
"Existem dois tipos de doa��es. A de cora��o parado ocorre quando a pessoa falece e existe a possibilidade de doar c�rneas. J� a morte encef�lica, o paciente tem diagn�stico de morte, mas com �rg�os ainda vivos e pode se tornar um doador de m�ltiplos �rg�os", explica.
"A de c�rnea � mais f�cil do que de m�ltiplos �rg�os, porque essa �ltima exige toda uma estrutura para manter o poss�vel doador em condi��es. Com a COVID-19, ficou muito mais dif�cil, devido as exig�ncias rigorosas e a diminui��o de poss�veis doadores", disse a m�dica.
Quando um paciente morre, o m�dico deve informar � assistente social do hospital sobre a indica��o ou n�o da doa��o de c�rneas. Caso tenha a possiblidade, uma equipe de profissionais, inclusive da CIHDOTT, conversa com a fam�lia para saber se o procedimento ser� autorizado.
"Dentro dos hospitais existe a Comiss�o Intra Hospitalar de Doa��o de �rg�os e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT). Precisamos ter esse grupo atuante, com especialistas atentos a todo momento e que despertam a aten��o dos outros profissionais sobre os potenciais doadores" pontua Renata.
J� para a doa��o de m�ltiplos �rg�os, o processo � mais complexo e com diversas fases. A primeira � diagnosticar o paciente em morte encef�lica por algum acometimento que seja detectado por exame de imagem, comprovando a les�o cerebral.
Em seguida, s�o feitos exames cl�nicos e por �ltimo, um exame que comprove a aus�ncia de atividade cerebral. Segundo a m�dica, para esse �ltimo podem ser feitos um doppler transcraniano, arteriografia cerebral, cintilografia cerebral ou um eletroencefalograma.
"Feito toda essa constata��o, o MG Transplantes � acionado e eles come�am a fazer os testes necess�rios para o doador. Existem v�rios motivos para a n�o possibilidade de doa��o. S�o feitos muitos exames, agora, inclusive, o teste de COVID-19 e s� depois do resultado � que o processo pode continuar. Nas v�rias etapas do protocolo, pode ser que o poss�vel doador n�o consiga doar, tamb�m por causa da autoriza��o da fam�lia".
"Em alguns casos, a fam�lia autoriza, mas pelo protocolo s� parentes de 1º ou 2º grau podem permitir, diferente disso n�o podemos fazer. Para menores de 18 anos � preciso ter autoriza��o do pai e da m�e. S�o v�rios percal�os e al�m desses fatores, tem a manuten��o da vida", continua a coordenadora.
"� preciso manter a situa��o do paciente no CTI, monitorando sua condi��o durante o processo de realiza��o dos exames necess�rios. Pode ser que durante esse tempo, ele n�o consiga e fale�a".
Em m�dia, desde a constata��o de morte cerebral at� a realiza��o do transplante leva cerca de dois dias. "Precisamos trabalhar para que seja o menor tempo poss�vel, mas principalmente pela complexidade do processo e necessidade de exames, t�m demorado em torno de 48 horas. Mas, ainda assim, � preciso trabalhar para que o tempo seja cada vez menor", disse.
Segundo o MG Transplantes, nesta quinta-feira (2/9) a fila de espera contava com 5.234 pacientes, 2.789 deles aguardam por um rim e 2.237 por c�rnea. Outros �rg�os est�o com uma espera bem menor, sendo f�gado (78), medula (45), rim/p�ncreas (44), cora��o (38) e p�ncreas (3).
De acordo com o diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Can�ado, as filas de rim e de c�rneas s�o maiores, porque as doen�as que afetam esses �rg�os, trat�veis por transplantes, s�o mais frequentes na popula��o. Al�m disso, por determina��o do Minist�rio da Sa�de, as capta��es de c�rneas em doadores de cora��o parado foram suspensas at� outubro de 2020, sendo captadas apenas em doadores de morte encef�lica para atender as urg�ncias, por isso houve aumento na fila de espera.
"A doa��o � uma possiblidade de ressignifica��o da vida. � um trabalho super delicado, que envolve n�o s� a conscientiza��o das pessoas [fam�lias], mas tamb�m da equipe profissional, porque a maior parte depende dela. A cada processo conclu�do e doa��o feita, � uma vit�ria. Para a fam�lia pelo gesto, para equipe que participou do andamento e para a pessoa que recebe o transplante" afirma a m�dica Renata Soares.
'N�o imaginava a import�ncia de doar'
Aos 63 anos, Jo�o Bosco de Azeredo aguarda por um transplante de f�gado. Atualmente na 8ª posi��o da fila, quando entrou ele era o 49º paciente. "Tem dois anos que descobri a cirrose hep�tica. Fui ao m�dico, tentamos tratar, mas n�o teve jeito e, em janeiro deste ano, entrei para a fila. Eu sou o oitavo agora", disse.
Quando soube da necessidade de realizar o transplante, ele ficou preocupado. "No in�cio eu assustei muito mesmo, entrei numa depress�o forte. Fiquei uns tr�s a quatro meses assim, mas depois fui fazendo acompanhando com psic�loga e psiquiatra e agora eu estou bem. Quando for para fazer, estou pronto", diz Azeredo.

"Eu n�o imaginava a import�ncia de doar. Quando perguntam para fazer identidade 'voc� � doador de �rg�os?', a gente j� marca n�o, n�? De medo. Mas hoje, eu pe�o �s pessoas que procurem mais informa��es sobre a doa��o, vejo como � importante. N�o � s� salvar a vida, � um gesto que voc� faz. Se algu�m morre na fam�lia, � triste, mas voc� pode fazer esse gesto para uma pessoa que vai viver, � muito importante", afirma.
"Pe�o que as pessoas fa�am esse gesto. N�o sabemos quem doou e a fam�lia tamb�m n�o sabe os dados de quem recebe, isso tamb�m � bacana, que nos preserva. Mas, tamb�m � importante para a pr�pria fam�lia se sentir bem pelo ato de doar", finaliza.
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Jo�o Renato Faria