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Estado de Minas PANDEMIA

COVID-19: estudo mostra como as crian�as compreendem e sentem a pandemia

Pesquisadores da UFMG recomendam que viv�ncias pessoais e contextos de vulnerabilidade sejam considerados na constru��o de pol�ticas destinadas �s crian�as


06/05/2021 21:30 - atualizado 06/05/2021 22:24

Desenho feito por uma criança de 7 anos que participou da pesquisa(foto: Acervo da pesquisa/UFMG)
Desenho feito por uma crian�a de 7 anos que participou da pesquisa (foto: Acervo da pesquisa/UFMG)
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram um estudo para entender como as crian�as enxergam a pandemia da COVID-19. A pesquisa  ‘Inf�ncia em tempos de pandemia: experi�ncias de crian�as da Grande BH’ come�ou em junho de 2020 e acaba de gerar o primeiro relat�rio.

Ele traz observa��es e alertas sobre o impacto do afastamento das atividades escolares presenciais como medida de preven��o ao cont�gio pelo novo coronav�rus


Para os pesquisadores, as pol�ticas destinadas �s crian�as devem levar em considera��o os pontos de vista delas, identidades e contextos familiares. 

“Ouvir as crian�as sobre suas viv�ncias traduz nosso compromisso �tico e pol�tico de contribuir para reconhec�-las como sujeitos plenos e capazes de compreens�o da vida social em toda a sua complexidade. Esse compromisso se torna ainda mais importante neste contexto de pandemia, pois as crian�as s�o um dos grupos mais afetados e com menor visibilidade e espa�os de fala, como j� indicam estudos nacionais e internacionais”, explica a professora Iza Rodrigues da Luz.

Ela coordena o trabalho ao lado de Isabel de Oliveira e Silva e Levindo Diniz Carvalho, tamb�m professores da Faculdade de Educa��o (FaE) da UFMG.

Emo��es e sentimentos diante da pandemia 


A proposta foi desenvolvida pelo N�cleo de Estudos e Pesquisa sobre Inf�ncia e Educa��o Infantil (Nepei) da FaE para analisar as rotinas, as rela��es sociais e as experi�ncias das crian�as com foco nas suas emo��es e sentimentos diante da pandemia de COVID-19

O grupo tamb�m tentou compreender como as desigualdades sociais, territoriais, raciais e de g�nero repercutiram nas diversas experi�ncias dos participantes.

Por isso, a pesquisa privilegiou o envio do question�rio a estudantes das redes p�blicas de ensino e a crian�as cujas fam�lias fazem parte do c�rculo de lideran�as comunit�rias: 64,4% deles frequentavam escolas p�blicas, e 30,6% estudavam em institui��es particulares.

“A escuta das crian�as tamb�m tem como finalidade auxiliar na garantia de seus direitos. Em um pa�s com enormes desigualdades sociais como o nosso, as crian�as das camadas populares t�m mais chances de ter seus direitos violados. Poder chegar a elas e conhecer o que est�o vivendo neste momento � uma a��o fundamental tanto para compreender melhor suas realidades quanto para construir a��es e pol�ticas direcionadas a elas. Deve-se ressaltar tamb�m a relev�ncia de desconstruir preconceitos de diversas ordens enfrentados por essas crian�as”, justifica a pesquisadora.

Idades, ra�as, vulnerabilidades


Entre 11 de junho e 15 de julho de 2020, um question�rio on-line com quest�es abertas e fechadas foi disponibilizado aos participantes.

As crian�as enviaram desenhos, fotografias e mensagens em um ambiente virtual, que podem ser vistos no mural criado no site da pesquisa.

Na segunda fase do projeto, realizada entre agosto e dezembro, foram feitas entrevistas com 33 dos volunt�rios que participaram da primeira etapa.

Foram ouvidas crian�as de 33 munic�pios. A maior parte (45,5%) vive em Belo Horizonte, seguida por Lagoa Santa (7,5%), Ribeir�o das Neves (7,4%) e Contagem (6,7%).

O estudo constatou que 55,5% das crian�as moram em territ�rios de baixo risco de vulnerabilidade territorial, 29,2% na categoria m�dia e 11,1% vivem em territ�rios de alta vulnerabilidade.

Os pesquisadores destacam os resultados da autodeclara��o racial, que coincidem com as informa��es do censo escolar de 2019 quanto ao perfil das crian�as da educa��o b�sica: 45,4% s�o pardas, 39,8%, brancas e 9,2%, pretas (no censo escolar foram, respectivamente, 48,3%, 27,1% e 6,6%).

Houve ainda 28 autodeclara��es de crian�as amarelas, 12 de ind�genas e 27 da categoria "outras cores".

Com base nesses resultados, o grupo da UFMG tra�ou uma an�lise do acesso a computador, tablet, celular ou internet em casa. Mais crian�as que se autodeclararam brancas afirmaram ter acesso a essas ferramentas do que as pardas e as pretas, respectivamente. 

Entre as que n�o t�m acesso � internet, 11,1% moram em locais de alta vulnerabilidade, dado semelhante ao do acesso ao celular: 11,6%.

J� em rela��o ao computador ou tablet, de maneira geral, as crian�as da pesquisa t�m pouco acesso.

“As informa��es constru�das com a pesquisa ainda est�o sendo analisadas de modo a podermos ampliar a compreens�o de como as desigualdades afetaram as viv�ncias das crian�as. De todo modo, as an�lises iniciais j� evidenciam uma diferen�a de acesso a equipamentos e � internet entre as crian�as que vivem em territ�rios de alta, m�dia e baixa vulnerabilidade. � uma informa��o fundamental para pensar pol�ticas relacionadas � educa��o, visto que o ensino remoto tem sido um meio de as escolas chegarem at� elas”, afirma Iza Rodrigues.
 
