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Estado de Minas Literatura

O el�stico invis�vel do cora��o

Livro infantil fala sobre distanciamento, amor e saudades. Apesar da tem�tica atrelada � maternidade, a obra repercutiu a partir do contexto do isolamento social pela pandemia


06/09/2020 04:00 - atualizado 03/09/2020 12:47

Graziela Andrade lê o livro para uma de suas filhas, Helena, de 2 anos
Graziela Andrade l� o livro para uma de suas filhas, Helena, de 2 anos (foto: Gilberto Gilbert/Divulga��o)
 
A separa��o entre m�e e filha, nem que seja por curtos per�odos de tempo, pode ser assustadora e angustiante para as duas partes da rela��o. O medo de a m�e n�o voltar ou a preocupa��o com a filha distante s�o alguns dos pensamentos que tendem a surgir. E foi justamente a partir deste momento de desvincula��o cont�nua que Graziela Andrade pensou, idealizou e escreveu o livro Tic-tic: O el�stico invis�vel do cora��o .

O livro, lan�ado em meio � pandemia do novo coronav�rus, traz � tona a hist�ria de uma crian�a, Liz, que revela um “segredo”, contado pela m�e, sobre um el�stico invis�vel nascido no cora��o e que estica quando elas se afastam, permitindo que, por mais que se distanciem, retornem uma � outra, com a garantia de que n�o se perderiam nunca. Essa narrativa contada pela autora foi baseada em uma experi�ncia pr�pria entre Graziela e sua filha.
 
“� muito comum isso, tem esse per�odo de dificuldade de ver a m�e partir, elas t�m a sensa��o de que a m�e vai desaparecer. Ent�o, isso gera uma ang�stia muito grande nas crian�as. Na verdade, t�m v�rias coisas antes, mas essa foi a que mais deu certo. Eu falei que a gente tinha um el�stico invis�vel, que ligava o nosso cora��o, que a gente se abra�ava , fazia ‘tic tic’, dava uma apertadinha, fazia ‘toim toim toim toim’, o barulho do el�stico, e eu podia ir para casa e voltava para pegar depois, que ela entendia que o el�stico tinha esticado e voltado ”, conta.

A met�fora deu t�o certo que Graziela relata que a filha passou a pedir sempre para ligar o el�stico antes de sair para qualquer lugar. “Essa t�tica foi bem potente no sentido de abrandar um pouco essa ang�stia da crian�a e fazer entender que esses s�o la�os fortes e potentes, que n�o se desligam jamais”, diz.

Para al�m da experi�ncia, a autora conta que a hist�ria lhe permite refletir sobre in�meros aspectos da vida materna . Isso porque, para Graziela, a ideia de que se tem um el�stico ali remete � liga��o entre m�e e filha. “No livro, at� acontece o corte do cord�o umbilical , que � reatado depois com o el�stico, o que tem encantado a �rea da psicologia , porque explicita uma quest�o que aparece muito em cl�nicas de an�lise, que � essa ruptura do sujeito, da m�e com a crian�a, o corte do cord�o umbilical � extremamente simb�lico , porque ali se separam dois sujeitos”, contextualiza.

E, justamente nesse sentido, a autora aponta para um pensamento de liberdade e amor , de que o ato de amar o outro � e precisa ser libertador. “Aquela crian�a que era parte da m�e, at� sair da barriga, com esse corte simb�lico criam-se dois sujeitos que v�o se construir a partir dali. E muita m�e tem dificuldade tamb�m nesse afastamento . E acho que tem uma coisa rica nessa quest�o do afastamento: que o amor � libertador e, se o elo est� feito, est� forte, e o el�stico est� ligado afetivamente , n�o precisa prender o outro, pode deixar o outro ir, porque, em algum momento, ele vai voltar. � um ato amoroso e virtuoso , que n�o � um n� , porque voc� n�o amarra o outro”, pontua.

