Medita��o � um processo de autoacolhimento e autocuidado
Cada vez mais, h� na literatura m�dica e de sa�de evid�ncias cient�ficas de que a medita��o melhora n�o s� a qualidade de vida, mas trata de v�rias doen�as
A pr�tica de medita��o � reconhecida pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) como um m�todo para a preven��o de doen�as, melhoria da qualidade de vida, sa�de e bem-estar da popula��o (foto: Foundry Co/Pixabay)
Meditar. Respirar. Acalmar a mente. Equilibrar o organismo. Sintonizar corpo e c�rebro. F�cil? N�o, para muitos n�o �. A �nica certeza � que, se conseguir, encontrar paz, harmonia, bem-estar n�o importa por quanto tempo, mas que estar� presente no dia a dia e lhe dar� energia para encarar o mundo interno e externo.
A m�dica Daniela Charnizon, acupunturiatra e m�dica da �rea de medicina integrativa do Grupo Oncocl�nicas, assegura que a medita��o faz muito bem � sa�de e tem comprova��o cient�fica.
Daniela Charnizon, acupunturiatra e m�dica do Grupo Oncocl�nicas (foto: Arquivo Pessoal)
“A pr�tica de medita��o � reconhecida pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) como um m�todo para a preven��o de doen�as, melhoria da qualidade de vida, sa�de e bem-estar da popula��o. Cada vez mais, temos na literatura m�dica e de sa�de evid�ncias cient�ficas de que a medita��o melhora a qualidade de vida e at� mesmo sintomas de v�rios tipos de doen�as. Ela � considerada uma terapia complementar, sendo importante ressaltar que, como toda terapia complementar, n�o deve substituir o tratamento convencional e, sim, ser usada como uma aliada ao tratamento que o paciente vem recebendo.”
Cada vez mais, temos na literatura m�dica e de sa�de evid�ncias cient�ficas de que a medita��o melhora a qualidade de vida e at� mesmo sintomas de v�rios tipos de doen�as. Ela � considerada uma terapia complementar, sendo importante ressaltar que ela n�o deve substituir o tratamento convencional e, sim, ser usada como uma aliada ao tratamento que o paciente vem recebendo
Daniela Charnizon, acupunturiatra e m�dica do Grupo Oncocl�nicas
Daniela Charnizon destaca que a medita��o � uma das pr�ticas que comp�e a oncologia integrativa. Ela cita um artigo recente de uma das sociedades mais bem-conceituadas na oncologia – a Sociedade Americana de Oncologia (ASCO) –, que avaliou os benef�cios das pr�ticas complementares em pacientes com c�ncer de mama.
A medita��o teve um n�vel de evid�ncia A (o melhor n�vel) para redu��o de ansiedade. Ou seja, hoje tamb�m, por indica��o m�dica, as pessoas devem meditar. Esse entendimento das pr�ticas mente e corpo como uma forma de sa�de e bem-estar tem crescido bastante nos �ltimos anos.
A m�dica pontua ainda que um estudo realizado no M.D. Anderson Cancer Center com pacientes oncol�gicos, mostrou que a principal raz�o citada pelos pacientes para o uso de pr�ticas complementares foi fazer tudo que est� a seu alcance para ajudar a si mesmo (53%).
“Neste estudo, apenas 8% dos pacientes entrevistados citaram que utilizavam as pr�ticas complementares com o intuito de curar o c�ncer. Desta maneira, observamos que a grande maioria dos pacientes procura as pr�ticas complementares a fim de se sentir parte atuante no seu processo de tratamento e a utiliza como complemento ao tratamento m�dico convencional.”
A medita��o tamb�m � grande aliada contra a dor. “Temos v�rios tipos de dor e acredito que podemos falar que em fun��o da dor, de forma geral, independentemente do tipo, principalmente nos pacientes com dor cr�nica, muitas vezes o dia – e �s vezes a vida – gira em torno dela. � um ciclo vicioso de dor/piora da qualidade de vida, estresse etc. Al�m disso, sabemos que nos casos de dor cr�nica/dor oncol�gica etc, al�m do componente f�sico, existe um componente social, emocional e espiritual.”
Ela explica que esse � o conceito de dor total, criado na Inglaterra, na d�cada de 1970, por uma enfermeira, m�dica e assistente social, chamada Cicely Saunders, que foi precursora dos cuidados paliativos no mundo. A medita��o vai agir no componente emocional, principalmente, e a partir da� outros benef�cios associados � melhora da qualidade de vida de uma forma geral acontecem “quebrando” o ciclo vicioso.
