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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Livros: ant�doto contra a solid�o

Pesquisa da Universidade de Sussex, na Inglaterra, mostra que a pr�tica da leitura reduz em aproximadamente 70% o estresse


11/04/2021 04:00 - atualizado 11/04/2021 14:02

Jornalista Deborah Almeida é leitora voraz e destaca que sua mãe lia para ela antes mesmo de nascer(foto: Arquivo Pessoal)
Jornalista Deborah Almeida � leitora voraz e destaca que sua m�e lia para ela antes mesmo de nascer (foto: Arquivo Pessoal)


“A arte inventa a realidade. Os poemas de Fernando Pessoa, Drummond, Jo�o Cabral s�o um acr�scimo � vida. Eles n�o existiam antes, ent�o, voc� l� um poema desses, decora, aumentou um pouquinho a sua vida.” A fala de Ferreira Gullar, um dos maiores poetas que o Brasil j� teve, � cir�rgica ao nos lembrar do poder da literatura e dos livros.

A leitura sempre foi e, na pandemia da COVID-19 com o isolamento social, se tornou ferramenta ainda mais poderosa para equilibrar o bem-estar da psique humana. O livro � um amigo que nunca o abandona, sempre estar� presente quando o procurar e jamais o deixar� s�.

A leitura � t�o fundamental para a sanidade que existe a terapia pelos livros, a chamada biblioterapia, que existe desde a Antiguidade e j� era praticada no Egito dos fara�s, na Gr�cia e na Roma antigas. No in�cio do s�culo 20, com a comprova��o cient�fica dos resultados obtidos no tratamento dos feridos na Primeira Guerra, ela ganhou o status de ci�ncia.

Desde ent�o, seu uso foi ampliado e a terapia pelos livros vem sendo empregada em servi�os p�blicos da �rea social, sa�de e educa��o em diversas partes do mundo. Al�m do custo baixo, seus resultados s�o r�pidos e eficazes e o �nico efeito colateral �: pessoas que descobrem o prazer da leitura em qualquer tempo da vida n�o querem parar mais de ler.
 
Mikhael Rodarte, de 24 anos, estudante de engenharia mec�nica na Universidade Federal de S�o Jo�o del-Rei (UFSJ), confessa que se tornou um leitor a partir das imposi��es da COVID-19. Antes, lia pouco, de um a dois livros por ano.

"Na pandemia, tomei a decis�o de ser o mais produtivo poss�vel a partir da leitura e de cursos on-line. Separei de tr�s a quatro horas do meu dia para ler. Para me incentivar, comecei com a releitura de “Harry Potter”, os sete volumes, e depois passei a investir em livros de assuntos do meu interesse: comportamento humano, linguagem corporal e linguagem fria (n�o verbal), programa��o neurolingu�stica (PNL), porque gosto de conversar, lidar com pessoas e de entender o outro.”

Mikhael Rodarte, estudante de engenharia mecânica, decidiu na pandemia se tornar um leitor assíduo(foto: Arquivo Pessoal)
Mikhael Rodarte, estudante de engenharia mec�nica, decidiu na pandemia se tornar um leitor ass�duo (foto: Arquivo Pessoal)
Conhecimento importante tamb�m profissionalmente, acrescenta, j� que � vendedor em uma loja de ve�culos e precisa lidar com os clientes. “Quando me cansei desses temas, mudei para mercado financeiro, bolsa de valores, fundo imobili�rio, porque quero mudar minha cabe�a em rela��o ao dinheiro. Pensando no futuro, j� que n�o sei se vou me aposentar.”

At� a semana passada, Mikhael, que se recuperou da COVID-19 que teve h� um m�s, enfrentando dor de cabe�a, febre, perda do olfato e do paladar, j� tinha lido 50 livros: “Compro todos, sempre o livro f�sico porque n�o gosto de ler no celular ou Kindle, e tenho muito ci�me deles. Na minha estante j� tenho 100 obras e todo m�s reservo R$ 100 do meu sal�rio para comprar livros”.

O futuro engenheiro revela que ler foi uma decis�o particular, j� que sua m�e, Elza, sempre leu muito e o incentivou desde pequeno, mas n�o amava ler. A tia, professora de reda��o, falava da import�ncia da leitura, em sua casa via seus livros e at� se surpreendia. Mas s� agora entendeu. No momento, sua miss�o � despertar na namorada, L�dia, o prazer pela leitura: “Leio sempre perto dela, percebo que tem vontade, mas ainda falta for�a de vontade”.
 

Leitora voraz

Neurocientista e psicóloga Fernanda Rocha avisa que apesar de o cérebro não ser um músculo, é essencial mantê-lo em atividade. A leitura é um exercício (foto: Arquivo Pessoal)
Neurocientista e psic�loga Fernanda Rocha avisa que apesar de o c�rebro n�o ser um m�sculo, � essencial mant�-lo em atividade. A leitura � um exerc�cio (foto: Arquivo Pessoal)

 
J� a jornalista Deborah Almeida, de 23, � uma leitora voraz: “Desde que me entendo por gente. Minha m�e lia para mim enquanto ainda estava na sua barriga ‘O menino m�gico’, de Rachel de Queiroz. Antes de aprender a ler, ela lia para mim e gostava tanto que cheguei a decorar as hist�rias do 'O bonequinho doce', 'A bonequinha preta' e 'O vestido que o vento leva'. E depois que passei a ler, livro � o que mais compro na vida. Meus pais sempre leram muito, me ensinaram e vou seguir pela vida. Na escola, era pr�xima da bibliotec�ria e em vez de levar para casa um livro por semana, ela me deixava levar quantos quisesse, j� que queria ler muito e meus pais n�o tinham como me atender. Ali�s, livro � meu presente preferido. Se perguntam, j� passo minha lista da Amazon”.
 

