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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

O problema pouco conhecido do pl�stico biodegrad�vel

Apenas uma pequena parte das embalagens deste tipo se presta � compostagem dom�stica, e os r�tulos n�o explicam como descart�-las adequadamente


09/10/2020 08:23 - atualizado 09/10/2020 13:50

Das 6,3 bilhões de toneladas de plástico que jogamos fora desde a década de 1950, apenas 600 milhões de toneladas foram recicladas
Das 6,3 bilh�es de toneladas de pl�stico que jogamos fora desde a d�cada de 1950, apenas 600 milh�es de toneladas foram recicladas (foto: Getty Images)

O pl�stico descart�vel est� presente em quase todos os aspectos da nossa vida: desde o copo de caf� que voc� compra para beber a caminho do trabalho ao canudo para tomar �gua de coco – sem contar nas fibras dos len�os umedecidos e nos fragmentos de glitter da maquiagem.

Das 6,3 bilh�es de toneladas de pl�stico que jogamos fora desde o in�cio da produ��o em massa do material na d�cada de 1950, apenas 600 milh�es de toneladas foram recicladas – e 4,9 bilh�es de toneladas foram enviadas para aterros sanit�rios ou descartadas no meio ambiente.

Embora a conscientiza��o sobre o impacto negativo que o pl�stico pode ter no meio ambiente tenha aumentado nos �ltimos anos, s� agora alternativas ecol�gicas est�o ganhando for�a.

� medida que a proibi��o de sacolas pl�sticas descart�veis se espalha pelo mundo, novos materiais se tornam cada vez mais importantes. Mas ser� que eles s�o t�o bons quanto dizem?

Os pl�sticos biodegrad�veis est�o se tornando um substituto popular, uma vez que os consumidores exigem cada vez mais alternativas ecol�gicas.

Em vez de levar centenas de anos para se decompor – atributo pelo qual o pl�stico era valorizado quando come�amos a us�-lo – o pl�stico biodegrad�vel pode ser decomposto por micr�bios e convertidos em biomassa, �gua e di�xido de carbono (ou na aus�ncia de oxig�nio, metano, em vez de CO2).

Uma parte deles � compost�vel, o que significa que n�o apenas � decomposto por micr�bios, como tamb�m pode ser transformado – juntamente com alimentos e outros res�duos org�nicos – em adubo.

No entanto, somente uma pequena parte desses pl�sticos � apta � compostagem dom�stica; portanto, quando o r�tulo diz “compost�vel” geralmente significa compostagem industrial. Ou seja, aquele copo de caf� que voc� comprou com o logotipo de biodegrad�vel n�o vai se decompor muito rapidamente, se � que vai se decompor, na pilha de compostos org�nicos da sua casa, mas certamente vai se decompor dentro do equipamento industrial apropriado.


As usinas para reciclagem de resíduos compostáveis são capazes de processar mais bioplástico do que você conseguiria por meio da compostagem domiciliar
As usinas para reciclagem de res�duos compost�veis s�o capazes de processar mais biopl�stico do que voc� conseguiria por meio da compostagem domiciliar (foto: Getty Images)

H� um padr�o europeu para embalagens compost�veis: EN 13432. A certifica��o prev� que a embalagem se decomponha em condi��es de compostagem industrial em 12 semanas, deixando n�o mais de 10% do material original em fragmentos maiores que 2mm, sem prejudicar o solo por meio de metais pesados ou deteriorando sua estrutura.

A maioria dos pl�sticos biodegrad�veis e compost�veis s�o biopl�sticos, feitos de plantas, em vez de combust�veis f�sseis. Dependendo do uso, h� muitas op��es para escolher.

A professora de biotecnologia Izabela Radecka, da Universidade de Wolverhampton, no Reino Unido, e seus colegas est�o produzindo um tipo de biopl�stico chamado polihidroxialcanoatos (PHAs). Ou melhor, est�o fazendo com que micr�bios produzam este material para eles.

