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Estado de Minas PANDEMIA

Bebidas alco�licas s�o 'porta de entrada' para a depend�ncia na juventude

Especialistas d�o dicas de como 'driblar' a vontade de consumir �lcool em excesso durante o isolamento social


16/04/2021 13:30 - atualizado 16/04/2021 14:35

(foto: Pixabay)
Isolamento social, nada de festas, baladas e/ou encontros entre amigos. O lazer, de repente, migrou todo e exclusivamente para a tela do celular ou para o conv�vio com familiares. Uma mudan�a dr�stica na vida de adolescentes – faixa et�ria em que o contato social � cada vez mais essencial. Com isso, foi preciso aprender a se divertir de outra forma e a bebida alc�olica, antes vista como divertimento social, passou a ser considerada como alento e companheira de quarentena. 

N�o � toa, de acordo com dados recentes, divulgados pela Organiza��o Pan-Americana de Sa�de (Opas), o consumo de bebidas alc�olicas por jovens canadenses apresentou um crescimento de cerca de 10 pontos percentuais, saltando de 20,6% para 30,1%, durante o per�odo de pandemia de COVID-19

“Os jovens realmente t�m bebido mais frequente e intensamente durante a pandemia. Acredito que seja porque as op��es de lazer fora de casa, passeios e encontros para jogos e festas est�o limitadas, e os jovens t�m tend�ncia maior ao imediatismo e intoler�ncia maior � paci�ncia, espera e resili�ncia. Eles t�m, tamb�m, uma demanda de curiosidade e novidade, e a frustra��o gera, muitas vezes, a necessidade de entorpecimento, ‘anestesia’ e gratifica��o. Nesse caso, a bebida alco�lica � a fonte mais r�pida de ativa��o de dopamina.” 

� o que explica Guilherme �lvares Cabral, psiquiatra da Cl�nica Mangabeiras. Ele, inclusive, relatou o aumento de jovens e familiares em busca de ajuda para tratar e falar sobre alcoolismo, haja vista o aumento de consumo de bebidas alco�licas, em seu consult�rio.

“O �lcool acaba sendo de f�cil acesso, e eles bebem dentro de casa, na casa de um outro amigo que chama para casa com os cuidados ou at� mesmo em encontros virtuais em que cada um faz brindes de sua casa. � bastante preocupante, porque s�o adolescentes que ainda n�o tem uma maturidade neurol�gica em rela��o ao consumo t�o regularmente de �lcool”, afirma o especialista.  

O estudante de direito Pablo, aqui citado com nome fict�cio, de 20 anos, � um desses jovens que tem percebido um aumento em seu consumo de bebidas alco�licas desde o in�cio da pandemia de COVID-19 e a consequente necessidade de praticar o distanciamento social. “Antes, j� bebia nos fins de semana, por�m, com o isolamento, o encontro com meus amigos e as festas acabaram. Na falta do que fazer nos fins de semanas, comecei a beber sozinho para matar o tempo e o t�dio. Algo que foi se intensificando com a evolu��o da pandemia.” 
  
Desde ent�o, Pablo passou a beber cervejas tamb�m nos dias de semana, o que, para ele, se tornou uma preocupa��o para a sa�de no futuro. “A situa��o que estamos vivendo j� causa grande impacto na nossa sa�de mental por si s�. Mas, geralmente ap�s eu ter bebido muito em alguma ocasi�o, acabo por me sentir culpado e ainda mais ansioso. No quesito da sa�de f�sica, sinto que estou um pouco mais fora de forma, apesar de praticar exerc�cios regularmente. E tenho medo, pois tenho no��o que esse h�bito de beber pode ser muito nocivo a longo prazo”, conta o jovem. 

Alcoolismo x sa�de mental 


O alcoolismo � considerado como uma doen�a mental, conforme apresentando por Guilherme �lvares Cabral. Justamente por isso as quest�es psicol�gicas e psiqui�tricas do indiv�duo podem correlacionar com o quadro de exagero do consumo de �lcool.  

“Pessoas portadoras de transtorno de ansiedade e depress�o podem buscar al�vio de seus sintomas, que podem ser gravar na pandemia, no �lcool. E tenho recebido casos assim no consult�rio, pessoas que nunca beberam est�o bebendo para aliviar preocupa��es do dia a dia, relacionadas a dinheiro e emprego. Ou seja, n�o s�o s� os portadores de dist�rbios psiqui�tricos e psicol�gicos, mas pessoas que t�m problemas mais s�rios. Por�m, pessoas com transtorno de ansiedade, fobias, p�nico e depress�es tem aumentado o consumo”, explica. 

