
O pl�stico descart�vel est� presente em quase todos os aspectos da nossa vida: desde o copo de caf� que voc� compra para beber a caminho do trabalho ao canudo para tomar �gua de coco – sem contar nas fibras dos len�os umedecidos e nos fragmentos de glitter da maquiagem.
Das 6,3 bilh�es de toneladas de pl�stico que jogamos fora desde o in�cio da produ��o em massa do material na d�cada de 1950, apenas 600 milh�es de toneladas foram recicladas – e 4,9 bilh�es de toneladas foram enviadas para aterros sanit�rios ou descartadas no meio ambiente.- Passando a boiada: 5 momentos nos quais Ricardo Salles afrouxou regras ambientais
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Embora a conscientiza��o sobre o impacto negativo que o pl�stico pode ter no meio ambiente tenha aumentado nos �ltimos anos, s� agora alternativas ecol�gicas est�o ganhando for�a.
� medida que a proibi��o de sacolas pl�sticas descart�veis se espalha pelo mundo, novos materiais se tornam cada vez mais importantes. Mas ser� que eles s�o t�o bons quanto dizem?
Os pl�sticos biodegrad�veis est�o se tornando um substituto popular, uma vez que os consumidores exigem cada vez mais alternativas ecol�gicas.
Em vez de levar centenas de anos para se decompor – atributo pelo qual o pl�stico era valorizado quando come�amos a us�-lo – o pl�stico biodegrad�vel pode ser decomposto por micr�bios e convertidos em biomassa, �gua e di�xido de carbono (ou na aus�ncia de oxig�nio, metano, em vez de CO2).
Uma parte deles � compost�vel, o que significa que n�o apenas � decomposto por micr�bios, como tamb�m pode ser transformado – juntamente com alimentos e outros res�duos org�nicos – em adubo.
No entanto, somente uma pequena parte desses pl�sticos � apta � compostagem dom�stica; portanto, quando o r�tulo diz “compost�vel” geralmente significa compostagem industrial. Ou seja, aquele copo de caf� que voc� comprou com o logotipo de biodegrad�vel n�o vai se decompor muito rapidamente, se � que vai se decompor, na pilha de compostos org�nicos da sua casa, mas certamente vai se decompor dentro do equipamento industrial apropriado.

H� um padr�o europeu para embalagens compost�veis: EN 13432. A certifica��o prev� que a embalagem se decomponha em condi��es de compostagem industrial em 12 semanas, deixando n�o mais de 10% do material original em fragmentos maiores que 2mm, sem prejudicar o solo por meio de metais pesados ou deteriorando sua estrutura.
A maioria dos pl�sticos biodegrad�veis e compost�veis s�o biopl�sticos, feitos de plantas, em vez de combust�veis f�sseis. Dependendo do uso, h� muitas op��es para escolher.
A professora de biotecnologia Izabela Radecka, da Universidade de Wolverhampton, no Reino Unido, e seus colegas est�o produzindo um tipo de biopl�stico chamado polihidroxialcanoatos (PHAs). Ou melhor, est�o fazendo com que micr�bios produzam este material para eles.
"Quando est�o sob estresse, esses micr�bios produzem gr�nulos dentro das c�lulas, e esses gr�nulos s�o biopol�meros", explica.
"Quando voc� os extrai da c�lula, eles apresentam propriedades semelhantes �s dos pl�sticos sint�ticos, mas s�o totalmente biodegrad�veis."
A princ�pio, Radecka oferecia �leo de cozinha usado aos micr�bios para produzir PHAs, mas nos �ltimos anos come�ou a investigar como res�duos pl�sticos, como o poliestireno, podem ser transformados em um novo tipo de pl�stico biodegrad�vel.
Segundo ela, � prefer�vel usar este m�todo, uma vez que poupa as plantas que podem ser usadas como alimento e, ao mesmo tempo, utiliza os res�duos pl�sticos.
Atualmente, os PHAs representam cerca de 5% dos pl�sticos biodegrad�veis no mundo. Cerca de metade dos pl�sticos biodegrad�veis s�o feitos a partir de misturas de amido. E o �cido polil�tico (PLA), normalmente usado em copos e tampas de copo de caf�, corresponde a um quarto.
Mas, embora a maioria desses biopl�sticos demande compostagem industrial para ser decomposto ap�s ser descartado, estamos longe de garantir que isso aconte�a.
Dado o hist�rico da humanidade, faz sentido se perguntar o que acontece se eles forem parar onde n�o deveriam.
O problema dos r�tulos
Para testar como os diferentes tipos de sacolas pl�sticas se saem em ambientes distintos, Imogen Napper, da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, coletou sacolas com v�rias indica��es de biodegradabilidade e colocou em tr�s ambientes naturais diferentes durante um per�odo de tr�s anos: enterradas no solo, na �gua do mar, e penduradas ao ar livre.
