, que alivia as tens�es. Nesse sentido, � preciso ter consci�ncia de que fantasia est� � disposi��o. E o pensar criativamente tamb�m, como parte do planejamento realiz�vel e poss�vel que vai garantir a manuten��o de coisas que foi preciso resgatar. � poss�vel se beneficiar e pensar para mudar comportamentos que sejam favor�veis � exist�ncia e � vida em comunidade”.

Ent�o, hoje, este � o convite do Bem Viver: desconectar-se do caos causado pela COVID-19 acalma o cora��o, organiza os pensamentos e coloca de maneira clara e real para voc� o que vai fazer quando tudo isso chegar ao fim. Vai passar. Sonhar � de gra�a. Planejar tamb�m.
 
Os advogados Bianca Silva Rabelo e Lucas Batalha Marreiros estão noivos e organizam o casamento, marcado para setembro(foto: Arquivo Pessoal )
Os advogados Bianca Silva Rabelo e Lucas Batalha Marreiros est�o noivos e organizam o casamento, marcado para setembro (foto: Arquivo Pessoal )


Planos para ressignificar a vida
 
Um dos lados positivos do ter de ficar em casa para se proteger e cuidar do outro � que sempre sobrar� um tempo para cada um planejar o que far� quando tudo isso passar. Porque vai passar. Se tudo vai ser diferente e novo n�o sabemos. A previs�o � de mudan�as, de comportamento, de a��es e atitudes. Enquanto o futuro n�o chega, nada como viver o presente pensando no que vir� e como cada um vai estar inserido na vida p�s-pandemia. H� quem fa�a planos, quem pretenda seguir os antigos ou ainda quem vai ter de adapt�-los.

A advogada Bianca Silva Rabelo e o noivo, Lucas Batalha Marreiros, tamb�m advogado, est�o de casamento marcado para setembro. A data n�o mudou, avisa, mas o planejamento foi todo modificado. “Reduzimos consideravelmente o n�mero de convidados, n�o � o momento ideal para algo maior. Muitos parentes do meu noivo moram em Bras�lia e no interior de Minas e n�o v�o conseguir vir. Desde o primeiro dia da quarentena j� sabia que ter�amos de fazer mudan�as. N�o quero me sacrificar financeira e emocionalmente.”

Celebrar � fundamental, mas ela aprendeu a valorizar o mais importante, ver o lado bom de tudo isso, que � estar cercada da fam�lia e dos amigos pr�ximos, que s�o seus alicerces. Ser� o conforto maior. “Pedi a Deus para me guiar no que fazer. Ele me respondeu em meio ao caos que vivemos que, na frente, vamos colher frutos esperan�osos, vamos voltar diferentes, mas melhores, acredito.”
 
(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)

"Neste momento, h� uma s�rie de coisas que n�o podemos controlar. Mas o que podemos controlar s�o os nossos sonhos, objetivos e o prop�sito. Desde que tenha isso, os meios podem ser encontrados"

Flora Vict�ria, mestre em psicologia positiva pela Universidade da Pensylvania

 
 
Juntos h� mais de cinco anos e s�cios no escrit�rio Rabelo & Batalha Advogados Associados, Bianca e Lucas tamb�m tiveram de mudar os planos profissionais e buscar novas diretrizes para a carreira: “Vimos nossa profiss�o totalmente � merc� desta pandemia. Tudo parou. Perdemos contratos fixos porque as empresas tinham que reduzir os gastos, processos parados. T�nhamos a inten��o de expandir nosso campo de atua��o, mas recuamos nos investimentos internos como forma de conten��o de gastos. No entanto, no meio desta crise toda enxergamos a oportunidade de fazer parcerias. J� come�amos uma com um colega de profiss�o e tem sido um momento bem interessante de abrir novos horizontes”.

Tamb�m surgiu a oportunidade de outra parceria com um escrit�rio de Bras�lia. Eles est�o estudando muito e t�m feito atendimentos on-line. “Quando essa pandemia acabar, sabemos que vamos enfrentar um desafio, mas acredito que estamos fortalecidos em Deus e que o nosso escrit�rio vai ter muitas oportunidades. Quero voltar aos atendimentos presenciais, ter o contato com os clientes e tirar do papel os planejamentos”, conta Bianca.

