A enxaqueca ou migr�nea � uma das poss�veis entre as mais de 150 diferentes causas de dor de cabe�a (foto: Mahbub Hasan/Pixabay)
Ainda que em meio a uma crise de enxaqueca a pessoa sofra, se sinta incapacitada, � sempre bom ver o lado bom de qualquer situa��o, mesmo na dor. T
(foto: Ilustra��o/EM)
er o diagn�stico correto, o tratamento adequado, a medica��o apropriada e o estilo de vida e o autocuidado como meios para buscar qualidade de vida e bem-estar, � poss�vel conviver com a enxaqueca sem agravar os transtornos.
O m�dico Rodrigo Santiago Gomez, neurologista, coordenador do Servi�o de Neurologia do Hospital Madre Teresa, coordenador do Ambulat�rio de Cefaleia da UFMG e um dos autores do livro “Cefaleias na pr�tica cl�nica”, alerta que “o primeiro passo ao abordar qualquer dor de cabe�a � ter a certeza da sua causa”.
A enxaqueca ou migr�nea � uma das poss�veis entre as mais de 150 diferentes causas de dor de cabe�a. Algumas podem anunciar risco de vida, ao passo que outras, ainda que muito forte a dor, n�o s�o o pren�ncio de uma doen�a grave (por exemplo, a enxaqueca, dor muito forte, mas n�o � grave).
Feitas essas considera��es, Rodrigo Santiago Gomez deixa claro que a enxaqueca tem sintomas e sinais espec�ficos que a caracterizam e s� considera seu tratamento se o diagn�stico for bem estabelecido.
Rodrigo Santiago Gomez, neurologista e coordenador do Servi�o de Neurologia do Hospital Madre Teresa, alerta que a enxaqueca tem sintomas e sinais espec�ficos que a caracterizam e s� considera seu tratamento se o diagn�stico for bem estabelecido
(foto: Arquivo Hospital Madre Teresa/Divulga��o)
“Caso um indiv�duo seja portador de enxaqueca deve estar atento �s doses ministradas de analg�sicos nas crises e na frequ�ncia do uso destes. O abuso de analg�sicos na enxaqueca pode deflagrar um segundo tipo de dor de cabe�a, denominada cefaleia por abuso de me- dica��o. Pode tamb�m ‘cronificar’ a enxaqueca, com o aumento das crises por semana e de sua intensidade. Assim, o uso correto de analg�sicos deve ser feito e neste aspecto a automedica��o � um perigo.”
A MAIS DOLOROSA
A enxaqueca recebe nomes distintos. Rodrigo Santiago Gomez explica que a cefaleia em salvas ou “cluster”, em ingl�s, � uma das cefaleias mais dolorosas. A dor � lancinante, com grande sofrimento e de dura��o nunca superior a tr�s horas. Ainda que dure pouco tempo, ela � assustadora para o portador. Quando � o primeiro epis�dio, normalmente o paciente se dirige ao hospital por causa da intensidade da dor. Na crise aguda, o melhor tratamento � oxig�nio 100% por m�scara, a dor melhora ap�s alguns minutos.
O abuso de analg�sicos na enxaqueca pode deflagrar um segundo tipo de dor de cabe�a, denominada cefaleia por abuso de medica��o
Rodrigo Santiago Gomez, neurologista e coordenador do Servi�o de Neurologia do Hospital Madre Teresa e coordenador do Ambulat�rio de Cefaleia da UFMG
Segundo ele, algumas vezes, a cefaleia em salvas pode estar associada a les�es no enc�falo, da� a necessidade de realiza��o de resson�ncia magn�tica em todos os casos para confirma��o desse diagn�stico. “O diagn�stico est� baseado totalmente nas caracter�sticas da dor e como ela se apresenta. Ali�s, para todas as dores de cabe�a a anamnese � muito importante para o correto diagn�stico.”
J� a chamada cefaleia cr�nica di�ria, conforme Rodrigo Santiago Gomez, � um termo inespec�fico, um guarda-chuva com in�meras diferentes doen�as debaixo dele.
“Por exemplo, se voc� � portador de enxaqueca na frequ�ncia de quatro crises por semana, ou 16 crises por m�s (acima de 15 crises/m�s) tecnicamente estamos com um quadro de cefaleia cr�nica di�ria secund�ria � enxaqueca. Poderia ser uma cefaleia cr�nica di�ria por abuso de medicamento ou uma cefaleia em salvas com crises di�rias h� mais de tr�s meses. Assim, o termo n�o � muito pr�tico no tratamento, mas ajuda a entender diferentes tipos de dor que apresentam com maior n�mero de eventos por semana ou por m�s.”
Rodrigo Santiago Gomez avisa que o paciente portador de enxaqueca tem naturalmente uma intoler�ncia maior � luz durante a crise. “Alguns referem intoler�ncia � claridade mesmo nos per�odos fora da crise. Os trabalhos cient�ficos t�m demonstrado que o c�rebro dos enxaquecosos � sens�vel tanto ao est�mulo visual quanto auditivo. Exatamente como isso ocorre n�o est� claro. Refor�o, entretanto, que a despeito de esta sensibilidade � luz ser muito comum nos migranosos, ela n�o � espec�fica. Ocorre em outras causas de dor de cabe�a.”
