“N�s podemos descobrir o significado da vida de tr�s diferentes maneiras: fazendo alguma coisa, experimentando um valor ou o amor, e sofrendo. Quando a situa��o for boa, desfrute-a. Quando a situa��o for ruim, transforme-a. Quando a situa��o n�o puder ser transformada, transforme-se.” O ensinamento � de Viktor Frankl, judeu, m�dico neuropsiquiatra, sobrevivente dos campos de concentra��o da Alemanha nazista, fundador da logoterapia e da an�lise existencial, abordagens psicoter�picas desenvolvidas em Viena, posteriores � psican�lise de Sigmund Freud.
Viktor Frankl talvez seja o melhor exemplo para o homem do saber viver o lado bom do lado ruim. A prova est� no seu livro Em busca de sentido, de 1946, em que retrata suas experi�ncias como detento em um campo de concentra��o. Depois de anos sob condi��es terr�veis, ele sobreviveu e criou outra vida.
� a partir de seus ensinamentos que a psic�loga cl�nica Maria Clara Jost, p�s-doutora e doutora em psicologia, especialista em filosofia e psicoterapia fenomenol�gico-existencial, professora da Faculdade de Ci�ncias M�dicas de Minas Gerais (FCMMG) e s�cia da Tip Cl�nica, analisa o que � enxergar os aspectos bons de situa��es dif�ceis. “O ser humano � o �nico capaz de descobrir as possibilidades que a vida apresenta. � quem pode se posicionar e sempre de maneira diferente e surpreendentemente diante das circunst�ncias”, diz.
Maria Clara Jost enfatiza que o as pessoas tendem a tomar atitudes radicais e extremistas. Ou � tudo bom ou tudo ruim, excluindo a outra possibilidade. “Na vida, o bom e o ruim v�m juntos, como na natureza. N�o � s� dia de sol ou s� de chuva. H� momentos de cor, de vitalidade, de brilho, assim como de tonalidades cinzas e fechadas. Em termos de sentimentos e emo��es, tudo isso aparece a partir dos acontecimentos e situa��es do cotidiano, nem sempre tem de ser um grande evento.”
Na vida, o bom e o ruim v�m juntos, como na natureza. N�o � s� dia de sol ou s� de chuva. H� momentos de cor, de vitalidade, de brilho, assim como de tonalidades cinzas e fechadas. Em termos de sentimentos e emo��es, tudo isso aparece a partir dos acontecimentos e situa��es do cotidiano
Maria Clara Jost, psic�loga cl�nica e professora da Faculdade de Ci�ncias M�dicas de Minas Gerais
Por isso, alerta Maria Clara Jost, como o bom e ruim andam juntos, � necess�rio procurar viver o equil�brio, que � o ponto-chave. Para a psic�loga, conquistar esta balan�a est� ligado a como cada um se posiciona. E n�o � sobre o que acontece, mas como a pessoa se impacta e se posiciona diante dos acontecimentos. “� o que chamamos de se conhecer. Como reagir diante das circunst�ncias. N�o para se acomodar, mas para se tornar mais inteiro e �ntegro.”
A psic�loga refor�a que toda situa��o tem possibilidades e desafios. “O crescimento envolve um treino de posicionamento ou reposicionamento diante da vida o tempo todo. Qual pergunta a vida est� fazendo? Qual resposta pode dar? E digo que n�o � f�cil”, afirma.
Sobre outro aspecto, Maria Clara Jost alerta sobre o risco e a armadilha, n�o s� das pessoas, mas inclusive de especialistas, com a tend�ncia de problematizar tudo, de apontar o adoecimento, falar que � negacionismo. At� porque, n�o � uma postura equilibrada. H� pessoas que se posicionam e isso n�o � negar.
“E, de fato, as pessoas que se posicionam t�m mais energia mesmo. Quem enfrenta uma doen�a toma provid�ncias, puxa energia para o sentido da melhora. Quem se entrega, adoece mais. N�o que estejam ligados, n�o � nivelar por baixo. Mas a postura de enfrentamento diante da vida: sucumbir ou enfrentar. Quem encara tem mais energia f�sica e emocional.”
UM PESO PARA CADA SITUA��O
A psic�loga Maria Clara Jost alerta que, como o bom e ruim andam juntos, � necess�rio procurar viver o equil�brio (foto: Arquivo Pessoal)
A psic�loga avisa que � necess�rio aprender a colocar o devido peso para cada situa��o. H� momentos bons com dificuldades, os dif�ceis e a chance de crescer sempre. Maria Clara Jost enfatiza que emo��o � energia e for�a. Agora, se ela � destrutiva, pode destruir a pessoa. Uma situa��o � a raiva que gera subst�ncias qu�micas que s�o negativas para o corpo.
A outra � a raiva que faz enfrentar, arrega�ar a manga e ter o empuxo, a raiva que ajuda. E o ser humano se sente mais capacitado ao enfrentar e vencer as dificuldades, os momentos ruins do que quando n�o encara nenhuma dificuldade. Isso, em qualquer idade, � do ser humano. � da liberdade, explica.