Neste tempo, o amor tamb�m fica � prova: “Minha rela��o com o Lucas � muito boa. Quando come�amos a sociedade, tive muito medo de n�o dar certo, j� que sou acelerada e ele mais calmo. Mas vimos com o decorrer dos anos que essas caracter�sticas nos ajudaram a equilibrar o escrit�rio. Tem momentos em que � precisoser �gil e outros em que � hora da calmaria. � um aprendizado di�rio. E com todas as altera��es no casamento n�o foi diferente. Enquanto eu tinha todas as ideias para adequa��o da nossa festa por conta da quarentena e j� queria tudo resolvido para ontem, ele ia do outro lado me deixando mais calma, que tudo tinha seu tempo. Ent�o, foi um processo em que ambos colaboraram muito. E nossa rela��o e amor est�o a cada dia mais fortes.”
 
Para Bianca, fazer planos sem a fam�lia por perto, n�o � f�cil. Assim como n�o curtir o s�tio, lugar de congra�amento de todos, se aconchegar dentro de um abra�o, conviver com a afilhada, Maria Vit�ria, de 9 anos, os av�s idosos, tios e uma turma de primos que via com frequ�ncia s�o obst�culos di�rios porque s�o todos bem pr�ximos. Os sopros de al�vio v�m dos pais, Wagner e Ana Paula, e da irm�, Maria Eduarda, j� que est�o juntos em casa: “Acredito que a quarentena veio para que eu visse a necessidade de desacelerar, de valorizar ainda mais a fam�lia e dedicar mais tempo �s coisas simples, com mais qualidade de presen�a. Tem sido um tempo de reflex�es. Antes, a vida no mundo era de muita ostenta��o; � preciso pouco para ser feliz”.

MUDAN�AS INDIVIDUAIS Os planos e a revis�o feitos por Bianca t�m todo sentido. Nietzsche escreveu em uma de suas afirma��es mais famosas: “O que n�o me mata, me fortalece”. E h� comprova��o cient�fica disso. O posttraumatic growth (PTG), em portugu�s, trauma p�s-traum�tico, constructo cient�fico da Universidade da Pensilv�nia, que conduz um programa de pesquisas chamado Growth Initiative, revela que uma experi�ncia traum�tica pode resultar em crescimento e mudan�as individuais de cinco formas: encontro de novas oportunidades e possibilidades; rela��es mais profundas e maior compaix�o pelos outros; fortalecimento para desafios; mudan�a de prioridades e maior aprecia��o da vida; e aprofundamento da espiritualidade. Ou seja, experi�ncias extremas causadas por amea�as e grandes crises geram o chamado “crescimento contradit�rio” como resposta.
 
“Essa � nossa capacidade de n�o apenas superar a crise, mas de realmente ficarmos mais fortes, espertos e resilientes”, explica Flora Vict�ria, mestre em psicologia positiva pela Universidade da Pensylvania (EUA), palestrante e autora do livro O tempo da felicidade, que est� sendo lan�ado pela HarperCollins.

Flora revela que uma das suas grandes inspira��es para enfrentar a pandemia vem do psiquiatra austr�aco Viktor Frankl. “Durante a Segunda Guerra Mundial, Frankl foi enviado para campos de concentra��o, entre os quais o de Auschwitz. L�, em meio a horrores inimagin�veis, ele come�ou a se imaginar num lugar bem diferente, num audit�rio lotado, no qual ele contava o que havia aprendido com essa experi�ncia para ajudar outras pessoas. Esse prop�sito foi t�o marcante para Frankl que se tornou uma for�a motriz – ele de fato deu todas as palestras que havia imaginado naquele momento de desespero e prova��o. Se � poss�vel ter um prop�sito numa situa��o como a de Frankl, por que n�o durante a pandemia?”

Para Flora, fazer planos diante da incerteza � mais importante do que nunca, porque isso d� estabilidade interior em meio ao caos exterior. “Neste momento, h� uma s�rie de coisas que n�o podemos controlar. Mas o que podemos controlar s�o os nossos sonhos, objetivos e o prop�sito. Desde que tenha isso, os meios podem ser encontrados.”