"Quando est�o sob estresse, esses micr�bios produzem gr�nulos dentro das c�lulas, e esses gr�nulos s�o biopol�meros", explica.

"Quando voc� os extrai da c�lula, eles apresentam propriedades semelhantes �s dos pl�sticos sint�ticos, mas s�o totalmente biodegrad�veis."

A princ�pio, Radecka oferecia �leo de cozinha usado aos micr�bios para produzir PHAs, mas nos �ltimos anos come�ou a investigar como res�duos pl�sticos, como o poliestireno, podem ser transformados em um novo tipo de pl�stico biodegrad�vel.

Segundo ela, � prefer�vel usar este m�todo, uma vez que poupa as plantas que podem ser usadas como alimento e, ao mesmo tempo, utiliza os res�duos pl�sticos.

Atualmente, os PHAs representam cerca de 5% dos pl�sticos biodegrad�veis no mundo. Cerca de metade dos pl�sticos biodegrad�veis s�o feitos a partir de misturas de amido. E o �cido polil�tico (PLA), normalmente usado em copos e tampas de copo de caf�, corresponde a um quarto.

Mas, embora a maioria desses biopl�sticos demande compostagem industrial para ser decomposto ap�s ser descartado, estamos longe de garantir que isso aconte�a.

Dado o hist�rico da humanidade, faz sentido se perguntar o que acontece se eles forem parar onde n�o deveriam.

O problema dos r�tulos

Para testar como os diferentes tipos de sacolas pl�sticas se saem em ambientes distintos, Imogen Napper, da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, coletou sacolas com v�rias indica��es de biodegradabilidade e colocou em tr�s ambientes naturais diferentes durante um per�odo de tr�s anos: enterradas no solo, na �gua do mar, e penduradas ao ar livre.

Ela testou sacolas rotuladas como biodegrad�veis, compost�veis e oxibiodegrad�veis, assim como sacolas convencionais de polietileno de alta densidade (HDPE). (A Comiss�o Europeia recomendou recentemente a proibi��o de pl�sticos oxibiodegrad�veis, devido ao receio de que se decomponham em micropl�sticos.)

No experimento de Napper, a sacola rotulada como "compost�vel" (que afirmava estar em conformidade com a norma EN 13432) desapareceu completamente dentro de tr�s meses quando foi deixada na �gua do mar. No solo, permaneceu intacta por dois anos, mas se desintegrou quando os pesquisadores encheram ela de compras.

O restante das sacolas – incluindo a rotulada como “biodegrad�vel” – ainda estava presente tanto no solo, quanto na �gua do mar ap�s tr�s anos. E podiam ser usadas at� para carregar compras.

Depois de nove meses ao ar livre, todas as sacolas haviam se desintegrado ou estavam come�ando a se desfazer – sobretudo, se decompondo em micropl�sticos.

Isso acontece porque a luz do sol ajuda a degradar o pl�stico por meio de um processo chamado foto-oxida��o, no qual o pl�stico se torna desgastado e quebradi�o, e acaba se fragmentando, em vez de decompor seus compostos org�nicos.

"Na verdade, isso n�o significa que est�o se decompondo em carbono e hidrog�nio, quer dizer apenas que est�o se tornando peda�os menores", explica Napper.

"O que poder�amos dizer que � mais problem�tico, uma vez que � imposs�vel de limpar – � como tentar pegar m&ms com pauzinhos."

� claro que at� mesmo a sacola compost�vel testada no experimento de Napper n�o foi desenvolvida para se decompor no mar ou no solo.


Quando os plásticos se decompõem no mar, eles se tornam microplásticos, o que Napper argumenta ser mais problemático
Quando os pl�sticos se decomp�em no mar, eles se tornam micropl�sticos, o que Napper argumenta ser mais problem�tico (foto: Getty Images)

Mas, segundo ela, o fato de que precisam ser compostadas industrialmente n�o vem explicado adequadamente nas sacolas. E isso faz com que os consumidores fiquem tentando adivinhar as propriedades das mesmas e, mais importante, o que devem fazer com elas ap�s o uso.