O neurologista indica que a melhor medida durante uma crise de enxaqueca � o repouso, uso de analg�sicos, retirada de est�mulos visuais e sonoros (ambiente escuro e sem barulho) e evitar esfor�o f�sico. “Durante a crise de enxaqueca a dor piora se n�o s�o respeitadas essas condi��es. O uso do analg�sico deve ser o mais precoce poss�vel. Retardar seu uso pode custar uma crise mais demorada ou uma ida ao pronto-socorro.”
EFEITO REBOTE
Aline Martins Cardoso, coordenadora da especialidade de cl�nica m�dica do Hospital da Baleia, diz que a melhor sa�da � o acompanhamento m�dico correto e o tratamento segundo as orienta��es de um especialista (foto: Arquivo Hospital da Baleia/Divulga��o)
A m�dica Aline Martins Cardoso, coordenadora da especialidade de cl�nica m�dica do Hospital da Baleia, especialista em cl�nica m�dica e medicina intensiva, enfatiza que embora a enxaqueca n�o tenha cura, sempre � poss�vel trat�-la, espa�ando a ocorr�ncia de crises e amenizando a intensidade dos sintomas. E alerta que, apesar de os estudos sobre cefaleia serem constantes, n�o existe uma p�lula m�gica contra a doen�a, o que acaba gerando ansiedade nos pacientes portadores e m� ades�o ao tratamento.
“Entre as centenas de dores de cabe�a conhecidas atualmente, a que mais se destaca � a enxaqueca, tanto pela elevada frequ�ncia na popula��o quanto pelo grau de incapacidade que provoca. � importante ressaltar que enxaqueca n�o � apenas uma dor de cabe�a, mas este sintoma que mais incomoda � apenas uma das in�meras manifesta��es que fazem parte da grande s�ndrome”, destaca a cl�nica.
A dor de cabe�a gera muito incomodo e n�o � preciso se acostumar com ela, j� que h� tratamentos para alivi�-la. Portanto, n�o se deve esperar a piora do sintoma
Aline Martins Cardoso, coordenadora da especialidade de cl�nica m�dica do Hospital da Baleia
Al�m da aten��o quanto ao estilo de vida, os h�bitos, � comum relatos de quem toma medica��o e, passado um per�odo, ela j� n�o faz mais efeito e � preciso trocar. Aline Martins Cardoso alerta: “O uso indiscriminado de analg�sicos em m�dio e longo prazo gera efeito rebote, requerendo o consumo de mais medicamento, com consequente aumento das crises e sua intensidade. A melhor sa�da � o acompanhamento m�dico correto e o tratamento segundo as orienta��es de um especialista, preferencialmente um neurologista. Por�m, todo m�dico deve ser capaz de diferenciar uma dor de cabe�a de uma enxaqueca e, assim, iniciar o tratamento corretamente.”
Para evitar ou prolongar os per�odos sem crise, � preciso que cada um conhe�a e administre os gatilhos da enxaqueca. Alguns s�o comuns a todas as pessoas, outros n�o. Jejum prolongado, falta de sono, estresse, bebidas alco�licas, cafe�na e alguns alimentos podem disparar as crises.
O ideal � fazer um di�rio, onde o paciente anotar� suas atividades cotidianas, como alimenta��o, al�m de hor�rio e dura��o do sono. Dessa forma, conseguir� relacionar o que agrava ou gera a enxaqueca e, junto com o m�dico, tra�ar estrat�gias para uma melhor qualidade de vida.
TENS�O E ESTRESSE
Quem recebe o diagn�stico de enxaqueca tensional, ainda mais no mundo de hoje, n�o acredita ao ouvir o m�dico: evite o estresse, a press�o e as tens�es. Tarefa, para muitos, imposs�vel. “As dores de cabe�a tensionais causam press�o ou aperto em ambos os lados da cabe�a. Uma das sa�das � a cria��o de h�bitos de vida saud�vel para minimizar o estresse e evit�-las”, mas � a sa�da apontada pela m�dica.
Outro erro comum, que muitos “enxaquecosos” podem cometer � adiar a me- dica��o. Seja para evitar muito rem�dio ou acreditar que a dor ir� passar. E a dor acaba se alastrando e a crise ganha intensidade: “A dor de cabe�a gera muito inc�modo e n�o � preciso se acostumar com ela, j� que h� tratamentos para alivi�-la. Portanto, n�o se deve esperar a piora do sintoma para tomar a medica��o correta ou procurar tratamento. Os sintomas de uma crise de enxaqueca podem ser graves e alarmantes, mas na maioria dos casos, n�o h� efeitos duradouros na sa�de”, diz.
No entanto, uma mudan�a no padr�o da dor de cabe�a, como aumento na frequ�ncia e gravidade ou in�cio de um tipo diferente de dor, pode ser um sinal de alarme. Al�m de acompanhamento de outros sintomas, como febre, calafrios, ou outros sintomas neurol�gicos, como confus�o metal. Se tiver algum desses “sinais de alerta”, informe o seu m�dico imediatamente ou procure atendimento de emerg�ncia.