� poss�vel se preparar, usar esse tempo para aumentar recursos internos, para se fortalecer. Tem como fazer treinamentos, cursos e workshops on-line. “Cada um pode, por exemplo, aprender a usar suas for�as de car�ter, a aumentar sua resili�ncia – que est� ligada � sua capacidade de supera��o. Aprender a desenvolver a carreira, melhorar os relacionamentos e at� ser um l�der melhor. E isso vai al�m de fazer planos para p�r em pr�tica quando a quarentena acabar. Investir no desenvolvimento significa que j� est� entrando em a��o.”
 
Para a psicóloga Renata Mafra, professora da Estácio, há muito o que descobrir no isolamento: seja com quem se convive, com a sociedade, com as coisas, com você mesmo(foto: Arquivo Pessoal )
Para a psic�loga Renata Mafra, professora da Est�cio, h� muito o que descobrir no isolamento: seja com quem se convive, com a sociedade, com as coisas, com voc� mesmo (foto: Arquivo Pessoal )
 
Imagina��o que movimenta
 
Para que os planos, sonhos e desejos n�o se tornem uma obriga��o e da�, claro, aumente a ansiedade e a press�o dentro do confinamento determinado pelo risco de contamina��o da COVID-19, a psic�loga Renata Mafra, coordenadora do curso de psicologia da Est�cio, enfatiza que planejar e definir metas n�o t�m de ser algo novo, mas tamb�m pode ser algo que fazia, mas que ser� retomado com mais consci�ncia, sabor e capacidade de valorizar.

“O psicanalista Contardo Calligaris disse outro dia sobre o querer estar no abra�o das pessoas e de se ver livre com a oportunidade de andar na rua. A for�a da sobreviv�ncia est� no desejo que a vida continua. Portanto, nada como apostar na vida, n�o como ilus�o, mas como oportunidade real porque a sombra da morte j� � muito presente. Essa condi��o imp�e a verdade da finitude humana e das rela��es humanas. Como escreveu Renato Russo, '� preciso amar as pessoas como se n�o houvesse amanh�'. Isso sempre esteve presente, mas na loucura do cotidiano, muitos entraram no automatismo. E, com a pandemia, se assustaram que a vida parou. Pensam que n�o aproveitaram os filhos, o casamento, os amigos, os pais, o trabalho... Pensar que o mais dif�cil (para quem pode) n�o foi comprar o presente do Dia das M�es, mas n�o estar � mesa. A mesa estava perdendo lugar dentro da casa, ela � vista como espa�o de encontro, da conversa. Ela est� presente no planejamento do futuro? Tomar consci�ncia de que a vida consome tempo e que ele passa na presen�a ou aus�ncia do outro.”

Para ajudar neste caminho futuro, que n�o deve ser de tomadas de decis�es impulsivas, a psic�loga cita Daniel Kahneman, vencedor do Pr�mio Nobel de Economia de 2002, dono de uma obra das mais relevantes da economia comportamental, que no livro R�pido e devagar – Duas formas de pensar, best-seller de 2011, faz uma met�fora ao explicar a forma de pensar, que corrobora outras teorias psicol�gicas: “Ele fala sobre o quanto os humanos s�o pouco racionais. O quanto existe na nossa mente o sistema impulsivo, automatizado, r�pido e que, muitas vezes, as decis�es s�o tomadas por ele. E como utilizamos pouco, durante um per�odo de tempo, o chamado ‘eu devagar’, que seria o eu racional. Kahneman diferencia ainda o ‘eu experiencial’, que est� vivendo a experi�ncia, do ‘eu recordativo’, que ap�s a experi�ncia vai olhar para o passado e recordar o que vivenciou e que pode ser o norteador de algumas tomadas de decis�es”.

Fernanda Mafra continua explicando que a quest�o de fazer plano e execut�-lo depois de uma experi�ncia traum�tica, intensa ou marcante � que, quando passa a experi�ncia, ela tende a ser negligenciada, esquecida, ter problemas de julgamento, at� pelo pr�prio funcionamento da mem�ria. “� o que Daniel Kahneman vai chamar da 'regra do pico final’, que � lembrar mais do final do que de tudo aquilo que a experi�ncia possa ter demonstrado, ensinado.”