Levo um livro na bolsa para todos os lugares. Se fico entediada, ele me salva. Os livros sempre foram meus amigos e uma forma de sair da realidade. Leio muito e ainda mais na pandemia

Deborah Almeida, de 23 anos, jornalista

Para uma leitora �vida, � dif�cil escolher o livro ou autor da vida. Mas Deborah destaca predile��es, dependendo da fase. Crian�a, adolescente, ela se lembra dos livros “Poderosa”, de Sergio Klein, e “O di�rio da princesa”, de Meg Cabot – sua cachorra, ali�s, se chama Meg. Depois, passou para os romances e, atualmente, � arrebatada por romances policiais. A s�rie “Millennium”, do sueco Stieg Larsson, � um dos preferidos.

J� que falta espa�o em casa para tantas obras, o Kindle e troca de edi��es em sebos tem sido a sa�da: “Levo um livro na bolsa para todos os lugares. Se fico entediada, ele me salva. Livros sempre foram meus amigos e uma forma de sair da realidade. Leio muito e ainda mais na pandemia. Leio por prazer, para estudar e buscar conhecimento. De autobiografia, que gosto muito, como a da Rita Lee, at� obras de sociologia e de movimentos feministas de v�rias vertentes”.

Para extravasar todo o encantamento que tem pelos livros, Deborah � colaboradora do blog de literatura Leio na rede (https://leionarede.com/blog), fundado em 2014, publicando resenhas que compartilham o amor pela literatura, ao lado das amigas Gabrielle Monteiro e Erica Morato.


Reserva cognitiva 


A leitura � uma ferramenta de preven��o para manter a sa�de equilibrada, assim como de tratamento. A neurocientista e psic�loga Fernanda Rocha, especialista em neuropsicologia e terapia cognitivo comportamental (TCC), explica que na neuropsicologia h� um conceito que descreve a capacidade que o c�rebro tem de suportar danos sem apresentar perdas funcionais. � a chamada reserva cognitiva.

Segundo ela, esse conceito surgiu na d�cada de 1990 a partir da observa��o de casos graves de acidentes vasculares em que os pacientes n�o apresentavam grandes perdas cognitivas ou comportamentais a despeito do tamanho da les�o adquirida.

Posteriormente, pesquisadores descobriram que em outras patologias cerebrais, como as dem�ncias, esclerose m�ltipla, epilepsias e at� alguns transtornos psiqui�tricos, o mesmo efeito acontecia. O que os pacientes tinham em comum eram pr�ticas constantes durante a vida de atividades que exigiam empenho cognitivo, ou em outras palavras “esfor�o mental”.

Entre as associa��es conhecidas por criar essa reserva cognitiva est�o a leitura, a alta escolaridade, o coeficiente de intelig�ncia e atividades que envolvem algum tipo de racioc�nio.
 
Entre as associações conhecidas por criar a reserva cognitiva estão a leitura, a alta escolaridade, o coeficiente de inteligência e atividades que envolvem algum tipo de raciocínio(foto: Lacie Slezak/Unsplash)
Entre as associa��es conhecidas por criar a reserva cognitiva est�o a leitura, a alta escolaridade, o coeficiente de intelig�ncia e atividades que envolvem algum tipo de racioc�nio (foto: Lacie Slezak/Unsplash)
Fernanda Rocha destaca que � poss�vel fazer um paralelo com a muscula��o. “Apesar de o c�rebro n�o ser um m�sculo, mant�-lo em atividade n�o s� o preserva de males pontuais (deixando-o 'em forma'), mas tamb�m o protege no futuro, quando os efeitos do envelhecimento saud�vel ou patol�gico estar�o batendo � porta. Portanto, recomendo boas leituras.”

A neurocientista e psic�loga enfatiza que a pr�tica da leitura em particular parece ter um efeito para al�m da reserva cognitiva, do aumento de conhecimento e do vocabul�rio. Pesquisa feita pela Universidade de Sussex, na Inglaterra, mostrou que a pr�tica da leitura reduziu em aproximadamente 70% o estresse dos indiv�duos participantes, tanto em medidas subjetivas de percep��o do estresse quanto em medidas de press�o arterial e tens�o muscular.

“Em psicoterapia, uma das t�cnicas muito usadas para ensinar pacientes sobre os problemas que eles apresentam � a chamada psicoeduca��o, que envolve como pr�tica a indica��o de leituras sobre diversos temas da sa�de mental. Hoje, temos t�tulos dispon�veis � popula��o em geral. Eles podem ensinar estrat�gias de enfrentamento da ansiedade, da depress�o, do estresse, da obesidade, como ser produtivo em home office, como ter uma vida com valor, entre outros temas t�o importantes em tempos de pandemia.”

Se ainda n�o descobriu esse universo para se jogar, o primeiro passo para abrir um livro e come�ar a ler � come�ar pelo que gosta, escolher um assunto que lhe interessa. A leitura � uma fonte de prazer. Tomada esta atitude, muitos efeitos vir�o em seguida, uma lista repleta s� de ganhos pessoais, emocionais, sentimentais e cognitivos. Da “B�blia” a “Harry Potter”, o importante � se entregar � leitura.






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