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Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

Cirurgia pl�stica: linha t�nue entre necessidade e desejo

N�o h� d�vidas de que a cirurgia pl�stica pode melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. Mas � importante ter um discernimento do real e do idealizado


17/04/2022 04:00 - atualizado 18/04/2022 19:11

Luís Felipe Maatz, cirurgião plástico
A cirurgia pl�stica exerce um papel importante para a melhoria da qualidade de vida para muitas pessoas que t�m diferentes condi��es f�sicas, diz o cirurgi�o pl�stico Lu�s Felipe Maatz (foto: arquivo pessoal)
 

"No limite, h� uma doen�a chamada transtorno dism�rfico corporal, em que o paciente tem uma autoimagem distorcida e nunca ficar� feliz com qualquer resultado que tenha sido obtido, mesmo que seja o melhor poss�ve"

Lu�s Felipe Maatz, cirurgi�o pl�stico

 

A cirurgia pl�stica exerce um papel importante para a melhoria da qualidade de vida para muitas pessoas que t�m diferentes condi��es f�sicas, diz o cirurgi�o pl�stico Lu�s Felipe Maatz, especializado em cirurgia geral e cirurgia pl�stica pelo Hospital das Cl�nicas da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (FMUSP), e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pl�stica (SBCP).

H� uma infinidade de caracter�sticas que podem levar o indiv�duo a ter a autoestima diminu�da, ele constata. E muitas dessas altera��es podem levar tamb�m a problemas f�sicos e funcionais.
 
S�o muitos os exemplos e as correla��es s�o m�ltiplas. O especialista cita crian�as com orelhas de abano que podem ser v�timas de bullying na escola, o que leva a um desempenho escolar ruim, ao embotamento emocional, crises depressivas ou de ansiedade, com poss�veis altera��es f�sicas, como, por exemplo, compuls�o alimentar, acarretando a obesidade.
 
Um adolescente do sexo masculino pode ter o crescimento anormal das suas gl�ndulas mam�rias (ginecomastia) e n�o querer praticar atividades f�sicas por vergonha dos seus colegas, pontua o cirurgi�o. Ou uma adolescente do sexo feminino que tamb�m pode deixar de praticar atividades f�sicas por uma mama de tamanho grande demais (gigantomastia), por conta de vergonha, ou mesmo restri��o da movimenta��o dos bra�os ou dor nas costas.
 
Luísa Helena Saraiva
Lu�sa Helena Saraiva, de 24 anos, durante a adolesc�ncia experimentou transtornos devido ao tamanho excessivo das mamas e passou pela cirurgia de redu��o (foto: arquivo pessoal)
 
 
"Uma pessoa com altera��es no nariz e septo nasal pode ter dificuldades respirat�rias e altera��es no desenvolvimento da arcada dent�ria e face. O afastamento dos m�sculos retoabdominais (di�stase retoabdominal), comum ap�s a gesta��o, pode ser um dos fatores contributivos para dores lombares cr�nicas, comumente associadas a faltas ao trabalho e diminui��o da capacidade para atividade f�sica, tamb�m podendo resultar em obesidade e aumento do risco cardiovascular. Esses s�o exemplos comuns que vemos todos os dias no consult�rio de cirurgia pl�stica", enumera Lu�s Felipe.

Quando a cirurgia pl�stica � uma necessidade a ponto de se considerar uma forma de se ter dignidade, existe uma s�rie de condi��es f�sicas que t�m indica��o para procedimentos corretivos. O cirurgi�o lista outras: cicatrizes inest�ticas (hipertr�ficas e queloidianas), nevos gigantes cong�nitos (pintas presentes desde o nascimento, escuras e frequentemente com p�los), tumores ou nodula��es de pele ou subcut�neos benignos ou malignos (carcinomas, lipomas, cistos), altera��es palpebrais, como a p�lpebra "baixa" (ptose), paralisia facial, excessos de pele ap�s perdas maci�as de peso (em coxas, bra�os e abdome), pacientes submetidas a retiradas parciais ou completas das mamas (mastectomias) devido a carcinoma, ou outros tipos de tumores que necessitam de reconstru��o, e feridas complexas (�lceras venosas, �lceras por press�o, p�s-radioterapia, p�s-trauma).
 
Na outra ponta, quando a cirurgia pl�stica � de fato algo sup�rfluo, quando a obsess�o pelos procedimentos se torna exagero, uma doen�a, cabe ao cirurgi�o pl�stico estar atento ao paciente que tem uma expectativa irreal, diz Lu�s Felipe, sobre o poss�vel resultado da cirurgia. 
 
