
Um estudo recente, realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostra que pacientes com excesso de peso e/ou obesidade, contaminados pelo novo coronav�rus, tendem a desenvolver quadros cl�nicos mais graves de COVID-19.
Isso porque, segundo a pesquisa, o Sars-Cov-2 pode ser capaz de infectar o tecido adiposo por causa da maior quantidade e tamanho de adip�citos no organismo de pessoas acima do peso. Al�m disso, foi observado que o v�rus � capaz de infectar melhor as c�lulas adiposas do que as epiteliais do intestino ou do pulm�o.
“As c�lulas adiposas no obeso s�o maiores, o que propicia uma maior replica��o viral, pois o v�rus consegue entrar na c�lula adiposa e se multiplicar ali. E ao ter maior carga viral, as chances de que a doen�a se agrave s�o maiores, ocasionando sintomas, tamb�m, mais graves, como insufici�ncia respirat�ria”, explica o nutr�logo e p�s-doutorado em endocrinologia Guilherme Ferreira Mattos.
Mattos destaca que os pacientes contaminados pelo novo coronav�rus, e em processo de recupera��o, podem desenvolver respostas no sistema nervoso central e mudan�as de humor. Para o m�dico especialista em nutrologia e endocrinologia, devido � gravidade proporcionada pela quantidade e tamanho dos adip�citos, pacientes obesos infectados podem vir a apresentar demais altera��es, ainda n�o percebidas e/ou analisadas.
O estudo aponta que n�o h� evid�ncias se, ap�s a replica��o, o v�rus sai dos adip�citos e se desloca em dire��o �s demais c�lulas, a fim de contamin�-las. “O estudo ainda precisa de conclus�es, mas � importante saber que o paciente obeso vai ter uma carga viral maior que os pacientes de percentual de gordura mais baixa, por possibilitar ao v�rus maiores lugares de hospedagem e multiplica��o”, comenta Mattos.
Segundo o especialista, devido ao resultado inconclusivo quanto a sa�da do Sars-Cov-2 da c�lula adiposa, o tratamento destinado � cura da doen�a pode ser mais demorado e dificultado. “Os m�todos curativos neste caso se tornam mais complicados, pois com a carga viral dentro das c�lulas, h� complica��es para que essa seja extinta, visto que os resultados e testes tendem a apontar, mais precisamente, os v�rus circulantes.”
Envelhecimento
Outro ponto abordado pelo estudo diz respeito ao envelhecimento e disfun��o do tecido adiposo, o que afeta idosos e doentes cr�nicos metab�licos. De acordo com a pesquisa, as c�lulas adiposas envelhecidas apresentaram desenvolvimento e aumento da carga viral tr�s vezes maior do que em c�lulas consideradas “jovens”.
"� um estudo em c�lulas in vitro, e est� em sua etapa inicial para gera��o de hip�teses. Ainda n�o � conclusivo, mas ajuda a melhorar o entendimento de como e porqu� a obesidade � um fator de risco para a COVID-19"
Arnaldo Schainberg, m�dico endocrinologista e coordenador do programa de resid�ncia do Ipsemg
Sendo assim, a pesquisa apresentou, tamb�m, que drogas senol�ticas, normalmente usadas a fim de prolongar o tempo de vida e evitar o agravamento de doen�as relacionadas � velhice, foram usadas com efic�cia de 95% na diminui��o da carga viral do Sars-Cov-2 em tecidos epiteliais. E, portanto, a Unicamp pretende repetir o experimento nos adip�citos.
A pesquisa, a princ�pio, foi realizada em c�lulas-tronco mensequimal, isoladas de pacientes n�o infectados e submetidos a cirurgia bari�trica, a partir de testes in vitro. Posteriormente, as c�lulas foram submetidas a exposi��o a uma linhagem do novo coronav�rus, cultivada em laborat�rio por pesquisadores do Instituto de Ci�ncias Biom�dicas da Universidade de S�o Paulo.
“� um estudo em c�lulas in vitro, e est� em sua etapa inicial para gera��o de hip�teses. Ainda n�o � conclusivo, mas ajuda a melhorar o entendimento de como e porqu� a obesidade � um fator de risco para a COVID-19”, afirma Arnaldo Schainberg, m�dico endocrinologista e coordenador do programa de resid�ncia do Ipsemg.
Para dar continuidade ao estudo ser�o feitas an�lises de prote�mica, a fim de descobrir se a infec��o pelo novo coronav�rus afeta o funcionamento do adip�cito e se a contamina��o tende a propiciar sequelas de longo prazo na c�lula.
Outros fatores
Ao discorrer sobre o estudo, a nutricionista comportamental Ruth Egg explica que o tecido adiposo � caracterizado por ser um �rg�o muito ativo, por interagir de forma direta com as fun��es do corpo, como homeostase, imunidade e atribui��es end�crinas e metab�licas. No entanto, nos indiv�duos obesos, h� uma desregula��o do organismo.
“Essa altera��o tem correla��o com diversos dist�rbios ligados ao tecido adiposo. E devido a essa defici�ncia, as respostas apresentadas pelo organismo tendem a ser falhas, visto que h� uma disfun��o das c�lulas respons�veis por reagir. Sendo assim, o receptor que atua na contrarregula��o � utilizado pelo v�rus como condutor, a fim de entrar nas c�lulas do tecido adiposo.”
Ruth destaca, ainda, que pacientes com excesso de peso tendem a apresentar defici�ncia de vitamina D, resultando em uma imunidade mais baixa, o que propicia o agravamento de infec��es. Al�m disso, a nutricionista pontua que a obesidade pode desencadear doen�as cr�nicas, como diabetes e hipertens�o, ambos fatores de risco para COVID-19, o que influencia ainda mais o quadro cl�nico do paciente obeso infectado.
“O excesso de peso est� muito relacionado � apneia do sono, e o paciente com esse tipo de dist�rbio tem uma hiperventila��o, o que tende a fazer com que a reserva ventilat�ria, para respirar, piore e ele fique mais fraco. Portanto, isso pode agravar os quadros de contamina��o pelo Sars-Cov-2, devido aos sintomas respirat�rios caracter�sticos da doen�a”, completa.
* Estagi�ria sob a supervis�o da editora Teresa Caram