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Estado de Minas BOLETIM

Sarampo: Par� vira o epicentro da doen�a no Brasil em 2020; entenda por qu�

Estado da Regi�o Norte representa 64% dos casos e 71% das mortes pela enfermidade no pa�s neste ano. Baixa cobertura vacinal � uma das principais explica��es


23/11/2020 15:05 - atualizado 23/11/2020 19:01

A tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, é aplicada em duas doses. A primeira aos 12 meses de vida e a segunda até os 29 anos de idade. Para conter o surto, autoridades estão oferecendo doses de reforço para bebês e jovens adultos.
A tr�plice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rub�ola, � aplicada em duas doses. A primeira aos 12 meses de vida e a segunda at� os 29 anos de idade. Para conter o surto, autoridades est�o oferecendo doses de refor�o para beb�s e jovens adultos. (foto: Getty Images)

Em um ano marcado pela pandemia de COVID-19, pouco se fala de outra doen�a infecciosa que segue em alta no Brasil e no mundo: o sarampo.

Em seu mais recente boletim epidemiol�gico, o Minist�rio da Sa�de calcula que, s� em 2020, foram 8.217 casos e sete mortes pela doen�a no pa�s. Os dados compreendem o per�odo de 29 de dezembro de 2019 a 17 de outubro de 2020.

 

 

 

Al�m do n�mero alt�ssimo para uma doen�a que pode ser evitada por meio da vacina��o, h� outro fato que chama a aten��o no relat�rio: o Par� vive um verdadeiro surto de sarampo.

O Estado apresenta 5.294 casos confirmados (64% do total do pa�s) e j� notificou cinco mortes (71% do que foi registrado em territ�rio nacional).

Mas como o Par� se tornou o epicentro da doen�a no pa�s?

Imigra��o e falha vacinal

Para entender direitinho essa hist�ria, � preciso voltar no tempo: em 2016, o Brasil recebeu da Organiza��o Mundial da Sa�de um certificado de elimina��o do sarampo. Na pr�tica, isso significava que o v�rus causador da mol�stia n�o estava mais circulando dentro de nossas fronteiras.

Em menos de dois anos, a conquista foi por �gua abaixo: em 2018, o pa�s viveu um surto da doen�a como n�o sofria h� quase duas d�cadas. Naquele ano, os Estados do Amazonas e Roraima foram os mais acometidos, com quase 10 mil indiv�duos infectados.

Mas o que explica esse ressurgimento justamente nessa regi�o do Brasil? "Houve uma reintrodu��o do v�rus a partir da Venezuela, com a chegada dos refugiados que cruzaram a fronteira desses Estados", conta a infectologista T�nia Chaves, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Par�.

Que fique claro: a culpa pelo surto n�o deve ser creditada aos venezuelanos. Afinal, se toda a popula��o brasileira estivesse vacinada contra o sarampo, o agente infeccioso n�o conseguiria circular livremente entre n�s.

"Infelizmente, relaxamos nossa vigil�ncia e t�nhamos uma grande parcela da popula��o desprotegida", lamenta Chaves, que tamb�m representa a Sociedade Brasileira de Infectologia.

Em 2019, a situa��o se agravou ainda mais, com a confirma��o de 15 mil casos de sarampo. Os Estados mais atingidos foram S�o Paulo, Paran� e Rio de Janeiro.


Facilmente prevenível por vacina, o sarampo voltou com tudo ao Brasil a partir de 2018. A doença pode causar complicações em crianças menores de 5 anos e pacientes desnutridos ou com problemas de imunidade
Facilmente preven�vel por vacina, o sarampo voltou com tudo ao Brasil a partir de 2018. A doen�a pode causar complica��es em crian�as menores de 5 anos e pacientes desnutridos ou com problemas de imunidade (foto: Getty Images)

Chegamos, ent�o, ao surto atual no Par�. Os especialistas concordam que o sarampo parece ter "pulado" do Amazonas e encontrado no Estado vizinho toda uma popula��o vulner�vel. Em um contexto de baixa imuniza��o, a proximidade com dois Estados que tiveram rem anos recentes um alto n�mero de casos de sarampo deixou o Par� extremamente vulner�vel � doen�a.

"O grande n�mero de casos se deve a um bols�o de pessoas suscet�veis que se formou a partir das baixas taxas de vacina��o nos �ltimos anos", analisa o sanitarista Bruno Pinheiro, diretor do Departamento de Epidemiologia da Secretaria de Estado de Sa�de P�blica do Par�.

Vale dizer que o sarampo est� entre as doen�as mais contagiosas que afligem os seres humanos: um �nico indiv�duo infectado chega a transmitir o v�rus para outras 18 pessoas. A t�tulo de compara��o, estima-se que, na COVID-19, esse n�mero varie entre 2 e 3.

Ent�o, o que fazer?

Para conter o problema, nos �ltimos anos o Minist�rio da Sa�de e as secretarias estaduais fizeram extensas campanhas de vacina��o contra o sarampo.