Principalmente ao indiv�duo que v� como alterada ou anormal uma parte do corpo sem nenhum problema e aqueles com hist�rico de m�ltiplos procedimentos pr�vios. "No limite, h� uma doen�a chamada transtorno dism�rfico corporal, em que o paciente tem uma autoimagem distorcida e nunca ficar� feliz com qualquer resultado que tenha sido obtido, mesmo que seja o melhor poss�vel."
 
PRESS�O A valoriza��o da est�tica � uma t�nica no contexto das celebridades. Os famosos est�o em constante exposi��o, e assim s�o mais pressionados para ter um n�vel elevado de cuidado com o corpo. "A escolha de uma atriz ou ator para um papel em um filme, por exemplo, muitas vezes parte de crit�rios como beleza e jovialidade, levando os artistas a uma busca mais intensa em se parecer jovens e belos. Isso poderia levar, em �ltima inst�ncia, a conseguir melhores pap�is e por mais tempo, ou seja, a ter uma carreira mais bem-sucedida e longa", pontua Lu�s Felipe Maatz.
 
Pensar nessa busca incessante pela beleza, sem ter o discernimento do que � verdade ou n�o, � perigoso. "Sem d�vida, isso � um grande problema hoje em dia. O real costuma ser bem diferente do virtual. H�, inclusive, diversas pessoas que exp�em em seus perfis nas redes sociais os diversos truques de posicionamento de c�mera, ilumina��o, poses e filtros", pondera o especialista.
 
A advogada e doula Lu�sa Helena Saraiva, de 24 anos, durante a adolesc�ncia experimentou transtornos devido ao tamanho excessivo das mamas. Quando estava na faixa et�ria dos 15 anos, lembra que as outras meninas da escola n�o tinham os seios ainda t�o desenvolvidos, e a sua condi��o acabava chamando muito a aten��o.

Para ela um grande inc�modo, com reflexos diretos na baixa autoestima, ainda gerando um desequil�brio emocional. Poderia fazer sol ou chuva, estava sempre de blusa de frio e n�o encontrava roupas �ntimas do seu tamanho. "As pessoas olhavam muito. Era minha marca registrada, mas pelo lado ruim. Tamb�m ficava sexualizada", diz.
 
Em rela��o � sa�de mesmo, Lu�sa tinha dores na coluna e problemas posturais (chegava a ficar encurvada), por causa do peso dos seios. Depois de um processo de amadurecimento emocional, ela conta, veio a decis�o pela cirurgia pl�stica de redu��o das mamas, que foi realizada em mar�o de 2021.

Lu�sa fala sobre o amadurecimento antes de cravar a escolha, porque esse seria um procedimento que tem impactos importantes na vida como um todo. Ela n�o colocou pr�teses em um momento posterior. Os seios s�o naturais. Em uma das mamas, o peso diminuiu 800 gramas, e em outra 1,2 quilo. "Minha m�e tem hist�rico de seios grandes, passou pelo mesmo problema. Por isso mesmo, me incentivou em rela��o � cirurgia."
 
Agora, Lu�sa diz que � outra pessoa, muito mais livre. "Encontro roupas para vestir, por exemplo, muitas vezes nem uso suti�, minha autoestima melhorou. Foi uma quest�o mesmo de qualidade de vida", relata. Para Lu�sa, quando uma pessoa opta por uma cirurgia est�tica, h� que ter discernimento, porque � algo diretamente ligado � harmonia emocional. "Nunca fa�a uma cirurgia sem saber o real motivo. Se a busca for por estar dentro de padr�es, e o lado emocional n�o estiver equilibrado, nada nunca ser� o suficiente. Esse padr�o � irreal, n�o existe", avalia.
 
Valéria Lúcia da Silva
Val�ria L�cia da Silva enfrentou transtornos devido � obesidade (foto: arquivo pessoal)
 
 

"Fui para a cirurgia tranquila, porque sempre fui muito bem orientada. E o acompanhamento e amparo da equipe depois da cirurgia foi maravilhoso tamb�m"

Val�ria L�cia da Silva, de 48 anos, designer de interiores

 
 
A queridinha do momento
 
A bichectomia � um tipo de pl�stica indicada para diminuir a proemin�ncia da bochecha, e � a queridinha da vez. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Pl�stica (SBCP), s�o realizadas mais de 40 cirurgias do tipo no Brasil por m�s. Entre a mulherada que procurou o procedimento, est�o famosas como Mila Kunis, Angelina Jolie, Jennifer Aniston, Lady Gaga, Victoria Beckham e Megan Fox.

