Veja o lado bom da vida mesmo diante de situa��es ruins: faz bem � sa�de (foto: Hybrid/Unsplash)
Tudo na vida tem dois lados com v�rios caminhos. E o livre-arb�trio para decidir para aonde ir. Assim � a vida, assim s�o os sentimentos. Por isso, tudo que � ruim, tamb�m tem o lado bom. �s vezes vis�vel no calor da emo��o, outras somente com o distanciamento. Saber da exist�ncia dos dois lados � ter a sabedoria para aprender com cada momento. Os dias ruins, as trag�dias, as perdas, o sofrimento, a incompreens�o, a raiva, a injusti�a, as acusa��es, o medo, o desamor, as car�ncias, as feridas, enfim, todos os obst�culos funcionam como um alarme para o corpo e t�m de ser ouvidos, tanto maior for o inc�modo.
O psiquiatra Daniel Martins de Barros, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (FMUSP) e m�dico do Instituto da Psiquiatria do Hospital das Cl�nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (IPq/HCFMUSP), doutor em ci�ncia e fil�sofo, lan�ou o livro O lado bom do lado ruim (editora Sextante), que provoca e alerta que, apesar de as pessoas serem ensinadas desde cedo que o correto � estar feliz o tempo todo, isso as faz desvalorizar as emo��esnegativas.
A rea��o � querer neg�-las, sufoc�-las, elimin�-las do caminho. Ele mostra que as emo��es desagrad�veis n�o s�o sons inc�modos que devem ser silenciados, mas alertas preciosos para chamar a aten��o para algo mais profundo que n�o vai bem na vida. Ele mostra como a ci�ncia ensina a usar a tristeza, o medo, a raiva e outras emo��es negativas a seu favor.
O m�dico psiquiatra Daniel Martins de Barros alerta que na vida existem coisas que s�o p�ssimas, tr�gicas, para as quais tentar ver um lado bom s� aumenta o sofrimento (foto: Arquivo Pessoal)
Daniel Martins de Barros explica que “na vida existem coisas que s�o p�ssimas, tr�gicas, para as quais tentar ver um lado bom s� aumenta o sofrimento. O livro trata especificamente das emo��es negativas, esse lado ruim da nossa vida afetiva. E elas sim, sempre t�m algo de �til para n�s, por mais que sejam desagrad�veis”.
Por isso, at� mesmo no cap�tulo do livro que trata da alegria e das emo��es positivas, o m�dico psiquiatra mostra que nem sempre elas s�o t�o boas assim, por mais gostosas que sejam. �s vezes, simplesmente admitir que o copo est� meio vazio e acolher esse lamento � mais reconfortante do que insistir em ver o lado meio cheio.
Daniel Martins de Barros afirma que o ser humano tem tend�ncia a ver primeiro o lado negativo, at� para se proteger. “Isso pode virar um h�bito arraigado e prejudicial. Fazer o exerc�cio de buscar coisas boas ao nosso redor e not�-las, seja em que contexto for, pode ajudar nesse sentido (o de espantar o pessimismo).”
Lamentar e aprender
A express�o popular “se a vida te der um lim�o, fa�a uma limonada” � repetida (e seguida) por muitos como uma filosofia para superar as adversidades da vida. Al�m de falar que o sofrimento faz crescer e ensina. “Do meu ponto de vista, a vida n�o traz as coisas para dar li��es ou para promover o crescimento, as coisas simplesmente acontecem. O que muda � nossa postura: � poss�vel se lamentar e ficar s� nisso, mas � poss�vel se lamentar e tirar algum aprendizado daquilo tudo. Muitas vezes, depende de n�s.”
Para isso, � necess�rio aprender a lidar com sentimentos como tristeza, medo, raiva, culpa, derrota e tantas outras emo��es negativas. Daniel Martins de Barros sugere que o primeiro passo � aprender a aceitar essas emo��es. “Nossa sociedade nos encaminha para uma dire��o ruim, querendo negar ou calar tais sentimentos. Isso � p�ssimo, pois deixamos de receber a mensagem que cada uma delas pode nos trazer. A partir da�, compreender a fun��o dessas emo��es, a raz�o de sua exist�ncia, � o segundo passo para lidar bem com elas.”
Diante desta armadilha da sociedade contempor�nea que tudo tem de estar bem, o m�dico psiquiatra se inquietou para escrever o livro: “Ficava incomodado com a mania de querermos superar as emo��es negativas, nos livrar definitivamente delas. Se elas existem, se se perpetuam em nosso c�rebro, � porque t�m alguma fun��o. Foi a partir da� que surgiu a ideia, e acredito que � uma liberta��o para o leitor aceitar suas emo��es como naturais”.