REPERCUSS�O


 “O livro tem vida pr�pria e, depois de lan�ado, quem faz a hist�ria � o leitor”, diz a autora, parafraseando seu marido, tamb�m escritor, ao comentar a repercuss�o da obra. Isso porque a hist�ria, lan�ada em meio � pandemia causada pelo novo coronav�rus, remeteu aos seus leitores uma interpreta��o diferente da concebida originalmente.

Devido ao distanciamento social, as pessoas necessitam, por seguran�a, de ficar longe umas das outras. E, portanto, este tal el�stico invis�vel tende a ser uma met�fora adequada para o momento, visto que, com a dist�ncia, as rela��es n�o s�o ‘cortadas’ , mas, sim, ‘esticadas’ . “Tem essa curiosidade de o livro ter sido lan�ado no meio da pandemia. No entanto, a obra n�o foi criada neste contexto, mas por conta deste momento encontrou esses outros lugares e interpreta��es . Muito legal perceber isso”, afirma.

Al�m disso, Graziela conta que o livro tem sido usado, neste contexto, como uma ferramenta para falar sobre distanciamento e saudade . “Outro dia, participei de uma transmiss�o ao vivo, e uma crian�a que tinha perdido um ente querido me perguntou se o el�stico tamb�m atravessava o c�u . Achei genial. E, claro, respondi que ele atravessava c�us e mares, pois al�m de invis�vel era tamb�m invenc�vel .”

Graziela conta que seus planos n�o mudaram com a chegada da pandemia e, inclusive, diz que j� est� preparando uma nova hist�ria para o p�blico infantil. E a inspira��o veio, justamente, a partir do livro, haja vista que no decorrer da trama o nome da m�e n�o se faz presente em nenhum momento, o que, segundo a autora, foi um ato falho de sua parte, remetendo-a a quest�es mais pessoais e pr�ximas da realidade materna .

“Veio-me � cabe�a toda a minha experi�ncia como m�e pela primeira vez e da anula��o da mulher. Pois, quando uma mulher se torna m�e, ela desaparece como sujeito e como mulher . Neste meu primeiro livro, a m�e n�o tem um nome, ela se chama m�e . Eu at� brinquei ao falar que nem sei se minha filha sabe meu nome, porque � s� m�e, m�e e m�e o dia inteiro. E a�, percebi que precisava corrigir isso.”

Foi justamente pensando sobre isso, que a autora conta ter criado, em uma madrugada, o novo livro, que se chamar� Mam�e Del , uma continua��o da obra Tic-tic, em que a m�e dir� seu nome . A narrativa, segundo Graziela, ser� em torno da hist�ria da m�e, que tamb�m ser� inspirada em uma experi�ncia da pr�pria autora com sua fam�lia.

“A minha filha me chamava o tempo todo de m�e e, um dia, falei com ela da seguinte forma: ‘N�o, agora eu n�o sou m�e, agora eu sou Graziela, e a Graziela vai trabalhar, a Graziela vai sair para namorar com o papai, a Graziela vai sair para passear e a Graziela vai ler um livro’. E a� foi muito engra�ado, porque ela come�ou a entender que existia uma mulher para al�m da m�e”, diz a autora.

A partir dessa viv�ncia, Graziela conta que a pr�pria filha se entendeu como algu�m al�m de filha . “Ela me disse assim: ‘Agora, eu tamb�m n�o sou a Isa, eu sou a Isadora’. Depois, foi fazer as coisinhas dela. Ent�o, a pr�xima hist�ria vai ser baseada nisso, e eu vou trabalhar com a mesma ilustradora. A ideia � fazer hist�rias dessa fam�lia do Tic-tic, e at� convidei o meu marido para escrever um livro a partir do ponto de vista do pai ”, diz.

* Estagi�ria sob supervis�o da editora Teresa Caram


SERVI�O

Tic-tic: O el�stico invis�vel do cora��o
Acol� Editora
Pre�o : R$ 32, com frete inclu�do, 
pelo site graandrade.com/tictic 
ou na Livraria Quixote


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