Desenho feito por um menino de 8 anos (foto: Acervo da pesquisa )
Desenho feito por um menino de 8 anos (foto: Acervo da pesquisa )
 

Consci�ncia e vis�o po�tica


Uma das perguntas do question�rio estava relacionada ao cumprimento ou n�o do distanciamento social. A maioria das crian�as (89%) respondeu estar obedecendo o isolamento social.

Desse percentual, 10% cumpriam o afastamento seguindo as ordens de adultos, 30% por senso de coletividade e solidariedade e 30% por compreens�o dos riscos.

Para os pesquisadores, ficou evidente que a maior parte das crian�as tem clareza sobre as consequ�ncias da situa��o atual.

“Temos sido surpreendidos e sensibilizados pelas crian�as ao longo de todo o trabalho”, revela a professora, que reconheceu solidariedade geracional por parte dos volunt�rios.

“Boa parte das crian�as participantes evidenciou conhecimento dos diversos impactos da pandemia na sociedade, demonstrando preocupa��o com o desemprego de familiares e conhecidos, adoecimento dos familiares e uma consci�ncia da necessidade de cumprimento ao isolamento social para evitar a dissemina��o da doen�a e garantir a vida das pessoas, citando especialmente seus av�s e outros grupos de risco.”

Segundo Iza Rodrigues, as respostas tamb�m chamaram a aten��o pelas formas po�ticas de tratar de assuntos complexos e delicados. 

“Podemos ver isso nos desenhos e fotografias enviados. Em seu desenho Meu anivers�rio em julho, um menino de 9 anos revela sua solid�o. Em mensagem, uma menina de 10 anos escreve que 'a doen�a afasta e aproxima pessoas', o que evidencia o paradoxo da pandemia, uma vez que boa parte das crian�as sente bastante a aus�ncia de amigos e familiares, mas, ao mesmo tempo, v� com alegria o estreitamento da conviv�ncia com os pais”, exemplifica.
 
''Doença que afasta e aproxima as pessoas'', escreveu uma menina de 10 anos (foto: Acervo da pesquisa )
''Doen�a que afasta e aproxima as pessoas'', escreveu uma menina de 10 anos (foto: Acervo da pesquisa )
 

Processos de escuta


Al�m de conseguir dados importantes para compreender a situa��o das crian�as neste momento de pandemia, os autores utilizaram o estudo para fazer, ao fim do relat�rio, uma s�rie de recomenda��es ao poder p�blico e � sociedade. 

Iza ressalta que a compreens�o refinada e sens�vel das crian�as sobre o contexto da pandemia e os seus pontos de vista podem auxiliar a construir a��es e pol�ticas espec�ficas para elas.

Os pesquisadores acreditam que � urgente a cria��o de processos de escuta, que podem ser feitos, como explica o relat�rio, por meio de rodas de conversa, assembleias, entrevistas individuais e f�runs. 

Esses processos tamb�m podem ser feitos com base na an�lise das suas diferentes formas de express�o, mediadas pela imagina��o.

Para os coordenadores, o conselho vale tamb�m aos pais: “(H� uma) grande valoriza��o da conviv�ncia familiar por parte das crian�as. Reiteramos a necessidade de dedicar aten��o e ter disponibilidade para escutar filhas e filhos”.
 
Desenho feito por uma menina de 9 anos (foto: Acervo da pesquisa )
Desenho feito por uma menina de 9 anos (foto: Acervo da pesquisa )
 

O relat�rio pede aten��o ainda � pluralidade de inf�ncias e, consequentemente, de acessos a meios digitais. O grupo indica a urg�ncia de considerar g�nero, contextos sociais e raciais das crian�as.

Para isso, sugere maior articula��o da atua��o das unidades b�sicas de sa�de com as escolas; levantamento das condi��es sociais das fam�lias; mapeamento dos equipamentos p�blicos; organiza��es da sociedade civil e atores que comp�em a rede de prote��o social, com o objetivo de construir a��es articuladas e realiza��o sistem�tica de reuni�es entre os diferentes setores.

“Destaco tamb�m a import�ncia de considerar que o ensino remoto � algo emergencial e n�o substitui a conviv�ncia presencial e continuada das crian�as nas escolas. Apresentamos na nota v�rias recomenda��es que tratam dessa quest�o e podem auxiliar a minimizar os preju�zos vividos pelas crian�as por conta dessa modalidade de ensino”, enfatiza a professora.

Entre os volunt�rios que fizeram atividades escolares em ensino remoto, os pesquisadores identificaram impactos negativos sobre sua sa�de f�sica e mental decorrentes do cansa�o, da aus�ncia de intera��o, do excesso de atividades e das dificuldades de aprendizagem.

A falta de conviv�ncia afetiva e l�dica com as outras crian�as e profissionais da escola foi destacada nas respostas.

As �ltimas recomenda��es dos pesquisadores da UFMG s�o direcionadas �s institui��es de ensino, que dever�o considerar reformula��es de conte�dos, recursos, estrat�gias e tempos durante o ensino remoto. 

De acordo com eles, as rotinas das atividades n�o devem reproduzir artificialmente o ambiente escolar. E � necess�ria uma prepara��o para o acolhimento �s crian�as na volta �s aulas presenciais, com a aceita��o de que os sentidos da escola para professores, estudantes e fam�lias devem superar a vis�o restrita de transmiss�o de conte�dos. 

Os pesquisadores defendem que ela precisa ser "um espa�o de aprendizagem de uma �tica fundada na valoriza��o do cuidado e do respeito m�tuo.”
 
*Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Kelen Cristina  




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