Daniel Martins de Barros destaca que o otimismo tem seu lado bom, mas pode tamb�m ser uma cadeia. “Estudos mostram que pessoas otimistas conseguem ter uma qualidade de vida melhor, mas tamb�m superestimam suas pr�prias capacidades, o que pode ser frustrante. Otimismo e pessimismo tamb�m precisam de um balan�o.”
Assim, como todos exibem e exaltam as boas coisas da vida, n�o � para jogar para debaixo do tapete as ruins, as emo��es desagrad�veis. Esconder o sofrimento n�o � a melhor sa�da ou solu��o. “Essa pr�tica prejudica a capacidade de discriminar as emo��es, de saber exatamente o que est� sentindo, o que dificulta atuar para resolver, de fato, o problema. Tal dificuldade est� associada a mais sofrimento e at� mesmo com a depress�o. As emo��es negativas n�o precisam de ajuda para entrar em a��o no dia a dia. Alguns livros tentam ensinar a deslig�-las, mas meu objetivo � o oposto: espero que ele nos ajude a estar mais atentos a esses alarmes, e que possamos compreender os avisos que eles est�o nos dando.”
Sentimento prim�rio
1 – Tristeza: uma das grandes vantagens � nos tornar mais reflexivos.
2 – Medo: depois de passar tanto medo, as preocupa��es do dia a dia parecem menores. Sabe aquela sensa��o que temos quando resolvemos sair da piscina porque estamos com frio, mas o vento gela a pele e ent�o corremos de volta para
a �gua, que agora parece at� agrad�vel?
� mais ou menos a mesma coisa. O medo sinaliza amea�as antes de acontecerem e
reduz o excesso de autoconfian�a.
3 – Raiva: restabelece a hierarquia, se usada com cautela, e sinaliza injusti�as.
Fonte: M�dico psiquiatra Daniel Martins de Barros
Livro do m�dico psiquiatra Daniel Martins de Barros mostra o lado bom do lado ruim (foto: Arquivo Pessoal)
Para ler
Obra: O lado bom do lado ruim
Autor: Daniel Martins de Barros
Editora: Sextante
N�mero de p�ginas: 160
Pre�o sugerido: R$ 39,90 / R$ 24,99 (e-book)
Aceitar a realidade: tempestades e calmaria
Aceitar aplaca o sofrimento, os dias ruins, os sentimentos conflituosos. Uma sa�da para abrandar, desarmar, serenar, suavizar, moderar. Essa � a proposta do psic�logo Marco Ant�nio Lobo, coordenador do programa da maturidade da Est�cio Belo Horizonte: “A primeira atitude � a aceita��o. Aceitar a realidade e o que ocorreu � o primeiro passo para a busca da mudan�a. O que j� aconteceu n�o tem volta. Mas sabemos que isso � muito dif�cil, porque normalmente as atitudes s�o tomadas por meio de lamenta��es e vitimiza��es. A resili�ncia (capacidade de sair de situa��es adversas dando a volta por cima e ressignificando com atitudes positivas) est� presente em algumas pessoas e em outras n�o”.
Marco Ant�nio Lobo, psic�logo e coordenador
do programa da maturidade da Est�cio-BH, diz que ser otimista tem a ver com tra�os da personalidade (foto: Arquivo Pessoal)
Marco Ant�nio Lobo recomenda: “Aceite os lim�es”. Para o psic�logo, “o in�cio de um trabalho de autoconhecimento e uma terapia, com um profissional especializado, � fundamental na busca de um equil�brio para aprender e saber lidar com as situa��es ruins. N�o tenha medo das tempestades, sen�o voc� nunca navegar� pelos mares desconhecidos.
A maturidade, a velhice tem muito a ensinar sobre aceitar a vida como ela �: “Pesquisas apontam que idosos t�m uma vis�o mais otimista da vida. Importante saber se eles tiveram uma vida equilibrada ao longo do seu desenvolvimento com h�bitos saud�veis. As pessoas maduras v�o vivenciar emocionalmente situa��es negativas de acordo com o que foi vivido ao longo da vida. Tudo � resultado de como ela viveu a inf�ncia, a adolesc�ncia e o in�cio da fase adulta”.
Para o psic�logo, n�o enxergar o lado bom do lado ruim n�o tem a ver com a autopuni��o, ingratid�o ou, para muitos, vitimiza��o, coitadinho e mimimi: “O otimista � aquele que sempre v� o lado bom das coisas diante das situa��es da vida. Isso tem a ver com os tra�os da personalidade. Importante ressaltar que cada caso � um caso e as atitudes tomadas s�o consequ�ncias do jeito de ser de cada indiv�duo”.