
Cerca de 55,7% da popula��o vive acima do peso no Brasil, de acordo com dados divulgados pela Vigil�ncia de Fatores de Risco e Prote��o para Doen�as Cr�nicas por Inqu�rito Telef�nico (Vigitel). Pesquisa realizada em 2018 aponta que esse crescimento se deve, principalmente, a aspectos nutricionais, metab�licos e/ou psicol�gicos. O excesso de peso, seja ele considerado obesidade ou n�o, pode acarretar doen�as ainda mais graves, como hipertens�o e diabetes.
N�o me sentia bonita, me boicotava, deixava de ir a festas, palestras, lugares e eventos. N�o falava alto em uma reuni�o profissional pelo simples fato de n�o querer contato visual com algu�m. Esqueci de minhas habilidades e capacidades, deixei de acreditar em mim
Daiane Fernandes Schmitt, de 36 anos, administradora
O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (Sbem-MG), Adauto Versiani, afirma que o aumento da obesidade se d�, principalmente, pelo consumo de alimentos ricos em gordura e sedentarismo. “Hoje, vivemos em um mundo em que o tempo � muito escasso e a alimenta��o � feita em pequenos intervalos com comidas pr�-fabricadas, ricas em gordura, como fast-foods, e sem tempo para o lazer. Cada vez mais, a sociedade est� direcionando a v�lvula de escape para a comida e n�o para a atividade f�sica, ingerindo mais caloria e gastando menos”, completa.
Esse � o caso da analista comercial Marina Danielle de Souza, de 35 anos, que viu sua vida ser limitada pelo excesso de peso. “H� dois anos e meio, eu estava sedent�ria e engordando, n�o conseguia nem subir as escadas direito, devido � falta de ar”, conta.
A psiquiatra Jaqueline Bifano ressalta que aspectos psicol�gicos tamb�m podem influenciar de forma direta no aumento de peso, visto que sentimentos de inadequa��o, baixa toler�ncia a frustra��es, comportamentos altru�stas, pensamentos ruminantes, de menor valia e incapacidade, bem como a ingest�o de ordem emocional podem ser associados a esse excesso. “O estado emocional de uma pessoa pode estar relacionado ao apetite e ao comportamento na hora das refei��es, interferindo nas prefer�ncias no momento da alimenta��o”, explica.
Jaqueline destaca, ainda, que determinadas emo��es, como a tristeza, podem aumentar o apetite e, consequentemente, a ingest�o de calorias. Foi o que ocorreu com a administradora Daiane Fernandes Schmitt, de 36, que com a depress�o relacionada � mudan�a na rotina de trabalho vivenciou um quadro de obesidade capaz de interferir ainda mais em seu emocional. “N�o me sentia bonita, me boicotava, deixava de ir a festas, palestras, lugares e eventos. N�o falava alto em uma reuni�o profissional pelo simples fato de n�o querer contato visual com algu�m. Esqueci de minhas habilidades e capacidades, deixei de acreditar em mim”, relata.
Al�m disso, de acordo com o nutricionista Guilherme Mattos, o alto consumo de alimentos cal�ricos, bem como qualquer tipo de alimenta��o, influencia em todos os aspectos do corpo. No entanto, o especialista salienta que o estado de sa�de global da pessoa � fator decisivo para o desenvolvimento e manuten��o da obesidade. “Aquilo que a pessoa come pode favorecer um corpo inflamado, um intestino com baixo poder de absor��o de nutrientes, pode determinar se a pessoa ter� mais ou menos energia dispon�vel para os seus afazeres di�rios, pode deix�-la mais alegre ou mais deprimida, tudo isso influenciar� para que ela engorde ou emagre�a.”
Tipos de obesidade
Segundo o cirurgi�o geral e gastroenterologista Mauro J�come, a obesidade pode ser dividida de acordo com a regi�o de predomin�ncia do ac�mulo de gordura. “A obesidade abdominal ocorre quando a gordura se deposita, principalmente, no abd�men e na cintura. J� a perif�rica, mais comuns em mulheres, localiza-se nas coxas, quadris e n�degas. Tem ainda a obesidade homog�nea, na qual n�o h� uma predomin�ncia de gordura em uma �rea localizada, pois o excesso de peso est� distribu�do por todo o corpo.”
