Gratid�o � saber se doar sem esperar nada em troca. Saber que ela n�o retorna na mesma propor��o do bem que � feito. Saber que ser grato n�o o far� imune aos problemas e obst�culos que vir�o pelo cami- nho. Mas ter a certeza de que pratic�-la o fortalecer� para lidar com todos os desafios da vida. E em 2020, em plena pandemia da COVID-19, com tudo o que este ano, que est� chegando ao fim, representa, os sentimentos de muitos podem estar confusos quanto ao praticar e receber a gratid�o.
Em meio � dor, perdas humanas e materiais, ao medo, inseguran�a sobre o futuro, solid�o, ansiedade, h� o outro lado. E uma maneira de enxergar o que estar por vir � com esperan�a, f� e, acima de tudo, sendo grato pelo simples fato de existir, de respirar. E consciente de que a gratid�o n�o � s� pelo que d� certo, mas por tudo que est� presente na vida de cada um. Com altos e baixos, dores e alegria.
Falar de gratid�o � o presente do Bem Viver aos leitores neste momento. A busca de palavras em depoimentos inspiradores para que todos possam seguir de p�, em frente, confiantes ainda que com derrapadas e deslizes. Uma estrada de m�o dupla, a gratid�o faz bem a quem pratica e recebe e � tudo que o mundo precisa neste momento, porque ela se materializa na forma de amor, compaix�o, solidariedade, amizade, cuidado, carinho, aten��o, enfim, um ato de nobreza.
“Gratid�o � reconhecer que mesmo em meio a tantas lutas, doen�as, vit�rias, conquistas, perdas, tristezas e alegrias a vida � um presente.” A declara��o de Cristiane Rosa Ferreira Val�rio, de 37 anos, analista de cr�dito, casada com Pedro Val�rio, de 40, e m�e de Rhamon, de 17, e Rhafael, de 8, � um sopro do saber viver para todos. A vida de Cristiane passou por uma transforma��o em 2020. Demitida do emprego em janeiro, cumprindo aviso-pr�vio, ela percebeu um incha�o no pesco�o. Ap�s fazer v�rios exames, foi diagnosticada com linfoma n�o Hodgkin, logo no in�cio da pandemia.
Depois de encarar o duro tratamento do c�ncer em meio � COVID-19, Cristiane Rosa conta que, mesmo tendo de lidar com a interna��o, as consequ�ncias da sua doen�a e o risco do novo coronav�rus e encarar uma crise de p�nico, segue otimista. Claro, confessa, tinha medo, receio de se contaminar, o que seria fatal, j� que n�o tinha defesas no corpo. Mas apesar de ter tido de usar sonda g�strica, perder os cabelos, via casos da COVID-19 chegando ao hospital, n�o podia receber visitas, apenas um acompanhante fixo, e mesmo diante de todas as dificuldades n�o perdeu a f�. F� respons�vel pela sua cura conquistada em outubro. “Hoje, passado o vendaval, vejo o quanto fui aben�oada por Deus neste ano em que tantas pessoas perderam seus entes queridos, muitos deles saud�veis, sem nenhum problema. Venci o c�ncer e agora vou vencer a pandemia.”
MOMENTOS DIF�CIES PASSAM
Para a professora Roberta Guimar�es de Mendon�a, de 50, “gratid�o � reconhecer que a vida � um presente e que devemos agradecer todos os momentos. Por mais dif�ceis que sejam, eles ir�o passar”. Ela tamb�m superou um dos maiores desafios da sua vida em 2020. Passou por 16 sess�es de quimioterapia e 15 de radioterapia, entre fevereiro e outubro, depois de ser diagnosticada com um tumor na mama direita que atingiu a axila. “N�o vou negar que tive medo, principalmente neste contexto de pandemia, mas, ao mesmo tempo, me propus a enfrentar tudo que fosse preciso. Na r�dio, ficava sozinha na sala. J� na qu�mio, tinha com quem conversar, o que era �timo porque adoro falar, ter contato com gente.
Ent�o, transformava o tratamento em um evento. Separava minha roupinha para ir ao m�dico, j� que entendia que estava indo em busca da minha cura, logo tinha que estar linda. A ocasi�o era especial. � l�gico que os medicamentos trazem muitas rea��es para o corpo, mas n�o h� dor que n�o se resolva.”
Tamb�m presenteada com a gra�a da cura em outubro e livre do c�ncer, Roberta revela que deste 2020 quer levar apenas a sua hist�ria de supera��o, que a transformou em uma nova Roberta. “Antes do c�ncer, era medrosa, um pouco t�mida e agora sou destemida. Meus filhos costumam dizer que estou em outro plano. Eu me apeguei a todos os mecanismos para controlar a situa��o e encerrar este cap�tulo da minha vida de forma vitoriosa.”
RECONHECER A GRA�A
Para a psic�loga Adriane Pedrosa, que faz parte do corpo cl�nico do Cetus Oncologia, e acompanhou tanto Cristiane quanto Roberta, a supera��o dessas duas mulheres ressalta a import�ncia de sermos sempre gratos � vida, sem jamais sucumbir, mesmo quando tudo pare�a dif�cil. “Se para n�s, saud�veis, o ano foi dif�cil, imagine para elas, que, al�m do medo da COVID-19, tinham que lidar com outra doen�a, com diagn�stico confirmado. �s vezes, valorizamos coisas t�o banais e, com isso, nos perdemos dos pequenos, mas preciosos, detalhes, como observar o voo de um p�ssaro ou mesmo o caminhar de uma formiga. Tenho certeza de que isso tudo se tornou grande para as duas depois das lutas que enfrentaram. Elas mostraram o verdadeiro sentido da palavra esperan�a. Viveram a dor confiando sempre no amor”, afirma.A beleza da gratid�o � que � poss�vel aprender e compartilhar. Fil�sofo e doutor da Igreja Cat�lica, S�o Tom�s de Aquino escreveu o Tratado da gratid�o, em que define tr�s n�veis: no primeiro, mais superficial, est� o reconhecimento da gra�a por uma atitude. A gratid�o em si. No segundo, intermedi�rio, � a sensa��o de gratid�o por ter recebido uma ajuda espont�nea; vai al�m da simples manifesta��o de gratid�o, mantendo-se a perman�ncia desse sentimento. No terceiro e profundo � a retribui��o da gra�a recebida, n�o por obriga��o, mas para permitir que outras pessoas experienciem o mesmo sentimento. � se comprometer com quem lhe fez o favor ou a boa atitude, representa um n�vel de vincula��o. O desejo do Bem Viver � que cada um escolha ser grato na vida em todas as inst�ncias.