
Quando se fala em cirurgia pl�stica, est� aberto o debate. Muito se discute sobre os exageros na busca por procedimentos est�ticos, em grande parte uma procura por padr�es de beleza propagados nas redes sociais, e muitas vezes uma perfei��o irreal. Afinal, com filtros, tudo � maravilhoso.
Por outro lado, algumas caracter�sticas f�sicas podem, de fato, gerar sofrimento, e ser um fator de adoecimento psicol�gico, ou at� f�sico. Nesse contexto, a cirurgia pl�stica acaba se tornando uma necessidade, uma condi��o mesmo para se ter dignidade, melhorando a autoestima.
Por outro lado, algumas caracter�sticas f�sicas podem, de fato, gerar sofrimento, e ser um fator de adoecimento psicol�gico, ou at� f�sico. Nesse contexto, a cirurgia pl�stica acaba se tornando uma necessidade, uma condi��o mesmo para se ter dignidade, melhorando a autoestima.
Outro exemplo s�o as cirurgias corretivas de redu��o de mamas em meninas que t�m o desenvolvimento exagerado, ou para corrigir as chamadas orelhas de abano, condi��es que tamb�m podem desencadear situa��es de bullying na escola, pensando em apenas esse aspecto.
Lidar com um complexo � t�o dif�cil quanto lidar com uma doen�a, diz a cirurgi� pl�stica C�ntia Mundin, diretora da Cl�nica Metta – Cirurgia Pl�stica e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pl�stica (SBCP). Qualquer coisa que incomode ou tire a paz da pessoa quando se v� refletida no espelho deve ser tratada.
"Existem complexos que s�o capazes de tornar o indiv�duo um ser antissocial e gerar sofrimento. Vejo todos os dias a transforma��o que a cirurgia pl�stica pode fazer na vida das pessoas. � maravilhoso ver como a autoconfian�a pode transformar a vida de algu�m. A cirurgia pl�stica n�o muda s� os corpos, muda a mente das pessoas", salienta.
"Existem complexos que s�o capazes de tornar o indiv�duo um ser antissocial e gerar sofrimento. Vejo todos os dias a transforma��o que a cirurgia pl�stica pode fazer na vida das pessoas. � maravilhoso ver como a autoconfian�a pode transformar a vida de algu�m. A cirurgia pl�stica n�o muda s� os corpos, muda a mente das pessoas", salienta.
"Toda cirurgia que conserta algo que esteja fora do padr�o, ou que incomode a pessoa, deve ser considerada uma cirurgia reparadora. No m�nimo, ela vai reparar a autoestima do paciente. Uma orelha em abano pode causar traumas irrevers�veis a uma crian�a"
C�ntia Mundin

C�ntia conta que operou um adulto, pai de dois filhos, que relatou que a orelha foi um fardo que carregou a vida inteira, motivo de sofrimento. "Tem como imaginar o al�vio desse paciente e sua alegria ao se ver livre desse complexo? Assim como uma mama exageradamente grande ou defeituosa, pode acarretar at� mesmo uma depress�o em uma adolescente. A cirurgia pl�stica � capaz de 'tirar com a m�o' a dor das pessoas. Um complexo causa uma dor importante ao paciente."
EXCESSO Por outro lado, quando o exagero se torna uma doen�a, C�ntia pontua que um cirurgi�o pl�stico �tico n�o pode ceder aos excessos do paciente. Existem doen�as psiqui�tricas, como compuls�o ou obsess�o, ela cita, al�m da dismorfofobia, dist�rbios que devem ser diagnosticados pelo cirurgi�o pl�stico.
"Cabe a ele dizer n�o aos exageros do paciente que sofre desses transtornos, al�m de encaminh�-lo para tratamento psiqui�trico", pondera. "N�o vejo como errado tratarmos algo que nos incomode, mas � muito importante elucidar ao paciente que n�o existe perfei��o na vida real, s� na digital", continua.
"Cabe a ele dizer n�o aos exageros do paciente que sofre desses transtornos, al�m de encaminh�-lo para tratamento psiqui�trico", pondera. "N�o vejo como errado tratarmos algo que nos incomode, mas � muito importante elucidar ao paciente que n�o existe perfei��o na vida real, s� na digital", continua.
E est� a� outro debate central. O perigo de n�o saber identificar o limiar entre a realidade e os filtros das redes sociais, o que leva muitas pessoas a acreditarem que a realidade virtual � a verdadeira realidade. "O bom senso e a distin��o entre o real e digital devem ser algo debatido e explicitado � popula��o de maneira sistem�tica. Na minha opini�o, isso j� � uma quest�o de sa�de p�blica, e merece ser abordado como tal", continua a cirurgi� pl�stica.