"As pessoas precisam estar cientes de que colocar para reciclagem, tentar fazer a compostagem ou jogar na lixeira de res�duos em geral n�o necessariamente levar� aos resultados que est�o sendo anunciados", diz Napper.

Uma empresa que investiga como seus pr�prios produtos se decomp�em em um ambiente marinho � a Novamont, que produz o Mater-Bi – pl�stico � base de amido usado nas sacolas compost�veis lan�adas pela rede de supermercados Co-op no ano passado.

Um relat�rio da companhia – realizado em parceria com a Hydra, instituto de pesquisa marinha alem�o, e a Universidade de Siena, na It�lia – mostrou que o produto se biodegrada totalmente na �gua do mar em uma escala de tempo de quatro meses a um ano, sem deixar res�duos t�xicos.

Mas Francesco Delgi Inoccenti, respons�vel pela qualidade ecol�gica dos produtos da Novamont, diz que a empresa n�o tem planos de anunciar esse tipo de atributo ao comercializar pl�stico, porque n�o quer incentivar a produ��o de lixo.

Em vez disso, os testes funcionam como uma ap�lice de seguro, caso seus produtos acabem em algum lugar onde n�o deveriam.

"N�o ser� uma alega��o comercial, porque as pessoas podem realmente entender mal o significado disso", diz ele.

Embora pl�sticos finos compost�veis, como sacolas pl�sticas, possam se decompor no oceano, � esperado que o PLA mais espesso e robusto – usado para fazer copos descart�veis, canudos e outras embalagens de alimentos – aja como o pl�stico tradicional na �gua do mar, e simplesmente n�o se decomponha.

Ent�o ser� que as empresas est�o adotando pl�sticos biodegrad�veis que podem n�o se decompor no mar como uma jogada de marketing, o chamado greenwashing?

N�o necessariamente. Esses pl�sticos podem n�o resolver o problema da polui��o dos oceanos, mas s�o adequados para enfrentar outra quest�o ambiental importante: o desperd�cio de alimentos.


Trabalhadores agrícolas no México colhem nopal branco, espécie de cacto, cujo suco pode ser usado para fabricar bioplásticos
Trabalhadores agr�colas no M�xico colhem nopal branco, esp�cie de cacto, cujo suco pode ser usado para fabricar biopl�sticos (foto: Getty Images)

Limpando nossas a��es

A �rea em que os pl�sticos compost�veis t�m maior potencial de impacto � na ind�stria de alimenta��o. De copos a embalagens de sandu�ches e recipientes para levar comida para viagem, colocar alimentos em pl�sticos compost�veis significa – em um mundo ideal, pelo menos – que o pl�stico e qualquer resto de comida grudado nele podem ser compostados juntos.

� uma vit�ria tripla: reduz a quantidade de pl�stico enviado aos aterros sanit�rios, impede que a reciclagem seja contaminada com alimentos e, ao mesmo tempo, garante que os alimentos desperdi�ados sejam devolvidos ao solo, e n�o deixados para apodrecer nos aterros sanit�rios, onde v�o liberar metano.

David Newman, diretor da Associa��o das Ind�strias Biodegrad�veis e de Base Biol�gica (BBIA), acredita que idealmente tudo – desde saquinhos de ch� a etiquetas de frutas e sach�s de condimentos – deveria ser compost�vel por lei, de modo que cada vez mais as sobras de alimentos e o pl�stico que os acompanha possam ser processados ao mesmo tempo.

Ao reduzir a quantidade de pl�stico convencional que contamina o descarte de alimentos, podemos pelo menos garantir que parte da comida jogada fora seja por fim usada como adubo, em vez de acabar em aterros sanit�rios ou sendo incinerada.

H� ainda outros usos para os pl�sticos biodegrad�veis.

Tradicionalmente, os agricultores usam um filme pl�stico, � base de polietileno, conhecido como “mulching”, para cobrir o solo das lavouras, impedindo o crescimento de ervas daninhas e economizando �gua – cerca da metade desse pl�stico acaba em aterros sanit�rios ap�s ser usado.