O imunizante, conhecido como tr�plice viral por proteger contra os v�rus causadores de sarampo, caxumba e rub�ola, est� dispon�vel h� d�cadas no Sistema �nico de Sa�de a todos os brasileiros.

A recomenda��o � tomar duas doses. A primeira � dada quando o rec�m-nascido completa os 12 meses de vida. A segunda pode ser aplicada at� os 29 anos de idade.

Os surtos que se iniciaram no Brasil a partir de 2018 motivaram algumas altera��es nesse esquema vacinal: atualmente, os especialistas oferecem uma "dose zero" em beb�s que possuem entre 6 a 11 meses. "Essa � uma medida emergencial para garantir uma maior prote��o neste momento, mas as duas outras doses a partir do primeiro ano de vida continuam essenciais", diz Chaves.

Outra estrat�gia adotada foi refor�ar a prote��o dos adultos. A ideia � que as pessoas de 20 a 49 anos que n�o t�m carteirinha de vacina��o ou n�o sabem se tomaram a tr�plice viral no passado recebam uma dose da vacina ou completem o esquema de imuniza��o para ficarem resguardados.

As campanhas, por�m, apresentam resultados frustrantes. O Par� tinha como meta vacinar 3,4 milh�es de pessoas ao longo de 2020. At� o in�cio de novembro, apenas 26% do p�blico-alvo, ou cerca de 900 mil adultos, receberam suas doses.

A situa��o � ainda pior quando analisamos o pa�s como um todo. Entre o in�cio da mobiliza��o nacional contra o sarampo (iniciada no dia 16 de mar�o) at� 29 de outubro, 11,7 milh�es de brasileiros de 20 a 49 anos foram imunizados. Isso corresponde a 13% da meta.

Motivos para a baixa procura

Com o sucesso dos programas de vacina��o nas �ltimas d�cadas, a popula��o deixou de ver casos pr�ximos de sarampo e de outras doen�as infecciosas. "Havia uma percep��o de que esses problemas estavam controlado e de que n�o havia mais necessidade de se preocupar com eles", observa Chaves.

Essa menor percep��o de risco fez com que muitos pais deixassem de levar seus filhos aos postos de sa�de para completar a carteirinha de vacina��o.

Em paralelo, h� uma grande preocupa��o com os movimentos antivacina, que compartilham informa��es mentirosas sobre os imunizantes, desencorajando as pessoas a tomarem suas doses. Mas os especialistas acreditam que esse fator seja menos importante na realidade brasileira.

Por fim, n�o d� pra ignorar o impacto da pandemia neste contexto. "Muitos servi�os n�o essenciais tiveram suas atividades reduzidas por conta da COVID-19 e as pessoas ficaram com medo de ir at� o posto de sa�de para vacinar", acredita a infectologista.


Campanha de vacinação do Ministério da Saúde; taxas de imunização têm caído a níveis preocupantes no país
Campanha de vacina��o do Minist�rio da Sa�de; taxas de imuniza��o t�m ca�do a n�veis preocupantes no pa�s (foto: Valter Campanato/Ag Brasil)

Do ponto de vista das a��es estrat�gicas, o coronav�rus tamb�m dividiu muito as aten��es dos gestores de sa�de e exigiu que as equipes profissionais focassem no problema mais urgente. Isso, claro, levou a um descuido e a um descontrole de outras doen�as infecciosas.

Por meio de uma nota, a assessoria de imprensa do Minist�rio da Sa�de respondeu �s quest�es enviadas pela reportagem da BBC News Brasil e refor�ou a import�ncia da vacina��o contra o sarampo:

"O minist�rio afirma que tem ampliado as estrat�gias de conscientiza��o da popula��o, bem como a��es junto a profissionais de sa�de, com o objetivo de manter as altas e homog�neas coberturas vacinais e, consequentemente, reduzir os riscos de introdu��o e transmiss�o de doen�as imunopreven�veis no pa�s."

Desafio global

N�o � s� no Brasil que o sarampo virou preocupa��o. Em comunicado recente, a Organiza��o Mundial da Sa�de e o Centro de Controle e Preven��o de Doen�as dos Estados Unidos alertaram que essa doen�a matou 207 mil pessoas ao longo do ano passado. Esse n�mero aumentou 50% entre 2016 e 2019.

Ainda segundo o relat�rio, o n�mero de casos superou a marca de 869 mil, um recorde dos �ltimos 23 anos. As entidades pedem que os pa�ses reforcem suas campanhas e criem estrat�gias para conter os surtos locais.

O sarampo � uma doen�a transmitida por meio de got�culas de saliva que saem da boca e do nariz por meio da fala, de tosses, espirros ou pela pr�pria respira��o.

Trata-se de uma doen�a extremamente contagiosa que pode levar a complica��es graves e at� a morte, principalmente em crian�as com menos de cinco anos, em quem sofre de desnutri��o ou em indiv�duos com problemas de imunidade.


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