
A presen�a humana no fundo dos mares pode influenciar o comportamento de peixes, segundo pesquisa brasileira. Cientistas descobriram que os animais marinhos, principalmente os de maior porte, sentem um grande temor de mergulhadores. Os dados do trabalho foram publicados na revista especializada Fish and Fisheries e podem ajudar em estrat�gias de preserva��o dos bichos – por exemplo, a delimita��o de espa�os que ajudem a reduzir danos causados pelo contato.
Os pesquisadores destacam, no artigo, que o mergulho recreacional surgiu h� menos de 80 anos e j� impacta os peixes, principal foco de interesse dos humanos. “A quest�o do medo, que faz o animal fugir dos mergulhadores, como r�pteis, mam�feros, j� � conhecida, mas esse tipo de an�lise ainda n�o havia sido feita com os peixes, e acredit�vamos que seria interessante estudar esse fator por meio do mergulho”, conta Eduardo Bessa, professor da Faculdade de Ci�ncias Biol�gicas da Universidade de Bras�lia (UnB) e um dos autores do estudo.
Para um animal silvestre, fugir de um predador pode ser a diferen�a entre a vida e a morte, mas se as fugas forem constantes, ele perder� um tempo que poderia ser melhor aproveitado fazendo, por exemplo, outras atividades essenciais para a sobreviv�ncia, como se alimentar ou procurar um parceiro para reprodu��o. Assim, fugir demais de predadores – e os mergulhadores s�o tratados como um – pode se tornar um problema.
Eduardo Bessa explica que um indicador de qu�o arredio � um animal � a dist�ncia inicial de fuga, que significa o espa�o m�ximo que um predador deve se aproximar da presa para que ela comece a fugir. Essa medida � bastante utilizada com predadores naturais, mas medi-la considerando um mergulhador � algo mais recente em pesquisas. “Reunimos uma s�rie de trabalhos com diversas esp�cies e em v�rias �reas relacionados ao turismo, incluindo regi�es em que a pesca � permitida. Isso � importante para termos uma an�lise mais detalhada”, ressalta Bessa.
O pesquisador ressalta a import�ncia para esse tipo de estudo, que revisa trabalhos anteriores. “�s vezes, estudos sobre um mesmo tema chegam a resultados conflitantes. � como aquela hist�ria de o ovo fazer bem ou mal � sa�de. Com o ac�mulo de evid�ncias, a posi��o da ci�ncia muda. A meta-an�lise analisa os resultados de outros estudos e nos permite tirar conclus�es num panorama mais geral, portanto, com muito mais confian�a.”
TAMANHO INFLUENCIA A equipe considerou seis fatores como poss�veis candidatos a influenciar a dist�ncia com que um peixe foge de um mergulhador: tamanho do animal, se ele vive em cardume, expectativa de vida, h�bitat, seu n�vel na cadeia alimentar e se o encontro com o humano ocorre em uma �rea de conserva��o de peixes ou fora dela. Entre todos esses fatores, apenas um se mostrou como forte influenciador da fuga dos animais. “Esse foi um dos dados mais bacanas vistos por n�s. Constatamos que quanto maior � o peixe, maior � a dist�ncia de fuga”, diz Bessa.
Segundo o pesquisador, o resultado � interessante quando se analisa que peixes e humanos se desenvolvem de forma bastante distinta. “Se considerarmos que os animais n�o t�m crescimento limitado como n�s, humanos, isso quer dizer que um peixe maior viveu por mais tempo. Isso mostra que eles est�o mais experientes e espertos”, explica.
O resultado tamb�m ajuda a enfraquecer uma suspeita antiga de que a rea��o � presen�a de um predador poderia mudar caso o peixe estivesse “acompanhado”. “Acredit�vamos que as aglomera��es dos peixes poderiam interferir na resposta dos animais durante a fuga. Pens�vamos que ela ocorreria mais cedo, mas n�o vimos distin��es consider�veis quando comparamos esse tempo com o dos peixes solit�rios”, relata o pesquisador da UnB.
PREVEN��O De acordo com os autores, o estudo traz dados importantes, que poder�o ser usados em medidas de conserva��o dos animais. Para os investigadores, limitar o n�mero de mergulhadores, definir �reas marinhas protegidas da a��o de ca�adores submarinos e at� livres de mergulhadores podem ser a �nica forma de proteger algumas esp�cies de peixes. “Temos que entender que quanto maior o n�mero de mergulhadores, mais eles aparecem como uma amea�a para os animais. Isso realmente influencia a rea��o desses bichos”, frisa Bessa.
O cientista tamb�m ressalta que os dados poder�o ajudar a definir quais �reas devem ser reservadas ao ecoturismo. “� uma atividade importante, mas precisamos ter em mente que � preciso ter um bom uso dessas �reas p�blicas, como � o Parque Nacional de Bras�lia, com esta��es biol�gicas para que os animais tenham o espa�o deles e se sintam seguros”, ilustra.