Ela testou sacolas rotuladas como biodegrad�veis, compost�veis e oxibiodegrad�veis, assim como sacolas convencionais de polietileno de alta densidade (HDPE). (A Comiss�o Europeia recomendou recentemente a proibi��o de pl�sticos oxibiodegrad�veis, devido ao receio de que se decomponham em micropl�sticos.)
No experimento de Napper, a sacola rotulada como "compost�vel" (que afirmava estar em conformidade com a norma EN 13432) desapareceu completamente dentro de tr�s meses quando foi deixada na �gua do mar. No solo, permaneceu intacta por dois anos, mas se desintegrou quando os pesquisadores encheram ela de compras.
O restante das sacolas – incluindo a rotulada como “biodegrad�vel” – ainda estava presente tanto no solo, quanto na �gua do mar ap�s tr�s anos. E podiam ser usadas at� para carregar compras.
Depois de nove meses ao ar livre, todas as sacolas haviam se desintegrado ou estavam come�ando a se desfazer – sobretudo, se decompondo em micropl�sticos.
Isso acontece porque a luz do sol ajuda a degradar o pl�stico por meio de um processo chamado foto-oxida��o, no qual o pl�stico se torna desgastado e quebradi�o, e acaba se fragmentando, em vez de decompor seus compostos org�nicos.
"Na verdade, isso n�o significa que est�o se decompondo em carbono e hidrog�nio, quer dizer apenas que est�o se tornando peda�os menores", explica Napper.
"O que poder�amos dizer que � mais problem�tico, uma vez que � imposs�vel de limpar – � como tentar pegar m&ms com pauzinhos."
� claro que at� mesmo a sacola compost�vel testada no experimento de Napper n�o foi desenvolvida para se decompor no mar ou no solo.

Mas, segundo ela, o fato de que precisam ser compostadas industrialmente n�o vem explicado adequadamente nas sacolas. E isso faz com que os consumidores fiquem tentando adivinhar as propriedades das mesmas e, mais importante, o que devem fazer com elas ap�s o uso.
"As pessoas precisam estar cientes de que colocar para reciclagem, tentar fazer a compostagem ou jogar na lixeira de res�duos em geral n�o necessariamente levar� aos resultados que est�o sendo anunciados", diz Napper.
Uma empresa que investiga como seus pr�prios produtos se decomp�em em um ambiente marinho � a Novamont, que produz o Mater-Bi – pl�stico � base de amido usado nas sacolas compost�veis lan�adas pela rede de supermercados Co-op no ano passado.
Um relat�rio da companhia – realizado em parceria com a Hydra, instituto de pesquisa marinha alem�o, e a Universidade de Siena, na It�lia – mostrou que o produto se biodegrada totalmente na �gua do mar em uma escala de tempo de quatro meses a um ano, sem deixar res�duos t�xicos.
Mas Francesco Delgi Inoccenti, respons�vel pela qualidade ecol�gica dos produtos da Novamont, diz que a empresa n�o tem planos de anunciar esse tipo de atributo ao comercializar pl�stico, porque n�o quer incentivar a produ��o de lixo.
Em vez disso, os testes funcionam como uma ap�lice de seguro, caso seus produtos acabem em algum lugar onde n�o deveriam.
"N�o ser� uma alega��o comercial, porque as pessoas podem realmente entender mal o significado disso", diz ele.
Embora pl�sticos finos compost�veis, como sacolas pl�sticas, possam se decompor no oceano, � esperado que o PLA mais espesso e robusto – usado para fazer copos descart�veis, canudos e outras embalagens de alimentos – aja como o pl�stico tradicional na �gua do mar, e simplesmente n�o se decomponha.
Ent�o ser� que as empresas est�o adotando pl�sticos biodegrad�veis que podem n�o se decompor no mar como uma jogada de marketing, o chamado greenwashing?
N�o necessariamente. Esses pl�sticos podem n�o resolver o problema da polui��o dos oceanos, mas s�o adequados para enfrentar outra quest�o ambiental importante: o desperd�cio de alimentos.

Limpando nossas a��es
A �rea em que os pl�sticos compost�veis t�m maior potencial de impacto � na ind�stria de alimenta��o. De copos a embalagens de sandu�ches e recipientes para levar comida para viagem, colocar alimentos em pl�sticos compost�veis significa – em um mundo ideal, pelo menos – que o pl�stico e qualquer resto de comida grudado nele podem ser compostados juntos.
� uma vit�ria tripla: reduz a quantidade de pl�stico enviado aos aterros sanit�rios, impede que a reciclagem seja contaminada com alimentos e, ao mesmo tempo, garante que os alimentos desperdi�ados sejam devolvidos ao solo, e n�o deixados para apodrecer nos aterros sanit�rios, onde v�o liberar metano.