Mas desde 2018, um novo padr�o europeu de biodegradabilidade para essas coberturas prev� que os agricultores podem ter acesso a um pl�stico que n�o precisa ser removido ap�s a colheita, uma vez que vai se decompor e n�o danificar� o solo.

A ind�stria tamb�m est� come�ando a usar biolubrificantes para manter maquin�rios funcionando, em vez de produtos � base de combust�veis f�sseis.

"Cada vez mais, eles s�o de origem vegetal", diz Newman.

“Se vazar, e todos os �leos de m�quina em algum momento acabam vazando, n�o vai danificar o meio ambiente.”

Mas, embora o “mulching” e os �leos sejam capazes de se decompor no meio ambiente, sabemos que a maioria das embalagens de alimentos n�o pode. Como garantir ent�o que as embalagens compost�veis sejam de fato compostadas?

Desmistificando o processo

Primeiro, precisamos resolver o problema de imagem do pl�stico.

Newman acredita que a mensagem n�o deveria ser: “Vamos acabar com a polui��o por pl�stico usando pl�stico compost�vel”. E, sim: “Vamos ajudar a melhorar a qualidade do solo de maneira sustent�vel no longo prazo usando pl�stico compost�vel”.

"Ah, por falar nisso, podemos reduzir algumas embalagens de pl�stico tamb�m”, acrescenta.

Ele admite, no entanto, que a ind�stria precisa desmistificar como os consumidores devem lidar com os pl�sticos compost�veis para que d� certo.


Talheres de bioplástico, como esses, podem acabar em aterros sanitários quando as autoridades locais não têm capacidade de processá-los
Talheres de biopl�stico, como esses, podem acabar em aterros sanit�rios quando as autoridades locais n�o t�m capacidade de process�-los (foto: Getty Images)

Um sistema de r�tulos mais claro, semelhante ao modo como a reciclagem � sinalizada nas embalagens de alimentos, est� em andamento, mas levar� alguns anos para ser implementado, segundo ele.

"Enquanto isso, � claro que uma grande quantidade de pl�stico compost�vel vai ser incinerada, e muito pl�stico convencional vai acabar parando em usinas de compostagem. � assim que vai ser nos pr�ximos dois ou tr�s anos."

Atualmente, o sistema de res�duos do Reino Unido n�o est� preparado para lidar com compostagens, pelo menos a n�vel dom�stico.

Embora existam instala��es de compostagem capazes de processar talheres, copos e outros utens�lios compost�veis, as autoridades locais n�o costumam coletar esses itens; ent�o, os consumidores ficam sem op��o a n�o ser descart�-los no lixo comum, que vai para os aterros sanit�rios ou � incinerado.

Algumas autoridades locais aceitam sacos de lixo para compostagem se foram usados para coletar restos de comida, mas em algumas usinas essas sacolas s�o removidas dos res�duos de alimentos antes de serem compostadas.

Se descobrirmos como processar adequadamente esses res�duos, os pl�sticos compost�veis podem ajudar tamb�m na reciclagem do pl�stico convencional.

Ao separar os restos de alimentos e as embalagens compost�veis associadas a eles, o lixo para reciclagem � mantido longe de borras de caf� e saquinhos de ch�, por exemplo, evitando o risco de contamina��o.

"Quando voc� mistura a comida com todo o resto, como acontece hoje no Reino Unido, tudo fica dif�cil de reciclar", diz Newman.

O progresso feito por pa�ses como a It�lia – que proibiu a distribui��o de sacolas pl�sticas n�o biodegrad�veis, e onde as mesmas podem ser recicladas como parte da ampla coleta de res�duos de alimentos – mostra que h� poss�veis solu��es � vista.

“Se o descarte de alimentos � feito corretamente, como ocorre em v�rios pa�ses, todo o resto se torna mais f�cil de reciclar”, explica Newman.

O desafio � colocar todas as pe�as do quebra-cabe�a no lugar.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.


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