Para aproveitar de verdade todo o aprendizado, � preciso se organizar numa perspectiva de criar determinadas a��es, comportamentos e h�bitos no presente que v�o garantir continuidade no futuro. “A que me vinculo hoje que, ao passar tudo isso, posso continuar fazendo? Qual pr�tica, qual a��o, qual atitude? � necess�rio planejar com possibilidade de manuten��o de aprendizado para n�o sair mais impulsivo e irracional de tudo isso, j� que nosso sistema de decis�o � falho neste sentido.”

IN�RCIA Para a psic�loga, h� muito o que descobrir no isolamento. Seja com quem se convive, com a sociedade, com as coisas, com voc� mesmo e at� com o que n�o sabia que sentia falta: “Penso no filme A vida � bela, e a forma de lidar com o confinamento e com a morte que naquele lugar tinha cheiro, cor e imagem. E que, para sobreviver, foi criada uma fantasia. Sonhar, projetar, ser resiliente na travessia e ter capacidade para olhar para fora do isolamento. O que fazer? O que � importante? Com determina��o, humor e alegria, ainda que n�o tenha limite, ter� recursos para ir atr�s, ainda que seja ut�pico ou poss�vel no todo ou em parte. O planejamento sempre pode ser modificado. Toda in�rcia � psicopatol�gica, mortificadora, � o contr�rio da vida. O que nos mant�m vivo � o movimento. Vida e morte. Movimento e in�rcia. Tudo que � constru��o humana um dia foi imaginada”.

Se planos n�o fazem parte do seu futuro, a psicoterapia, com oportunidade de acesso bem ampla neste momento, em v�rios canais e plataformas on-line, pode ser um caminho. Segundo ela, a for�a do desejo, do projeto, da fantasia de se colocar em movimento � importante. Muitos se identificam com os pensamentos, mas somos mais do que pensamos e sentimos. “Portanto, olhar para aqueles que s�o sofridos e t�xicos e come�ar a dialogar com eles. Depress�o, ansiedade, ang�stia. H� sa�das que contornam essa realidade.”
 

Palavra de especialista

Tathiane De�ndhela, especialista em produtividade, marketing, negocia��o e lideran�a e autora do livro Fa�a o tempo trabalhar para voc�
 

Era da reinven��o e transforma��o

“Tem muita gente revendo a rotina, repensando o modo de vida, mas n�o por op��o. O isolamento obriga a essa reflex�o, e � neste momento que entra a intelig�ncia emocional, que faz com que o indiv�duo consiga avaliar o contexto, tra�ar novas estrat�gias, partir para a a��o e se transformar, mantendo a positividade em rela��o ao que est� por vir. Tenho alunos escrevendo livros, colocando em pr�tica projetos adormecidos por falta de tempo, mudando completamente de carreira e se reinventando com resultados mais satisfat�rios do que antes da pandemia. � o novo se apresentando de forma clara para aqueles que n�o t�m medo do novo. Estamos na era da reinven��o e da transforma��o. O momento nos convida a sair da zona de conforto, desapegar daquilo que j� n�o faz mais sentido, mudar a forma de pensar e agir, adaptar as novidades e mudan�as que a vida est� nos oferecendo e usar a criatividade.”

Sa�da individual e coletiva
 
N�o � quest�o de pessimismo ou otimismo. Fazer um exerc�cio de futurologia sobre como ser� a sociedade brasileira p�s-pandemia, a princ�pio, � tarefa f�cil porque, acreditem, a maioria dos problemas latentes escancarados agora j� existiam antes do ataque da COVID-19. Os desafios t�m dois ramais: desigualdade e viol�ncia, feridas apontadas por Luana Hordones, p�s-doutoranda em sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Seguran�a P�blica (Crisp).

Segundo ela, a pandemia exp�e as condi��es de desigualdade do pa�s em todos os n�veis, quest�es muito caras que colocam em risco um n�mero grande de pessoas, principalmente as popula��es mais vulner�veis. “A enorme desigualdade social e a desigualdade de g�nero s�o somadas ao hist�rico de uma sociedade violenta. Atualmente, com o agravante de um governo tamb�m violento, que minimiza mortes e n�o desenvolve pol�ticas p�blicas de prote��o social. Tudo isso � vista porque existe uma naturaliza��o tanto das condi��es de desigualdade, como da viol�ncia na nossa sociedade.”
 