BOM PARA A MEM�RIA?
Tamb�m � creditado � medita��o sua contribui��o com a mem�ria. Neste caso, Daniela Charnizon avisa que � um assunto mais delicado. Ela explica que temos v�rias pr�ticas de medita��o e defini��es, por�m os pontos em comum s�o: foco no presente, observa��o, relaxamento e, por fim, uni�o com a consci�ncia universal.
Existe um site – Biblioteca Virtual em Sa�de – que analisa as pr�ticas de medicina tradicional, complementar e integrativa na Am�rica Latina, e por meio da an�lise da literatura � criado um “mapa de evid�ncias” para cada tipo de tratamento complementar, entre eles, a medita��o.
Esse mapa mostra uma vis�o geral das experi�ncias sobre os efeitos da medita��o em diversas condi��es cl�nicas e de sa�de da popula��o em geral a partir de uma ampla busca bibliogr�fica por estudos publicados e em andamento.
Nesse mapa constam 191 estudos, entre eles, 78 revis�es sistem�ticas, 110 meta-an�lises. Os estudos incluem v�rias t�cnicas de mindfulness e t�cnicas relacionadas, como medita��o geral, medita��o transcendental, entre outras).
Em v�rias �reas foi constatado moderado n�vel de evid�ncia em rela��o � efic�cia, que incluem alguns estudos em rela��o ao desempenho cognitivo (a mem�ria � um dos processos que comp�em a cogni��o) e um estudo que mostrou um alto n�vel de efic�cia neste campo. “J� que estamos falando deste mapa, � interessante ressaltar que os n�veis maiores de evid�ncia se relacionam com a sa�de emocional e bem-estar (melhora das emo��es negativas, desenvolvimento de empatia, compaix�o entre outros).”
Diante de tantos benef�cios, muitas pessoas querem meditar, mas acreditam que n�o conseguem, falam em barreiras como agita��o, falta de paci�ncia e ser imposs�vel esvaziar a mente.
Mas Daniela Charnizon diz que � poss�vel, sim: “Para isso � necess�rio come�ar e persistir. Se fizermos uma analogia, � como exercitar um m�sculo, mas ao contr�rio do esfor�o feito durante um exerc�cio, a medita��o trata de aceitar as coisas como elas s�o: � como um fluxo de em rio, vai fluindo. Voc� n�o chega na academia e levanta uma barra de 20 quilos. Come�a aos poucos, seu m�sculo vai ganhando for�a e, se tiver disciplina e persist�ncia, pode chegar a levantar barras pesadas. De forma semelhante � o exerc�cio da mente. As pessoas querem come�ar a meditar 'levantando uma barra de 20 quilos', sem ter a dimens�o de que se trata de um processo”.
A m�dica ainda complementa: “Ao come�ar, a maioria das pessoas pensa que n�o vai conseguir, porque se acha muito agitada, diz que fica pensando mil coisas naqueles poucos minutos. Nessa correria que vivemos, e com a mente superatribulada, o esperado � que haja muitas dificuldades no in�cio e que, aos poucos, isso v� melhorando. Podemos pensar na medita��o como um processo cont�nuo de autocuidado e autoacolhimento, em que a pessoa fortalece seus valores pessoais, desacelera a cria��o de pensamentos, respira com aten��o, relaxa o corpo, a mente e as emo��es, sentindo e vivendo a vida com maior foco, concentra��o e sa�de”.
E A RESPIRA��O?
Quanto � respira��o, Daniela Charnizon lembra que � uma fun��o natural e involunt�ria do organismo. Ao nascer, todos respiram a partir da movimenta��o do diafragma. Aprender a respirar corretamente �, na verdade, uma quest�o de reeducar o corpo. O processo de respira��o pulmonar � dependente de dois importantes movimentos respirat�rios: inspira��o e expira��o.
Quando inspiramos, o m�sculo do diafragma – m�sculo que est� entre o t�rax e abd�men – desce e os m�sculos intercostais se contraem, ocasionando aumento do t�rax e redu��o da press�o dentro do t�rax. Na expira��o, o diafragma faz papel inverso, ele se eleva, os m�sculos intercostais ficam relaxados, h� redu��o da caixa tor�cica, aumentando a press�o dentro do t�rax, facilitando a sa�da de ar.
Na correria do dia a dia, muitas vezes respiramos com a parte superior do t�rax e n�o usamos bem o diafragma. A chamada respira��o diafragm�tica nada mais � do que a respira��o abdominal ou, em outras palavras, “respirar com a barriga”.
