
Sabe aquele livro que quando os olhos passeiam pela primeira linha j� te tomou? “Hoje alcei voo com o sol.” E termina o primeiro cap�tulo, em forma de di�rio, com uma pergunta que deveria ser comum a todos: “Por que os homens, que deveriam alegrar-se do contato com seus semelhantes, sofrem, ao contr�rio, com ele, atacam-no, esvaziam-no e o destroem?”. Mergulho profundo, sem ser pesado. Escrita com a maestria ao dosar leveza com soco direto no est�mago. Pot�ncia que revela uma trama com meandros t�o ricos que seduz todos, inclusive os ditos "normais", logo no par�grafo inicial.
“Arthur: Hist�ria de um autista que viveu no final do s�culo XIX”, da Editora Escuta, lan�ado em 2020 e j� na segunda edi��o, � um presente da psicanalista Maria Cristina Kupper para aqueles que vivem, se interessam, querem aprender e fazer algo a respeito diante dos iguais que t�m o transtorno do espectro autista (TEA). Nos Estados Unidos, a taxa � de uma crian�a para cada 59, e, no mundo, uma para cada 160, conforme dados da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS).

L� atr�s, quando come�ou, a escolha ocorreu porque queria entender o funcionamento mental, racioc�nio, percep��o dos autistas. Ela conta que, no in�cio, n�o percebia a constru��o de uma comunica��o diferente.
Com o tempo, enxergou uma s�rie de formas de comunica��o, que acha surpreendentes. “Se antes pensava em tratar, aos poucos, queria encontrar as melhores formas de eles se comunicarem. Eles continuam sendo autistas, mas n�o robotizados. � o meu alvo de trabalho. H� quem tenha palavras e at� a escrita como meio para se sentirem mais tranquilos, menos angustiados.”
A linguagem po�tica � para aproximar mais o autista do p�blico em geral, aqueles que n�o sabem e t�m medo. � para buscar o fim da intoler�ncia e capturar uma aproxima��o
Maria Cristina Kupper, psicanalista
Infelizmente, as barreiras do preconceito, desconhecimento e avers�o provocam rea��es que s� aumentam os obst�culos desse grupo. Para Maria Cristina, h� duas rea��es comumente: “A primeira � de rep�dio e de apontar a crian�a como mal-educada. A segunda � de estranheza, as pessoas simplesmente saem de perto. N�o � que n�o sabem agir, mas n�o querem, porque o principal problema � lidar com uma crian�a que n�o se relaciona ou age, est� em seu mundo. O mais angustiante para essas pessoas, ao se aproximar de um autista, � falar e a crian�a n�o responder. Elas ficam descor�oadas”.
O livro, sem a linguagem acad�mica ou t�cnica, nasceu ent�o para transpor barreiras: “� para aproximar mais o autista do p�blico em geral pela linguagem po�tica, aqueles que n�o sabem e t�m medo. � para buscar o fim da intoler�ncia e capturar uma aproxima��o. Para enfatizar que nada tem a ver com o pai ou com a m�e, mas � constitucional, um modo de ser”, destaca a psicanalista.
No livro, Arthur aprende a escrever lindamente, seu canal de comunica��o, apesar de n�o ser social. O que leva ao fato de que h� tipos, graus diferentes de autismo: “H� aqueles chamados de deficit�rios, mas n�o � que nascem com problemas intelectuais, eles n�o t�m problemas intelectuais, apenas aprendem menos porque h� obst�culos que atrapalham o bom desenvolvimento. N�o falam, t�m rea��o primitiva, se angustiam, se batem, dif�ceis de tratar e exigem um trabalho. H� os que progridem, mas sem o uso da palavra, mas t�m o olhar aberto para o mundo, ainda que n�o superem a barreira de ouvir a pr�pria voz, a evitam ao m�ximo. Entendem, leem, s�o capazes de escrever, mas ficam mudos a vida toda. Acontece de em algum momento, de repente, dizerem “me tira daqui” ou “quero ir embora”, surpreendendo. E tem os autistas de alta funcionalidade, Asperger, em que a estrutura � do autismo, mas conseguem outras formas de percep��o, conseguem organizar os diversos est�mulos e percep��es e ultrapassar os obst�culos”, explica Maria Cristina.
Nesse universo, Maria Cristian enfatiza que a psican�lise � um instrumento fundamental porque tem um modo de entender a linguagem. Segundo ela, muitos acham que a psican�lise � s� para analisar �dipo e neuroses.
� tamb�m, mas ao trabalhar com o autismo ela vai perceber as diferen�as de funcionamento da linguagem, n�o s� verbal e gestual, mas como � a mem�ria. Porque a mem�ria � t�o extraordin�ria. “A mente do autista � diferente, assim como a rela��o entre corpo e mente. Saibam que as express�es e impress�es do aparelho ps�quico n�o nascem com ele. A psican�lise vai al�m do comportamento.”
� tamb�m, mas ao trabalhar com o autismo ela vai perceber as diferen�as de funcionamento da linguagem, n�o s� verbal e gestual, mas como � a mem�ria. Porque a mem�ria � t�o extraordin�ria. “A mente do autista � diferente, assim como a rela��o entre corpo e mente. Saibam que as express�es e impress�es do aparelho ps�quico n�o nascem com ele. A psican�lise vai al�m do comportamento.”
Os pais t�m papel fundamental na vida do autista, e Maria Cristina destaca que n�o h� muito a ensin�-los, ainda que o livro seja uma inspira��o: “Os pais conseguem entend�-los muito bem, t�m uma baita compreens�o porque precisam observar, interpretar e conseguem de tanto v�-los. At� desejo que os pais leiam, mas quero mesmo que o p�blico em geral acesse para ter mais toler�ncia”.
SINOPSE

SERVI�O
- Livro: “Arthur: Hist�ria de um autista que viveu no final do s�culo XIX”
- Autora: Maria Cristina Kupper
- Editora: Escuta (www.editoraescuta.com.br)
- N�mero de p�ginas: 268
- Pre�o sugerido: R$ 72