Ele explica que esse consumo exacerbado de bebidas alco�licas costuma fazer o caminho inverso e causar dist�rbios mentais. Tamb�m pode ocasionar o estabelecimento de um quadro de alcoolismo no futuro. “Esses jovens podem ficar mais propensos ao alcoolismo, porque o uso regular de �lcool em uma estrutura cerebral ainda imatura, em que o processo de sistemas de recompensa ainda n�o est� totalmente cristalizado e formado, pode desenvolver uma liga��o mais forte com �lcool.” 

Danos f�sicos

Karina Viana Camargos Braga, especialista em gastroenterologia, explica que o �lcool, por ser uma subst�ncia depressora do sistema nervoso central, pode acarretar danos ao organismo humano. “Em doses baixas, ele deprime centros inibit�rios, resultando em comportamentos extravagantes. Em doses altas, inibe centros excitat�rios, o que leva a altera��es do pensamento racional e da coordena��o motora.” 

“A ingest�o de grandes quantidades agudamente pode gerar a famosa ‘ressaca’, com dor de cabe�a, n�useas, v�mitos e tremores. Al�m disso, � capaz de induzir a pessoa a ter comportamentos perigosos, como dirigir alcoolizada, ter rela��es sexuais sem a devida prote��o e predispor acidentes, como afogamentos e brigas. O �lcool � extremamente t�xico para v�rios �rg�os, e o uso em grandes quantidades aguda ou cronicamente pode acarretar diversos problemas”, afirma. 

No trato gastrointestinal, h�, segundo a especialista, o surgimento de gastrites, �lceras, pancreatite, alguns tipos de c�ncer e altera��es no f�gado, como doen�a gordurosa, hepatite e cirrose. “Pode haver, tamb�m, o surgimento de hipertens�o arterial, altera��es no funcionamento do m�sculo card�aco e arritmias. No sistema nervoso, h� rela��o com danos cerebrais, em nervos perif�ricos e predisposi��o a dem�ncia.” 

Ainda, a imunidade pode ser comprometida, deixando o indiv�duo mais suscept�vel a infec��es. Em homens, a ginecomastia e impot�ncia sexual s�o algumas consequ�ncias das altera��es hormonais causadas pelo �lcool. 

Em jovens, os danos podem ser ainda maiores, haja vista o ainda desenvolvimento do c�rebro. Portanto, o consumo de �lcool antes dos 25 anos aumenta o risco de danos cerebrais e a chance de problemas futuros relacionados com o abuso dessa subst�ncia. H� quem desenvolva problemas relacionados ao consumo agudo de grandes quantidades e quem tenha uma rela��o de ingest�o acumulada ao longo dos anos. “Se a exposi��o se inicia precocemente, a chance de problemas como cirrose hep�tica, pancreatite cr�nica, neuropatias e encefalopatia � maior”. 

Previna-se! 

Guilherme Álvares Cabral, psiquiatra da Clínica Mangabeiras
Guilherme �lvares Cabral, psiquiatra da Cl�nica Mangabeiras (foto: Adriana Porto/Divulga��o)
O psiquiatra Guilherme �lvares Cabral pontua que cada fam�lia e grupo de jovens deve encarar a situa��o a seu modo, sejam ele de estudo, trabalho ou lazer para preencher os espa�os de �cio deixados pelo isolamento social e que, muitas vezes, � “tratado” por esses jovens com o abuso de bebidas alco�licas. “Programar conversas, jogos e sess�es de filmes pode ajudar muito nesse momento.” 

Para Karina Viana Camargos Braga, o “velho e bom di�logo com os filhos � o maior protetor contra o abuso de �lcool entre os jovens”. “Recomenda-se que os pais n�o fa�am a ingest�o de bebidas alco�licas, ou se fizerem, que seja com modera��o. Deve-se evitar consumir �lcool em todas as ocasi�es em que h� socializa��o, e no caso de ingerir, jamais dirigir. N�o existe n�vel seguro para ingest�o de bebidas alco�licas em jovens. Cultivar boas rela��es familiares � a base para se evitar qualquer problema com o abuso de subst�ncias.” 

“Os jovens devem ter refor�o positivo diante de conquistas, sentirem-se amados e respeitados. A pandemia da COVID-19 fez v�timas indiretas, pois uma parte da popula��o est� adoecendo como consequ�ncia do isolamento social. Novos casos de transtornos psiqui�tricos e abusos de subst�ncias est�o inclu�dos nesse contexto, e atingem todas as faixas et�rias. A pr�tica de atividades f�sicas e outros hobbies deve ser estimulada, assim como consultas com profissionais capacitados para ajudar, nos casos em que surgirem altera��es comportamentais”, afirma. 

Pablo, assim como as recomenda��es, agiu ainda em isolamento. Ele conta que, al�m de inserir a pr�tica de atividades f�sicas regulares, tem tentado ocupar mais a mente e limitado, tamb�m, o consumo de bebidas aos fins de semana. 

* Estagi�ria sob a supervis�o da subeditora Ellen Cristie. 


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