De forma simplificada, ela ressalta que, durante o processo de respira��o � importante ficar atento ao peito e aos ombros. Se o t�rax se elevar ou os ombros forem em dire��o � cabe�a, mesmo que haja movimenta��o da barriga, outros m�sculos est�o sendo utilizados na respira��o. A ideia � que a respira��o seja feita unicamente a partir dos movimentos do diafragma.
Quais seriam os benef�cios da respira��o diafragm�tica? A m�dica explica: “� simples: mais ar nos pulm�es, mais oxig�nio no corpo, o que facilita o funcionamento do metabolismo — o conjunto de rea��es e fun��es efetuadas pelos sistemas do corpo. Um dos principais, e mais populares, benef�cios desse tipo de respira��o � a promo��o de um relaxamento profundo. O famoso conselho, 'respire fundo!'. Ent�o, al�m do respira, eu diria: respire fundo! Inspire e expire.!
Samara Lob�, m�dica reumatologista, diz que na sua pr�tica prescreve a medita��o associada ao encaminhamento para psicoterapia na fibromialgia ou quando h� sofrimento ps�quico e emo��es dif�ceis de lidar como ansiedade (foto: Arquivo Pessoal)
QUATRO PERGUNTAS PARA...
Samara Lob�, m�dica reumatologista e integrante da comiss�o de m�dias sociais da Sociedade Mineira de Reumatologia
1 - Voc� indica a medita��o para seus pacientes, como a
pr�tica atua e pode ajudar dentro da sua �rea?
A medita��o � um conjunto de pr�ticas milenares que permite cultivar e desenvolver qualidades humanas. Nas �ltimas d�cadas, a ci�ncia se interessou em estudar efeitos dessa pr�tica no c�rebro, na sa�de f�sica e mental. Na minha pr�tica como reumatologista, prescrevo a medita��o associada ao encaminhamento para psicoterapia na fibromialgia ou quando h� sofrimento ps�quico e emo��es dif�ceis de lidar como ansiedade, por exemplo. Minha percep��o sobre o resultado dessas pr�ticas na vida do paciente � um aumento de consci�ncia corporal, diminui��o de estresse e menor chance das emo��es se tornarem gatilho para descompensar�o das doen�as reum�ticas.
2 - Medita��o significa tamb�m aprender a respirar? Por que para algumas pessoas
� t�o dif�cil se concentrar seja para meditar ou encontrar um ritmo ideal de respira��o?
H� v�rias t�cnicas de medita��o, sendo a mais conhecida a que usa como foco a respira��o. Voltar a aten��o para respira��o � um meio de relaxarmos a mente e n�o um fim em si de controle da respira��o. Medita��o � dif�cil para todos, pois vivemos em um mundo de correria atarefada e desaten��o. Por isso, a respira��o � uma �ncora e um convite para desacelerar e estar presente.
3 - Muitos s� relacionam medita��o com ioga, terapias alternativas, um estilo de vida e que faria bem para a sa�de mental. E ao falar da medita��o como ferramenta para auxiliar no tratamento de doen�as f�sicas e cl�nicas, a desconfian�a se instala. O que pode dizer a respeito?
Existe um programa de redu��o de estresse baseado na aten��o plena que utiliza medita��o, ioga e escaneamento corporal com dura��o de oito semanas. V�rios estudos avaliaram o impacto desse programa em pacientes com fibromialgia e encontraram benef�cios em sintomas de dor, depress�o, ansiedade, qualidade de vida e sono. S�o necess�rios mais estudos para fortalecer essa indica��o, mas como h� um risco baixo acredito que podemos sempre considerar como tratamento complementar.
4 - Qual dica daria para quem se prop�e come�ar a meditar?
Medita��o � um caminho para permanecer na nossa experi�ncia seja ela qual for. Aconselho a come�ar em um grupo ou orientado por algum profissional para aprender a t�cnica e os fundamentos principalmente se for para fins terap�uticos. � importante compreendermos o m�todo, a evolu��o, os obst�culos e nossa inten��o para n�o nos frustrarmos. Sentar-se e focar na respira��o � simples, mas n�o � f�cil. Gostaria de indicar um livro pequeno com linguagem simples que me ajuda nesse percurso (a m�dica medita h� sete anos), pois acredito que com conhecimento e inten��o conseguimos come�ar: “Sentar tipo Buda: um guia pr�tico de medita��o”, de Lodro Rinzler.