H�, tamb�m, a classifica��o quanto a gravidade do quadro, calculada a partir do �ndice de massa corporal (IMC). Esse c�lculo � feito com base na raz�o entre o peso e a altura de cada pessoa. Sendo assim, pessoas com IMC entre 25Kg/m² e 29,9Kg/m² s�o consideradas com sobrepeso; com IMC entre 30Kg/m² e 34,9Kg/m², t�m obesidade grau I. O IMC entre 35Kg/m² e 39,9Kg/m² indica obesidade grau II e o IMC maior do que 40Kg/m², obesidade grau III.
O sobrepeso � mais comum nos homens, no entanto, a obesidade � maior no p�blico feminino. Os adultos s�o os que t�m maior incid�ncia, principalmente na faixa et�ria entre 25 e 34 anos, e de 35 a 44.
Mudan�a de h�bitos
Em casos de sobrepeso e obesidade grau I, mudan�as de h�bitos alimentares e f�sicos, bem como acompanhamento m�dico e psicol�gico individualizados, s�o fortes aliados. As obesidades de grau II e III podem, al�m disso, envolver indica��o cir�rgica, inclusive de m�todos menos invasivos. “Existem tecnologias que permitem o aux�lio a quem necessita emagrecer, sem precisar recorrer a cirurgias bari�tricas. Esses procedimentos envolvem menos riscos e n�o demandam anestesia geral e nem um p�s-operat�rio complicado”, explica J�come.
A endosutura g�strica � uma dessas t�cnicas e consiste na redu��o do volume g�strico a partir de suturas feitas dentro do est�mago por meio da endoscopia. Outro recurso para redu��o de peso � a coloca��o do bal�o intrag�strico, que preenche parte do interior estomacal reduzindo a sensa��o de fome.
Daiane Fernandes, que escolheu implantar o bal�o intrag�strico por um ano, conta que essa decis�o se deu pela seguran�a e que, ap�s o tratamento, se sente uma nova pessoa. “Optei pelo bal�o por ser menos invasivo e n�o definitivo. Dessa forma, tive um per�odo maior de tempo para moldar e mudar meu corpo e a forma como ele se alimenta. Hoje, me sinto �tima, caminho e respiro melhor, me movimento livremente. N�o sinto mais as dores f�sicas e emocionais da obesidade.”
Aqueles que recorrem � bari�trica podem sofrer alguns efeitos colaterais p�s-cir�rgicos. “O paciente costuma relatar cansa�o, dificuldade de equil�brio, ressecamento da pele e unhas quebradi�as, devido � redu��o da absor��o de nutrientes”, pontua o especialista em gastroenterologia Marcos J�come. Nos tratamentos considerados menos invasivos esses efeitos s�o incomuns, visto que n�o h� retirada de parte do �rg�o, como no procedimento cir�rgico.
P�s-tratamento
Grave e potencialmente cr�nica, a obesidade requer cuidados para que as mudan�as de h�bitos sejam mantidas e as poss�veis reca�das, evitadas. Por isso, � importante que o paciente tenha aten��o quanto a esses aspectos. � comum o receio quanto a essas pequenas pondera��es no cotidiano estar presente na vida das pessoas que um dia sofreram com o ac�mulo de peso. “Sempre h� aquele medo de engordar de novo e de vir a ter um novo problema”, comenta a aut�noma D�bora Ramos da Costa, de 42.
No entanto, � comum o sentimento de bem-estar ap�s a perda do excesso de peso. “Estou muito bem, como de tudo, mas em quantidade reduzida. Estou muito mais animado no dia a dia”, relata Fausto Luiz Lacerda, empres�rio, de 44.
Proje��o
A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) estima que, em 2025, aproximadamente 2,3 bilh�es de adultos viver�o com sobrepeso no Brasil e, mais de 700 milh�es, obesos. Na inf�ncia, esse n�mero pode chegar a 75 milh�es entre crian�as com sobrepeso e obesidade. A Associa��o Brasileira para o Estudo da Obesidade e da S�ndrome Metab�lica (Abeso) disponibiliza, em seu site oficial, um mapa da obesidade no Brasil, com atualiza��es sobre os dados em cada regi�o do pa�s. As informa��es t�m como refer�ncia o �ltimo senso do IBGE realizado em 2008-2009.
* Estagi�ria sob a supervis�o da editora Teresa Caram
