
Apesar de nem todos terem a visibilidade de Biles ou viverem a press�o a que atletas s�o submetidos na competi��o mais importante do mundo, o gesto da atleta pode servir como li��o e reflex�o para todos n�s, segundo especialistas em sa�de mental entrevistadas pela BBC News Brasil.
"Hoje se fala mais da sa�de mental nos esportes, na m�sica, na educa��o, e o fato de tocar nisso desmistifica o assunto", afirma L�via Castelo Branco, psiquiatra da cl�nica Holiste Psiquiatria.
"H� artistas que escolhem se afastar das redes sociais, ou atletas que decidiram nem entrar nas Olimp�adas. Quando se trata de um problema f�sico, as pessoas conseguem falar de forma mais natural — por exemplo, que houve uma ruptura do ligamento do joelho, por isso o atleta est� afastado. J� a sa�de mental, por mais que estejamos falando mais nela, � mais dif�cil de mensurar e abordar", completa.
"Algumas pessoas v�o encarar a desist�ncia como falta de vontade ou covardia, mas na verdade � um ato de coragem muito grande expor a dificuldade, a fraqueza, a sa�de mental ao p�blico."
A psic�loga Valeska Bassan, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de S�o Paulo (USP), tamb�m destaca a "coragem" de Simone Biles ao reconhecer e expor seus limites — e sugere que a decis�o pode ter sido motivada por fatores relacionados ao estresse, mas tamb�m por autoconhecimento.

"Precisamos aprender que podemos desistir. A gente se programa, se prepara, tem um foco, mas em algum momento esse foco pode ser diferente", destaca a psic�loga.
"� se perguntar: por que preciso passar por tudo isso? E, principalmente, para quem?", aponta Bassan, destacando as press�es externas �s quais Biles, e todos n�s, estamos submetidos.
"No dia-a-dia, vemos muitas situa��es assim relacionadas ao trabalho. Por exemplo, uma pessoa que cursou uma faculdade ou exerce uma profiss�o para cumprir a expectativa da fam�lia. Ou nos relacionamentos, j� que foi imposto socialmente que casar � pra sempre."
"Por tentar atender �s expectativas dos outros, a pessoa acha que desistir � um fracasso porque estaria decepcionando mais pessoas."
A pr�pria Simone Biles apontou para a press�o externa que vive.
"Acho que a sa�de mental � mais importante nos esportes nesse momento.
Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e n�o apenas sair e fazer o que o mundo quer que fa�amos", afirmou a atleta, que j� foi quatro vezes medalhista de ouro nas Olimp�adas.
Aten��o aos sinais
A atleta desistiu de seguir na competi��o nesta ter�a-feira depois de marcar a pontua��o mas baixa no salto ol�mpico.
"Depois da apresenta��o que fiz, simplesmente n�o queria continuar", disse ela.

"Eu n�o confio mais tanto em mim mesma. Talvez seja o fato de estar ficando mais velha."
"Eu n�o queria ir l�, fazer algo est�pido e me machucar. Sinto que muitos atletas se manifestando realmente me ajudou."
Para a psiquiatra L�via Castelo Branco, o que Biles manifestou n�o parece ser uma decis�o impulsiva, mas sim alguma quest�o de sa�de mental que vinha escalando. Algo que todos n�s, atletas ou n�o, podemos observar com sinais — e, com sorte, buscarmos ajuda em um ambiente que seja acolhedor, como uma equipe t�cnica que n�o apenas cobre, mas escute.
No trabalho, as pessoas podem perceber que est�o desgastadas emocionalmente, por exemplo, se h� frequentes faltas, queda de produtividade, entre outras.
Valeska Bassan menciona tamb�m altera��es no sono, na alimenta��o, pensamentos repetitivos, burnout, a sensa��o de incapacidade ou est�mulo para fazer atividades conhecidas, e o pr�prio sofrimento.
Ignorar tudo isso n�o s� deixa de resolver, como pode agravar nossas atividades profissionais, sociais, entre outras.
"A nossa sa�de f�sica e mental est� interligada. Eu brinco que o corpo � o porta-voz da psique: quando n�o estamos dando conta ou n�o damos aten��o � sa�de mental, o corpo d� um jeito de parar e avisar", explica a psic�loga.
Os sintomas citados pelas especialistas n�o configuram necessariamente de uma patologia, como a depress�o ou ansiedade — mas podem ser, e por isso a assist�ncia profissional � recomendada.
L�via Castelo Branco diz que, na maioria dos casos, o acompanhamento psicol�gico � suficiente, mas em alguns, a interven��o com medicamentos — sob orienta��o m�dica — pode ser necess�ria. Pelo cotidiano de press�es a que s�o submetidos, a psiquiatra diz que � esperado que atletas tenham acompanhamento psicol�gico a longo prazo.
Bassan reconhece que a realidade de muitas pessoas n�o permite, por exemplo, largar um emprego estressante ou mesmo acessar ajuda profissional. Mesmo nesses casos, a reflex�o � importante.
"Se a gente pensar no trabalho, � mais dif�cil desistir sem ter respaldo (financeiro). Mas tem algumas situa��es que valem a reflex�o: por exemplo, tenho esse trabalho que me traz renda, mas compromete meu bem-estar. Ser� que dentro das minhas possibilidades tenho como ajustar minhas condi��es financeiras para ter maior prazer em um novo trabalho?"
"A resili�ncia tem limite."
A psic�loga diz que buscar atendimento profissional � sempre o mais adequado, mas pode aliviar o sofrimento tamb�m a conversa com pessoas queridas, praticar exerc�cios e se engajar em atividades que deem prazer.
"Se perceber, se observar e se respeitar tamb�m j� � um grande passo", completa Bassan.
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