(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)

"Para construirmos uma sociedade minimamente melhor do que esta que conhecemos agora, necessitamos de a��es conjuntas e, nesse sentido, toda a��o importa"

Luana Hordones, p�s-doutoranda em sociologia pela UFMG e pesquisadora do Crisp

 
 
Como sair desta encrenca? Mesmo para quem vive em bolhas, Luana Hordones alerta que a pandemia n�o tem contado nada de muito novo, mas, sim, deixa � mostra as mazelas do Brasil e muitas quest�es que normaliz�vamos cotidianamente. Desde a falta de saneamento b�sico, como o machismo que estrutura a viol�ncia dom�stica, por exemplo. Se tudo est� mais percept�vel, e perceptivelmente pior, talvez fa�a com que ocorra alguma a��o de mudan�a no futuro.

A pandemia exp�e as desigualdades que comp�em a sociedade brasileira em uma dimens�o maior. Diante disso, imposs�vel ser otimista. “No entanto, para supor alguma mudan�a e pensar em um cen�rio menos desigual e violento, s� vejo como sa�da a mobiliza��o de recursos em todos os �mbitos e em v�rias �reas, como a �nica forma de construir uma realidade social um pouco mais digna. Podemos citar a urg�ncia da defesa da ci�ncia, acesso � educa��o, a necessidade de um projeto pol�tico inclusivo e cont�nuo para o pa�s, e a constru��o de condi��es m�nimas de sobreviv�ncia para a popula��o. Temos muito trabalho pela frente, e a pandemia d� este recado. Muito do que era naturalizado ou invisibilizado, agora salta aos olhos. E nada disso n�o � e n�o pode ser natural. Espero que em alguma medida haja um movimento, individual e coletivo, neste sentido: precisamos desnaturalizar as in�meras formas de desigualdade e de viol�ncia.”

ESPERAN�A Por isso, Luana Hordones acredita que para construirmos uma realidade mais digna para a maioria da popula��o, e menos violenta para todos n�s, precisar�amos que todos se envolvessem de alguma forma, em movimentos diferentes, com os quais se identifiquem ou se aproximem mais. “Isso pode ser feito no �mbito de a��o poss�vel a cada um, revendo comportamentos e rela��es, mas uma transforma��o m�nima da realidade s� ser� eficaz mesmo se tivermos aprendido que toda a��o � pol�tica e que, vivendo em sociedade, temos que ter responsabilidade e compromisso com os projetos pol�ticos que apoiamos”, afirma.

E n�o se trata de pessimismo, mas em um contexto em que o distanciamento social seguro e a rotina de higieniza��o (a��es b�sicas para evitar a propaga��o do v�rus) se tornam privil�gio de poucos, � preciso estar atento � realidade. “Para construirmos uma sociedade minimamente melhor do que esta que conhecemos agora, necessitamos de a��es conjuntas, e nesse sentido toda a��o importa. Eu insisto nisso porque tanto a doc�ncia quanto a maternidade me imp�em uma esperan�a no futuro, sen�o deixam de ter sentido.”

COMPORTAMENTO Na pr�tica, o que deve ocorrer na vida futura p�s-pandemia? Al�m dos planos, como os brasileiros devem agir e se comportar? Estudo da Toluna, fornecedora de insights do consumidor sob demanda, identificou as principais mudan�as nos h�bitos e comportamentos dos brasileiros ap�s a chegada do novo coronav�rus ao Brasil e, a partir disso, quais ser�o as tend�ncias na vida dessas pessoas quando o pico da pandemia tiver sido superado no pa�s.

De acordo com a pesquisa feita entre os dias 8 e 10 de maio com 1.052 pessoas de todas as regi�es, os entrevistados afirmaram que pretendem manter h�bitos como higienizar todas as coisas que entram em casa (59,5%), cozinhar (49,6%), fazer cursos on-line (43%) e ir ao mercado ou farm�cia somente quando for extremamente necess�rio (40,6%). Quando questionados sobre tend�ncias p�s-pandemia, 63,6% das pessoas acreditam que o trabalho remoto ir� se manter, assim como educa��o � dist�ncia (58%), busca por conhecimento (57%), novos modelos de neg�cios para restaurantes (54,3%) e revis�o de cren�as e valores (49,6%).