A s�ndrome de Poland � uma anomalia cong�nita caracterizada principalmente pelo desenvolvimento defeituoso ou incompleto de tecido ou �rg�o, que afeta a musculatura tor�cica de forma unilateral, ou gera encurtamento dos membros superiores. � uma condi��o rara, pouco relatada na literatura m�dica (h� pouco conhecimento sobre o problema), que acomete mais os homens.
Foi esse o diagn�stico que a empreendedora do mercado sensual Dayanne Andrade, de 33 anos, recebeu aos 15. A partir dessa �poca, na adolesc�ncia, quando se d�o as mudan�as no corpo, ela percebeu que a mama direita n�o crescia. Ela n�o tinha o seio direito, e s� aos 19 anos p�de fazer a cirurgia pl�stica reparadora. A janela entre a detec��o do problema e o procedimento se deu porque era preciso esperar a conclus�o do desenvolvimento da mama esquerda, a mama normal.
VERGONHA Foi uma �poca complicada, lembra. "Na escola, andava s� de blusa de frio, moletom, mesmo se estivesse o maior calor. Tinha uma professora que questionava a roupa, mas eu n�o tirava, e tamb�m n�o explicava o porqu�. Ningu�m sabia da s�ndrome, a n�o ser minha fam�lia. Tamb�m evitava o contato f�sico, n�o abra�ava ningu�m, usava suti� com enchimento, e nunca decote. Tinha muita vergonha e problemas na autoestima. Ficava me escondendo mesmo, me perguntava 'por que eu?'. O medo era que meus colegas descobrissem e eu virasse a 'monoteta'."
Ela conta sobre reparar sempre nos seios de mulheres que via nas ruas, e por isso n�o se sentia bem. Em 2007, Dayanne ent�o passou pela cirurgia corretiva e colocou silicone no lugar da mama direita. � �poca, o procedimento tinha um valor elevado, e ela agradece � propriet�ria da cl�nica onde foi feito, que foi solid�ria com a sua situa��o, e pagou boa parte da cirurgia, dividindo os custos com Dayanne, sua m�e e seu irm�o.
Depois da cirurgia, uma melhora vis�vel. "Passei a me olhar no espelho e me ver como uma pessoa normal, sem defici�ncia. Me sinto leve, livre, nem uso suti�. Gosto de usar blusa de alcinha, adoro abra�ar as pessoas. Me sinto parte", diz. Dayanne tamb�m iniciou acompanhamento psicol�gico no processo da doen�a e segue com a terapia, ainda que agora os assuntos sejam outros – a s�ndrome j� est� superada.
H� 10 anos, Dayanne e o marido est�o � frente da na Universo dos Prazeres, e atuam abordando temas sobre sexualidade e tabus. "Ele me ajudou muito em rela��o ao meu corpo, mas s� me conheceu depois da cirurgia", diz.
FALTA DE INFORMA��O Em 2020, a empreendedora publicou nas redes sociais um depoimento com a sua hist�ria, e s� assim todos ficaram sabendo da sua experi�ncia com a s�ndrome. Ela conta que at� hoje recebe mensagens de diversas partes do Brasil e at� do exterior de pessoas dizendo que t�m o problema, mas n�o sabem onde e como buscar informa��es. "Essa � uma s�ndrome sobre a qual quase nada � falado."
Na publica��o, Dayanne discorre sobre seu maravilhoso corpo, fora do padr�o imposto pela sociedade. Conta sobre a s�ndrome, antes um segredo, mas para ela n�o � esse o motivo de n�o se enquadrar nos modelos sociais, e sim o corpo gordo. "Acredito que muitas pessoas, at� mesmo os familiares pr�ximos, n�o sabem da doen�a rara que tenho. Dos 15 aos 19 anos foi um per�odo complexo. Desenvolvimento sexual, paquerinhas, adolesc�ncia. E eu tive que lidar com tudo isso, mas o que mais doeu nesse per�odo n�o foi ter nascido sem o seio direito, foi o corpo gordo", escreveu.
Depois da cirurgia e com um lindo par de seios, como ela se refere, ainda assim estava fora dos padr�es de uma sociedade gordof�bica, em suas palavras. "Ser fora do padr�o que a sociedade colocou como correto me fez mudar diversas vezes para ser aceita, at� que chegou um ponto em que eu n�o queria mais ser notada, nem vista, uma pessoa invis�vel. O jeito, na verdade, foi me aceitar e entender que ser �nico � perfeito. Eu n�o sou bonita s� de rosto, n�o acho que preciso perder um pesinho para ficar melhor. Falar que eu perdi peso � mais ofensivo do que elogio (...) Eu sou maravilhosa em tudo, at� no meu par de peitos", postou.