O que faz a psic�loga traduzir essa capacidade em uma de suas m�sicas preferidas: O que �, o que �?, de Gonzaguinha: “Viver/E n�o ter a vergonha de ser feliz/Cantar e cantar e cantar/A beleza de ser um eterno aprendiz/ Ah meu Deus/Eu sei, eu sei/Que a vida devia ser bem melhor e ser�/Mas isso n�o impede que eu repita/� bonita, � bonita e � bonita”.
PAZ E LEVEZA
Quem certamente concorda com a letra da can��o de Gonzaguinha � a empres�ria Juliana Junqueira, de 47 anos, s�cia-diretora da Acttio Engenharia e Gest�o, que acredita que ver o lado bom da vida mesmo nos momentos ruins faz parte da sua personalidade: “Procuro sempre aprender com as situa��es e seguir o exemplo de pessoas mais experientes. Acho que a situa��o que mais me marcou foi uma vez em que ajudei na log�stica de um tio-av� a voltar para casa, porque a casa dele tinha sido invadida. Os ladr�es levaram tudo e violentaram a nora dele”.
A empres�ria Juliana Junqueira alerta que existem momentos que parecem sem sentido, ruins, mas depois percebe-se que houve algo positivo (foto: Arquivo Pessoal)
Ela conta que quando ele entrou no carro, estava mudo, sem saber o que dizer. “Para minha surpresa, foi ele quem disse: 'Oi, minha querida, n�o precisava ter este trabalho de me buscar. Eu poderia ter resolvido isto. Na realidade, estou voltando nesta pressa toda para acalmar minha fam�lia. Fomos os escolhidos para mostrar � comunidade que nossa cidade n�o � mais tranquila como antigamente, e que as autoridades precisam, urgentemente, agir para voltarmos a morar no para�so'. E com essa calma toda ele voltou para casa olhando o lado positivo da situa��o. Na ocasi�o, ele tinha 75 anos; este ano, vamos comemorar os 92 anos dele.”
Juliana revela que j� vivenciou situa��es em que aprendeu que nada � por acaso. “Existem momentos que parecem sem sentido, ruins, que n�o merecemos. Mas l� na frente conseguimos perceber o porqu� daquela viv�ncia e o que ela trouxe de positivo. Em 1º de janeiro de 2015, quebrei os dois p�s. Foram 45 dias praticamente de cama, dependendo das pessoas para pegar um copo de �gua, pois minha casa n�o era adaptada para cadeirante. Hoje, posso escrever um livro descrevendo o aprendizado de cada dia daquele momento e o quanto foi importante para a minha vida pessoal e profissional.”
Para Juliana, ao ver o lado bom do ruim, ela ganha “paz”. E conta que quem entende que mesmo em momentos ruins podem existir coisas boas, vive mais em paz e, consequentemente, mais leve.
“A mente comanda o corpo. N�o significa que n�o tenho problemas, que n�o fico triste, que n�o sofro, mas n�o deixo situa��es ruins tomarem conta dos meus pensamentos. Sempre acordo acreditando que o dia de hoje vai ser melhor que o de ontem e pior que o de amanh�. Por exemplo, para a minha sa�de mental, com todo meu respeito �s fam�lias das v�timas da COVID-19, e tomando todos os cuidados recomendados pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), durante este per�odo de pandemia procurei focar mais nos n�meros dos infectados que se curaram do que no n�mero de �bitos.”
E quem carrega peso o tempo todo? N�o consegue equilibrar as cargas da vida? Para Juliana, n�o � f�cil mudar uma pessoa negativa. “At� porque, na maioria das vezes, elas atraem coisas ruins o tempo todo. Sempre tento provoc�-las para instig�-las a perceber e focar no que existe de positivo nas situa��es, pois concentrando no que h� de bom parece que o que h� de ruim minimiza. � um exerc�cio que precisa ser praticado.”
Juliana conta que no dia a dia da empresa, que atua nas �reas de engenharia e gest�o, lida com situa��es dif�ceis ligadas � sobreviv�ncia da Acttio, num mercado ultracompetitivo, com imprevistos indesej�veis e uma press�o enorme de prazos e efic�cia impostos pelo mundo corporativo. “Para enfrentar todas as situa��es e garantir a sa�de emocional, � preciso dar uma pausa, respirar fundo e buscar motiva��o positiva para inspirar a equipe envolvida, sempre insistindo na manuten��o do bom humor”, diz.
Essa pr�tica desanuvia a press�o, neutraliza bloqueios, restaura a energia e at� desperta a criatividade para encontrar solu��es para os problemas. Segundo ela, � como se diz na sabedoria popular: “Fazer do lim�o uma limonada” e, �s vezes, at� uma caipirinha. “Outra pr�tica que Juliana procura fazer �, no momento ruim, parar para agradecer as coisas boas, que podem ser da situa��o ou n�o. Ajuda muito.