Luca Bon, diretor-geral da Toluna para Am�rica Latina, conta que desde fevereiro, antes mesmo da confirma��o do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, a empresa tem dedicado aten��o e esfor�os para ouvir e entender os sentimentos, necessidades e opini�es da popula��o: “Nesse estudo in�dito podemos concluir que depois da pandemia os brasileiros estar�o mais conscientes em rela��o � sa�de e aos outros, eles perceberam que n�o est�o s�s neste mundo. Tamb�m estar�o ainda mais conectados. Num primeiro momento p�s-pandemia, � poss�vel que as rela��es sejam mais distantes, por conta do medo que ainda estar� forte, mas � medida que voltarem � rotina e o medo for se dissipando, voltar�o a ser como sempre, quentes. � forte entre os brasileiros o sofrimento pela falta do contato humano, e isso n�o vai mudar depois da quarentena.”

A pesquisa foi feita com pessoas das classes A, B e C, segundo crit�rio de classifica��o de classes utilizado pela Associa��o Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), no qual pessoas da classe C2 tem renda m�dia domiciliar de R$ 4.500 por m�s. Contemplou ainda pessoas acima de 18 anos, em todas as regi�es brasileiras, com 3% de margem de erro e 95% de margem de confian�a. Luca Bon destaca que “em um cen�rio em que tudo voltasse a funcionar normalmente, mas ainda sem vacina e sem cura para a COVID-19, a maioria das pessoas afirmam que n�o frequentaria shows (62,3%), cinema e teatros (62%), academias (57,5%), eventos esportivos (56%) e clubes (55,2%).”
 
(foto: ARQUIVO PESSOAL)
(foto: ARQUIVO PESSOAL)
 
 
Respostas na astrologia
 
O que os astros dizem sobre o que o mundo vive e quais s�o os planos para o planeta e os homens? Desde sempre, a curiosidade sobre o que vir�, o que est� adiante e o que vai acontecer acompanha a humanidade. Para alguns, as respostas s�o cient�ficas, para outros, c�ticos ou n�o, s�o interpreta��es que n�o levam t�o a s�rio assim. Mas, podem apostar, as previs�es fazem parte do universo. Yubertson Miranda, todos o chamam de Yub, astr�logo, numer�logo e tar�logo, formado em filosofia pela PUC Minas (1996-1999), � feito desse caldeir�o de distintos conhecimentos que o faz buscar a compreens�o dos humanos e do mundo.

No fim de 2019, ele abordou as previs�es para o Estado de Minas, no caderno Bem Viver. Na oportunidade, ele n�o falou da reg�ncia do ano, no caso, a do Sol, j� que h� muitos anos comprovou que n�o tem relev�ncia diante da import�ncia dos eclipses (os quais costumam ter um efeito de seis meses) e do mapa do ano novo astrol�gico (20/3/2020 a 20/3/2021). Ele lembra que para previs�es coletivas, envolvendo cada pa�s e o mundo, � fundamental estudar na astrologia mundial os ciclos entre os planetas lentos (de J�piter a Plut�o).
 
(foto: ARQUIVO PESSOAL)
(foto: ARQUIVO PESSOAL)
 
Assim, Yub Miranda enfatiza que o eclipse da Lua em 10 de janeiro de 2020 sinalizou a crise econ�mica e de sa�de, com fortes possibilidades de perdas e mortes, porque o eclipse no eixo C�ncer-Capric�rnio aspectou a conjun��o Saturno-Plut�o. “Ou seja, eles est�o mutuamente se influenciando por estar interligados. Est�o de m�os dadas, atuando juntos. Por volta desse dia, foi justamente quando o primeiro caso da COVID-19 foi reportado (31/12/2019), pela China, e quando os EUA assassinaram o general iraniano (3/1/2020) Qassem Soleimani.”