David Newman, diretor da Associa��o das Ind�strias Biodegrad�veis e de Base Biol�gica (BBIA), acredita que idealmente tudo – desde saquinhos de ch� a etiquetas de frutas e sach�s de condimentos – deveria ser compost�vel por lei, de modo que cada vez mais as sobras de alimentos e o pl�stico que os acompanha possam ser processados ao mesmo tempo.
Ao reduzir a quantidade de pl�stico convencional que contamina o descarte de alimentos, podemos pelo menos garantir que parte da comida jogada fora seja por fim usada como adubo, em vez de acabar em aterros sanit�rios ou sendo incinerada.
H� ainda outros usos para os pl�sticos biodegrad�veis.
Tradicionalmente, os agricultores usam um filme pl�stico, � base de polietileno, conhecido como “mulching”, para cobrir o solo das lavouras, impedindo o crescimento de ervas daninhas e economizando �gua – cerca da metade desse pl�stico acaba em aterros sanit�rios ap�s ser usado.
Mas desde 2018, um novo padr�o europeu de biodegradabilidade para essas coberturas prev� que os agricultores podem ter acesso a um pl�stico que n�o precisa ser removido ap�s a colheita, uma vez que vai se decompor e n�o danificar� o solo.
A ind�stria tamb�m est� come�ando a usar biolubrificantes para manter maquin�rios funcionando, em vez de produtos � base de combust�veis f�sseis.
"Cada vez mais, eles s�o de origem vegetal", diz Newman.
“Se vazar, e todos os �leos de m�quina em algum momento acabam vazando, n�o vai danificar o meio ambiente.”
Mas, embora o “mulching” e os �leos sejam capazes de se decompor no meio ambiente, sabemos que a maioria das embalagens de alimentos n�o pode. Como garantir ent�o que as embalagens compost�veis sejam de fato compostadas?
Desmistificando o processo
Primeiro, precisamos resolver o problema de imagem do pl�stico.
Newman acredita que a mensagem n�o deveria ser: “Vamos acabar com a polui��o por pl�stico usando pl�stico compost�vel”. E, sim: “Vamos ajudar a melhorar a qualidade do solo de maneira sustent�vel no longo prazo usando pl�stico compost�vel”.
"Ah, por falar nisso, podemos reduzir algumas embalagens de pl�stico tamb�m”, acrescenta.
Ele admite, no entanto, que a ind�stria precisa desmistificar como os consumidores devem lidar com os pl�sticos compost�veis para que d� certo.

Um sistema de r�tulos mais claro, semelhante ao modo como a reciclagem � sinalizada nas embalagens de alimentos, est� em andamento, mas levar� alguns anos para ser implementado, segundo ele.
"Enquanto isso, � claro que uma grande quantidade de pl�stico compost�vel vai ser incinerada, e muito pl�stico convencional vai acabar parando em usinas de compostagem. � assim que vai ser nos pr�ximos dois ou tr�s anos."
Atualmente, o sistema de res�duos do Reino Unido n�o est� preparado para lidar com compostagens, pelo menos a n�vel dom�stico.
Embora existam instala��es de compostagem capazes de processar talheres, copos e outros utens�lios compost�veis, as autoridades locais n�o costumam coletar esses itens; ent�o, os consumidores ficam sem op��o a n�o ser descart�-los no lixo comum, que vai para os aterros sanit�rios ou � incinerado.
Algumas autoridades locais aceitam sacos de lixo para compostagem se foram usados para coletar restos de comida, mas em algumas usinas essas sacolas s�o removidas dos res�duos de alimentos antes de serem compostadas.
Se descobrirmos como processar adequadamente esses res�duos, os pl�sticos compost�veis podem ajudar tamb�m na reciclagem do pl�stico convencional.
Ao separar os restos de alimentos e as embalagens compost�veis associadas a eles, o lixo para reciclagem � mantido longe de borras de caf� e saquinhos de ch�, por exemplo, evitando o risco de contamina��o.
"Quando voc� mistura a comida com todo o resto, como acontece hoje no Reino Unido, tudo fica dif�cil de reciclar", diz Newman.
O progresso feito por pa�ses como a It�lia – que proibiu a distribui��o de sacolas pl�sticas n�o biodegrad�veis, e onde as mesmas podem ser recicladas como parte da ampla coleta de res�duos de alimentos – mostra que h� poss�veis solu��es � vista.
“Se o descarte de alimentos � feito corretamente, como ocorre em v�rios pa�ses, todo o resto se torna mais f�cil de reciclar”, explica Newman.
O desafio � colocar todas as pe�as do quebra-cabe�a no lugar.
Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.
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