“A bichectomia melhora o formato arredondado do rosto, real�ando a regi�o malar (ma�� do rosto) e resultando em uma face mais magra e harmoniosa”, explica o cirurgi�o pl�stico Lu�s Felipe Maatz. A denomina��o � refer�ncia � bola de Bichat, tecido gorduroso localizado nas bochechas, batizado em alus�o ao anatomista franc�s Marie Fran�ois Xavier Bichat, o primeiro a descrever tal estrutura. A interven��o consiste na retirada de uma por��o desse tecido gorduroso das bochechas, atrav�s de uma pequena incis�o realizada dentro da boca e, assim, n�o h� cicatrizes aparentes.
 
Mas nem tudo s�o flores. Apesar de ser considerada uma t�cnica relativamente simples, a bichectomia � uma cirurgia delicada. A bola de Bichat localiza-se muito perto de estruturas nobres da face, como art�rias, nervos e ducto salivar, e por isso existem riscos. “� preciso ter pleno conhecimento das varia��es anat�micas e dom�nio da t�cnica cir�rgica. Se o procedimento for realizado por um cirurgi�o pl�stico experiente e capacitado, as complica��es s�o raras. Mas, se houver les�o de alguma dessas estruturas, � poss�vel a repara��o”, alerta Lu�s Felipe Maatz.

ANG�STIA A quest�o da obesidade por muito tempo foi motivo de ang�stia para a designer de interiores Val�ria L�cia da Silva, de 48 anos. Com 1,57 metro de altura, ela chegou a pesar 105 quilos. "Era uma mulher bastante triste. Meu corpo me incomodava muito. Mama, barriga, bra�os, coxa, rosto, tudo. N�o tirava foto de jeito nenhum, n�o usava roupa justa. Trabalhei com vendas e evitava que o cliente me conhecesse pessoalmente. Minha tristeza era n�tida, estampada no meu rosto. Com o passar do tempo, tive depress�o, fiquei um ano de cama. N�o sei o que levou a isso de fato, mas para mim foi por causa do meu corpo e do meu peso", relembra.
 
Foi por indica��o de uma conhecida, que havia feito cirurgia corretiva de mama, que Val�ria chegou ao Instituto Mineiro de Cirurgia Pl�stica. Mas demorou para procurar a cl�nica, porque se sentia envergonhada, at� que criou coragem. Lembra que, ao chegar ao consult�rio, quase desistiu, mas foi t�o bem acolhida, que resolveu fazer a consulta com o m�dico. "No primeiro contato, parecia que ele me conhecia h� anos. Ouviu minha hist�ria, meus desejos e disse que iria me ajudar. Achei que j� ia sair de l� para a cirurgia, mas ele me disse que eu precisava emagrecer. E pontuou todos os benef�cios que eu teria se perdesse peso."
 
Depois de quase um ano, Val�ria retornou � cl�nica, agora com 62 quilos, e desta vez pronta para a cirurgia. A pl�stica corrigiu principalmente o excesso de pele, em grande parte do corpo gerado pelo processo de emagrecimento. "Fui para a cirurgia tranquila, porque sempre fui muito bem orientada. E o acompanhamento e amparo da equipe depois da cirurgia foi maravilhoso tamb�m."

Depois do procedimento e da fase para que desinchasse, vida nova. "Com o passar dos dias, me olhava no espelho e via a transforma��o. N�o encontro palavras para descrever minha felicidade. Essa alegria come�ou a tomar conta de mim de tal forma que voltei a ser a Val�ria que era antes de engordar. A cada dia me acho mais linda", comemora.
 
"Quando me vi pela primeira vez, depois de muitos anos, com uma lingerie que n�o dobrava, um seio que n�o ca�a, e uma barriga que n�o estava em cima da minha coxa, a sensa��o foi indescrit�vel", acrescenta. Agora, n�o precisa mais usar s� roupas largas, adora poder comprar um biqu�ni e aproveitar uma piscina. Tamb�m come�ou a praticar esporte e se cuida mais, atenta � pele, ao cabelo e �s unhas, tudo sempre bem tratado. "� uma vontade de estar bonita", declara.
 
Diz que o marido � mais feliz com a mulher que tem agora, que seu filho tem uma m�e diferente, que todos com quem convive t�m uma nova pessoa por perto, muito mais satisfeita e contente. Val�ria tamb�m n�o precisa mais tomar os rem�dios de costume, como antidepressivo, ansiol�tico e para a press�o. "Minha sa�de foi renovada com a cirurgia pl�stica. A pl�stica n�o � apenas tirar um excesso de pele ou colocar uma pr�tese de silicone. Muda a vida, � algo transformador, e eu sou prova disso. Se n�o tivesse emagrecido e feito a cirurgia, talvez n�o estivesse aqui para contar essa hist�ria. Poderia ter morrido de tristeza do jeito que estava." 
 
 


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