Conforme Yub Miranda, quando esses astros aspectam, algo bem impactante tende a ocorrer no mundo, o que pode representar uma crise profunda diante da qual se demanda uma significativa reestrutura��o. “Saturno em aspecto com Plut�o esteve presente, por exemplo, nos atentados do 11 de Setembro. Na �poca, o aspecto de oposi��o: �ngulo de 180 graus entre os astros. Uma conjun��o ocorreu, por exemplo, no fim da d�cada de 1940 (entre 1946 e 1948). Foi o per�odo p�s-Segunda Guerra Mundial, quando o mundo passou por uma consider�vel reconstru��o.”
 
(foto: ARQUIVO PESSOAL)
(foto: ARQUIVO PESSOAL)
 
Yub Miranda assegura que esse eclipse do in�cio do ano no eixo C�ncer-Capric�rnio durar� at� 5 de junho de 2020. “Enquanto isso, pelo fato de C�ncer ser um signo associado ao lar, � resid�ncia, o mundo precisou ficar em casa (C�ncer); enquanto a crise econ�mica e de sa�de (Saturno-Plut�o em Capric�rnio) se fez duramente presente. Os efeitos e consequ�ncias durar�o muito tempo, representando essa reestrutura��o. Uma nova ordem mundial ter� in�cio em 21 de dezembro de 2020, pois um novo ciclo entre Saturno e J�piter ocorrer�, desta vez no signo de Aqu�rio.”

Na an�lise e estudo do astr�logo, a partir de junho, o eclipse lunar de janeiro dar� lugar a outro eclipse, o eixo Sagit�rio-G�meos entrar� em cena: “G�meos representa o com�rcio, a troca, a intera��o social e a movimenta��o pelo ambiente ao redor. Portanto, a partir de junho, o mundo como um todo come�ar� a se abrir para as trocas comerciais e as rela��es sociais”.

MISTURA DE eclipses Todavia, Yub Miranda avisa que esse eclipse far� quadratura com Marte e Netuno em Peixes. “Netuno e Peixes t�m associado com v�rus e contamina��es. Ou seja, abrir o com�rcio e interagir com as pessoas (G�meos) ser� algo arriscado e que demandar� constantes ajustes (quadratura) por conta de a��es e decis�es (Marte) que podem gerar as contamina��es (Marte e Netuno em Peixes). Em seguida, teremos, logo um m�s depois, isto �, em 5 de julho de 2020, um eclipse lunar novamente no eixo C�ncer-Capric�rnio (todavia, sem aspectar Saturno, mas ainda flertando com Plut�o, num aspecto mais distante, mas presente).”

O que isso significa? “Ou seja, por conta dessa mistura de eclipses lunares, n�o ficaremos t�o reclusos como no primeiro semestre, mas poderemos ainda precisar das regras e limites (Capric�rnio) e de se proteger em casa (C�ncer) para driblar os riscos de contamina��o (simbolizados pela quadratura com Marte-Netuno em Peixes do eclipse de junho e pela aproxima��o com Plut�o do eclipse de julho). Talvez a liberdade maior em termos de circula��o e livre-com�rcio vir� no eclipse de 30 de novembro de 2020 (tamb�m no eixo Sagit�rio-G�meos; e, desta vez, sem a quadratura com Marte-Netuno em Peixes).”

Diante de tudo isso, � poss�vel planejar o futuro? As pessoas podem fazer planos? “Como falei ao Bem Viver nas previs�es de 2020, o ano era de muita resili�ncia diante das dificuldades, demoras e obst�culos. S� n�o imaginava que seria nesse n�vel de intensidade. Mas os p�s no ch�o, a responsabilidade econ�mica e muita perseveran�a para empreender e fazer nossas metas continuam superv�lidos. Lembre-se: s� podemos mudar a realidade quando aceitamos as coisas como est�o. Ficar esperando as condi��es externas perfeitas � frustrante. Nas crises, temos a oportunidade de trazer � tona dons e talentos que podem ser muito �teis no trabalho e no cumprimento das metas. Essa atitude tem tudo a ver com o c�u deste ano, j� que o mapa do ano novo astrol�gico teve esta �nfase capricorniana (Marte, J�piter, Saturno e Plut�o nesse signo). Continuemos dispostos a arrega�ar as mangas e p�r m�os � obra para renascer das crises profissionais, financeiras e de sa�de. Capric�rnio � um signo que pede um alto n�vel de produtividade e resili�ncia para superar os obst�culos, com muita disciplina e comprometimento.”
 
 


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